• Dartagnan da Silva Zanela
  • 29 Maio 2024

 

 

Dartagnan da Silva Zanela

 

Muitas são as conquistas e perdas que obtemos no correr de nossa jornada. De todas as perdas, com certeza a mais temível é a perda da coragem. Como nos lembra Miguel de Cervantes, ao perdê-la, perdemos tudo.

Desde priscas eras, o medo foi utilizado como uma arma política; arma essa que insufla na alma de suas vítimas uma percepção distorcida da realidade, levando os indivíduos a abrirem mão de suas liberdades por qualquer coisa que lhes traga alguma sensação de segurança. Não é à toa, como nos lembra o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, que o número de pessoas angustiadas, nos últimos anos, cresceu tanto.

Já o filósofo italiano Giorgio Agamben, em suas cáusticas críticas à política contemporânea, nos chama a atenção para o fato de que, atualmente, o "Estado de Exceção" tornou-se a regra. Desde ameaças terroristas até crises sanitárias são usadas como subterfúgio para implementar, de forma nada sutil, novos mecanismos de controle da população civil.

Claro que tais medidas, necessariamente, precisam do apoio de uma câmara de eco midiática para amplificar o medo junto a população, quando lhes convêm, e disseminar a crença de que apenas medidas draconianas de restrição das liberdades fundamentais poderão garantir que as pessoas possam ser devidamente protegidas, cultivando no coração dos cidadãos um misto de superstição e credulidade frente as oficiosas vozes midiáticas e junto as potestades Estatais.

E vejam só como esse mecanismo, denunciado por Agamben, é curioso. Qualquer um que ouse exercitar a sua consciência para analisar os fatos, e tenha o disparate de manifestar alguma crítica contra os donos do poder e seus vassalos midiáticos, não serão vistos pelo que são: cidadãos exercendo a liberdade de expressar-se. Serão vistos como indivíduos que estariam "agredindo autoridades", "atacando a democracia", "disseminando fake news", "espalhando o ódio" e etc.

Ora, desde que andar para frente deixou de ser novidade, dificilmente uma pessoa que é criticada fica feliz em sê-lo. Críticas são, por sua natureza, desconfortáveis e, por isso mesmo, indispensáveis para que possamos sanar as nossas possíveis imperfeições, tanto a nível pessoal como em escala macrossocial.

De mais a mais, desde quando a manifestação de uma crítica é um ataque à democracia? Desde quando criticar as autoridades, em uma sociedade democrática, tornou-se um ato de agressão? Desde o momento em que o Estado de Exceção tornou-se a regra.

Essa tentação totalitária leva à edificação forçada de um consenso que não tolera ser questionado. Mas não foi a quebra de inúmeros consensos que promoveu boleiras de boas mudanças? A quebra de consensos não era um traço distintivo das mentes esclarecidas frente a mediocridade de suas respectivas épocas? Pois é, mas hoje os tempos são outros e, por isso, externar críticas ao Estado, aos donos do poder, a forma deficitária de funcionamento do sistema político e demais assuntos, tornou-se uma "ameaça violenta contra o Estado Democrático de Direito".

Não é à toa, nem por acaso que, de acordo com uma pesquisa fresquinha, aproximadamente 61% dos brasileiros têm medo de dizer e de escrever o que pensam. E quando vamos nos acostumando a ter medo de dizer o que pensamos, com o tempo, sem que percebamos, vamos deixando de pensar a respeito dos assuntos que tememos dizer ou escrever algo, chegando, deste modo, ao auge do totalitarismo, interiorizando o mecanismo de censura.

Enfim, ao que tudo indica, e à luz da sabedoria de Cervantes, a sociedade brasileira não está muito longe de perder tudo.

*       O autor é professor, escrevinhador e bebedor de café, autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 24 Maio 2024

 

 

Gilberto Simões Pires

RESERVA DE MERCADO

Até pouco tempo atrás, o JORNALISMO era uma PROFISSÃO RESERVADA apenas a quem se dispusesse a cursar, e obter o DIPLOMA DE JORNALISTA em alguma FACULDADE da área da COMUNICAÇÃO. Fora disso, por conta de uma absurda -RESERVA DE MERCADO-, todos aqueles que, por conta própria e vontade, se propusessem a APURAR e INVESTIGAR FATOS, APRESENTAR NOTÍCIAS, FAZER REPORTAGENS e/ou ENTREVISTAS, eram simplesmente IMPEDIDOS DE TRABALHAR. 

