• Adriano Alves-Marreiros
  • 15 Maio 2024

Adriano Alves-Marreiros

“Quanto às minhas opiniões políticas, tenho duas, uma impossível, outra realizada. A impossível é a república de Platão. A realizada é o sistema representativo [a Monarquia]. É sobretudo como brasileiro que me agrada esta última opinião, e eu peço aos deuses (também creio nos deuses) que afastem do Brasil o sistema republicano, porque esse dia seria o do nascimento da mais insolente aristocracia que o sol jamais alumiou."

Machado de Assis[1] (em dia de profecia)

      As caricaturas que faziam de D. Pedro II eram terríveis, achincalhadoras, ofensivas.  Defendia-se publicamente a derrubada da Monarquia e a implantação da República.  Diplomatas e autoridades de monarquias europeias escandalizavam-se com os ataques constantes ao Imperador e à Família Imperial, alguns achando até que, no velho Continente, aquelas críticas poderiam ser consideradas como crimes de alta traição, mesmo em monarquias bem liberais, como conta, por exemplo, o historiador José Murilo de Carvalho.  Mas, mesmo sendo o Imperador de um país continental, mesmo sendo o comandante da segunda maior Marinha do mundo, mesmo sendo parente de todas as monarquias ocidentais, D. Pedro II nunca teve o rei na barriga, se me permitem o trocadilho, nunca pretendeu ter um poder supremo e sempre foi contra a censura, sempre deixou que essa crítica corresse solta, nunca instaurou inquéritos de alta traição contra os críticos e nunca mandou a polícia prendê-los nem apreender as prensas e manuscritos de quem dele discordava...

Sempre tentaram pintar Pedro I para nós como alguém autoritário e é certo que ele teve lá alguns arroubos nesse sentido.  No entanto, tive o prazer de ler, nos meus vinte poucos anos, a picante obra do General Morivalde Calvet Fagundes – D. Pedro I na Intimidade[2].  Acreditem, ele narrava em deliciosas crônicas as aventuras amorosas de nosso primeiro Imperador: e com detalhes sórdidos.  Mas Calvet nasceu e viveu apenas em plena república:  escreveu o livro com base em notícias de jornais do I Império que ele pesquisou.  E não foram poucas histórias... Eram muitas as aventuras...  Apesar de todo o stress que isso devia lhe causar com a Imperatriz, apesar de contarem detalhes de sua intimidade e até de filhos que tivera, apesar  de exporem até  sua epilepsia, as histórias publicadas chegaram ao século XX, permitindo que o livro fosse feito, sem que se buscasse calar as fofocas e boatos das redes sociais “analógicas” da corte e das ruas, nem se criaram agências de checagem de falsas fofocas...[3]

Pois é... Mesmo sendo dois descendentes de reis, inclusive de reis Absolutistas do Iluminismo – os chamados déspotas esclarecidos (ILUMINISTAS!!!)  – nossos Imperadores nunca se autoatribuíram nenhum poder ou função iluminista nem resolveram censurar nem... editar os críticos...

Ah... É por isso que sou Monarquista: será que posso ser ou isso também é antidemocrático???

“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto...”. – N. do autor.  Lembra desse texto? eles sempre esquecem de colocar o texto inteiro, especialmente este pedaço:

Essa foi a obra da República nos últimos anos"[4].

N. do autor. e nunca te mostram o texto inteiro[5] que também diz isto:

"E nesse esboroamento da justiça, a mais grave de todas as ruínas é a falta de penalidade aos criminosos confessos, é a falta de punição quando se aponta um crime que envolve um nome poderoso, apontado, indicado, que todos conhecem..." 

(se quiser conferir: Rui Barbosa - Discursos Parlamentares - Obras Completas - Vol. XLI - 1914 - TOMO III - pág. 86/87)

*      Publicado no saudoso Tribuna Diária em 24/08/2020

**    Adriano Alves Marreiros é admirador de Machado e dos Pedros.

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 

Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 

Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)

[1] https://aventurasnahistoria.uol.com.br/noticias/reportagem/historia-coluna-o-imperio-do-brasil-e-liberdade-de-imprensa.phtml

[2]< https://www.esteditora.com.br/DomPedroInaintimidade>

[3] Aliás, algumas histórias eram ainda do tempo do Reinado de D. João VI...

