• Abrahão Filkenstein
  • 19 Agosto 2014


Essa doença ataca a área cognitiva do sistema nervoso de pessoas expostas ao contágio, principalmente as que já apresentavam uma pronunciada predisposição ao ódio e ao rancor. Caracteriza-se por agressividade crescente e rejeição a tudo o que for americano, com exceção de tênis Nike, aparelhos eletrônicos da Apple, roupas de grife produzidas a preços reduzidos nos Estados Unidos e inúmeros outros itens que caracterizam aquela civilização consumista. Os casos mais graves vêm acompanhados por acessos de ódio incontrolável, sem causa aparente. Geralmente, essas pessoas não tiveram contato anterior com cidadãos daquele país mas os consideram responsáveis por todas as desgraças do mundo. Encontram breve alívio de seus sintomas queimando bandeiras dos Estados Unidos e de outras nações que considerem inimigas de povos “progressistas”, não alinhados.

O contágio se dá em universidades, sindicatos, movimentos sociais e também através de jornais, onde viceja um largo contingente de portadores do mal que utilizam seus espaços midiáticos e suas cátedras para disseminar a doença. Os primeiros sintomas dos infectados se traduzem por uma espécie de euforia e prazeroso sentimento de pertencer a um seleto grupo de pessoas esclarecidas, humanas e sensíveis, bem diferentes desses reacionários, gente de direita, divorciados da realidade de um mundo dominado pela cobiça. Do sentimento à ação, os iluminados se sentem no direito a ajudar a humanidade a alcançar “um novo mundo é possível” através de palavras de ordem e atos violentos.

Contando com a indiferença da maioria da população, estendem sua agressividade sobre as instituições democráticas que dizem defender e, na ausência de uma reação adequada dessas instituições e dos partidos tradicionais, podem chegar ao poder, com todas as consequências que isto pode acarretar à nação. Para eles, tudo é explicado pela geopolítica dos interesses escusos dos imperialistas e assim podem dormir tranquilos, certos de que entendem o mundo como poucos.

A doença é letal, porque não há vacina contra ela e os indivíduos são levados a um estado progressivo de embrutecimento, de tal ordem que não terão mais condição de voltar à razoabilidade e à compaixão. É uma morte por dentro que não há como estancar.

* Empresário de turismo
 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 18 Agosto 2014

  Se por um lado há muito que lamentar, por outro não há nada de estranho o fato de Dilma Neocomunista Rousseff se colocar sempre em defesa de Cristina Kirchner, que acorda todos os dias com um único objetivo: destruir a economia da pobre Argentina.

Essa confessada e nada recente admiração e/ou solidariedade tem sentido: Dilma, faz exatamente aquilo que, independente de gostar também atende aos interesses de seu partido (PT) e seu grande aliado (PMDB). 

Mais: Dilma, prazerosamente, cumpre todas as imposições decididas pelo Foro de São Paulo, cujo propósito é colocar o nosso pobre país no mesmo patamar de dificuldade econômica.

Esta clara e absoluta postura de extermínio econômico até já foi percebida por quase todos os políticos de partidos socialistas, que abundam no Brasil: em todos os cantos do país, os candidatos que gozam de maior preferência dos eleitores, já se colocam -TODOS CONTRA DILMA-. 

Os segmentos produtivos do Brasil, por exemplo, estão apavorados com o pífio desempenho da economia. Aliás, o próprio Boletim Focus (do Banco Central), pela 12ª semana consecutiva, ratifica o pavor promovido por Dilma Neocomunista Rousseff: divulgou hoje a mais nova perspectiva de crescimento do PIB, que agora não passa de apenas 0,79% para 2014. 

Enquanto vamos sofrendo por economia minguante, os empresários da já paupérrima Argentina, estão em pé de guerra: na semana passada, a exterminadora Cristina Kirchner apresentou um projeto que impõe um maior controle da cadeia de comercialização de bens e serviços, com o objetivo de determinar preços. 

O projeto também pretende determinar cotas de produção, margens de lucros, preços de referência e níveis mínimos e máximos de comercialização.

O plano de reforma, segundo informa o jornalista Ariel Palacios (Estadão), provocou um rechaço geral por parte do empresariado argentino. Nunca antes uma legislação proposta pela administração Kirchner havia desatado tantas críticas.

O líder da União Industrial Argentina (UIA), Héctor Méndez, criticou a reforma da lei de abastecimento, alegando que -é perigosa- e -pode afetar os investimentos e os empregos-. Os partidos da oposição também criticaram o projeto. Assim começou a última etapa do populismo decadente venezuelano, exclamou o senador Gerardo Morales, um dos líderes da União Cívica Radical (UCR), durante uma sessão na Câmara Alta Argentina.
A Associação de Bancos Privados de Capital Argentino (Adeba) expressou ontem -preocupação e rechaço- ao projeto e solicitou que o governo -dialogue- com o empresariado. A Associação de Bancos da Argentina (ABA), que reúne os bancos estrangeiros instalados no país, fez um apelo para que os direitos da propriedade privada -sejam respeitados-, além da -livre administração das empresas-

. Já a Sociedade Rural Argentina sustentou que o projeto, além de inconstitucional leva à intervenção total da economia. "Esse tipo de tentativa confiscatória afasta os investimentos, mais ainda nesses tempos de retração da economia.

Como Dilma sempre se mostrou simpática às decisões tomadas por Cristina, não perguntem o que ela acha. Certamente dirá que apoia, como apoiou tudo que é dito e feito na Argentina e na Venezuela.
Só me resta, portanto, gritar -TODOS CONTRA DILMA!!!
 