REDES SOCIAIS

Com a chegada da INTERNET e do incessante avanço da tecnologia, que deu lugar à importante criação e o desenvolvimento das REDES SOCIAIS, todas as pessoas, independente do que faziam e continuam fazendo, fazendo uso apenas de seu SMARTFONE, se transformaram em JORNALISTAS AMADORES, do tipo que não têm o menor interesse em atuar na área da COMUNICAÇÃO pela via REMUNERADA, ou PROFISSIONAL. Com isso, gostem ou não, a partir daí ficou mais do que evidente que o AMADORISMO matou o PROFISSIONALISMO. Mesmo levando em conta que os PROFISSIONAIS também INVADIRAM AS REDES SOCIAIS...
DONOS DO PEDAÇO

Esta realidade -incontestável- mais do que sabido, provocou uma imensa reação de parte dos MONOPOLISTAS, que, como DONOS DO PEDAÇO, entendiam que só os detentores do DIPLOMA DE JORNALISTA seriam capazes de FILMAR, GRAVAR, EXPOR FATOS ON-LINE, ENTREVISTAR E POSTAR o que, MOMENTO A MOMENTO estava acontecendo.

 FAKE NEWS

Pois, nesta vã tentativa de IMPEDIR que o povo deixe de FAZER O PAPEL DE -JORNALISTA-, de forma AMADORÍSTICA OU PROFISSIONAL, o GRUPO FORMADO PELO CONSÓRCIO DA MÍDIA ABUTRE, PELOS APOIADORES DO GOVERNO LULA, ASSIM COMO O STF E O TSE, acharam por bem colocar na mira o firme interesse em INIBIR, e, se possível ACABAR COM AS REDES SOCIAIS. Para tanto, trataram de classificar tudo aquilo que não foi dito, apurado e investigado por JORNALISTAS DIPLOMADOS como -FAKE NEWS-. E como tal os -AMADORES-devem ser presos e condenados sem perdão.  

 TEOREMA DE PITÁGORAS

Mais: a SANHA DE PERSEGUIÇÃO é de tal ordem que basta, por exemplo, algum JORNALISTA -AMADOR- postar uma mensagem dizendo que concorda com o TEOREMA DE PITÁGORAS, que prova, matematicamente, que O QUADRADO DA HIPOTENUSA É EXATAMENTE IGUAL À SOMA DOS QUADRADOS DOS CATETOS-, o mesmo já é imediatamente rotulado como NEGACONISTA, FASCISTA, ANTIDEMOCRÁTICO, tudo porque resolveu ESPALHAR uma -FAKE NEWS-.

 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 24 Maio 2024

 

Alex Pipkin, PhD
       O Brasil é uma nau desgovernada. Não há dúvidas, são os fatos objetivos. Singelo perceber, além de ter sido algo bastante previsível. O modelo do Estado grande, do suposto bem-estar social, do assistencialismo sem assistência, faz tempo, está falido.

O atual desgoverno, perdulário e incompetente para prover o genuíno bem comum, mesmo com a “ideia fixa de arrecadar”, deve terminar 2024 com uma dívida pública bruta acima de 77% do PIB. Em síntese, as despesas governamentais - retoricamente em favor do povaréu - são maiores do que a arrecadação com tributos, contribuições e outras receitas.

Apesar da calamidade fiscal tupiniquim, autoridades do atual desgoverno só pensam em gastar mais, negligenciando a vital disciplina fiscal, e demonstrando total despreocupação com a redução de custos da mastodôntica estrutura estatal - ineficiente.

O “plano de salvação” desse calamitoso Estado assistencialista é sempre o mesmo: tributar ainda mais os criadores de riqueza, as pessoas e as empresas. Eles salivam como cães de Pavlov com o verbo taxar. A sociedade brasileira não aguenta mais carregar o fardo de sísifo, a fim de sustentar uma elite estatal completamente privilegiada e uma nata do funcionalismo público abastada, de maneira desproporcional. Além disso, as pessoas, coercitivamente, devem ser sócias de um clube assistencialista, provedor de programas sociais ineficientes e, muitos desses, ideológicos.