[5] https://sites.google.com/site/abcdamonarquia/rui-barbosa---texto-completo-de-famoso-discurso

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 15 Maio 2024

Dartagnan da Silva Zanela

       Frequentemente ouvimos algumas vozes dizerem, com aquele ar de sobriedade postiça, que no mundo atual, seria de fundamental importância termos apenas "fontes confiáveis" para nos informar. Tal afirmação, à primeira vista, até parece bonitinha, porém, quando olhamos mais de perto, vemos com clareza o que de fato ela é.

De mais a mais, quais seriam as tais "fontes confiáveis"? Sejamos sinceros: todos nós, cada um ao seu modo, acaba se informando a esmo, conforme as notícias vão sendo atiradas em suas ventas pelos mais variados canais, considerando como confiável qualquer coisa que seja regurgitada pelo Jornal Nacional, ou por qualquer outra tranqueira similar, pela qual se nutre uma vaga afeição, nem um pouco criteriosa.

E por mil raios e trovões, quem será a excelsa autoridade, acima do bem e do mal, que dirá para todos que essa ou aquela seria uma "fonte confiável"? Quais critérios seriam utilizados para avaliar a credibilidade de algo? Aí, meu amigo, quando chegamos nesse ponto, é a hora em que a vaca vai para o brejo com corda e tudo, porque os critérios geralmente são tão vagos quanto maliciosos.

Diante dessa artificiosa preocupação, manifesta por algumas vozes, tem-se a impressão de que todos nós seríamos almas infantilizadas, com medo do bicho-papão e, por isso, carentes do auxílio de um "tiozinho censor" que nos diga que o dito-cujo não existe, que ele foi embora, que ele morreu de tédio, que ele é uma fake news ou qualquer coisa que o valha para que nos sintamos "em paz".

Ora, meu caro Watson, como diria Guimarães Rosa, viver é perigoso, logo, informar-se não é uma ação humana livre de riscos. Sempre há o risco da imprensa ter se enganado, ou dela ter sido enganada, como há também o risco dela estar nos enganando, de forma proposital ou não.

Não apenas isso! Nós podemos estar nos enganando com a forma leviana como consumimos as informações e isso, sou franco em dizer, é tão perigoso quanto as possibilidades anteriores, se não mais, porque é fruto da nossa desídia cognitiva, em misto com nossa curiosidade desordenada, que procura ter notícia de tudo, sem compreender nada para se escandalizar com qualquer coisa.

Por isso mesmo, a liberdade de acesso à informação é de fundamental importância para combatermos os enganos, os autoenganos e as atitudes maliciosas que se fazem presentes na vida de um modo geral.

O livre acesso a toda e qualquer informação, de forma descentralizada e distribuída, nos permite confrontar as várias versões dos fatos, os vários pontos de vista, para que possamos, se assim desejarmos, ter uma percepção mais clara dos acontecimentos e podermos tirar nossas próprias conclusões.

Sim, equivocar-se ou ser enganado é desconfortável. Sei disso. Mas um certo mal-estar faz parte do aprendizado de qualquer coisa e, por isso mesmo, procurar calar e censurar todos aqueles que não seguem o riscado da cartilha ideológica dos donos do poder é uma atitude claramente totalitária, e não há disfarce midiático que esconda essa peçonha.

Os defensores da censura, do tal "controle social da mídia", afirmam peremptoriamente que isso é para o bem de todos, para o restabelecimento da "verdade" e para salvar a "democracia".

Pois é, não sei quanto a vocês, mas essa conversa toda me lembra muito o blábláblá que era apresentado por Joseph Goebbels, quando estava à frente do Ministério da Propaganda e do Esclarecimento Público do Terceiro Reich, lembra muito o papo-furado dos editores do Pravda da URSS, porém, com uma nova e modernosa roupagem. Ou não? Bem, você decide.

Enfim, lembremos e, se possível for, jamais esqueçamos: todos aqueles que advogam em favor da censura não o fazem para combater fake news; o fazem para calar a verdade que esculhamba com suas mentiras oficiosas que, diga-se de passagem, não são poucas.

*   O autor, Dartagnan da Silva Zanela, é professor, escrevinhado, bebedor de café e autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

 

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  • Adriano Alves-Marreiros
  • 13 Maio 2024

Adriano Alves-Marreiros

Sirvam nossas façanhas

de modelo a toda Terra.

