• Marco Antonio Villa
  • 07 Outubro 2014

 

Tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo

A cinco meses da eleição presidencial é evidente o sentimento de enfado, cansaço, de esgotamento com a forma de governar do Partido dos Trabalhadores. É como se um ciclo estivesse se completando. E terminando melancolicamente.

A construção do amplo arco de alianças que sustenta politicamente o governo Dilma foi, quase todo ele, organizado por Lula no início de 2006, quando conseguiu sobreviver à crise do mensalão e à CPMI dos Correios. Naquele momento buscou apoio do PMDB — tendo em José Sarney o principal aliado — e de partidos mais à direita. Estabeleceu um condomínio no poder tendo a chave do cofre. E foi pródigo na distribuição de prebendas. Fez do Tesouro uma espécie de caixa 1 do PT. Tudo foi feito — e tudo mesmo — para garantir a sua reeleição. Parodiando um antigo ministro da ditadura, jogou às favas todo e qualquer escrúpulo. No jogo do vale-tudo não teve nenhuma condescendência com o interesse público.

A petização do Estado teve início no primeiro mandato, mas foi a partir de 2007 que se transformou no objetivo central do partido. Ter uma estrutura permanente de milhares de funcionários petistas foi uma jogada de mestre. Para isso foram necessários os concursos — que garantem a estabilidade no emprego — e a ampliação do aparelho estatal. Em todos os ministérios, sem exceção, aumentou o número de funcionários. E os admitidos — quase todos eles — eram identificados com o petismo.

Desta forma — e é uma originalidade do petismo —, a tomada do poder (o assalto ao céu, como diria Karl Marx) prescindiu de um processo revolucionário, que seria fadado ao fracasso, como aquele do final da década de 60, início da década de 70 do século XX. E, mais importante, descolou do processo eleitoral, da vontade popular. Ou seja, independentemente de quem vença a eleição, são eles, os petistas, que moverão as engrenagens do governo. E o farão, óbvio, de acordo com os interesses partidários.

Se no interior do Estado está tudo dominado, a tarefa concomitante foi a de estabelecer um amplo e fiel arco de dependência dos chamados movimentos sociais, ONGs e sindicatos aos interesses petistas. Abrindo os cofres públicos com generosidade — e que generosidade! — foi estabelecido um segundo escudo, fora do Estado, mas dependente dele. E que, no limite, não sobrevive, especialmente suas lideranças, longe dos recursos transferidos do Erário, sem qualquer controle externo.

O terceiro escudo foi formado na imprensa, na internet, entre artistas e vozes de aluguel, sempre prontas a servir a quem paga mais. Fazem muito barulho, mas não vivem sem as benesses estatais. Mas ao longo do consulado petista ganharam muito dinheiro — e sem fazer esforço. Basta recordar os generosos patrocínios dos bancos e empresas estatais ou até diretamente dos ministérios. Nunca foi tão lucrativo apoiar um governo. Tem até atriz mais conhecida como garota-propaganda de banco público do que pelo seu trabalho artístico.

Mas tudo tem um começo e um fim, como poderia dizer o Marquês de Maricá. E o fim está próximo. O cenário não tem nenhum paralelo com 2006 ou 2010. O desenho da eleição tende à polarização. E isto, infelizmente, poderá levar à ocorrência de choques e até de atos de violência. O Tribunal Superior Eleitoral deverá ser muito acionado pelos partidos. E aí mora mais um problema: quem vai presidir as eleições é o ministro Dias Toffoli – como é sabido, de origem petista, foi advogado do partido e assessor do sentenciado José Dirceu.

Se a oposição conseguir enfrentar e vencer todas estas barreiras, não vai ter tarefa fácil quando assumir o governo e encontrar uma máquina estatal sob controle do partido derrotado nas urnas. As dezenas de milhares de militantes vão — se necessário — criar todo tipo de dificuldades para a implementação do programa escolhido por milhões de brasileiros. Aí — e como o Brasil é um país dos paradoxos — será indispensável ao novo governo a utilização dos DAS (cargos em comissão). Sem eles, não conseguirá governar e frustrará os eleitores.

Teremos então uma transição diferente daquela que levou ao fim da Primeira República, em 1930; à queda de Vargas, em 1945; ou, ainda, da que conduziu ao regime militar, em 1964. Desta vez a mudança se dará pelo voto, o que não é pouco em um país com tradição autoritária. O passado petista — que imagina ser eterno presente — terá de ser enfrentado democraticamente, mas com firmeza, para que seja respeitada a vontade das urnas.

