• Valdemar Munaro
  • 13 Outubro 2024

 

Valdemar Munaro


          Disfarçado de retidão e justiça, o ex-mandatário argentino, Alberto Fernández, aliado e amigo de Lula, vivia de aparências mentirosas enlameadas na hipocrisia e devassidão. Enquanto governava o país, era soberbo no apoio ao feminismo e aos direitos humanos. Porém, desligados os holofotes, agredia a esposa, Fabíola Yanez e era pródigo com dinheiro público para orgias e festas. A Casa Rosada converteu-se em prostíbulo: a dedo ou a esmo, como Calígula, Alberto se encontrava com mulheres furtivas para vícios e diversões. A 'companheirada' kirchnerista, por sua vez, era a corroboração das malandragens do presidente. Enquanto isso, compatriotas minguavam na pobreza e na miséria.

O político esquerdista ostentava um ministério exclusivo às mulheres. Vergonhosa hipocrisia. Por trás das cortinas, o que era dito não se fazia, o que se fazia não era dito. As imoralidades vicejavam. Na pandemia, ao povo encontros e reuniões eram proibidos e participações em enterros de entes queridos, punidas. A Casa de Olivos, porém, promovia banquetes e aglomerações. Argentinos estupefactos, descobriram-se enganados por espertalhões e parasitas.

Fabíola, feminista pusilânime e humilhada, pediu ajuda ao ministério dedicado às mulheres; silenciada e reclusa, precisou se resignar. Alberto, no entanto, trombeteava moralidades fingidas num reino de velhacarias, vícios sexuais, bebidas alcoólicas e ideologias. Provavelmente aprendeu de Juan Domingos de Perón (reiterado abusador de adolescentes e apreciador de prostitutas), a arte de mentir e enganar.

Os episódios envolvendo o ex-presidente argentino se assemelham aos divulgados assédios sexuais do ex-ministro brasileiro Sílvio Almeida. Sílvio, como Alberto, apresentava-se como bom moralista, professor e intelectual, versado em questões ligadas ao direito e ao racismo. Condutas privadas de Sílvio, no entanto, mostram a alma de um pavão: palavreado fino e artístico nas aparências, mas por trás das cortinas, o time que joga é outro. Sílvio, um combatente do racismo e da injustiça, se mostrou um moralista de cuecas, um rei nu, mentiroso e hipócrita. A hipocrisia marxista lhe forneceu lentes poderosas para enxergar pecados alheios e lentes fraquíssimas para ver os próprios. Moralistas de plantão são exatamente assim: observam argutamente o argueiro no olho do semelhante e pessimamente a trave que está no próprio (Lc 6, 41). É uma astuta malandragem do racismo estrutural ver mal o mal, pois vê o mal pendurado unicamente nas estruturas.

A hipocrisia, desde Adão e Eva, tem sua onipotência: mina a vida cívica, os negócios e as relações fraternas. Onde reina a mentira, o amor fenece, a fé esfria, a esperança esmorece. Prima irmã da mentira, quando espraiada, produz frutos devastadores de ceticismo e desconfiança. Onde não há confiança, os vínculos sociais e afetivos ficam degringolados. As desonestidades intelectuais, por sua vez, estão nas raízes desse mal, e, por serem consequentes, produzem enfermidades comportamentais. As ideias, segundo Isaiah Berlin, têm força; corrompidas, geram ações imorais. Não basta, portanto, pensar; é preciso pensar reta e honestamente.

O historiador Leszek Kolakowski mostrou a ousadia intelectual dos que laboram como inimigos do intelecto realizando a mais demoníaca das ações: corromper a luz da alma racional. Infestadas de 'paralaxes cognitivas', muitas atividades intelectuais parecem ser feitas justamente para perverter o raciocínio e enganar os aprendizes. É proposital o fato de muitos moralistas e ensinantes, excluírem-se da responsabilidade de se comprometer com o que ensinam. São os que "dizem, mas não fazem, atam pesados e esmagadores fardos aos outros, enquanto eles mesmos, não querem movê-los sequer com o dedo" (cfr. Mt 23).