Hino Riograndense

       Entendi de vez o Hino do Rio Grande, o trecho citado acima não é exagero: é fato!!!  Passei a compreender melhor a Farroupilha!  O orgulho gaúcho não é só por ter nascido aqui: é por viver aqui, por pelear aqui.

Quando via bandeiras do Rio Grande do sul nos carros de gaúchos vivendo em outros estados, achava curioso: a maioria não usa a bandeira de seu estado, alguns nem a reconhecem.

Quando via CTG (Centros de Tradições Gaúchas ) em todas as unidades da federação ou via famílias com a mateira pendurada a tiracolo em praias, aulas e clubes espalhados pelo Brasil, eu dizia, “Nossa, que tradição forte é essa?” Sempre longe dos pagos peleando por suas tradições...

O que explicaria tanto orgulho?

Vim a turismo  e percebi que era o estado mais bonito do Brasil (nem precisa de belas praias pra isso)  e muito mais: resolvemos vir para cá.  O mais belo por do sol do mundo é em Porto Alegre porque a cada dia é muito diferente em formas, textura e cor.  A uma, duas, três horas da capital há cidades lindas, hospitaleiras e cheias de surpresas.  Você não sabe o que é um baile ou até uma festa de rua até  ir a Bento, Igrejinha, Garibaldi.  Sabem organizar, sabem receber, que comida, que bebida, e digo mais, lembra daquelas histórias que circulavam da Copa e Olimpíada em que os japoneses limpam tudo antes de sair?  Bem, nessas festas do interior gaúcho eu nunca achei o que limpar, nunca achei lixo no chão...

Há muito tempo eu me entendo como gaúcho e até Amore Mio diz que sou muito mais gaúcho que carioca.  Chegava quase a ficar triste quando me perguntavam “Esse sotaque não é daqui, né” e respondia brincando, para afastar a tristeza “Você percebeu, né, sou de Bagé, Tchê”.  Entre os “mas, mas” iniciados pelo interlocutor, eu explicava, “Era carioca, mas decidi ser gaúcho, e se alguém disser que não sou, digo: BEM CAPAZ!!!”

Como já disse em outra crônica, já não preciso do Champagne se tenho os espumantes da serra e da campanha, não preciso de cachaça mineira se tenho a de Ivoti, prefiro o fondue daqui ao da Suíca (lá nem tem o rodízio de Fondue...) e não troco os casacos de couro gaúchos pelos florentinos.  Até whisky puro malte de primeira linha temos por aqui... Você pode achar que eu já sou gaúcho mesmo por estar exagerando: acertou no que sou, mas divulgou “fake News” ao dizer que exagero. Isso é que é “fake news“!  Agora, mais que nunca eu posso provar.

Eu sabia de desgraças que já se haviam abatido sobre o Rio Grande e que o povo gaúcho se levantara de todas, cada vez mais forte.  Uma tragédia imensa se abateu mais uma vez e o que estou vendo?  Estou vendo o povo sem tempo para enxugar as lágrimas, pois o usa para, de forma espontânea e voluntária,  salvar pessoas e animais, organizar abrigos, fazer, receber e distribuir doações...

Nunca vi tanto barco circulando em reboques, em cima de caminhonetes, em imparáveis  Fiats Uno  e até nos ombros de pessoas que os levam para locais alagados.  Pra você ter ideia, o amigo da Moira, um empreiteiro que fazia obra no condomínio dela, quando viu o início da desgraça, prestem bem atenção: saiu pra comprar um barco e motor (ele não tinha nenhum!) pegou os 14 filhos e foi salvar e ajudar.  Maria, nervosa com a família em Eldorado, também foi sem experiência nenhuma ajudar em resgates de muitos desconhecidos antes mesmo de seus parentes serem salvos, até barco comprou, está endividada, pegou leptospirose, mas também está na galeria dos heróis. 

Jipeiros com veículos novinhos e customizados levaram os veículos para cumprirem seu destinos e, com ou sem snorkel, estão entrando em locais quase submersos, com o carro quase coberto, interior alagado mas só pensando em ajudar.  Pessoas comuns  metem seus jet-skis em agua podre e sem transparência, levando-os ao limite para salvar pessoas e animais que não conheciam.  Jogadores de futebol que vivem de sua incolumidade física, entram na agua imunda, levam idosas nas costas, fazem esforços que podem causar lesões, levam veículos, jet-skis, trazem aeronaves, recrutam amigos, fazem donativos, servem comida.  Até os que achávamos antipáticos e de times rivais mostram o quão humanos são...