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  • Paulo Briguet
  • 18 Agosto 2014

1. O problema do nosso tempo não é o ateísmo, mas o antiteísmo. Marx e Lênin, Nietzsche e Hitler, Mao e Gramsci não são simplesmente descrentes: eles odeiam a própria ideia de Deus. Deus é conservador: representa a negação do super-homem revolucionário.

2. Parte do ambientalismo contemporâneo procura substituir Deus pela mãe-natureza. Sai o Criador, entra Gaia. É uma nova religião civil. Chesterton já dizia, em tom de alerta, que existe uma terrível consequência em acreditar que a natureza é nossa mãe: ela acabará se revelando como madrasta. Na verdade, a natureza é nossa irmã: devemos protegê-la e amá-la, como ensinava São Francisco, mas nunca adorá-la ou transformá-la em ídolo inquestionável.

3. Desculpem-me o que pensam assim, mas essa história de que a Terra viveria muito bem sem a humanidade, de que o homem poderia ser eliminado do planeta sem maiores prejuízos – isso tudo é conversa do diabo.

4. Diabo é aquele que divide. A ideologia da luta de classes, muitas vezes disfarçada de ambientalismo ou radicalismo, funciona hoje como a principal arma do Inimigo.

5. Nas redes sociais, a trágica morte de Eduardo Campos, que comoveu o País, despertou uma onda de comentários abomináveis, procedentes de grupelhos politicamente radicais. Como disse um amigo, a gente fica imaginando o que tais grupos fariam se chegassem ao poder. A resposta está nos regimes totalitários que provocaram milhões de mortes no século XX. O comunismo não era somente um regime ateu; era um regime antiteísta. Gaia, História, Revolução, Dialética e Vontade de Poder são nomes diferentes para o mesmo ídolo. Conversa do coisa-ruim.

6. Grande parte do discurso contra Israel nos tempos atuais está ligada ao mesmo sentimento antiteísta que corrói a civilização ocidental. Aos que defendem o boicote a produtos israelenses, sugiro que comecem desligando seus computadores, e em seguida deixando de tomar remédios ou utilizar técnicas agrícolas avançadas.

7. A natureza não escreve Guerra e Paz nem A Divina Comédia. A natureza não compõe as Variações Goldberg nem a Missa Solene. A natureza, lamento informar, não esculpe Moisés, não pinta A Conversão de São Paulo e não produz um só diálogo de Hamlet, que dirá um Sermão pelo Bom Sucesso das Armas de Portugal contra as de Holanda. A natureza não produz uma mísera cerveja artesanal, tampouco o menos delicioso dos vinhos do Reno. A natureza não transforma deserto em terra fértil, como fizeram os israelenses. A natureza sabe ser cruel: devora seus filhotes sem dó quando julga necessário. Sim, devemos proteger a natureza. Mas às vezes temos de nos proteger dela, como Israel protege seus filhos.

*Jornalista

http://www.jornaldelondrina.com.br/blogs/

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  • Carlos I.S. Azambuja
  • 17 Agosto 2014

 

O pequeno ensaio a seguir, dividido em quatro partes, foi elaborado pelo historiador Carlos I.S. Azambuja, colaborador deste site, com base no livro "Por dentro do Jihad", de autoria de Omar Nasiri, editado pela Record.

Carlos I. S. Azambuja
* Historiador


PARTE 1

Entre 1994 e 2000, Omar Nasiri trabalhou como agente secreto para os principais serviços externos de Inteligência da Europa - incluindo a DGSE (Direction Genérale de la Securité Exterieure), da França, e o MI5 e MI6, da Grã-bretanha. Do submundo das células islâmicas da Bélgica até os campos de treinamento do Afeganistão e as mesquitas radicais de Londres, ele arriscou a vida para derrotar a emergente rede global que o Ocidente viria a conhecer como Al-Qaeda.

Agora, pela primeira vez, em um livro editado pela Editora Record - "Por dentro do Jihad" - (1), Nasiri compartilha a história de sua vida - precariamente equilibrada entre o mundo dos jihadistas islâmicos e dos espiões que os perseguem. Como árabe e muçulmano, ele pôde infiltrar-se nos rigidamente controlados campos de treinamento afegãos, onde encontrou homens que mais tarde se tornariam os terroristas mais procurados da Terra: Ibn al-Sheikh al-Libi, Abu Zubayda e Abukhabab al-Masri. Enviado de volta à Europa, Nasiri tornou-se um intermediário de mensagens trocas entre o recrutador-chefe da Al-Qaeda no Paquistão e o clérigo radical de Londres, Abu Qatada.

Em suma, "Por dentro do Jihad" oferece uma perspectiva inteiramente original da batalha que se desenvolve contra a Al-Qaeda. Omar Nasiri, nome fictício, nasceu no Marrocos e atualmente vive na Alemanha.

Eis um trecho de "Por Dentro do Jihad":

"Em algumas noites (no Afeganistão) nós praticávamos tajwid (2) em outras estudávamos o Corão e a hadith, o conjunto de tradições estabelecidas pelas palavras e ações do profeta Maomé (...).

Nós aprendíamos muito todas as noites nessas aulas mas, acima de tudo, aprendíamos sobre as leis do jihad. Existem mais de 150 versos no Corão sobre o jihad e centenas de referências na hadith. (...) Foi somente quando cheguei a Khaldan (3) que comecei a aprender o que o Corão tinha realmente a dizer sobre o jihad.