É bom não duvidar do centralismo democrático petista. Não deve ser esquecido que o petismo é o leninismo tropical. Pode aceitar sair do governo, mas dificilmente sairá do aparelho de Estado. Se a ordem de sabotar o eleito em outubro for emitida, os militantes-funcionários vão segui-la cegamente. Claro que devidamente mascarados com slogans ao estilo de “nenhum passo atrás”, de “manter as conquistas”, de impedir o “retorno ao neoliberalismo”. E com uma onda de greves.

A derrota na eleição presidencial não só vai implodir o bloco político criado no início de 2006, como poderá também levar a um racha no PT. Afinal, o papel de Lula como guia genial sempre esteve ligado às vitórias eleitorais e ao controle do aparelho de Estado. Não tendo nem um, nem outro, sua liderança vai ser questionada. As imposições de “postes”, sempre aceitas obedientemente, serão criticadas. Muitos dos preteridos irão se manifestar, assim como serão recordadas as desastrosas alianças regionais impostas contra a vontade das lideranças locais. E o adeus ao PT também poderá ser o adeus a Lula.

 

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  • Antônio Augusto Mayer dos Santos
  • 03 Outubro 2014

A vedação ao encarceramento de eleitores nos períodos imediatamente antecedentes e seguintes à realização dos pleitos, descontadas as exceções previstas, vigora desde oDecreto nº 21.076, de 24 de fevereiro de 1932. O texto vigente dispõe: “Nenhuma autoridade poderá, desde 5 (cinco) dias antes e até 48 (quarenta e oito) horas depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto”.

 Esta redação legal, mantida praticamente inalterada ao longo de mais de oito décadas, esgotou-se. Não poderia ser diferente em relação a um instituto jurídico que remonta ao nefasto período do Estado Novo. Entre juristas e estudiosos, predomina o entendimento de que a interpretação literal do artigo 236 do Código Eleitoral colide com o direito de segurança pública guindado a patamares constitucionais pela Carta de 1988. Para o professor Marcos Ramayana, "Consagra o artigo legal evidente exagero, que não mais merece permanecer na ordem jurídica, pois os motivos que embasaram o legislador para a adoção da regra não prevalecem nos tempos atuais” (2004, p. 353).

 Como era de se imaginar, o Brasil tem eleições periódicas, passou de país agrário a urbano e a sua população superou os 200 milhões de habitantes. Contudo, este cenário implicou numa violência que se tornou crescente, acompanhada de índices de criminalidade alarmantes. Delitos e criminosos não cessame ainda gozam de uma tolerância legal absolutamente estarrecedora.

 É diante dessa dura realidade que a regra eleitoral se mostra anacrônica ao restringir, senão obstruir, o trabalho de policiais, tribunais, promotores e juízes, além de reforçar a sensação de impunidade. Sua redação é lírica diante do cenário de guerra que conflagra o cotidiano nacional.

 O texto vigente exige alargamento para incluir outras hipóteses de prisão eadequaçãoà realidade, ou seja, ao direito de segurança pública estabelecido em nome e em função da coletividade. Se as diversas proposições legislativas visando alterá-lo criam bolor no Congresso Nacional, que os integrantes da próxima legislatura tenham o bom-senso de votá-las. Afinal, “vivemos, atualmente, um período de normalidade político-institucional, com ampla liberdade de imprensa e com significativa participação popular, de sorte que não há mais espaço para normas dessa natureza”, sintetizou o bem fundamentado Projeto de Lei nº 5.005/13.

* Advogado eleitoralista
 

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  • Leonardo Faccioni
  • 03 Outubro 2014

 

Segundo o jacobino, a coisa pública é dele, e, a seus olhos, a coisa pública abrange todas as coisas privadas, corpos e bens, almas e consciências. Assim, tudo lhe pertence. Pelo simples fato de ser jacobino, ele se acha legitimamente tzar e papa. Sendo o único esclarecido, o único patriota, ele é o único digno de comandar, e seu orgulho imperioso julga que toda resistência é um crime... No entanto, resta-lhe pôr em acordo seus próximos atos com suas palavras recentes. A operação parece difícil, pois as palavras que ele pronunciou condenam de antemão os atos que ele planeja. Ontem, ele exagerava os direitos dos governados, ao ponto de suprimir os dos governantes; amanhã ele vai exagerar os dos governantes até suprimir os dos governados.