N. Maquiavel (1469 - 1527), vestia-se elegante à noite para entabular colóquios com sábios pretéritos. Achava indigno estar com os taberneiros florentinos durante o dia e julgava ser mais sábio estar com os mortos durante a noite. Sua obra é uma sutil bajulação endereçada a governantes com o objetivo de angariar benefícios pecuniários e políticos para si. A ciência política maquiavélica, portanto, foi tragada pelo lamento sub-reptício embutido nos salamaleques dirigidos aos Médici. Por isso, são escritos ocos ou vazios de honestidades intelectuais. Se os princípios maquiavélicos fossem aplicados ao próprio Maquiavel, este teria sido catapultado da história. Sua doutrina pretensamente aplicada aos outros, não tinha valor para ele mesmo.

Jean J. Rousseau (1712 - 1778), abastecido por carcaças românticas lamuriosas, fez-se francês e desenvolveu queixosas pedagogias repletas de armadilhas políticas e morais. Os conselhos dados aos pais e educadores, não valiam para ele mesmo, pois os filhos que gerou foram despejados em orfanatos. Choramingando narcisismos e incompreensões, Rousseau depositou sobre os ombros da inteira humanidade as culpas das próprias aflições. Sua obra trata os infortúnios como provindos só da exterioridade. As responsabilidades pelas infelicidades pessoais foram espertamente derramadas no 'tecido social'. Rousseau é o pai do vitimismo avassalador contemporâneo. A solução psicológica que deu aos problemas éticos é uma obra demoníaca astuta que, simultaneamente, culpabiliza e inocenta todo mundo, sem responsabilizar, nem redimir ninguém.

Mentiroso, igualmente, foi Maximilien Robespierre (1758 - 1794), insignificante e medíocre advogado provinciano que esbravejava oposição ferrenha à pena de morte para quem quer que fosse. Alçado ao naco de poder que a presidência da Convenção Nacional lhe deu, mudou de personalidade e suas convicções converteram-se em algozes tiranias revolucionárias. Achando-se juiz de vivos e mortos, mandou ao cadafalso Luís XVI, Maria Antonieta, delfins e infinidades de homens e mulheres sob seu arbítrio. A desonestidade demoníaca encheu e inchou sua alma de hipocrisia.

Esquisito e mentiroso foi o filósofo prussiano e iluminista, Immanuel Kant (1724 - 1804), para quem as religiões se definem como bengalas de incapacitados racionais. Pondo a ideia de Deus no ralo da teoria, resgatou-a para envernizar sua impotente doutrina ética com cores divinas. Os chamados 'imperativos morais', não conseguem ser imperativos quanto pensava, por isso usou a religião desprezada como socorro ou suporte para seu edifício ético. A doutrina que elaborou mostrou-se impotente na condução e persuasão de homens e mulheres à prática das virtudes. Assim, o princípio religioso se tornou um escabelo de sua escada moral.

Mentiroso foi G. W. F. Hegel (1770 - 1831), arquiteto do idealismo dialético mais despudorado da história, que menospreza o bom senso e estraçalha a obediência e o respeito que devemos ter pelo princípio de não contradição. O hegelianismo que, simultaneamente, absolutiza e relativiza tudo o que pensamos, enlouquece a inteligência de quem age e a ação de quem intelige. O 'saber absoluto', seu projeto megalomaníaco e totalitário, é um espelho da monstruosa filosofia que destroi a lógica e o raciocínio humanos.