Naturalmente, há muitos tipos diferentes de jihad. Existe o jihad interior, que é algo que todos os verdadeiros muçulmanos praticam constantemente. Existe o jihad da língua, que tem todos os tipos de forma. Pode significar o proselitismo, como eu vira no Tabligh (4). Ou pode significar manifestar-se politicamente, através de sermões ou protestos ou, até mesmo, de propaganda como o Al Ansar (5). Existe o jihad realizado por meio de ações, tais como fazer a peregrinação hajj (6) até Meca. Ou mesmo dando dinheiro para apoiar o jihad supremo, a kutila fi sabilillah. A guerra santa.

Nós falávamos quase que exclusivamente sobre esta última forma de jihad. Nós aprendemos todas as regras de combate. A força deve ser evitada, a menos que seja absolutamente necessária e, mesmo assim, deve ser empregada somente em proporção ao poderio do inimigo.

Mas, uma vez que a força torna-se necessária, ninguém pode fugir do seu dever. Se uma mulher do outro lado do mundo é estuprada ou tirada de sua família, todos os muçulmanos devem unir-se para lutar até que a injustiça seja corrigida. É uma exigência de Deus.

Antes de lutar, um irmão deve preparar-se. Primeiro, e acima de tudo, ele deve se preparar espiritualmente. Com fé, um exército pode derrotar um oponente dez vezes maior.

Outros tipos de preparação também são vitais. Um mujahid (7) deve estar moralmente preparado; ele deve evitar todos os pecados e purificar-se diante de Deus. Ele também deve preparar seu corpo e fortalecê-lo o máximo possível. E todo irmão deve aprender tudo o que conseguir sobre ciência e tecnologia, para que sua superioridade sobre o inimigo seja total.

Uma vez em combate, um mujahid deve obedecer leis muito rígidas. São proibidos o massacre de inocentes, a matança indiscriminada, a morte de mulheres e crianças, a mutilação dos cadáveres dos inimigos e a destruição de escolas, igrejas, fontes de água ou, até mesmo, campos e rebanhos. Ninguém deve ser assassinado enquanto está rezando, independentemente de as orações serem muçulmanas, cristãs, judaicas ou quaisquer outras.

Um mujahid deve lutar somente por Deus, não por ganhos materiais, não por política. Ele luta com a razão a seu lado e luta para servir à criação de Deus. Quanto mais profunda for sua fé em Deus, maior será sua capacidade de honrar a obra de Deus.

Os verdadeiros fiéis são aqueles cujas vidas Deus obteve em troca da promessa do paraíso. Eles não devem fugir da batalha, ainda que estejam diante da morte certa. Um homem que dá as costas aos infiéis e corre, diz o Corão, sujeitou-se, de fato, à severa punição de Deus e seu refúgio final é o fogo; quão abomináveis são o retorno e a destinação que o aguardam?

Fiquei surpreso ao aprender como são tão específicas as leis do jihad, muito mais do que quaisquer convenções sobre direitos humanos sonhadas no Ocidente. Na verdade, nossos professores repetiam para nós incontáveis vezes que esses princípios são os que diferenciam muçulmanos de não-muçulmanos. Os infiéis são aqueles que matam indiscriminadamente, sem lei. Eles destroem cidades inteiras, até mesmo populações inteiras. Eles bombardeiam igrejas, mesquitas e escolas.

Nós aprendemos sobre os ingleses e os franceses, que conquistaram povos em todo o mundo e roubaram as terras para suas colônias. Nós aprendemos sobre Hitler e seus campos de concentração. Aprendemos como os americanos tinham massacrado coreanos e vietnamitas. Aprendemos sobre Hiroshima, Nagasaki e os bombardeios em massa no final da Segunda Guerra Mundial. E, é claro, aprendemos sobre os horrores que os israelenses perpetraram na Palestina, mas isso todos nós já sabíamos. Os infiéis massacravam, bombardeavam e destruíam tudo em seu caminho. Eles eram uns animais.

Naturalmente, aprender tudo isso me faz pensar de novo a respeito do que eu sabia sobre a guerra na Argélia. O GIA fizera muitas das coisas proibidas na lei islâmica. Eles haviam matado civis, disparando até mesmo contra escolas inteiras. Mas, com o tempo, aprendi algo sobre as leis do jihad: há espaço. Há espaço dentro dos limites da lei para todos os tipos de interpretação.

Há espaço, particularmente na hora de definir quem são os inimigos e quem são os inocentes. Parece simples, é claro - os inimigos são aqueles com as armas. Entetanto, de acordo com as leis do jihad, a definição de "inimigo" pode ser expandida para incluir toda a cadeia de suprimentos: quem quer que apóie o inimigo com dinheiro ou armas, ou mesmo com comida ou água; até mesmo aqueles que dão apoio moral - jornalistas, por exemplo, que escrevem em defesa da causa do inimigo. Ms até onde, me perguntei, a cadeia de suprimentos vai? Até aquele que vota em um regime inimigo? E quanto àqueles que não escolhem um lado? Até onde vai?

Mulheres geralmente são consideradas inocentes; mas elas também podem ser o inimigo. Se uma mulher reza a Deus para proteger o marido, então ela não é um inimigo. Mas se reza a Deus para matar um muçulmano, então ela é. Com as crianças é parecido. Um menino pode ser perdoado por suas orações; ele é jovem demais para ser responsável por isso. Mas se ele leva comida, ou até mesmo uma mensagem, para um combatente inimigo, então se torna um inimigo.

Acabei compreendendo como, na mente de um extremista, quase todo o mundo pode tornar-se um inimigo".