[...] “A dar-lhe ouvidos, o povo é o único soberano, e ele vai tratar o povo como escravo. A dar-lhe ouvidos, o governo não é mais que um criado de quarto, e ele vai dar ao governo as prerrogativas de um sultão. Ontem mesmo ele denunciava o menor exercício da autoridade pública como um crime, agora ele vai punir como um crime a menor resistência à autoridade pública.” — Hippolyte Adolphe Taine


O próximo presidente brasileiro, ao receber a faixa, herdará uma bomba relógio; ao subir a rampa planaltina, entrará em um mausoléu de reputações.

Doze anos de petismo balcanizaram o Brasil. Há cheiro de pólvora no ar em todas as direções. Uma faísca basta para que tudo vá pelos ares: é a percepção de “violência difusa”, sobre a qual tanto se sente e pouco se fala.

Os agentes do partido governante disseminaram, de parte a parte, um desejo de revolta paralelo ao de Lúcifer: ensinaram por onde andaram que a miséria de um é a culpa de outro; que tudo o que o morro não possui lhe foi deliberadamente negado pela malícia do asfalto; que, se índios nômades aculturados tomassem para si as terras há cem anos cultivadas por milhares de famílias imigrantes, haveria justiça; que a pobreza, em um país desde sempre conhecido pela inviabilidade total de um corte étnico preciso, era questão de raça e de preconceitos burgueses.

O PT sepultou a concepção tradicional de educação, que buscava retirar o indivíduo de seu meio para apresentá-lo à vastidão do pensamento universal. Ao contrário, a pedagogia freireana encampada pelo partido, ao invés de elevar, rebaixa. Torna o aluno incapaz sequer de suspeitar que um objeto possa ser examinado por mais de uma dimensão, ou que a gôndola do supermercado onde brota seu arroz deva sua existência a uma cadeia incomensurável de agentes — da produção, sim, mas também do pensamento — aos quais debitar gratidão. A educação petista produz, em série, imbecis imediatistas. Zumbis de uma cultura de ódio e devassidão, prontos a tomar pela força tudo aquilo a que imaginam ter direito. Não importa, para tanto, a quem precisem atropelar.

Por sua vez, o modelo econômico desenvolvimentista dá claros sinais de esgotamento. Precisará de ajustes dolorosos. A falência do sistema energético, com surreais anúncios de reajuste tarifário para após as eleições, é prenúncio do que está por vir; ponta do iceberg. Os investidores o sabem, e a Bolsa dá mostras. Quando a inflação consumir sozinha o mensalinho do Bolsa Família, essa geração berçada sob a cultura da “música de contestação”, do “rap reivindicação”, do “fazer valer os seus direitos” não os buscará contra a autoridade política, mas contra a sociedade, cujo representante arquetípico é quem quer que se encontre pela rua em seu caminho. Haverá choro, ranger de dentes, fogo e balas insuficientes.

Não se enganem, porém. A situação não se armou a si mesma. Teve seus arquitetos, como teve seus executores. Desejaram e desejam ainda o desfecho ora quase inevitável para esta que é a crônica de um desastre anunciado. Pensam que, estilhaçando a nação, poderão reconstruí-la à sua imagem e semelhança, e que todo preço a pagar por tão glorioso projeto seja pequeno. Passa a hora de nomeá-los e chamá-los a responder por seus atos de lesa-pátria.


www.leonardofaccioni.org

 

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  • Ferreira Gullar
  • 02 Outubro 2014

 

Eles sabem que estão mentindo e, sem qualquer respeito próprio, repetem a mentira por décadas.


Tenho com frequência criticado o governo do PT, particularmente o que Lula fez, faz e o que afirma, bem como o desempenho da presidente Dilma, seja como governante, seja agora como candidata à reeleição.
Esclareço que não o faço movido por impulso emocional e, sim, na medida do possível, a partir de uma avaliação objetiva. Por isso mesmo, não posso evitar de comentar a maneira como conduzem a campanha eleitoral à Presidência da República. Se é verdade que os candidatos petistas nunca se caracterizaram por um comportamento aceitável nas campanhas eleitorais, tenho de admitir que, na campanha atual, a falta de escrúpulos ultrapassou os limites.

