Alex Pipin, PhD
Estou a “um passo” dos 60.
Lembro que na minha juventude, ser de esquerda, era considerado ser um cara idealista, inteligente, descolado e rebelde - com causa. Conservadores eram caretas e retrógados. Os feios. Esquerdistas eram os de mente aberta.
Ser de esquerda era ser “justo” contra a exploração e à opressão imposta pelos poderosos do sistema - capitalista.
Era um idealista quem enxergava a necessidade de se lutar pela “justiça social” e pela - impossível - igualdade. Pregava-se, idealmente, as liberdades individuais e o respeito à dignidade das pessoas.
Havia, penso eu, uma mistura de idealismo, de rebeldia, de sentimentos genuínos, e uma dose de ingenuidade quanto à vida como ela é. É verdade que eles se achavam melhores do que os “não esquerdistas”, mas não existia o presente ódio e divisionismo quanto aos hoje “inimigos do outro lado”.
O mundo e a vida, transformaram-se. Claro que a vida ensina, e cobra. Justamente por isso é que existem vários exemplos de migração de “esquerdistas iludidos” para à direita. Direita e esquerda não são termos adequados; utilizo-os para simplificar. No entanto, você que me lê, já presenciou o contrário? Provavelmente, não. Raramente.
Sentimentos “esquerdistas” eram, imagino, legítimos. O tempo verbal é autoexplicativo. Atualmente, a essência da “preocupação com os outros”, transparentemente, desapareceu.
Não acredito que deixará de existir o triste e contraproducente tribalismo ideológico, daqueles que se consideram moralmente superiores, e que ainda se agarram, com unhas e dentes, nas utopias marxistas, desejando a coletivização total de nossas vidas.
Hoje, essa esquerda que aí se encontra, luta mesmo por um único objetivo. Custe o que custar, pelo seu projeto de poder. Desafortunadamente, grande parte da juventude, continua sendo doutrinada por marxistas de carteirinha, verdadeiros idiotas úteis de uma deselite pilantra, que só pensa nos seus próprios umbigos e em seus interesses espúrios, individuais e/ou tribais.
Não importa que eles não tenham, comprovadamente, competência para governar e fazer acontecer, que eles corrompam e roubem, que eles defendam terroristas, que se alinhem a sanguinários religiosos do Irã, e/ou ditadores ideológicos, como Maduro, na Venezuela, que eles tirem o dinheiro do suado “trabalho dos trabalhadores”, via tributação escorchante de tudo e de todos, que eles defendam à censura e o autoritarismo, que advoguem pela bandidagem (vítimas da sociedade) e pela impunidade, enfim, que eles façam o que, ao cabo, sempre fazem: hipotequem o futuro de nossas gerações.
Da boca para fora eles, retoricamente, querem derrubar o capitalismo - à economia de mercado, que desconhecem o que factualmente significa e produz. Por óbvio, fora o capitalismo, viva o decrescimento - para os outros! Eles pretendem continuar gozando dos privilégios e das benesses que só o capitalismo de verdade é capaz de engendrar e entregar.
Sinteticamente, eles desejam eliminar a galinha que produz os ovos que alimentam a todos. Querem que aqueles que produzem deem àqueles que não produzem. Desejam abolir e expropriar a propriedade privada.
Que tristeza! Os mancebos idealistas são cegos que veem, mas não enxergam. Não importam os males reais que eles praticam, e que todos conhecem e enxergam.
O tribalismo coletivista é risível, sentimental, porém, destruidor! Os coletivistas são populistas incompetentes, que não sabem administrar, governar, e prover, de fato, um desenvolvimento sustentável e o bem comum.
O que essa deselite “progressista do atraso” deseja, é uma igualdade - repito, impossível - de todos, na pobreza. Evidente, exceto para ela própria. São os benevolentes, apologistas do socialmente iguais, com o trabalho e o dinheiro dos outros.
O grande Roberto Campos afirmou que “o mundo não será salvo pelos caridosos, mas pelos eficientes”.