Bebum da doutrina hegeliana foi K. Marx (1818 - 1883), outro mentiroso, bajulador de proletários virtuais e artífice dos ideais surrealistas impossíveis de serem vividos, pois ele mesmo não os viveu. Os 'trabalhadores do mundo', com os quais se entreteve teoricamente, nunca os conheceu, nem os beneficiou, exceto a proletária de sua alçada, Helene Demuth, empregada doméstica com quem flertou e teve um filho, Frederick Demuth, jamais reconhecido nem amado por ele. Frederick foi, ainda bebê, afastado da família e da mesa marxiana. A justiça, exigência moral e revolucionária que a filosofia marxista apregoa, não foi praticada pelo próprio Marx.

Mentiroso foi o industrial mais socialista da história, F. Engels (1820 - 1895), amigo de Marx, defensor de um comunismo que não conseguiu implementar dentro de sua própria tenda existencial. A fábrica herdada do seu pai em Manchester, foi para si e para Marx sustento e conforto econômico para suas vidas inteiras. Ao invés de administrá-la de modo socialista, Engels a vendeu, pois a experiência industrial exigia compromissos sociais e uma capacidade para lidar com percalços econômicos inerentes a qualquer administração. A filosofia ensinada por Engels não teve nenhuma serventia para si mesmo nem para seus negócios.

Grande mentiroso e farsante foi Walter Duranty (1884 - 1957), jornalista e correspondente norte americano enfeitiçado pelo comunismo stalinista, em Moscou. Vivendo capitalística e luxuosamente protegido pelo ditador comunista, Duranty escondia de propósito as atrocidades vividas pelos russos nos tempos pós-revolucionários. Ao invés de denunciar os crimes e a fome provocada em Holomodor, por exemplo, na Ucrânia, o jornalista bajulava o regime, obtendo segurança e conforto para si. Dentre as hipocrisias jornalísticas, a de Doranty foi a mais escandalosa e criminosa do século XX.

Os exemplos podem se estender longamente, mas, pode-se afirmar que a maior mentira se encontra no interior das teorias cunhadas por Marx acerca da história, da economia e da sociedade. Por causa disso, praticamente se tornou impossível encontrar intelectuais marxistas guiados pela honestidade e consequentes. Todos, absolutamente todos os seus pensadores, movem-se numa lógica imoral e insensata. É só ler e estudar com atenção autores aos moldes hegelianos como Karl Marx, F. Engels, K. Kautsky, Rosa de Luxemburgo, Antonio Labriola, Antonio Gramsci, Georges Sorel, Plekhanov, V. Lenin, L. Trotsky, J. Stalin, E. Bernstein, Gyorgy Lukács, K. Korch, L. Goldmann, Ernst Bloch, H. Marcuse, Louis Althusser, etc., etc.... Todos, absolutamente todos, enrustidos ou declarados hegelianos, incorrem nas bastardas incursões militantes sem se envergonhar, nem se ruborizar com suas contradições e seus surrealismos.

Urge, pois, restaurar a sanidade nas ciências, nas religiões, nas filosofias cultivadas e difundidas por toda parte. Urge recuperar o elo que nos vincula ao mundo real tal como é, não fictício, no qual mãos e pés debilitados, mentes e corações desesperançosos, fé e confiança feridas possam se apoiar e se reconstruir.

Hipocrisia é fingimento. O hipócrita (do grego hypócriton, comediante), sofre a afetação de virtudes que não possui, por isso é capaz de mostrar a alma mentirosa que não tem e esconder a verdadeira que tem. Mentirosos são os que transformam personalidades em personagens e personagens em personalidades. Disfarçando o que escondem, desdenham a verdade e mostram o que lhes convém numa façanha que é a esperteza dos demônios. Quão saudável seria uma reviravolta moral no nosso país: que políticos que nos governam e intelectuais que nos ensinam não mentissem!

*        Santa Maria, 11/10/2024 

**       O autor é professor de Filosofia

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 11 Outubro 2024

Nota do editor de Liberais e Conservadores

Hoje, o site Ponto Crítico, assinado pelo amigo Gilberto Simões Pires, completa 23 de atuação com foco na Liberdade. Na condição de leitor fiel e divulgador de milhares de conteúdos produzidos por ele nesse importante canal ao longo dos últimos 20 anos, associo-me às comemorações da data.