* * *

Notas:

(1) - Jihad - conceito essencial da religião islâmica. Pode ser entendido como uma luta de busca e conquista da fé perfeita. Ao contrário do que muitos pensam, jihad não significa "guerra santa"

(2) - Tajwid - Corão cantado

(3) - Kaldhan - um dos campos de treinamento no Afeganistão

(4) - Tabligh - grupo fundamentalista

(5) - Al Ansar - jornal do grupo radical muçulmano GIA, da Argélia

(6) - Hajj - Denominação dada pelos muçulmanos à peregrinação à cidade santa de Meca

(7) - Mujahid - muçulmano envolvido no que ele considera ser uma jihad

PARTE 2


Eis mais um trecho de "Por Dentro do Jihad":

Em Durunta (um dos centros de treinamento de guerrilheiros internacionalistas no Afeganistão), começamos o treinamento com explosivos. Havia uma espécie de sala de aula em um dos alojamentos e Assad Allah escrevia fórmulas no quadro negro ou fazia demonstrações em uma grande mesa. Antes de mais nada, ele nos ensinou procedimentos de segurança. Passamos dias nisso, memorizando as temperaturas e umidades adequadas para a estocagem de diferentes componentes e aprendendo sobre os vários equipamentos de segurança – luvas, máscaras contra gazes, óculos – a serem usados com inúmeros produtos químicos e explosivos, Assad Allah também ensinou o que fazer se alguma experiência desse errado.

Ele não se cansava de dar o mesmo aviso:
Vocês têm um visto e devem trazê-lo todos os dias à aula. Mas eu posso tirar o visto a qualquer momento. Se vocês violarem os procedimentos de segurança, eu os mandarei para casa imediatamente. Nós sabíamos que ele não estava brincando.

Nós ficávamos no laboratório ou na sala de aula todos os dias pro cerca de 10 horas. Só parávamos para comer e fazer a salat (1). Trabalhávamos com química e matemática bastante complicadas e tínhamos que ter extrema concentração. Aprendemos a fazer todos os explosivos a partir do zero, Essa era a idéia: para onde quer que fôssemos, nós não teríamos acesso a explosivos de categoria militar ou material industrial. Nós teríamos que nos virar com o que conseguíssemos encontrar.

Aprendemos a fazer as mais diferentes coisas: pólvora, RDX, tetril, TNT, dinamite, C2, C3, C4, Semtex, nitroglicerina e daí por diante. Aprendemos a fazer cada um com produtos que poderíamos encontrar em lojas ou roubar de laboratórios escolares. Xarope de milho, tintura para cabelo, limões, lápis, açucar, café, sal de Epsom, naftalina, baterias, fósforos, tintas, produtos de limpeza, água sanitária, fluido de freios, fertilizantes, areia. Cada um desses contém componentes de diferentes tipos de materiais explosivos. Aprendemos como decompor esses produtos e como transformá-los em bombas. Eu até mesmo aprendi como fazer uma bomba com a minha própria urina.

Nós testávamos os explosivos perto de algumas ruínas na extremidade do campo. Quase sempre usávamos quantidades muito pequenas, mas medíamos a velocidade da explosão para calcular quais seriam os efeitos com cargas maiores. Falamos como e quando usar diferentes tipos de explosivos. Aprendemos quais materiais deveríamos utilizar para explodir um trem, quanto de explosivos precisaríamos e como posicioná-lo nos trilhos para obter o máximo de impacto. Aprendemos a explodir carros e prédios.

Falávamos bastante sobre aviões. Estes eram difíceis de explodir devido à segurança nos aeroportos. Ficamos sabendo que Semtex era o mais fácil de levar à bordo, por ser quase impossível de detectar. Mas o Semtex era difícil de se obter, Assad Allah lembrava-nos. Também aprendemos sobre explosivos líquidos.

Fazíamos anotações sobre tudo nos cadernos pequenos que ganhamos no campo. Mas, no fim, eles esperavam que soubéssemos tudo de cor. Quando chegasse a hora de usar os explosivos, nós não teríamos um manual diante de nós. Assim, passávamos pelas fórmulas infindáveis vezes até conseguirmos repeti-las durante o sono. E Assad Allah nos submetia a provas todos os domingos, para se assegurar que havíamos aprendido.

Certa ocasião, Assad Allah falou sobre um incidente que ocorrera durante seu próprio treinamento em explosivos. O seu grupo estava aprendendo a fazer nitroglicerina e um dos irmãos não prestava atenção. Ele deixou os materiais esquentaram mais do que o permitido. Felizmente, o instrutor viu o termômetro bem a tempo de evitar que os materiais explodissem. Havia mais 7 pessoas no laboratório e todas poderiam ter morrido.

- Vai explodir! – ele gritou para o irmão.

Havia uma pia cheia de gelo bem ao lado do recruta e ele deveria ter jogado o material ali para esfriar. Mas, em vez disso, ele correu para a porta com a bomba-relógio líquida nas mãos. Assim que saiu, a mistura explodiu. A explosão arrancou os dois braços na hora e destruiu um dos olhos.

- O irmão sobreviveu? – perguntei.

- Sim – Assad Allah responde – Ele vive agora em Londres e prega nas mesquitas. Seu nome é Abu Hamza.

Na época eu não tinha idéia de quem era esse homem e nem a importância que ele viria a ter em minha vida.

Um dia, Abdul Kerim e eu entramos em uma mesquita e vimos alguém pendurado nas vigas pelos tornozelos. Seus olhos estavam vendados e ele gritava. Havia vários irmãos parados ao redor. Eles gritavam com o prisioneiro e um apontava uma arma para a sua cabeça.