Alguma dúvida de que os “progressistas do atraso” não sabem governar e fazer - exceto corromper - o que deve ser feito?
Dartagnan da Silva Zanela
Vidas em jogo. Sim senhor, esse seria um nome bem mais apropriado para um pleito eleitoral. De tempos em tempos, com hora e data marcada, a galera se reúne para fazer suas apostas quanto ao futuro da pólis.
Em se falando nisso, lembro que, certa feita, Millôr Fernandes havia dito (escrito) que viver seria como desenhar sem borracha. Adoro essa frase do Millôr. Penso que não há analogia melhor que essa para meditarmos sobre nossas venturas e desventuras em série que são vividas por nós em nossa caminhada por esse mundão de Deus.
Além dessa analogia, podemos também comparar a nossa vida - e um pleito eleitoral - com uma partida de xadrez. Aliás, essa comparação é profundamente apropriada, tendo em vista que o tabuleiro do referido jogo, com suas peças pretas e brancas, é uma Mandala tradicional e, enquanto tal, é um retrato simbólico da alma humana e das múltiplas possibilidades que são delineadas pelos dilemas e desafios que nos são apresentados pela vida, como bem nos ensina Titus Burckhardt.
Na verdade, todos os jogos tradicionais são portadores de elementos simbólicos que nós, homens modernos, não apenas desconhecemos, como também desdenhamos.
Enfim, voltemos à analogia com o jogo de xadrez.
Em uma partida existem boleiras de possibilidades que podem ser realizadas. Repito: boleiras. Tudo depende da perspicácia e da perseverança de quem está jogando.
Para se ter uma ideia da magnitude de uma partida de xadrez, a partir do quarto movimento que realizamos no tabuleiro, existem nada mais, nada menos, que trezentos e oitenta bilhões de jogadas possíveis. Não são centenas, nem milhares, nem milhões; são bilhões de possibilidades.
Se esse número, amigo leitor, o impressionou, aí vai outro: após os dez primeiros movimentos, existem, numa partida de xadrez, aproximadamente 170.000.000.000.000.000 de movimentos possíveis.
Esse sim, meu amigo, é um bagual de um número. Número que, diga-se de passagem, não temos como verificar e, para ser bem franco, a sua verificação não nos interessa muito não, porque sua precisão não é, de jeito-maneira, o "X" da questão.
Só de pensar na enormidade desse número, nos dá uns sete tipos de medos diferentes, frente a quantidade de possibilidades que existe num mero jogo de tabuleiro. E se existe essa quantidade de caminhos que podem ser trilhados num jogo, pare, pense e calcule a quantidade de possibilidades que existem em nossa vida e que são ignoradas por nós. Calcule a quantidade de possibilidades que são desdenhadas por nós em uma eleição municipal. Pois é. Só em pensar nisso, já nos dá mais um tantão de medos diferentes.
Seja como for, não temos como corrigir os erros e equívocos que cometemos no passado, mas temos, diante de nossos olhos, uma infinidade de possibilidades para podermos dar um novo rumo para à jornada.
Sim, o que está feito, feito está. Mas o que está por ser realizado depende, inicialmente, do que iremos fazer a partir dos erros que ficaram para trás, e é justamente aí que a porca torce o rabo, e torce bonito, porque na maioria das vezes, ao invés de procurarmos ver os dilemas que a vida nos apresenta a partir de outras perspectivas, preferimos, por comodismo mental, nos apegarmos única e exclusivamente a apenas uma que, é claro, consideramos ser a única correta, porque, obviamente, desconsideramos todas as demais.
E levando tudo isso em consideração, podemos dizer que há três atitudes caricatas que, muitas e muitas vezes, se fazem presentes no coração da gente quando estamos diante de um ano eleitoral.
Algumas pessoas ficam pau da vida, querendo fazer uma revolução, uma quartelada, um contragolpe ou algo que o valha e, no frigir dos ovos, fazem muito barulho e nada realizam. Outras são tomadas por um áspero cinismo, e acabam afirmando para si mesma que nada tem cura e que o nosso único destino seria aguardar, passivamente, a vaca ir para o brejo. Por fim, teríamos aqueles que são tomados pelo desespero, imaginando que estamos próximos do fim, porque, no entender delas, não há nenhum Chapolin Colorado nas redondezas para nos defender.