O intervencionismo estatal é tão inepto e maldoso que vai de encontro aos próprios interesses das pessoas e dos setores envolvidos. Por exemplo, no caso do projeto governamental que se intromete no setor de motoristas de aplicativos, a título de garantir “direitos trabalhistas” aos motoristas, a maioria dos operadores é contrária ao projeto. Além de muitos deles não poderem mais operar nesta modalidade, a remuneração desses cairá drasticamente.

O assistencialismo promete benefícios à população que não entrega, retirando os recursos dos operadores, que verdadeiramente não necessitam de babás, e que sabem dar um melhor destino aos frutos de seu trabalho, de acordo com seus próprios objetivos e planos de vida.

Em praticamente tudo que o Estado assistencialista prove e administra, a operação da iniciativa privada seria mais eficiente, e realizada com menores custos.

Vejam o caso do ensino público brasileiro, notadamente caro e de muito baixa qualidade. São os fatos, os comparativos internacionais comprovam cabalmente tal situação.

A ideia de “universidade para todos” é populista e improdutiva. Nivela-se por baixo e, na verdade, aumenta-se o volume de desemprego de “indivíduos educados”, agora dotados de canudo. Por outro lado, reduz-se o número de técnicos e de pessoas com habilidades comerciais, em mecânica, em serviços especializados, entre outras. A sociedade brasileira é onerada absurdamente, e recebe como contrapartida serviços públicos burocráticos e de baixa qualidade.

Ao cabo, o assistencialismo desenfreado é mais uma maquiagem que faz parecer ser que a vida do indivíduo comum progride, mas que, de fato, prejudica grandemente todo o tecido social nacional.

Políticos incompetentes querem somente se locupletar com o desastre disfarçado de “bondade”, aquele que produz votos. Eles se sentem confortáveis em tributar e aniquilar o povo, manejando ao seu bel prazer a vida dos amigos da corte.

O modelo assistencialista é uma falácia. Evidente que o indivíduo, com os seus recursos no seu próprio bolso, tomaria as suas melhores decisões.

Contudo, com o atual desgoverno perdulário e incompetente, está-se muito longe de se presenciar uma mudança de rumo quanto ao modelo enraizado.

Mesmo com a nau totalmente desgovernada, a trupe petista dá de ombros para a extrema necessidade de cortar gastos do governo. Ou melhor, do desgoverno.

A projeção, pelo contrário, é de mais gastos governamentais, mais tributação, maior descontrole e, evidente, a conta da incompetência sendo repassada para os cidadãos.

Calamidade fiscal, social e moral.

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  • Luiz Guedes, adv.
  • 24 Maio 2024

 

Luiz Guedes Neto

        Tenho observado, após os primeiros dias do desastre ocorrido no Rio Grande do Sul, vozes[1], sobretudo de outros Estados da federação, ressurgindo em coro e apresentando como solução para as ditas fake news a regulação da internet, mais precisamente das redes sociais. As vozes que ecoam a necessidade da aludida regulação afirmam que as notícias consideradas, por elas, mentirosas, atrapalham o esforço no resgate das vítimas. Além de mencionar a necessidade regulatória, enfatizam que tal regulação precisa ser feita imediatamente.

Preocupa-me o apelo à emoção para tratar de assunto sensível e importante para a sociedade civil. A emoção faz parte do nosso dia a dia, porém não devemos agir baseados apenas nela. Devemos, sobretudo, agirmos de forma racional, tanto como indivíduo, quanto como sociedade. E a razão orienta a analisar os fatos e as circunstâncias com cautela, observando detidamente os prós e os contras de qualquer proposta de lei. E, em relação à eventual proposta de lei sobre a limitação do direito fundamental de expressão do pensamento e/ou dos fatos, o cuidado deve ser redobrado, pois corre-se o risco de criação de monopólio na transmissão das notícias. E isso não é desejável para a sociedade que pretende permanecer democrática.

Apesar da grande maioria utilizar a internet diariamente, pouquíssimos conseguem constatar a grande utilidade desse instrumento como facilitador na troca de informações entre as pessoas. Através dessa rede, milhões de pessoas trocam mensagens diariamente e têm acesso às notícias de várias partes do mundo de forma descentralizada e distribuída, sem depender exclusivamente das tradicionais redes de comunicação (televisão e rádio). Quantos canais de televisão aberta tem o Brasil? Lembro-me de uns quatro apenas. Quantos blogs, canais do Youtube, perfis no X.com, Instagram, há? Milhares, e a cada momento podem surgir vários outros.