Senti calafrios. É isso que fazem com espiões, pensei. Isso é o que vai acontecer comigo, se eu for pego. Meu estômago revirou, mas não tive muito tempo para pensar nisso porque Abu Mousa veio por trás e nos tirou da mesquita.

- O que está acontecendo? – perguntei.

- Eles são do outro campo – falou. – Um dos irmãos vai numa missão. Os outros estão preparando-o para o interrogatório, no caso de ser pego. Não sabemos o que ele vai dizer. Ele pode revelar alguma coisa sobre sua missão e vocês não devem saber nada sobre ela..

Ele deve ter percebido nossa decepção e, logo depois, passou a ler um livro, em voz alta, escrito em árabe, sobre interrogatórios. Desde as primeiras frases o livro era fascinante, e incrivelmente detalhado. Começava listando os diferentes estágios de um interrogatório: da prisão, passando pelas perguntas iniciais, até as ameaças e a tortura. E, aí, vinha a série de todas as diferentes coisas que os interrogadores poderiam fazer: pendurá-lo de cabeça para baixo em sua cela, espancá-lo com as mãos, cassetetes ou fios elétricos, deixá-lo nu por vários dias, arrancar as unhas, queimar a pele com cigarros ou fogo, atacá-lo com cães, acertá-lo na virilha ou dar choques nos genitais. A lista não tinha fim e Abu Mousa disse que todas essas técnicas haviam sido empregadas em irmãos em diferentes países.

A primeira lição era simples: um mujahid (2) deve guardar tudo para si mesmo. A melhor maneira de impedir a revelação de segredos era, antes de mais nada, não os ter. Percebi que era por isso que, desde o primeiro dia, nós recebemos ordens de nunca falar com outros sobre nossa vida fora dos campos. Não era apenas porque tinham medo de espiões. Era porque queriam se assegurar de que nenhum dos irmãos pudesse revelar muita coisa se cedesse sob pressão.

Mas a fé, e não o segredo, era, de longe, a arma mais importante à disposição do mujahid. Um verdadeiro mujahid pode suportar qualquer coisa se estiver sofrendo por Deus. Ele deve se preparar para o interrogatório e a tortura do mesmo modo que se prepara para qualquer outro tipo de batalha. Abu Mousa foi bastante claro quanto a isso: o interrogatório era uma espécie de guerra psicológica. E assim, como na guerra de verdade, não havia como um irmão pudesse perder. Ou ele derrotava o inimigo ou morria como um mártir.

for capturado, o irmão não deve, jamais, ceder qualquer informação e deve compreender que nenhuma vantagem pode ser conseguida assim. Somente levaria a mais tortura, porque os interrogadores perceberiam que o prisioneiro teria segredos para revelar. Mas os interrogadores jamais o matariam, porque não teria utilidade morto.

Como explicado por Abu Mousa, o interrogatório era uma grande oportunidade para um irmão. Ele poderia aprender mais sobre o inimigo e disseminar contra-informação que ajudasse seu grupo a atingir o objetivo. Esse tipo de manipulação exige habilidade e os irmãos devem praticar isso, assim como treinam para o uso de uma arma. Ele deve aprender a fazer os interrogadores falarem. Quanto mais durar o interrogatório, mais informações os interrogadores revelarão sobre o que sabem e sobre sua estratégia. O irmão pode usar essas informações para delinear suas próprias respostas, para dizer ao inimigo mentiras que pareçam verdades. Para um mujahid, o contra-interrogatório é apenas mais uma batalha tática.

Muitos anos depois eu pensaria novamente nessa lição, quando comecei a aprender mais sobre Ibn al-Sheikh al-Libi e seu papel dentro do que veio a ser conhecido por al-Qaeda. Ibn Shekh continuou a dirigir campos de treinamento no Afeganistão durante os anos 1990 e era próximo a bin-Laden. Ele foi capturado logo após a invasão dos americanos ao Afeganistão depois dos ataques de 11 de setembro, sendo levado de avião para o Egito, onde foi torturado pela CIA. Lá, ele disse aos interrogadores que Saddam Hussein dera à al-Qaeda informações sobre a confecção de armas químicas. Era às informações de Ibn Shekh que George W. Bush e Collin Powell se referiam quando disseram ter provas de que Saddam Hussein tinha conexões com a al-Qaeda. Eles usaram o que Ibn Sheikh lhes contara para justificar a invasão do Iraque.

Mas tarde Ibn Shekh disse que a historia a respeito de Saddam Hussein não era verdadeira. Na verdade, a CIA sabia que a história de Ibn Shekh não era confiável bem antes de Collin Powell se referir a ela em seu famoso discurso na ONU. Mas, quando esse fato emergiu, já não tinha mais importância. A América já estava em guerra.

Muitos dizem que Ibn Shekh mentiu aos captores por desespero, porque estava sendo torturado brutalmente. Eu sei que isso não é verdade. Ela havia sido preparado para interrogatórios, do mesmo modo que o irmão da mesquita estava se preparando. Ele sabia o que fazer.

Não. Ibn Sheikh não cedeu à pressão da tortura. Ele manipulou seus interrogadores com a mesma habilidade com que empunhava sua arma. Ele sabia o que seus interrogadores queriam e ficou contente em dar-lhes. Ele queria ver Saddam derrubado ainda mais do que os americanos. Como ele nos disse em Khaldan, o Iraque era o próximo grande jihad.