Ora, qualquer uma dessas atitudes é obtusa. Todas elas são, ao seu modo, fatalistas até o tutano e isso, meu caro Watson, não é algo que pode ser cultivado em nosso coração se, de fato, procuramos ser pessoas minimamente razoáveis que não vivem com a cabeça mamada com ideias, ideais e ideologias temerárias.
Por fim, é preciso que nunca nos esqueçamos que, na vida política e nas lides da vida, existem tantos caminhos possíveis quanto num jogo de xadrez e, por isso mesmo, todos os erros e equívocos, por mais escabrosos que sejam, não são definitivos. Tudo depende da forma como encaramos o tabuleiro do jogo do poder e da vida e, principalmente, como procuramos corrigir o traçado do desenho da nossa vida, que estamos fazendo, dia após dia, com nossas escolhas vacilantes e decisões irrefletidas.
* O autor é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.
Gilberto Simões Pires
RADICAIS
Segundo informa a pesquisa Datafolha, sem mínima surpresa, o candidato liberal à prefeitura de São Paulo PABLO MARÇAL concentra 50% das intenções de voto dos eleitores que se identificam como apoiadores de Jair Bolsonaro. Da mesma forma, o candidato hiper comunista GUILHERME BOULOS concentra 45% da preferência daqueles que se declaram como apoiadores do presidente Lula. Como tal, mais do que sabido, ambos são classificados, tanto pelo público quanto pela mídia, como RADICAIS.
TERCEIRA VIA
Já o candidato RICARDO NUNES e a candidata TABATA AMARAL, também sem surpreender, são taxados de MODERADOS, ou da surrada TERCEIRA VIA, ambiente que reúne aqueles que se apresentam como CONCILIADORES. Mais: a maioria, senão todos, também mais do que sabido, usam e abusam de posicionamentos FALSOS, do tipo que, infelizmente, levam os ingênuos eleitores a acreditar que o MEIO TERMO é o melhor caminho para o bem do Brasil.
IDEAIS, PROPÓSITOS E VONTADES
Pois, muito antes de classificar os candidatos como RADICAIS OU MODERADOS, é importante lembrar sempre que o eleitor, ao digitar o nome ou número do seu candidato preferido, está convencido de que, em princípio, tanto no PODER EXECUTIVO quanto no LEGISLATIVO, seus IDEAIS, PROPÓSITOS E VONTADES estão em boas e corretas mãos e mentes.
SOU RADICAL
Portanto, para que fique bem claro, o RADICALISMO ou a MODERAÇÃO inicia com o ELEITOR. Como tal está disposto a votar e/ou escolher um candidato que seja dotado de conhecimento e disposição para representá-lo. De novo: o RADICALISMO inicia com a personalidade do ELEITOR. Ao ELEITO cabe representá-lo nas suas IDEIAS, PROPOSTAS E ANSEIOS.
Detalhe final: a considerar que tudo que mais quero e exijo é LIBERDADE E JUSTIÇA, fico feliz por ser chamado de RADICAL.
Alex Pipkin, PhD
Não sou estúpido, tampouco ingênuo.
Vive-se numa “era progressista”, em que os chamados conservadores são considerados como aqueles que carregam e propagam o mal. Já os ditos “progressistas”, são os bondosos paladinos da cruzada moral, pelo bem.
O mal, a perversidade, é imanente à natureza humana.
Santo Agostinho tem razão, a perversidade é fruto dos “desejos desenfreados”. Ele afirma que cada um de nós é autor de suas próprias más ações.
Não há como desconsiderar que nesse “novo mundo” dicotômico, reina a dissonância cognitiva. Tal viés cognitivo impõe e alinha o pensamento tribal a determinadas crenças e ideologias que aprisionam as pessoas em suas fantasiosas cavernas mentais. Inexistem fatos e dados que desmintam os castelos de areia criados pelo sectarismo.