Quantas realidades só nos chegam porque alguém, possuindo um simples celular nas mãos, dispõe-se a registrar os fatos e a transmiti-los na internet para quem quiser ver? Milhares. Antes da internet, e mormente das redes sociais, só tínhamos acesso aos fatos e às realidades após a filtragem dos canais tradicionais de comunicação. O que você prefere, a primeira ou a segunda situação?

Em relação à resposta estatal ao desastre ocorrido no Rio Grande do Sul, não foram as notícias divulgadas pelas redes sociais que causaram a dificuldade na resposta estatal, mas sim a falta[2] de coordenação prévia do aparato estatal, nas três esferas. A internet apenas desvelou o acontecimento e as pessoas puderam tomar conhecimento da realidade daqueles locais, mesmo morando longe. A rede mundial de computadores também permitiu que as pessoas diretamente atingidas pelo evento pudessem expressar as suas dores e os seus pedidos de socorro, que, sem a internet, permaneceriam inaudíveis, ou as ondas de som desses pedidos sofreriam refração nos meios oficiais e chegariam modificados aos ouvintes finais.

Se você pretende continuar tendo uma certa liberdade de expressão na internet, que pode ser considerada a ágora do Século XXI, pense bem antes de aderir ao movimento de manada que conclama uma regulação restritiva das redes sociais e demais plataformas hospedadas na internet. É importante saber compreender bem as palavras proferidas nos brados por regulação das mídias digitais. Regular não significa necessariamente impedir o cometimento de crimes, mas sim a limitação da liberdade de expressão das pessoas, inclusive daquelas que não cometeram crime.

A legislação já pune quem comete crimes na internet, não necessitando de mais normas para tanto. Então, pense bem, se já há legislação para punir quem colete ilícitos penais e civis através da internet, então, para que a insistência na regulação das redes sociais? Sei que você, leitor, é uma pessoa inteligente, mas, mesmo assim, direi para que serviria uma regulação das mídias digitais: para limitar a pouca liberdade de expressão que eu e você temos.

O melhor ambiente para se combater inverdades, ou, conforme expressão da moda, fake news, é a livre circulação de notícias. Com o livre trânsito dessas, os fatos verdadeiros, quando confrontados, acabam prevalecendo no “mercado” das trocas voluntárias de notícias[3] realizado entre as pessoas. Limitar ou proibir a divulgação não ajuda na busca da verdade, mas favorece aquele que for escolhido, pela lei, como fonte oficial de veiculação de “notícias” e o ente ou entidade beneficiada pela aludida “notícia”. Lei essa que será fruto do poder de pressão de quem de fato detém o poder. E parece que o poder emana do povo apenas na letra fria da Constituição brasileira, sem encontrar amparo na realidade factual.

Se você estiver pensando agora em como ficará a pessoa que, de forma intencional, cria e propala inverdades, não se preocupe. Já há instrumentos legais para essa pessoa responder pelos ilícitos, tanto na esfera penal quanto na cível. Quem se sentir prejudicado por alguma publicação, poderá, através de processo judicial, com garantia ao contraditório e à ampla defesa, pleitear a remoção da publicação e a reparação dos danos.

Desta forma, precisamos ter cuidado para não estarmos agindo sob o efeito manada e pedindo por algo que possa resultar em um instrumento de controle e de diminuição da nossa liberdade de expressão, sob a promessa de combate às fake news. A liberdade de expressão, uma vez perdida, é muito difícil de recuperar. Não se esqueça disso antes de cogitar em aderir a algum movimento regulatório da liberdade de expressão.

[1] Autoridades públicas e integrantes da imprensa.

[2] Ou coordenação ineficiente.

[3] Envio e recebimento de notícias/informação sobre fatos.