Restaurantes que não podem funcionar por falta d’água, apesar do prejuízo decorrente, estão fazendo quentinhas para desabrigados e voluntários.  Os tais CTG são quase todos abrigos, além de muitas Igrejas, colégios, galpões com um ponto comum entre todos: essencialmente trabalho não só voluntário, mas espontâneo. 

Artur oferece um gerador e vai lá instalar...  Seu Ivan não sabe nadar mas, num caiaque em aguas sujas e perigosas  resgatou 300! Ele tem quase 60 anos... Mas não sabemos o nome da imensa maioria de heróis anônimos nem sabemos de todas as façanhas que devem servir de modelo...

O amor contagia, o verdadeiro amor contagia, digo, e tenho buscado também participar disso: como Capitão de Infantaria, mesmo da reserva, teria vergonha de manter meus pés secos diante de uma enchente como essa.  Tenho buscado participar também mas ainda é pouco, diante de tudo que testemunho: não sou herói como tantos, só não sou omisso.  Fernanda está no front. Não poderia ser um dos que só olham, criticam e reclamam... 

Pessoas de outros estados, contagiadas pelo amor, também buscam obter e remeter doações, emprestam helicópteros, aviões, organizam comboios humanitários... Surfistas famosos colocam seus jet-skis caríssimos e novinhos na lama e no esgoto sem transparência, danificando-os, consertando e prosseguindo.  3 Atletas não vão ao pré-olímpico de remo para ajudarem o Rio Grande: estão abdicando do sonho olímpico!!!  Nunca entendi muito bem aquela medalha Barão de Coubertin, sempre achei que ela era dada por motivos nem sempre relevantes... sei lá,  mas se alguém merece recebê-la, se alguém tem espírito olímpico, de congraçamento, é quem é capaz disso: verdadeiros heróis olímpicos, mais que olímpicos heróis com valores cristãos!

Mas, mais que todos os recursos e meios, a prova do amor envolvido, contagiante, é que as pessoas estão doando seu tempo, a exemplo da Lúcia, que nem dormir queria pra não parar de ajudar.  E tempo é uma das coisas mais valiosas de que dispomos. Quando o damos de coração pelo próximo, isso é amor, o de verdade, não da boca pra fora...

Parabéns também a todas as instituições públicas que estão agindo, algumas também por voluntariado, mas o assunto aqui é sobre esses voluntários que sem esperar já começaram do primeiro momento, é sobre esse amor contagiante vindo do povo gaúcho, nunca vi nada parecido antes, e que atingiu pessoas de bem em todo o Brasil consolidando aquele que já estava em mim pelos mais variados e óbvios motivos e, era previsível, sou, de vez, um Gaúcho.  Saibam todos que um carioca nascido na saudosa Guanabara renunciou a esse título para ser definitivamente gaúcho compartilhando valores, convicção, coragem e resistência, tchê!

E a quem disser que não sou, direi; “Bem capaz!!!

Feito!!!

Esta história será ensinada pelo bom homem ao filho e, desde este dia até o fim do mundo, a festa de São Crispim e São Crispiniano nunca passará sem que esteja associada à nossa recordação, de nosso pequeno exército, de nosso feliz pequeno exército, de nosso bando de irmãos; porque, aquele que hoje verter o sangue comigo será meu irmão; por mais vil que seja, esta jornada enobrecerá sua condição e os cavaleiros que agora permanecem na Inglaterra, deitados no leito, sentir-se-ão amaldiçoados pelo fato rebaixada a própria nobreza, quando ouvir falar um daqueles que combateram conosco no dia de São Crispim!. (Henrique V – W.Shakespeare)

Que o Senhor proteja o Rio Grande!!!

*       O autor, Adriano Alves-Marreiros, é gaúcho de corpo e alma!

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 

Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 

Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção ao Rio Grande e a esses Heróis eu suplico)

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 13 Maio 2024


Alex Pipkin

 
A tragédia no RS é incomensurável. Tristeza.

Não há nada mais importante do que vidas humanas.