Gilberto Simões Pires

ALICERCE

Hoje, 11 de outubro de 2024, o -PONTOCRITICO.COM - completa 23 anos. Vale destacar que nesta longa trajetória de tempo, iniciada lá em 2001, exatos 5980 EDITORIAIS foram publicados. Mais: todos, sem tirar nem pôr, sempre alicerçados em DOIS PONTOS FUNDAMENTAIS: 1- A DEFESA DA LIBERDADE; e, 2- A EFETIVA RELAÇÃO -CAUSA/EFEITO- das propostas e decisões governamentais, em todos os níveis. 

 DECÁLOGO LIBERAL

Levando em boa conta que resolvi dar vida ao PONTOCRÍTICO em homenagem a Roberto Campos, cujo falecimento completou 23 anos no dia 9/11, nada melhor do que publicar o sempre atual -DECÁLOGO LIBERAL- costumeiramente lembrado pelo saudoso economista:  

1- O BRASIL PRECISA PARAR DE ADMIRAR O QUE NÃO DEU CERTO. (Tom Jobim)

2- O GOVERNO NADA PODE DAR AO POVO O QUE PRIMEIRO DELE NÃO TENHA SIDO TIRADO. (Richard Nixon)

3- NÃO SE DEVE CONFUNDIR ESTADO FORTE COM ESTADO FRAUDE. PARA SER FORTE O ESTADO PRECISA SER HONESTO. 

4- NO ESTADO BRASILEIRO, OS ASSISTENTES SE DÃO MELHOR DO QUE OS ASSISTIDOS.

5- O ESTADO É MELHOR COMO JARDINEIRO QUE DEIXA AS PLANTAS CRESCEREM DO QUE COMO ENGENHEIRO QUE FAZ AS PLANTAS ERRADAS.

6- AS RIQUEZAS ARTIFICIAS -EDUCAÇÃO E TECNOLOGIA- SÃO MAIS IMPORTANTES QUE AS RIQUEZAS NATURAIS.

7- OS NACIONALISTAS GASTAM TANTO TEMPO ODIANDO OS OUTROS PAÍSES, QUE NÃO TÊM TEMPO PARA AMAR O SEU PRÓPRIO PAÍS.

8- O ERRO DOS MILITARES FOI NÃO TEREM FEITO A ABERTURA ECONÔMICA ANTES DA ABERTURA POLÍTICA; E O ERRO DOS CIVIS FOI FAZER O FECHAMENTO ECONÔMICO DEPOIS DA ABERTURA POLÍTICA. 

9- O MAIOR INSUMO DO PROGRESSO É A LIBERDADE ECONÔMICA NUM MERCADO COMPETITIVO.

10- OS QUE CRÊEM QUE A CULPA DOS NOSSOS MALES ESTÁ NAS ESTRELAS E NÃO EM NÓS MESMOS FICAM PERDIDOS QUANDO AS NUVENS ENCOBREM O CÉU.

AGRADECIMENTO ESPECIAL

Junto com a importante homenagem a Roberto Campos vai aí o meu agradecimento especial aos parceiros de PRIMEIRA HORA, Gelson Castellan e Mateus Corradi, da Fábrica de Móveis Florense; e Airton Zaffari, da Cia Zaffari de Supermercados, que desde a PRIMEIRA EDIÇÃO, EM DEFESA DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO, assinam embaixo os 5980 conteúdos publicados ao longo desses 23 anos. 

LEITORES

Aos leitores/assinantes, testemunhas vivas de que os meus editoriais, agradando ou não, sempre foram coerentes com o pensamento CRÍTICO LIBERAL. Assim, podem ter total certeza de que esta minha postura seguirá na mesma direção, observando, como sempre a importante e necessária RELAÇÃO CAUSA/EFEITO. 