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  • Felipe Daiello
  • 21 Maio 2024

 

Felipe Daiello

       Durante quase três semanas , de todos os lados , de todos os Estados do Brasil uma corrente de solidariedade, mesmo com ausência dos agentes do poder público numa ação solidaria, voluntários metem a alma em águas poluídas, enfrentam fome, frio, noites sem dormir, numa façanha que salva  milhares de brasileiros e os seus animais de estimação. Depois sem propaganda, quase sem nenhum apoio era preciso criar centros  de acolhimento  para humanos e animais, providenciar comida ,água potável, mínimas condições de higiene,  serviços sanitários e para higiene mínima , apoio psicológico para mentes em depressão pelas perdas, medicamentos e para as crianças  estabelecer rotinas de ensino, de recreação, com desenhos e  atividades culturais.

Mas agora, durante semanas , talvez meses, outras tarefas são prioritárias, pois com inverno chuvoso, frio congelante, sem roupas adequadas surgem doenças respiratórias. Devido a aglomeração  das pessoas em locais sem privacidade, surto de piolhos, de sarna, de doenças gastrointestinais , além da leptospirose, mostram a sua cara.

No entanto  algo mais sério  não foi enfrentado pelo poder público, mais preocupado pela imagem em queda do que  ver a realidade que só os voluntários enfrentam, A destruição da cadeia produtiva do Rio Grande é realidade. Começando pelas malhas de transporte, pois a queda de pontes, mesmo em zonas rurais, a destruição de rodovias ,os deslizamentos de encostas, além das vidas perdidas. bloqueiam os acessos entre municípios. Nosso aeroporto internacional interditado por meses por falha ou ausência de  bombas de drenagem traz outro desafio, estamos ilhados do mundo.

Sem a imediata normalização da nossa logística de transporte , não há como iniciar a movimentação da economia que está  paralisada e sem condições de iniciar a recuperação exigida. Faltam insumos, rações para o gado, para aviários , sem falar em  combustível. Além da alta nos preços, pois o transporte quando há é bem mais caro, o desabastecimento  geral  ou as prateleiras vazias logo serão realidade. O parque industrial está paralisado.Milhares de empregos a perigo.

Como mais de 450 municípios no RG sofreram danos severos durante o dilúvio, alguns ainda recuperando efeitos das enchentes de  2023, com a queda previsível de receita eles não dispõem dos recursos mínimos mesmo para iniciar a limpeza e a remoção dos entulhos. Alguns foram dizimados com bairros fantasmas em áreas de risco permanente. O que fazer na urgência,  questão a discutir e a providenciar. Diques? Casa de bombas?

Como nossa carta magna diz ser o Brasil  uma Federação de Estados, com independência em decisões administrativas e gerenciamento dos seus recursos, apesar de Brasília, onde não há fabricas e nem grandes empresas , ao longo do tempo centralizar arrecadações para  aumentar o seu poder político, provocando distorções e injustiças.

O Estado do Rio Grande do Sul onde temos Governo Estadual e Assembleia Legislativa, envia em tributos federais anuaís, em média, 60 bilhões de reais, fruto do trabalho dos.seus habitantes, no entanto o retorno em migalhas ou doações não chega a 25 %. Parece mentira, mas 42 bilhões provenientes do suor dos gaúchos desaparece num saco sem fundo. Em 10 anos nossa espoliação chega a 420 bilhões de reais, perto de 84 bilhões de dólares americanos. Como falar em dívida do Estado, perto de 100 bilhões, se já entregamos  quantia mais de quatro vezes superior. Numa comparação o Estado do Maranhão, estado que apresenta os piores índices sociais do Brasil como o IDH e PIB , onde municípios têm mais bolsas auxilio do que carteiras assinadas, numa equação reversa entrega 6 bilhões de reais e recebe quase o triplo. Compare os resultados obtidos em 10 anos de doações. No momento do dilúvio é preciso reparação do injusto encargo na presente situação.

Diferente do que ocorreu durante  a pandemia do Covid -19, com a política do fique em casa, os danos na economia foram severos, obrigando o governo a injetar 700 bilhões de reais para evitar o caos, mas a infraestrutura da nação não foi destruída, A situação do Rio Grande do Sul é muito distinta, o que exige novas decisões e mudanças de paradigmas tradicionais. Precisamos de bons gestores para crises e não de interventores jornalistas.