Contudo, o ocorrido no RS serve para fazer com que “desavisados” reflitam sobre o verdadeiro papel do Estado. O ex-presidente americano Ronald Reagan tinha razão, quando afirmava que “o governo não é a solução para o nosso problema; o governo é o problema”.

Nesse país chamado Brasil, repleto de mazelas sociais e econômicas, mentes incautas foram intensamente treinadas para pensar que o governo sempre será o salvador da pátria.

Especialmente, o atual desgoverno perdulário e incompetente, faz os cidadãos pensarem que “o saco não tem fundos”. No entanto, o governo não cria riqueza; tudo que ele dá, já retirou vorazmente do cidadão pela via da tributação escorchante.

O (des)ensino presente, faz parte da estratégia de uma elite podre, que dá as cartas sobre os destinos nesta republiqueta verde-amarela. À ex-mídia, que é sócia deste atual desgoverno, atua fortemente para mentir e distorcer os fatos objetivos. Os midiáticos progressistas são exitosos em gerar mais conflitos e divisões sociais perniciosas para todos os brasileiros.

Evidente que existe uma série de distinções entre a gestão pública e a privada. Na pública, não se nota uma conexão entre receitas e despesas. A pública não se move em função do incentivo lucro e, nesta, pulula o lado perverso da burocracia. Via de regra, o corolário são administrações estatais lentas, ineficientes e corruptas, que jogam recursos pelo ralo.

Apesar disto, pode-se notar que determinadas gestões são mais competentes e honestas do que outras, em especial, no comparativo com as desastrosas gestões petistas.

A calamidade no RS me faz pensar em dois pontos cruciais. O primeiro é sobre como o aparato estatal tem expandido suas garras afiadas para se intrometer e ceifar as vitais liberdades individuais. O governo deseja, ao cabo, o controle total sobre nossas vidas.

É de causar náuseas constatar que na presente situação calamitosa do RS, agentes estatais estejam exigindo notas fiscais sobre doações, laudos de nutricionistas sobre doações de alimentos, e um arsenal de outras exigências burocráticas num período de exceção. Pessoas e famílias perderam tudo! Precisam de um local para dormir e comer, minimamente.

É repugnante assistir cenas relacionadas a tais situações grotescas e, mais ainda, ver “jornalistas do partido”, mentindo descaradamente sobre tais fatos.

A politização da tragédia gaúcha é de embrulhar qualquer estômago.

O segundo ponto é ainda mais “iluminador”. Importante frisar que é ELE o criador de nossas liberdades essenciais, não os semideuses do desgoverno.

A tragédia gaúcha tem evidenciado que é a sociedade civil organizada, a força associativa das pessoas, e de parte do empresariado, quem, de fato, têm auxiliado e salvo vidas.

Como tem sido presenciado a olhos nus, o governo é o problema. iscursos, retóricas, falhas grosseiras e promessas. Mas o povo gaúcho é de brio! Voluntários gaúchos e brasileiros, entidades empresariais, religiosas e comunitárias, junto com os bombeiros (estatal que funciona), são os verdadeiros responsáveis por salvar pessoas, fornecendo abrigo, comida, roupas e outras necessidades requeridas.

Se é possível observar um “lado bom” nesta tragédia, este está na patente exposição dos reais responsáveis pelo salvamento de vidas humanas. Despertem! A resposta para os problemas das pessoas nunca virá do gigantesco Estado - ineficiente.

Tais soluções, apesar do Estado, sempre serão dependentes dos verdadeiros criadores de riqueza: as pessoas e as empresas.

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  • Dartagnan da Silva Zanela
  • 10 Maio 2024

 

 

Dartagnan da Silva Zanela

 

        O poeta e filósofo alemão Friedrich Nietzsche, em "A visão dionisíaca do mundo", ensina-nos a que a cultura seria tal qual a casca que envolve uma maçã, uma fina película que encobre o caos incandescente da realidade, que encobre uma besta-fera que, aliás, está sempre ciosa para devorar a nossa humanidade sem a menor compaixão. Mas o que seria essa fina casquinha que encobre e limita a besta-fera que habita em nosso coração?

Como todos nós sabemos, a palavra cultura nos remete àqueles bens que, por sua singularidade, merecem ser devidamente cultuados e cultivados de modo apropriado.