Em algum lugar, numa câmara de tortura secreta. Ibn Sheikh venceu sua batalha”.
* * *
______________________________

(1) Salat ou Salah (árabe:???? ) refere-se às cinco orações rituais que cada muçulmano deve realizar diariamente voltado para Meca. É um dos Cinco Pilares do Islão (arkan al-Islam). Em outras línguas estas orações são chamadas de Namaz.
(2) Mujahid - muçulmano envolvido no que ele considera ser uma jihad


PARTE 3

Os ataques de 11 de setembro de 2001 não vieram do nada. Durante os anos 1990, uma série de movimentos islâmicos violentos começou a se congregar, desviando seu foco dos conflitos locais, em seus países, para o “inimigo distante” dos EUA e do Ocidente. A organização emergente ficaria conhecida como Al-Qaeda. O relato de Omar Nasiri, autor de Por Dentro do Jihad apresenta uma percepção particular desse período crucial que parece pouco compreendido. Sua história é única, especialmente porque ele fornece a perspectiva incomum de alguém que se infiltrou nessas redes terroristas. 

A noção freqüentemente repetida é a de que a derrota do terrorismo exige um bom serviço de Inteligência e a coleta de dados de Inteligência exige indivíduos dispostos a arriscar suas vidas para se transformarem em espiões, E suas histórias raramente são contadas.

Esse foi o início da introdução ao livro de Omar Nasiri, escrita em setembro de 2006 por Gordon Corera, correspondente da BBC para Assuntos de Segurança.Este texto é um resumo do que escreveu Gordon Corera.

Tendo passado mais de sete anos trabalhando para os Serviços de Inteligência franceses, britânicos e alemães, Nasisi apresenta a visão de quem está por dentro de como essas agências funcionam e seu relato de reuniões, conversas e técnicas de espionagem dos vários serviços é de um raro detalhamento.

Mas o que fica claro de seu relato é que a rede emergente era muito mais organizada e determinada do se supunha. Os campos de treinamento afegãos foram a incubadora da atual ameaça terrorista, e Nasiri oferece o quadro mais detalhado até agora da vida dentro desses campos – um quadro bem mais rico e preocupante do que qualquer outro já visto (1)

Embora nascido no Marrocos, os argelinos desempenham um papel central no relato de Nasisi, já que eles constituíam o núcleo da rede terrorista islâmica na Europa antes do 11 de setembro. A Argélia mergulhou em uma sangrenta guerra civil após o Exército ter cancelado as eleições de janeiro de 1992 para impedir que a Frente Islâmica de Salvação (FIS) conquistasse o poder. A violência eclodiu e um conjunto de grupos insurgentes apareceu. O mais violento era o Grupo Islâmico Armado (GIA). Acredita-se que até 3 mil argelinos tenham combatido os soviéticos no Afeganistão nos anos 1980 e a Argélia foi o primeiro país a sentir o impacto do retorno dos veteranos da guerra afegã.

O GIA era liderado por centenas de homens endurecidos pela guerra que voltaram radicalizados e dispostos a empregar táticas cada vez mais brutais. O GIA atraiu o apoio de redes dentro das comunidades de imigrantes na Europa. A princípio essas redes de apoio lidavam principalmente com propaganda, mas logo passaram a oferecer dinheiro, auxílio logístico, como passaportes falsos e, por fim, armas ao GIA.

Quando regressou à Bélgica em 1994, Nasiri descobriu que a casa de sua mãe havia se tornado um importante centro de operações do GIA. O boletim informativo Al Ansar era feito e distribuído ali. Ele emergiu como a publicação oficial do GIA, embora com o passar do tempo artigos de outras fontes começassem a ser divulgados, inclusive de outras organizações islâmicas, como o Grupo Combatente Islâmico líbio, grupos
marroquinos e grupos egípcios ligados a Aiman al-Zawahiri. O Al Ansar foi o pioneiro da união de redes militantes islâmicas nacionais em um movimento global e seus textos eram um alerta às autoridades do que vinha pela frente.

Não demorou muito para que o sangrento conflito na Argélia começasse a se alastrar para a Europa. A França, o antigo senhor colonial da Argélia, na visão dos jihadistas, havia apoiado o golpe e, desse modo, tornou-se um alvo. A primeira ilustração dramática da ameaça surgiu quando um grupo de terroristas do GIA dominou um jato da Air-France na pista do aeroporto de Argel em 24 de dezembro de 1994.

Em março de 1995 uma série de buscas foi iniciada pelas autoridades belgas e, durante uma busca em um veículo foi encontrado um pacote contendo um manual de treinamento terrorista de 8 mil páginas, cujo frontispício o dedicava a Bin Laden. O manual revelou um verdadeiro tesouro de informações e uma das primeiras indicações da extensão da rede e do papel de Bin Laden em suas operações. Isso foi confirmado poucos meses depois, no verão de 1995, quando uma onda de atentados a bomba atingiu a França, inclusive o metrô de Paris.

Uma corrente de pensamento sustenta que o GIA desde o começo estava tomado por espiões do serviço secreto argelino. E mais, que estes incluíam agentes provocadores que, por volta de 1995, estavam deliberadamente direcionando a campanha de violência para a França, para tentar atrair Paris para o conflito, opondo-se aos islâmicos e apoiando o Estado argelino.

De acordo com um ex-oficial de Inteligência, cerca de cem a duzentos residentes franceses viajaram para o Afeganistão para receber treinamento durante a década de 1990. Alguns filiaram-se ao jihad internacional, outros simplesmente queriam poder voltar para casa e apregoar que sabiam manejar um AK-47

Nasiri mostrou-se capaz de cumprir sua missão e o relato de suas viagens oferece um retrato pessoal extremamente revelador de como se infiltrou em círculos jihadistas e abriu caminho até o núcleo da Al-Qaeda. Viajando através da Turquia e depois Paquistão, ele infiltrou-se em grupos islâmicos radicais.