No entanto, a realidade e os fatos são claros. Faz parte do projeto de poder “progressista” a conhecida estratégia de dividir para conquistar. A mentalidade dual esquerdista, propositalmente, impõe uma falsa premissa de que a vida é pautada por opostos absolutos.
Contudo, o que está por detrás dos discursos e das narrativas idealistas e utópicas esquerdistas é, sem dúvida, uma hipocrisia peçonhenta. São os exímios praticantes das fúrias hipócritas, patológicas.
Agora esses “progressistas”, detentores da superioridade intelectual e moral, imposta por uma deselite perversa, de maneira surreal, apoiam à censura, que ceifa um dos direitos mais fundamentais, aquele da genuína liberdade de expressão. Em última análise, apoiam um Estado autoritário e repressor.
Dizem defender às minorias identitárias, desde que façam parte da tribo encarnada. São apologistas dos direitos (des)humanos, expressando ojeriza total, um terror moralista aos “autoritários, homofóbicos, fascistas…”, inimigos que pensam distintamente desses semideuses de barro.
Triste, mas nada distinto do “normal”, de uma hiprocrisia tenebrosa e destruidora. A maldade dessa turma petista - e assemelhados - já foi amplamente comprovada e julgada! Cego enxerga e sente de longe.
Nenhuma novidade do tradicional e recorrente “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
Eles retoricamente discursam sobre a defesa dos direitos “humanos”, desde que negros, gays, e outros grupos minoritários, rezem na cartilha tribal vermelha. Evidente que defendem a tribo de terroristas do Hamas, contra os judeus “conspiradores e opressores”.
Eles dizem defender os pobres, mas só pensam em tributar os comuns, e reforçar seus laços de compadrio com os amigos banqueiros.
Pois ontem caiu mais um símbolo desse desgoverno, da escrachada hipocrisia dessa turma que o passado, ampla e fartamente, condena.
São representações da mentira escrachada, da hipocrisia, que no discurso empolado diz se preocupar com o povo, com os direitos (des)humanos, mas que na realidade objetiva, seletivamente, descarta tudo aquilo que vai de encontro ao seu projeto de poder, e o que não lhe convém confessar.
Rubem Sabino Machado*
Estudei Arquitetura 4 anos. Não terminei. As razões não importam aqui. O que importa é que havia uma matéria chamada Projeto de Arquitetura. Obviamente, nessa matéria se ensinava como projetar e era uma matéria eminentemente prática, embora muitas vezes o professor que a ministrasse fosse alguém que jamais teve um projeto seu construído e sequer trabalha com isso, era um mero teórico acadêmico: era como, na Medicina. ter aula de cirurgia com alguém que não opera ninguém.
Meu primeiro professor era um desses, e que por isso mesmo, era um autoritário que se achava muito melhor que os alunos. Ainda por cima, aplicava provas e exigia um projeto por semana. E após 40, 50, 60 dias, ainda não tinha dado nota e corrigido os anteriores. Ele achava que um tal “roteiro para construir”, de uma federal, era Deus e não deveria ser questionado, mesmo quando era evidente que daria errado. Curiosamente, nunca falei de política com ele, mas, anos mais tarde descobri que era da ideologia... Devia ter imaginado, mas eu ainda era ingênuo e pouco perspicaz sobre isso.
Mudei de faculdade quando continuei com ele e vi que o de História da Arte também era da ideologia e tinha um site chamado plebe rude ou algo assim e quase nada ensinava: preferia doutrinar e humilhar alunos. Curiosamente, quando fiz uma pergunta meio maliciosa, ele se virou pra me dar uma patada e, quando me viu de terno e mais velho , amansou o tom: assombração sabe pra quem aparece... Na outra faculdade Maria Helena e Carlito eram maravilhosos professores de Projeto e História da Arte que ensinavam de verdade e com educação.