 

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  • Rubem Sabino Machado
  • 11 Outubro 2024

 

Rubem Sabino Machado

 

Lembro de um congresso em que eu não iria esperar, na abertura, a “palestra” de uma autoridade pernóstica famosa que tinha um certo fã-clube imerecido.  Fiz muito bem em ir comer uma costela maravilhosa na Monjardim em vez de assistir a um chato afetado falando sempre no mesmo tom e arrotando uma falsa sabedoria.  No dia seguinte eu soube que, não só me dei bem pela costela, mas também porque o fã-clube e os bajuladores esperaram por mais de duas horas o seu atraso, já que, mesmo sabendo do horário, tomou vôo que não o cumpriria.

Lembro também de um show de uma banda de sucesso, essa ao menos talentosa,  marcado pras 21h na Portuguesa da Ilha, que eu abandonei à meia noite sem que tivesse começado: a banda sequer chegara. 

Mas eventos não são os piores casos.  O pior: é o atrasado do dia dia, ou melhor, do dia após dia, porque sempre atrasa... e sempre nos prejudica sem qualquer remorso... A pessoa, simplesmente,  não se importa.  Pior, ainda chega risonha como se fosse engraçado deixar as pessoas esperando. 

Ah, mas atrasar é charmoso, cria expectativa.  Sim, existe um charme em ser desagradável,  e toda a expectativa de quem tem o que fazer depois e não sabe se o fará por causa do atrasado...  Deixa eu te dizer: o mundo não gira por que você existe, na verdade, ele gira apesar do seu atraso, os fusos horários continuam lá e os relógios prosseguem girando, tudo pra registrar o seu atraso.  Não!  Você não é tão importante assim, mas é o suficiente para atrapalhar a vida de pessoas que confiaram em você.  Resumindo: você é um traidor!

Ah, mas fulana também atrasa... Eu sei, vocês se merecem.  Dois egoístas que não se importam com todas as outras pessoas que chegaram na hora ou que estão tentando chegar e vocês não permitem.  Vocês nem percebem os olhares cúmplices das suas vítimas com lábios crispados na hora que vocês finalmente chegam, tentando fingir um sorriso pra esconder a raiva.

E se alguém for menos político, mais corajoso e comentar o atraso?  Então você vai demonstrar seu total descaso fazendo algum comentário pretensamente espirituoso com aquele sorriso cínico que já comentamos.  E tudo isso sem perceber que, no grupo, só os atrasados contumazes acham graça de verdade.

É claro que um relógio de pulso ajudaria a resolver o problema, mas ou você não usa ou o considera apenas uma pulseira bonita decorando seu braço, um mero acessório.  Um acessório como o são todos aqueles que te esperam quando você novamente não chega na hora: e chega sorrindo, sem constrangimentos, como se os outros é que devessem ser recivilizados, como se os outros é que não tivessem amor, como se outros devessem ser censurados para não poderem fazer nenhuma reclamação, nenhum discurso de ódio contra o “iluminado” que se acha o cometa Halley da nova era, o insubstituível que está contra a maioria ignóbil e, com certeza, acima dela – Por  que não deveriam esperar por você, oh luminoso Rei-Sol, a própria definição de iluminismo!?

*        O autor é cronista fictício e tem que terminar esta crônica pra não atrasar...

In God we trust!

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 08 Outubro 2024

 

Dartagnan da Silva Zanela 

 

Todos conhecemos a sentença de Nelson Rodrigues em que ele afirma que toda unanimidade é burra. Na verdade, essa afirmação é mais do que uma sentença; é uma salutar advertência para que estejamos sempre, sempre mesmo, com um pé atrás, quando estivermos andando em conformidade canina com aquilo que a vontade geral estufa o peito para dizer, e que a opinião pública reverbera histericamente, para que ninguém ouse levantar a voz para contrariar.