Lembro-me, como tanta gente lembrará também, da falta de compromisso com a verdade que tem caracterizado as campanhas eleitorais do PT, particularmente para a Presidência da República.
Nesse particular, a Petrobras tem sido o trunfo de que o PT lança mão para apresentar-se como defensor dos interesses nacionais e seus adversários como traidores desses interesses. Como conseguir que esse truque dê resultado?
Mentindo, claro, inventando que o candidato adversário tem por objetivo privatizar a Petrobras. Por exemplo, Fernando Henrique, candidato em 1994, foi objeto dessa calúnia, sem que nunca tenha dito nada que justificasse tal acusação.
Em 2006, quem disputou com Lula foi Geraldo Alckmin e a mesma mentira foi usada contra ele. Na eleição seguinte, quando a candidata era Dilma Rousseff, essa farsa se repetiu: ela, se eleita, defenderia a Petrobras, enquanto José Serra, se ganhasse a eleição, acabaria com a empresa.
É realmente inacreditável. Eles sabem que estão mentindo e, sem qualquer respeito próprio, repetem a mesma mentira. Mas não só os dirigentes e o candidato sabem que estão caluniando o adversário, muitos eleitores também o sabem, mas se deixam enganar. Por isso, tendo a crer que a mentira é uma qualidade inerente ao lulopetismo.
Quando foi introduzido, pelo governo do PSDB, o remédio genérico --vendido por menos da metade do preço do mercado-- o PT espalhou a mentira de que aquilo não era remédio de verdade. E os eleitores petistas acreditaram: preferiram pagar o triplo pelo mesmo remédio para seguir fielmente a mentira petista.
Pois é, na atual campanha, não apenas a mesma falta de escrúpulo orienta a propaganda de Dilma, como, por incrível que pareça, conseguem superar a desfaçatez das campanhas anteriores.
Mas essa exacerbação da mentira tem uma explicação: é que, desta vez, a derrota do lulopetismo é uma possibilidade tangível.
Faltando pouco para o dia da votação, Marina tem menos rejeição que Dilma e está empatada com ela no segundo turno --e o segundo turno, ao que tudo indica, é inevitável.
Assim foi que, quando Aécio parecia ameaçar a vitória da Dilma, era ele quem ia privatizar a Petrobras e acabar com o Bolsa Família.
Agora, como quem a ameaça é Marina, esta passou a ser acusada da mesma coisa: quer privatizar a Petrobras, abandonar a exploração do pré-sal e acabar com os programas assistenciais. Logo Marina, que passou fome na infância.
E não é que o Lula veio para o Rio e aqui montou uma manifestação em defesa da Petrobras e do pré-sal? Não dá para acreditar: o cara inventa a mentira e promove uma manifestação contra a mentira que ele mesmo inventou! Mas desta vez ele exagerou na farsa e a tal manifestação pifou.
Confesso que não sei qual a farsa maior, se essa, do Lula, ou a de Dilma quando afirmou que, se ela perder a eleição, a corrupção voltará ao governo. Parece piada, não parece? De mensalão em mensalão os governos petistas tornaram-se exemplo de corrupção, a tal ponto que altos dirigentes do partido foram parar na cadeia, condenados por decisão do Supremo Tribunal Federal.Agora são os escândalos da Petrobras, saqueada por eles e por seus sócios na falcatrua: a compra da refinaria de Pasadena por valor absurdo, a fortuna despendida na refinaria de Pernambuco, as propinas divididas entre o PT e os partidos aliados, conforme a denúncia feita por Paulo Roberto Costa, à Justiça do Paraná.
Foi o Lula que declarou que não se deve dizer o que pensa, mas o que o eleitor quer ouvir. Ou seja, o certo é mentir.
 

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  • Graça Salgueiro
  • 02 Outubro 2014

 

Duas notícias estarrecedoras divulgadas hoje, me obrigam a deixar de lado o trabalho para fazer a denúncia no blog: na Venezuela madurista agora, para fazer qualquer compra em supermercados e farmácias, o cidadão tem que deixar sua impressão digital como forma de “controle” contra um alegado contrabando. E na Colômbia, um mega assassino de cognome “Popeye”, que trabalhou desde a adolescência como matador profissional de Pablo Escobar, o rei do cartel de Medellín, depois de cumprir parte de sua pena recebe liberdade condicional.

Bem, vamos primeiro ao fato insólito da Venezuela. Como é de conhecimento público, denunciado por mim mesma há tempo, a escassez que o venezuelano comum vem sofrendo atinge níveis inimagináveis. Para controlar - e pôr garrote - não só na população mas sobretudo no empresariado, o usurpador presidente Maduro resolveu, a partir desta terça-feira 26 de agosto, utilizar uma máquina “captahuella”, a mesma que recolhe as impressões digitais (daí seu nome) nas mesas de votação em período eleitoral. Antes disso ele já marcava o povo como os judeus nos campos de concentração, com um carimbo contendo um número que era posto no braço, para que a pessoa não voltasse a fazer compras (em qualquer estabelecimento, pois a tinta não saía com facilidade) no prazo inferior a uma semana.