Mas nada disso é realmente relevante e estou aqui para falar de algumas coisas de que nenhum professor de projeto, mesmo que seja o pior, como foi o meu, pode escapar. Quando se passa um trabalho de projeto pros alunos, nunca se dá tempo suficiente para eles se animarem.
“Projete uma casa de 3 quartos para uma família composta de um casal e seus dois filhos. Quando sua mente começa a viajar e projetar uma casa que parece genial, a casa dos sonhos, são impostas regras, primeiro: a casa deve ter 60 metros quadrados...
Cara, 3 quartos em 60 metros quadrados vai ser difícil, mas a mente ainda vislumbra soluções e, quando você começa a rascunhar, vem o “divino” “roteiro para construir no nordeste”. E não importa alegar que o cliente pode querer priorizar a sala como ambiente mais fresco porque a família passa a maior parte do dia lá, que a falta de sol nos quartos vai gerar mofo e, nem sequer ouse falar em ar condicionado, seu herege, afinal de contas, ninguém usa isso no Recife, não é?
Você recomeça a pensar, agora em soluções bem mais restritas e, ao rascunhar um novo croqui, vem mais uma regra: o terreno! Ele tem 80 m2. Pequeno para uma casa de 60... Mas não é só isso, tem que respeitar afastamentos de tantos metros de distância para o muro à direita, à esquerda, à frente, atrás e muitos metros quadrados são desperdiçados num terreno que já era pequeno.
Então você rasga o papel que já estava todo rabiscado. Traça o terreno e marca os afastamentos, descobrindo que sobram 68 m2 para construir: quase sem margem... Aí você faz o óbvio e resolve fazer uma casa retangular, por essa falta de margem. O professor então avisa que quer se se faça um bom trabalho de volumetria que, em resumo, significa que a casa não pode ser retangular...
Você inicia outro rascunho e quando está quase conseguindo ele diz que dentro dos quartos precisa caber um circulo de 2,40m de diâmetro, que a sala isso, que a cozinha aquilo. Óbvio, quando você conseguiu, apesar de tudo isso cumprir as regras, ele vem com a ABNT, a maldita ABNT, associação brasileira de normas para TUDO!!!
Enfim, disse tudo isso para lembrar que fazer tudo dentro das regras, dentro das 4 linhas de um terreno (e as vezes são 5, 6, há curvas) e respeitando afastamentos, roteiros pretensamente divinos e tudo mais, torna bastante difícil projetar algo realmente bom. É por isso que um time não pode ser chamado de genial quando ganha ajudado por árbitros que o beneficiam sempre, marcando pênaltis quando seu atacante chuta o chão nos descontos ou expulsando quem sofreu a falta em vez de quem a fez.
Também é um equívoco quando se é chama de genial quem fustiga e derrota inimigos sem estar sujeito a nenhuma regra ou possibilidade de responsabilização, e podendo sujeitar o inimigo até a regras inexistentes. Que genialidade é essa? Sem ter que seguir regras: é moleza...
Quem joga limpo contra quem joga sujo perde... sempre (anônimo)
In God we trust
* O autor é cronista fictício e nunca teve moleza, já que segue as regras...
Dartagnan da Silva Zanela
Todas as cidades brasileiras, cada uma com sua especificidade, têm inúmeras histórias pitorescas para contar quando o assunto são eleições municipais. Algumas, inclusive, acabam entrando para o "folclore" local, outras tantas, para os anais da história.
Historietas à parte, podemos dizer que um elemento que frequentemente é apresentado aos cidadãos, como ares de comédia bufa, são os tais "planos de governo". Sim senhor! Eles mesmos. Planos que, de quatro em quatro anos, são deixados na porta da casa dos eleitores, ou jogados na rua mesmo, para que as pessoas tenham a oportunidade ímpar de conhecer as pretensões cívicas dos postulantes ao cargo de Prefeito.
Em termos gráficos, o material até que é bem vistoso, independente de quem seja o abençoado do candidato, pouco importando qual seja a municipalidade.
De um modo geral, os tais "planos" têm a forma de uma revista, impressa em papel de boa qualidade, com muitas cores, inúmeras fotos e tudo aquilo que, se o cabra for eleito (ou reeleito), será "realizado" nos anos vindouros.