Toda vez que nos flagrarmos nessa sintonia é necessário que procuremos nos recolher junto ao fundo insubornável do nosso ser, na alcova da nossa consciência, para refletirmos de forma serena a respeito dos caminhos que estamos trilhando e, trilhando-o, convidando os nossos semelhantes a fazerem o mesmo.

E isso é tão importante quanto salutar porque, como bem nos lembra o cientista político Alexander Dunlop Lindsay, toda unanimidade não é apenas estulta, mas também e principalmente perigosa.

Sobre esse ponto temos um exemplo deveras curioso que nos é apresentado por Walter Scott que, em seu livro "A vida de Napoleão", descreve-nos o chamado "liberum veto". Este era um arranjo através do qual um cavalheiro podia anular a decisão de toda uma assembleia. O "liberum veto", nesse sentido, era um mecanismo que procurava garantir a unanimidade em todas as decisões que fossem tomadas. Bacana, não é mesmo? De jeito-maneira.

Era muito comum, nos lugares onde esse mecanismo era utilizado, ter-se o assassinato dos discordantes para se poder garantir a dita-cuja da unanimidade. Há inclusive um caso muito curioso que ocorreu na Polônia no século XVII, onde João Sobieski, para contornar a oposição, marcou o início da reunião da Dieta com uma hora de antecipação sem, é claro, comunicar os membros da Assembleia que eram contrários à matéria que seria votada.

E tem mais! Para garantir que tudo ocorreria nos conformes, as portas foram devidamente trancadas.

Pois bem, um dos dissidentes, ao saber disso, adentrou o salão pela chaminé da lareira e, quando foi realizada a votação, o abençoado colocou a cabeça para fora da lareira e pronunciou o seu veto. Ao ouvirem o seu voto, todos esmoreceram; porém, um dos nobres sacou sua espada e, com um só golpe, decapitou o discordante, garantindo assim a tal da unanimidade que era requerida naquele momento.

Por essa e por inúmeras outras razões a procura pela unanimidade acaba sendo, sempre, a base de toda ação de caráter autoritário e de todo projeto totalitário. Almas tomadas por esse tipo de peçonha não suportam a possibilidade de serem contrariadas. Ou se é unânime, ou não será nada.

Claro, na sociedade atual, muitos dirão que não temos presente a procura por esse tipo de unanimidade absoluta. Verdade. Entretanto, temos a busca incansável por uma unanimidade relativa, que é obtida não pela concordância da maioria, mas sim, através da censura, velada ou descarada, de todas as discordâncias substanciais que por ventura sejam levantadas contra os disparates dos donos do poder e de seus asseclas. Aí, nesse cenário, entra em ação toda ordem de subterfúgios, que vão desde o uso dos enxames digitais, muito bem descritos pelo filósofo Byung-Chul Han, até os vetustos assédios morais.

Quanto às discordâncias irrelevantes, sobre pontos de importância menor, essas são toleradas, até mesmo instigadas, para dar aquele ar de "normalidade", de "pluralidade postiça" e, deste modo, engambelar os olhares distraídos que, diga-se de passagem, no mundo atual, não são poucos.

Por isso, a democracia não combina com unanimidade, seja ela relativa ou absoluta. É a divergência substancial que nos faz ver o que, por hábito, não costumamos prestar a atenção; é a divergência que nos move a renovarmos nossos pontos de vista e a fortalecermos os nossos princípios; é a discordância que nos leva a vislumbrarmos possibilidades que até então eram ignoradas por nós.

Enfim, quando passamos a confundir a fidelidade a um partido político com a lealdade a ordem democrática, quando misturamos a necessária estabilidade das instituições com a intocabilidade daqueles que as ocupam, quando imaginamos que as críticas ao sistema, as autoridades, a imprensa e ao Estado seriam ataques contra a democracia, é sinal de que já não mais sabemos a diferença abissal que há entre totalitarismo e democracia; é sinal de que ignoramos que abuso do poder e exercício da autoridade são coisas de natureza totalmente diferentes.