A novidade de hoje vem como pretexto de coibir o contrabando de mercadorias que, segundo Maduro e seus capachos, sai ilegalmente da fronteira com a Colômbia que tem preços mais atraentes e é revendido na Venezuela no câmbio negro. Saliento que há pouco mais de uma semana Maduro esteve reunido com o presidente Santos na Colômbia, para tratarem dessa questão do contrabando, depois da qual ambos impuseram um fechamento de suas fronteiras a partir das 20:00 h.

O que Maduro não revela é que o suposto contrabando não é causa mas conseqüência de seu incompetente (des)governo, uma vez que a produção industrial vem sofrendo baixas constantes por duas razões: o controle cambiário do CADIV que não permite o fluxo necessário do dólar, que é controlado com mão de ferro e necessário para as importações. E a baixa produção da matéria-prima que está toda nas mãos do Estado. Sem matéria-prima nacional e sem poder importar, por causa do controle da compra e venda de dólares, os empresários e produtores venezuelanos não têm como produzir e daí a escassez. Maduro e seus ministros alegam que não havendo mercadorias suficientes para todos, a solução é criar um “cartão de racionamento”, do mesmo modo que existe em Cuba há décadas. Não sei se é por ignorância mesmo ou má-fé, pois como ele recebe ordens desde Havana, o que deve mudar não é a política econômica mas a “distribuição equitativa”, confirmando a máxima de que “o socialismo é a igualdade na distribuição da miséria”.

A respeito dessa nova norma, o constitucionalista José Ignacio Hernández afirmou que o uso dessas máquinas é contrário à Constituição, porque o sistema econômico venezuelano parte do princípio da soberania do consumidor. Segundo Hernández, “são os cidadãos, e não o Estado, que decidem que bens querem adquirir. Com o sistema biométrico, o Estado é quem vai decidir e isso é inconstitucional”. Para Maduro, entretanto, “Somos obrigados a implementá-lo para combater o contrabando, a voracidade e todos os métodos da burguesia criminosa e parasitária para destruir nosso país. As famílias venezuelanas são as vítimas. É tanta a guerra que quando conseguimos certos níveis de abastecimento, eles baixam o número de caixas para que as pessoas durem horas nas filas”.

Bem, não vou me alongar muito nesse tema mas alerto apenas que no Brasil estamos caminhando para isso. Sem liberdade de mercado, controle cambiário, escassez de matéria-prima e travas gigantescas na importação, é evidente que todo o resto vem em cadeia e com ele o desemprego. Não tem nada a ver com a suposta “burguesia criminosa”, mas com um Estado falido por má administração e roubo descarado para as mãos (ou as contas em paraísos fiscais) da Nomenklatura e a boliburguesia. E nem é preciso ser economista para entender isso, de tão elementar que é...

E hoje na Colômbia foi libertado Jhon Jairo Velásquez Vásquez, mais conhecido como “Popeye”, um matador profissional que serviu ao cappo do Cartel de Medellín. Segundo ele mesmo conta, Popeye tinha apenas 12 anos quando presenciou numa briga de rua, um homem ser assassinado por outro, que lhe desferiu uma facada na jugular. Todas as pessoas que estavam na rua naquele momento fugiram horrorizadas, menos ele, que ficou encarando o assassino com uma fascinação ao ver o sangue esguichar do pescoço do agonizante. Diz ele: “Assim perdi minha inocência e voltei a nascer para o mundo que me coube viver. Não aquele que minha mãe sonhou, senão o que encontrei na rua e no mais profundo do minha condição humana. A partir desse dia, eu já não fui mais o mesmo. Pouco a pouco e sem notar, comecei a me transformar em “Popeye”.