Em Peshawar, Paquistão, Nasiri conheceu o palestino Abu Zubayda, coordenador e controlador do acesso a vários campos de treinamento afegãos. “Ele era um homem que fazia as coisas acontecerem, no sentido administrativo”, explica Mike Scheuer, chefe da unidade Bin Laden da CIA de 1996 a 1999. Abu Subayda acabou sendo preso em março de 2002.

Cerca de duas dúzias de campos de treinamento foram montados no Afeganistão. Os campos tiveram um papel fundamental na transição do jihad original dos anos 1980, para o jihad de múltiplas nações dos anos 1990, bem como na emergência do final da década de 1990 de um jihad global sob a Al-Qaeda. Eles foram o caldeirão nos quais diferentes grupos começaram a trabalhar juntos, forjando uma identidade comum,

Não existia uma única fonte de recursos ou controle dos campos. O Afeganistão estava mergulhado no caos em meados dos anos 1990. Os soviéticos tinham sido expulsos em 1989. Um governo submisso liderado por Mohammad Najibullah, durou até 2002, quando foi derrubado pelas facções mujahidin, que começaram a lutar entre si pelo poder, sendo que vários chefes tribais ficaram com o controle de bolsões do país.

Embora Bin Laden tenha deixado o Afeganistão após o fim da guerra com os soviéticos e residisse no Sudão no começo dos anos 1990, ele continuou a financiar alojamentos e instalações de treinamento dentro do Afeganistão, inclusive, segundo Nasiri, a alimentação no campo que freqüentou.

Pouco depois, o ISI (1) começou a apoiar o Talibã como uma força proposta para estabilizar o Afeganistão e fortalecer os interesses de segurança do Paquistão.
(1) ISI – Serviço de Inteligência do Paquistão

Em meados dos anos 1990 o número de nacionalidades representadas e a disciplina de treinamento eram notáveis e muito maiores do que anteriormente se suspeitava. Grupos da Argélia, Chechênia, Caxemira, Quirguistão, Filipinas, Tadjiquistão e Uzbesquistão recebiam treinamento militar que colocariam em prática quando retornassem a seus países. Grande número de árabes, especialmente da Arábia Saudita, Egito, Jordânia e Iêmen, também passaram por lá, assim como terroristas da Europa, África do Norte e outras regiões, que desejavam participar do jihad.

O treinamento que Nasiri recebeu em Khaldan era altamente organizado e extensivo. Boa parte do aprendizado baseava-se em manuais de treinamento dos EUA obtidos durante a luta contra os soviéticos. Os participantes também passavam quase o mesmo tempo em treinamento religioso. A preparação espiritual era considerada um aspecto central do jihad, mais importante que o treinamento físico.

Entre os que passaram por Khaldan havia terroristas envolvidos nos dois ataques, de 1993 e 2001, ao World Trade Center (inclusive Mohammad Atta, líder dos ataques do 11 de setembro); pessoas envolvidas nos atentados a bomba de 1998 contra embaixadas dos EUA, Ahmed Ressam, o fracassado bombardeador do milênio, os dois britânicos dos “sapatos-bombas”, Richard Reid e Sajid Badat; e Zacarias Moussaoui, sentenciado em 2006 à prisão perpétua pelo envolvimento no complô do 11 de setembro. Mas o líder de Khaldan em meados dos anos 1990 era um homem chamado Ibn al-Sheikh al-Libi, com quem Nasiri passou um tempo considerável. al-Libi havia combatido no Afeganistão da década de 1980.

Preso em novembro de 2001, al-Libi foi o primeiro membro do alto escalão da Al-Qaeda a ser capturado pelos EUA após os ataques. Depois de uma disputa entre o FBI e a CIA ele foi entregue ao Egito, onde pode ter sido submetido a maus tratos sendo que informações extraídas de seu interrogatório foram utilizadas por autoridades dos EUA para declarar a existência de vínculos entre o Iraque e a Al-Qaeda, com base na alegação de al-Libi de que o Iraque oferecera treinamento à Al-Qaeda a partir de dezembro de 2000. Isso foi citado pelo vice-presidente Cheney , pelo secretário de Estado Collin Powell, em seu decisivo discurso na ONU em fevereiro de 2003, e pelo presidente George Bush, em Cincinnati, em outubro de 2002, quando declarou que “ficamos sabendo que o Iraque treinou membros da Al-Qaeda na produção de bombas, venenos e gazes”.

O problema era que al-Libi mentiu. Em janeiro de 2004, al-Libi desmentiu suas declarações sobre o Iraque, forçando a CIA a cancelar inúmeros relatórios de Inteligência baseados em suas declarações.

Especulou-se que ele estaria deliberadamente fornecendo informações falsas para fazer os EUA atacarem o Iraque, pois expressava seu desagrado pelo regime secular de Saddam Hussein no Iraque e era um homem altamente treinado para resistir a interrogatórios. Na primavera de 2006, segundo alguns relatos, al-Libi foi entregue às autoridades líbias.