É isso. Fim de causo.

 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 02 Outubro 2024

 

Alex Pipkin, PhD

Pobre juventude “progressista”, completamente manipulada pela nefasta ditadura do pensamento esquerdizante vermelho, verde-amarelo. Eles não sabem o que pensam e fazem.

A Revolução Iraniana, em 1979, transformou o Irã numa república islâmica teocrática. Em um Estado teocrático, o sectário religioso islâmico, também é o chefe político da nação. Os benevolentes “progressistas”, apoiam abertamente o Irã, principal patrocinador do terrorismo mundial, que financia e fornece armas e treinamento a terroristas, em especial, aos sanguinários do Hezbollah.

O massacre de 7 de outubro, que matou, estuprou, decapitou, inclusive bebês, e tomou mais de 240 reféns em Israel pelos terroristas do Hamas, foi patrocinado pelo Irã.

O Hamas tem como meta principal, varrer o Estado de Israel do mapa. Tais doentes mentais iranianos, apoiam o Hezbollah no Líbano, os Houthis no Iêmen, além das milícias no Iraque e na Síria, que, sistematicamente, atacam Israel.

Pois o ex-presidiário, Lule, assessorado pelo antissemita e amigo do Irã, Celso Amorim, tem apoiado francamente o terrorismo praticado pelo Hamas e Hezbollah. Esse desgoverno é vergonhoso e sua postura pró-terrorismo é escandalosa, para ser econômico nos adjetivos.

Com esse desgoverno, não possuo nenhuma dúvida de que foi facilitada a entrada no país de uma série de terroristas, representando uma ameaça interna, como também para os países vizinhos.

Na semana que passou, a delegação brasileira se retirou do auditório na ONU, antes do discurso do primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. Evidentemente, essa mesma delegação do Brasil, acompanhou o discurso do presidente da Autoridade Palestina, Mahmoud Abbas. Escárnio!

O Brasil vermelho, verde-amarelo, “orgulhosamente” do lado errado da história, foi acompanhado do Irã, da Turquia, da Venezuela, da Arábia Saudita e de Cuba. Vergonha alheia!

O “grande negociador da paz mundial”, Lule, foi considerado por Israel, após comparar a morte de palestinos na Faixa de Gaza com o Holocausto - circunstância em que Israel foi atacado pelos terroristas do Hamas e, portanto, exerce o direito de defesa de sua própria existência -, como "persona non grata". Vergonhoso! O desgoverno vermelho petista é uma humilhação, um vexame sem precedentes para todos os brasileiros.

Após a morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, executada por Israel, os sírios saíram às ruas para comemorar e agradecer a Israel! É a realidade objetiva.

Além de incompetente e corrupto, esse desgoverno vermelho, antissemita e apoiador do terrorismo, não se cansa de sujar a imagem do país. Vergonha! Claro, embora não seja nenhuma novidade o apoio do desgoverno “progressista” aos amigos “do bem” do Irã.

Lule, como de costume, coloca o Brasil do lado errado da história!
Desastroso e vergonhoso!

Essa não é uma guerra de Israel contra os terroristas islâmicos; é a luta da defesa dos valores civilizacionais judaico-cristãos contra o sectarismo religioso e ideológico, em oposição ao terror e às trevas.

Triste ver que eles não pensam e não sabem o que fazem…

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  • Rubem Sabino Machado
  • 30 Setembro 2024

 

Rubem Sabino Machado*

 

         Esta semana, ouvi na academia um professor explicando a uma mãe:  é um campeonato mas todos vão ganhar medalhas...  E ela sorria!!! Como é que é?  Quem perde ganha?!  É isso mesmo?  Lembrou-me até discursos estranhos e famosos... E ela acha isso bom, ao menos pela cara que fez...