Bem, Popeye é o único sobrevivente do bando de temidos sicários de Pablo Escobar e sai da prisão depois de cumprir 23 anos (três quintas partes da condenação) na penitenciária de Cómbita. Ele teve sua pena rebaixada por colaborar com a justiça e realizar trabalhos, mas para obter sua liberdade condicional teria pago 5.000 dólares. Popeye se uniu ao Cartel de Medellín aos 18 anos, quando “o patrão”, como era conhecido Escobar, começou a lhe encomendar assassinatos. Tem sob suas costas mais de 300 mortes, além de haver seqüestrado o ex-presidente Andrés Pastrana e o ex-vice-presidente Francisco Santos, quando era chefe de redação do jornal El Tiempo. Um de seus feitos foi a derrubada de um avião da Avianca em pleno vôo, no qual morreram 107 passageiros. Popeye admitiu com frieza que ordenou o assassinato de umas 3.000 pessoas, dentre elas centenas de policiais, jornalistas, juízes, magistrados, políticos e o candidato à presidência Luis Carlos Galán, quando Pablo Escobar travava uma guerra contra o governo para evitar sua extradição, inclusive o ataque ao Palácio de Justiça.

Agora este psicopata paga para ter a liberdade condicional e solicitou à Justiça que lhe dêem “garantias de vida”, através de escoltas armadas, pois teme ser assassinado por vingança. Saiu da prisão sob um forte esquema armado, enquanto a pessoas dignas, honradas e trabalhadoras, como o jornalista Ricardo Puentes Melo que já sofreu inúmeras ameaças reais a ele e sua família, o governo retira essa proteção “por não ver necessidade”.

. Fiquem com Deus e até a próxima!


http://notalatina.blogspot.com.br
 

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  • Silvia Scipioni
  • 01 Outubro 2014

 

Crucifixo tem muitos simbolismos, mas não exatamente como crucificação romana. Os Romanos pregavam os condenados em estacas presas em árvores ou madeiras. A cruz era um símbolo pagão e de muitas seitas antigas, e seu significado maior era a iniciação ou o sacrifício de nosso eu inferior para permitir a descoberta e atuação do eu superior. Foi usado na mitologia grega, egípcia (Horus era mostrado crucificado) e foi também o símbolo de um dos mais importantes deuses persas e romanos, o deus mitra, que era representado por um touro e cujo significado era “Sol Vencedor” e cuja data de nascimento era comemorada no fim do solstício de inverno, em que o sol parece se fortalecer, e adotado depois pelos cristãos como o natal, a data do nascimento de Jesus, 25 de dezembro. (http://saibatananet.blogspot.com.br/2012/07/jesus-morreu-na-na-cruz.html#.VBHNePldXWc).

A colocação dos crucifixos no judiciário não necessariamente tem conotação religiosa. Embora Jesus, no seu tempo, fosse considerado um revolucionário, ele não pregava o ódio ou separação entre os povos nem obrigava ninguém a seguir suas idéias, mas abominava os hipócritas e pregava o perdão, a paz e fraternidade entre os povos. Segundo o sr. Paulo Brossard de Souza Pinto, que escreveu uma matéria sobre isso em jornal de circulação local, o símbolo do crucifixo no judiciário, tem a finalidade maior de representar o injustiçado, o homem que nada fez de mal ou de errado, e mesmo assim foi preso, torturado, julgado e condenado à morte. Talvez para lembrar aos juízes da responsabilidade de seus julgamentos, ou até, na consciência do sacrifício que seu cargo lhes impõe.

Além disso, é um ícone de força, pois evoca a grandeza do injustiçado e a misericórdia que envolve um julgamento justo. Podemos imaginar um juiz que, à medida em que ao datilografar uma sentença vai escondendo as folhas prontas em baixo do tapete, com medo de não terminá-la antes de ser morto e, mesmo assim continua, talvez sugando forças em breves olhares ao crucifixo. Ou ao outro juiz, arrebatado pela paixão, que enfrenta poderosos com a determinação de um guerreiro, quantas vezes não terá pedido forças ao injustiçado?

E aí perguntamos: porque a cruz e não outro símbolo? Porque, além de ser ele o maior símbolo da injustiça é também o símbolo do sacrifício pessoal a favor da justiça, da clareza de visão em meio a nebulosidade das massas, do esclarecimento com bondade e também da misericórdia, pois além de perdoar o ladrão arrependido, o crucificado sabia que eles (os que o crucificaram), não estavam evoluídos o suficiente para entende-lo. Que outro símbolo seria mais apropriado? A meia lua do Islã, com suas regras rígidas? O Buda, com sua impassividade? Símbolos gnósticos que nem sempre são completamente entendidos? Estátuas ou quadros de pseudos grandes homens sombreadas de ambição e de sangue? Símbolos políticos ou ideológicos? Que há de mais humano do que um homem justo que cumpre seu dever apesar do medo de represálias ou mesmo da morte, inseguros até da lisura de suas ações mas determinados a dar o melhor de si para a correta justiça?
 

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