Tudo aquilo que cultuamos, por definição, é colocado por nós no centro pulsante da nossa vida, pois reflete tudo aquilo que consideramos precioso, que inunda a nossa vida de sentido e profundidade e, por isso mesmo, faz o nosso coração bater mais forte.

Quando cultivamos algo, nós o fazemos porque consideramos que isso seja bom e, por essa razão, esperamos que as sementes lançadas no solo da alma deem muitos frutos.

Nesse sentido, músicas, obras literárias, pinturas, esculturas, modos de vestir-se, de portar-se à mesa, a culinária, os ritos religiosos e seculares, etc., não são "a cultura" em si. São bens culturais. Cultura seria o espírito que inspirou a elaboração desses bens e a força que nos impele a cultivá-los, colocando-os no centro irradiante da nossa vida.

Então, é justamente nesse ponto que a porca torce o rabo, e torce bonito, porque é através dos bens culturais que consumimos que nos é infundida a cultura que, ao seu modo, consuma em nós uma visão de mundo que injeta uma série de valores, ou antivalores, que norteiam as nossas escolhas.

Por essa razão, o poeta norte-americano T. S. Eliot, em seu livro "Notas para uma definição de cultura", nos chama a atenção para a importância de termos o hábito de distinguirmos os bens culturais que tem um valor antropológico (enquanto um registro valioso sobre o modo de viver de um povo), daqueles que tem um valor universal, por terem algo precioso a ensinar para toda a humanidade de todos os tempos.

Seguindo por esse caminho, o escritor peruano Mario Vargas Llosa, em sua obra "A Civilização do Espetáculo", nos lembra que devemos, também, refletir sobre as motivações que nos levam a consumir tais bens. Se é meramente por puro exibicionismo, ou por mero entretenimento, para ocuparmos nossas horas ociosas, ou se é para dilatarmos nossa alma, procurando aprender com a humanidade, com a sabedoria de muitos outros, que foi magnificamente cristalizada em uma obra.

Dito de outro modo, sermos criteriosos na seleção dos bens culturais que iremos consumir, e colocar no centro da nossa atenção, é algo de suma importância, mas tão importante quanto isso é nos mantermos atentos quanto a intenção, com o sentimento sincero que nos anima a entregarmo-nos de peito aberto a um bem cultural, seja ele um livro ou um show.

Na verdade, a intenção sincera é o que irá denunciar onde, realmente, está o tesouro que faz nosso coração transbordar de júbilo.

Resumindo o entrevero, afetação de superioridade é apenas baixeza mal disfarçada, da mesma forma que vulgaridade degradante, altamente produzida, não passa de espasmos de uma alma soberba em decomposição e, nos dois casos, temos vidas sendo despedaçadas por valores corrompidos, que foram introduzidos em consciências fingidas, fragmentadas por uma cultura decadente que celebra o aviltamento e cultiva a vileza, através de bens de elevado custo, gosto duvidoso e de valor questionável, que não contribui em nada para o aprimoramento de ninguém.

 

*       O autor, Dartagnan da  Silva Zanela, é professor, escrevinhador e bebedor de café. Autor de "A QUADRATURA DO CÍRCULO VICIOSO", entre outros livros.

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 08 Maio 2024

Gilberto Simões Pires        

TAREFA NÚMERO UM

Como bem aponta Adolfo Sachsida, ex-Ministro de Minas e Energia e ex-Secretário de Política Econômica do governo Jair Bolsonaro, neste grave momento pelo qual passa o POVO GAÚCHO, ao se defrontar com um dos PIORES DESASTRES AMBIENTAIS da nossa história, a TAREFA NÚMERO UM É SALVAR VIDAS. Como tal, tanto, os governos -federal, estadual e municipais- quanto a sociedade civil -que está dando um verdadeiro SHOW DE PALPÁVEL, NOTÓRIA E EFETIVA SOLIDARIEDADE-, estão agindo de forma incansável na tentativa de tornar exitosa esta PRINCIPAL TAREFA.

COMO FINANCIAR A RECONSTRUÇÃO DO RS

Entretanto, passado esse momento outra QUESTÃO irá se impor, inevitavelmente: - COMO FINANCIAR A RECONSTRUÇÃO DO RIO GRANDE DO SUL? Pois, o objetivo desse texto é única e exclusivamente PROPOR SOLUÇÕES PARA CONTRIBUIR PARA ESSE DEBATE, e tentar ajudar o povo gaúcho nesse momento tão difícil de sua história. Para tanto, a seguir apresento algumas ideias que acredito poderem contribuir para o debate. Claro que essas ideias ainda precisam passar pelos CRIVOS TÉCNICOS DO GOVERNO, mas acredito que valha a pena ao menos refletir sobre as sugestões abaixo.