A atuação inicial dos voluntários foi fundamental para salvar vidas por primeiro, para depois alojar, vestir e alimentar os refugiados, a maioria só com a roupa do corpo  enquanto o imobilismo tradicional de estado paquidérmico não sai da tradicional letargia. Mas a atuação dos voluntários tem prazo de validade. O Rio Grande está destruído, como o Japão e a Alemanha do pós guerra, necessitando de fundos agora  e na veia para iniciar a recuperação e depois planejar em segundo plano como evitar e controlar futuros dilúvios. Esmolas, entrega de recursos de propriedade dos gaúchos, como a  devolução do IR pago a maior , não contam,

Como o governador afirma precisamos de um plano para galvanizar energias positivas, apenas um nome gauderio seria mais adequado, como Plano ou Projeto Farrapos como exemplo. Para isso precisamos do apoio dos nossos deputados federais e senadores em Brasília , bem como cobertura ampla em todos os meios de comunicação, pois a causa  é justa e interessa ao Brasil.

Durante 5 anos, como de direito, os impostos federais, mesmo em queda devem permanecer no Rio Grande, com administração de entidades civis e com as reivindicações dos prefeitos e das forças vivas do munícipio. Pois cada local sabe onde aperta o sapato. Como organizador não podemos esquecer o nosso governador, que foi eleito e conhece o Rio Grande e as  armadilhas e traições de Brasília. Hora de união total, como os  nossos antepassados fizeram quando nossas fronteiras estavam ameaçadas. Republicanos e imperiais lutam e morrem sob a mesma bandeira.

Durante cinco anos, com bandeira comum, agora que as forças vivas  e atuantes do RG foram despertadas podemos revitalizar o nosso querido RG, começando pela infraestrutura logística que foi destruída. São 200 bilhões provenientes do nosso trabalho, não do governo de Brasília, que o utiliza em finalidades não republicanas. Vamos recriar o RG dos nossos sonhos. A hora chegou e a nova  precisa alcançar todos os rincões do Rio Grande.

Importante , para desvendar o drama atual conhecer a topografia típica do RG, tendo ao norte, montanhas, morros e serras  com altitudes entre 500 a 1.000 nos cânions, entremeados por  vales sinuosos onde fluem uma rede de arroios, de riachos que vão engrossar outros maiores  como o Taquari, o Jacuí, o dos Sinos, o Uruguai, que rolam para planícies e coxilhas mais baixas onde o estuário e não lago do Guaíba é o ponto de encontro de muitos, para depois formar a Lagoa dos Patos e a barra do Rio Grande. Um sistema pluvial perfeito é formado , qualquer precipitação maior  vai chegar mais cedo ou não nos vales e cidades ribeirinhas. A antiga regra de  fundar as povoações  perto de rios e  riachos pode trazer problemas. Mas na Mesopotâmia, no Nilo, no Iêmen da Rainha de Sabá era importante saber controlar a irregularidade das águas.

Como  engenheiro e professor da UFRGS conhecendo o nosso Instituto e Laboratório de Hidrologia, onde fiz o meu  primeiro trabalho de pesquisa como estudante e sendo o atual reitor um especialista no assunto, já temos um embrião para rever, analisar e estudar a implantação de mini represas, com vertedouros e canais que desviem e levem a água para caminhos secundários. A partir do terceiro ano de execução do Plano ou Projeto Farrapos, após projetos, a implantação dessa rede de mini represas, além do controle das cheias, pode gerar energia elétrica barata para a micro região, controlar secas pela irrigação, incentivar a piscicultura para velhos pescadores e ter um caminho aquático  eficiente entre duas barragens. Seria projeto cidadão trazendo vantagens inerentes aos habitantes que teriam outras opções para lazer incluindo a pesca esportiva, uso de jet-skis e de lanchas. Com o controle local como a comunidade de Nova Roma demonstrou ao reconstruir ponte destruída em 2023 e agora, em 2024, a mesma aguenta um dilúvio, agora com nova vaquinha a missão é recuperar estradas obstruídas para  chegar a Farroupilha. Surge solução mais barata , mais rápida e de melhor qualidade; podemos fazer do limão uma revolução. Precisamos divulgar o método participativo. Pois  nos cálculos no governo a ponte iria exigir 24 milhões de reais e levaria quase dois anos para a conclusão. No entanto o interesse e a força da comunidade de Nova Roma, exemplo para o Brasil e para os seus políticos e dirigentes, em menos de 3 meses e a um custo de um terço do orçamento oficial,  foi aberta ao trafego ainda em 2023 com uma procissão onde o andor da padroeira da cidade á frente cortava a fita da inauguração. Como adendo a nova ponte resistiu a dilúvio nunca visto no Rio das Antas. Podemos iniciar novo modelo de governo. Outra façanha dos gaúchos.