Uma vez assisti a uma palestra de um professor de direito famoso e já falecido.  Embora fosse um grande orador, ao contrário de outras personalidades que demonstraram suprema mediocridade ao falar, ele defendeu posições muito ruins, mas o que foi mais assustador foi ter ouvido , pela primeira vez, a historinha do tal do Ubuntu: fiquei horrorizado:

– Um senhor, vendo crianças brincarem, chamou-as, mostrou uma cesta cheia de doces e disse – Vamos fazer uma corrida, o primeiro a chegar fica com a cesta.  Ele organizou e, então deu a largada.  As crianças deram as mãos e correram devagar e juntas até a chegada, para que todas ganhassem a cesta... O senhor (decepcionado com razão, digo eu) teria indagado o porquê de fazerem aquilo.  As crianças responderam: “Ubuntu, tio”.

Mas que coisa mais ridícula aquilo... Ubuntu é, então, o culto à mediocridade!  Vejam, quem vencesse poderia dividir a cesta com todo mundo se quisesse e teria participado de uma competição de verdade, voltada para o homem alcançar o seu melhor.  Mas optaram por não buscarem o seu melhor.

Mas eu tivera uma prévia daquele horror.  Numa noite em que voltava de madrugada para casa, vi à venda num posto de gasolina um livro que também celebrava a mediocridade: “Brincadeiras não competitivas para crianças”.  É claro que pode haver brincadeiras sem competição que sejam até divertidas, mas fazer um livro voltado a isso mostra uma vontade deliberada de rejeitar a competitividade.  Que seria do futebol sem o gol, do basquete sem a cesta e da Sociedade sem a evolução e a excelência que é o que se consegue com a competição?  E se a competição não fosse da essência humana: por que os times teriam tantos torcedores?

Quando passava alguém com medalhas no pescoço, eu pensava: “nossa, ganhou algo...”.  O observado estufava o peito por ter conseguido seu objetivo.  O pai e mãe dele, se estavam do lado, sorriam de orgulho da vitória que o filho teve... E agora? Agora eu não sei se ele ganhou, há dezenas, centenas com medalhas no pescoço e os pais não sorriem por verem um filho campeão ou prata ou bronze.  Contentam-se com migalhas agora feitas de lata e penduradas no pescoço.  Aonde acham que esse tipo de estímulo às avessas pode levar alguém?  Acham que se contentando em fazer o mínimo, com pouco, sem obstinação e sem foco pra evoluir eles chegarão a algum lugar?  Já igualam até  o belo e o feio como vemos desde o século XX.  Agora querem mediocrizar o esporte. Pelo menos a Nike repudiou isso, abandonando todo o woke e politicamente correto e teve a coragem de fazer um comercial valorizando a competitividade e a vitória ( < https://www.youtube.com/watch?v=pk1wU7382co ).

Quando eu vejo essa promessa de medalhas sem mérito e o orgulho de usá-las sem ter vencido, eu entendo o porquê de certas ideologias  ainda serem defendidas, apesar de seu fracasso mais que centenário.  A preguiça e a inveja substituíram os maiores valores e virtudes: a “justiça” que eles defendem, a tal da Social, é novo nome para um misto de pelo menos dois pecados capitais...  Sowell já nos avisou disso.

E sempre que ouço a palavra “Ubuntu”, tenho vontade de fazer a rima que rebaixaria esta crônica ao mesmo nível dos não competitivos...

Se és capaz de encarar a Derrota e a Vitória

como matrizes que são, do Olvido e da Glória.

Millôr Fernandes

*        O autor é cronista fictício e está sempre competindo: até contra si mesmo!

**      A imagem que ilustra este artigo é obra de Julius Schnorr von Carolsfeld obtida em <https://www.meisterdrucke.pt/impressoes-artisticas-sofisticadas/Julius-Schnorr-von-Carolsfeld/931534/As-ofertas-de-Caim-e-Abel,-G%C3%AAnesis.html>

In God we trust!

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