RECEBÍVEIS DA PPSA

1) RECEBÍVEIS DA PPSA: em 2022 foi enviado ao Congresso Nacional o projeto de lei 1583/2022. Esse projeto permite ao governo antecipar recursos advindos dos contratos administrados pela PPSA (empresa estatal vinculada ao Ministério de Minas e Energia). Não é absurdo supor que esses contratos possam render R$ 200 bilhões a União. Dividindo metade disso com estados e municípios, e assumindo cotas iguais para cada estado, veríamos que o Rio Grande do Sul (governo estadual e municípios) teria direito a aproximadamente R$ 3,7 bilhões (100 bilhões divididos igualmente por 27 estados). Que tal vender essa fração dos contratos da PPSA e antecipar esse valor para o Rio Grande do Sul? Seria uma entrada importante de recursos diretamente para o caixa dos governos locais poderem executar obras urgentes de infraestrutura.

RECUPERAÇÃO DA INFRAESTRUTURA

2) ALTERAÇÃO TEMPORÁRIA NA LEGISLAÇÃO SOBRE DESTINAÇÃO OBRIGATÓRIA PARA DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA: - A Lei no 9.991/2000, estabeleceu a obrigatoriedade das distribuidoras de energia elétrica de investir percentual de sua receita operacional líquida em programas de eficiência energética. Que tal permitir, pelo menos de maneira provisória, que esse percentual possa ser gasto na recuperação da infraestrutura do estado do Rio Grande do Sul? Dada a tragédia que assola o povo gaúcho, isso seria uma clara melhora na alocação desses recursos.

REMANEJAR RECURSOS DE OBRAS REALIZADAS POR ITAIPU

3) REMANEJAR RECURSOS DE OBRAS REALIZADAS POR ITAIPU: - Itaipu é uma importante empresa brasileira, e tem um caixa que muitas vezes abastece obras espalhadas por diversos locais. Acredito que parte desses recursos de Itaipu poderiam ser remanejados para reconstrução da infraestrutura no Rio Grande do Sul. ATENÇÃO: não estou propondo que Itaipu aumente seu orçamento de obras, estou sugerindo que o orçamento de obras já aprovado de Itaipu seja em parte, e de maneira provisória, redirecionado para ajudar na reconstrução o do Rio Grande do Sul.

CRÉDITOS DE RECICLAGEM E CRÉDITOS VERDES

4) CRÉDITOS DE RECICLAGEM E CRÉDITOS VERDES: o governo federal aprovou diversos novos instrumentos financeiros entre 2019-22 que podem ser usados para captação de recursos privados para ajudar na reconstrução do Rio Grande do Sul. Acredito que com algumas alterações legais o estado do Rio Grande do Sul possa incluir limpeza de detritos como créditos de reciclagem. Com essas alterações legais as empresas que são obrigadas por lei a reciclarem poderiam comprar esses créditos e ajudar a financiar a reconstrução do estado. Na mesma linha, e novamente com algumas alterações legais, a CPR-Verde poderia ser utilizada para alavancar recursos privados para ajudar na construção de obras que ajudarão a evitar a repetição dessa tragédia.

Ao final Sachsida pede desculpas pelo texto não ser melhor elaborado, mas está convencido de que as QUATRO SUGESTÕES ACIMA poderiam alavancar recursos bilionários fundamentais para ajudar na reconstrução do Rio Grande do Sul. Ressalto que todas as sugestões levantadas aqui não tem impacto fiscal, ou seja, são soluções capazes de levantar bilhões de reais sem onerar os cofres do Tesouro. Mas repito: no momento o importante é SALVAR VIDAS. As sugestões contidas nesse texto ainda são embrionárias e claro que necessitam de um trabalho mais robusto das equipes tecnicas. Mas acredito que esse norte é um norte importante a ser perseguido: procurar solução que, ao aprimorar desenhos de politicas publicas ou ajustá-las ao momento dessa tragédia, terão impacto benéfico sobre a população e um moderado custo fiscal.

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