Sirvam nossas façanhas de modelo , de modelo , a toda à Terra.

Obs:  Rio Grande foi a denominação dada ao nosso Estado quando o primeiro português, Martim Afonso de Souza, passou por nossa costa em 1532.

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  • Cesar Leite
  • 16 Maio 2024

Cesar Leite

       Os dias no Rio Grande do Sul estão sendo marcados por eventos trágicos e inéditos para a nossa geração: as inundações de proporções épicas que assolam o estado. Além dos números que traduzem a magnitude do desastre – mais de 2 milhões de pessoas diretamente afetadas, 447 dos 497 municípios atingidos,  em torno de 600 mil pessoas desabrigadas e uma dolorosa perda de vidas, na maior abrangência territorial de uma tragédia que se tem notícia – a história dessa catástrofe está sendo escrita pela força da natureza e, principalmente, pela capacidade espetacular e comovente de união e solidariedade do povo gaúcho, brasileiro e, em muitos casos, mundial.

Rodeados de águas, estamos presenciando uma manifestação incrível de compaixão e vontade de resolver cada nova situação e necessidade que aparece. Pessoalmente, na condição de quem está envolvido na linha de frente de várias iniciativas de mitigação da tragédia, posso dizer que são milhares de demandas e contextos e que nada parece impossível para esta gente brava e aguerrida.

Jet skis, barcos, botes e caiaques se tornaram instrumentos de resgate de pessoas e animais, enquanto as doações garantiam o suporte básico para os  desabrigados Nos mobilizamos de forma inédita e ágil, formando um verdadeiro mutirão de doações e ações voluntárias. Roupas, alimentos, água potável, itens de higiene, colchões, medicamentos, equipamentos de salvamento e toda sorte de itens para amenizar o sofrimento das vítimas.

A resposta imediata e contundente demonstra a pujança do espírito do nosso povo que recusa a se curvar diante das adversidades. A mobilização popular em conjunto com os vários instrumentos públicos de suporte e o braço amigo dos demais estados do nosso Brasil, estão sendo impulsionados por um sentimento genuíno de empatia e conexão a quem está precisando, transcendendo as diferenças e unindo a todos em um propósito comum: reconstruir e seguir em frente.

Diante disso, é fundamental manter a chama da solidariedade acesa e traduzi-la em ações efetivas e inteligentes. A superação dessa tragédia exige liderança, capacidade técnica (inclusive de quem já venceu este tipo de situação),  gestão transparente e eficiente dos recursos, união dos poderes e agilidade na ação, além da participação plural e ativa de toda a sociedade civil.

O caminho para a reconstrução será longo, custoso e árduo. A magnitude dos danos exige um esforço colossal, tanto em termos de recursos quanto de planejamento e capacidade de técnica de execução. Existem vários cálculos sendo feitos que estimam, neste momento,  que vamos precisar de R$30 bilhões para reparos emergenciais, outros R$20 bilhões para obras mais robustas e adicionais R$ 50 bilhões para uma reconstrução completa e resiliente, totalizando pelo menos R$ 100 bilhões por uma perspectiva preliminar do que precisaremos reconstruir e construir juntos.

É hora de unirmos forças, conhecimentos e expertise para reprincipiar o Rio Grande do Sul, não apenas repondo tijolos e estruturas, mas também fortalecendo a economia, a infraestrutura e os mecanismos de prevenção para evitar que eventos semelhantes se repitam, como muito foco no humano. Por outro lado, a tragédia que nos atinge também pode apresentar oportunidades de desenvolvermos um futuro inovador, diversificado, abrangente, seguro e próspero para o nosso amado estado.

As enchentes de 2024 são um marco trágico em nossa história, mas também podem ser pensadas como um testemunho eloquente da força do nosso povo. Quando a força da solidariedade vence a força da água, abrem-se espaços para desenvolver e construir juntos uma nova e vencedora realidade.

*      Enviado pelo autor. Publicado originalmente em https://dynamicmindset.com.br/

 

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