O problema – e, nesse caso, há uma penca deles – é que muitíssimos candidatos, de norte a sul do Brasil, não sabem a diferença abissal que há entre uma carta de intenções e um plano de ação e, por não saber, ou por ignorar essas diferenças, muitos acabam terminando apresentando somente um punhado de promessas vagas como se isso fosse um "plano de metas" exequível em um quadriênio.
Com toda certeza, o amigo leitor já deve ter se defrontado com alguns trambolhos com essa feição que, de fato, são lidos pelas pessoas e, por conta da forma desleixada que as "propostas" são apresentadas, estas acabam tornando-se motivo de piada nas rodas de conversa e nos grupos do whatsapp. E se esses trens fuçados não são motivo de chacota, temos algo de errado aí e, como dizem os jovens: algo errado, certo não está.
Ora, um plano de governo, como toda e qualquer proposta de ação, necessariamente tem que conter alguns quesitos básicos para ser, realmente, levado a sério. Elementos esses que, diga-se de passagem, são "o básico do básico do básico" para a realização de qualquer coisa.
O primeiro, como todo mundo sabe, é esse: aquilo que está sendo proposto se coaduna com o orçamento do município? A arrecadação realmente é suficiente para realizar todas as proezas que são apresentadas com aquela boniteza no "plano de governo"? Se sim, como será a distribuição desse orçamento para cada uma das atividades que estão sendo propostas? Ora, se não há essa clara discriminação orçamentária, isso não é um plano, nem aqui nem na casa do chapéu. É apenas mais uma conversa mole para o eleitor rir, na melhor das hipóteses.
O segundo ponto que deve se fazer presente em um plano de ação é esse: como essas atividades serão realizadas? Esse negócio de dizer que se irá pintar e bordar um futuro melhor sem dizer claramente como isso será feito, francamente, não parece ser um plano não, mas sim, apenas e tão somente mais uma opereta de malandro, tocada no coreto da pracinha de Sucupira, de Odorico Paraguaçu. Só isso e olhe lá.
Terceiro ponto, não menos importante, é o prazo. Isso mesmo! O dito-cujo do prazo. Se dizemos que vamos realizar alguma coisa, e se realmente sabemos o que estamos fazendo, necessariamente somos obrigados a apresentar uma estimativa do tempo que precisamos para executar as metas propostas. Caso contrário, é apenas mais uma cilada para pegar alminhas desavisadas.
Por fim, não menos importante, seria o eleitor ser informado de quais seriam as pessoas que, junto com o postulante à cadeira do executivo, irão se responsabilizar pela execução do plano de governança. Quais seriam os possíveis nomes que viriam a integrar a sua equipe de gestão? Qual seria a composição do seu secretariado?
Diante do exposto, podemos dizer, com certa inquietude, que um punhado de promessas vagas, reunidas numa revistinha toda pomposa, colorida e bem impressa, como se fosse um "plano de governo", acaba, sem querer querendo, falando muito mais do que seus autores gostariam que fosse dito.
Em alguns casos, fica claro a grande falta de respeito pela inteligência do cidadão e, noutros, fica evidente a presença de interesses nem um pouco republicanos em relação à coisa pública. Nalguns casos, as duas, juntas e misturadas.
Enfim, como nos ensina o escritor Humberto de Campos, nesse momento, em que somos convidados a sufragar nossa opinião a respeito dos rumos que o município, onde residimos, deve tomar nos próximos quatro anos, é de fundamental importância que procuremos ser senhores de nossa vontade e escravos da nossa consciência.
Imagino que cada um de nós sabe o que é melhor para as futuras gerações e, se não o sabemos, com o perdão da palavra, está mais do que na hora de "garrarmos" vergonha nas ventas e passarmos a refletir sobre isso com a devida seriedade e com a indispensável serenidade, mesmo que as opções que temos estejam muito abaixo das nossas expectativas [depre]cívicas.
* O autor, Dartagnan da Silva Zanela, é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.