Em Khaldan, a formação de Nasiri parece tê-lo diferenciado dos demais recrutas, tanto assim que ele foi um dos poucos selecionados para seguir ao campo de Durunta, mais avançado. Durunta fornecia um treinamento mais individualizado em explosivos e terrorismo. Em Khaldan os recrutas aprendiam a detonar explosivos; em Durunta eles aprendiam a fazer explosivos e detonadores a partir do zero. Em Durunta o treinamento não era para o combate militar, mas para serem indivíduos solitários que agiriam como os clássicos agentes terroristas que ficam na espera até chegar a hora da ação – um agente dormente – necessitando assim de um conjunto diferente de habilidades.

Entre os que se formaram em Durunta antes da sua destruição por ataques aéreos dos EUA no fim de outubro de 2001, está Ahmed Ressam, mas tarde condenado por envolvimento no complô de atentado a bomba contra o Aeroporto Internacional de Los Angeles.

Havia agentes de Inteligência nos campos perto da fronteira paquistanesa, mas outros campos, como os de Durunta, eram muito mais difíceis de serem infiltrados. Algumas estimativas afirmam que, entre 1996 e os ataques de 11 de setembro , de 10 mil a 20 mil terroristas passaram pelos campos para serem treinados. Outros acreditam que esse número pode chegar a 100 mil. Ninguém apurou para onde foram esses terroristas, ou quem eles, por sua vez, foram treinar.

No momento em que Nasiri saiu do Afeganistão, na primavera de 1996, Bin-Laden retornou e chegou num momento crucial, em que o Talibã estava conquistando o poder.. Em setembro o Talibã já havia tomado Jalalabad e forneceria a Bin-Laden e à Al-Qaeda um porto seguro no qual começariam a planejar operações mais drásticas.

(1) Vide Por Dentro do Jihad 1 e 2

PARTE 4 - FINAL

Após a volta do Afeganistão e um longo período sem contato, Nasiri encontrou-se com o DGSE e recebeu uma nova missão. Com a repressão na França e Bélgica, foi para o ambiente mais tolerante de Londres que muitos dos jihadistas começaram a se mudar. “Londres era o foco”, explica Alain Grignard um oficial antiterrorista belga, pois o local servia de trampolim para a passagem da era de extremistas islâmicos nacionais para a rede global fundada no caldeirão afegão.

A segunda metade da década de 1990 foi o período em que a capital britânica ganhou o apelido de “Londrestão”, um título dado por autoridades francesas enfurecidas com a crescente presença de radicais islâmicos em Londres e com a omissão das autoridades britânicas frente ao problema. Historicamente, Londres sempre foi um lar para os dissidentes e desde os anos 1980 cada vez mais se tornou refúgio para extremistas islâmicos que ganhavam asilo de autoridades pouco conscientes de suas atividades.

Pouco depois de chegar a Londres, Nasiri mais uma vez travou contato com o Al Ansar, agora impresso na capital britânica. Entre os que estavam envolvidos com Al Ansar em Londres estava Rachid Ramda, que fora visto na França e na Bélgica freqüentando círculos do GIA. Quando o juiz contra-terrorista francês Jean Louis Brugière pediu à Grã-Bretanha que prendesse Ramda, que era procurado por conexões com o financiamento dos atentados a bomba no metrô de Paris, a reação britânica foi dizer que não poderia prendê-lo, pois ele nada fizera de errado no Reino Unido. Ramda finalmente foi detido, mas lutou contra a extradição por dez anos, para a crescente irritação dos franceses. Somente em dezembro de 2005 foi que as autoridades da Grã-Bretanha o transferiram para a custódia francesa, sendo que ele viria a ser condenado, em Paris, em março de 2006 pelos atentados a bomba de meados dos anos 1990.

Em Londres, Nasiri foi comandado pelos serviços de Inteligência franceses e britânicos, recebendo a missão de se infiltrar na comunidade de radicais.

Abu Hamza e seus seguidores haviam transformado a mesquita de Finsbury Park no principal santuário e centro de conexões, não apenas da Grã-Bretanha, mas de toda a Europa, para aqueles comprometidos com o jihad internacional. Cerca de 200 pessoas dormiam no subsolo da mesquita. Uma estimativa calcula que 50 freqüentadores da mesquita morreram em operações terroristas e ataques insurgentes em conflitos no exterior.

A mesquita funcionava como um centro de recrutamento para grupos aliados à Al-Qaeda. Terroristas eram mandados ao Afeganistão com passagens aéreas, dinheiro e cartas de apresentação de Abu Hamza para entrar em Khaldan.

A tolerância dos britânicos, bem como sua tradição de liberdade de expressão, multiculturalismo e concessão de asilos, foram exploradas e as autoridades não desejando interferir na liberdade de expressão, não conseguiram compreender o tipo de retórica inflamada que emanava da mesquita de Finsbury Park e tampouco suas atividades.

Muitos países, além da França reclamaram dessa mesquita, mas nada foi feito. Somente em janeiro de 2003 é que as autoridades britânicas decidiram agir, fechando-a temporariamente, mas Abu Hamza continuou livre, pregando na rua em frente à mesquita. Somente quando os EUA emitiram um pedido de extradição é que as autoridades britânicas agiram, em parte pelo constrangimento causado pela pressão americana. Em outubro de 2004, Abu Hamza foi acusado e por fim condenado por ser o mentor de assassinatos e outros crimes.

Outra figura-chave espionada por Nasiri foi Abu-Watada, um palestino-jordaniano que havia entrado no Reino Unido em 1993 com um passaporte falso . A Jordânia exigiu a sua extradição, mas a Grã-Bretanha não a concedeu.

Para os militantes islâmicos a necessidade de autoridade religiosa é de grande importância. Os nomes daqueles que se acredita terem recebido treinamento religioso de Abu Qatada forma um “quem é quem” de militantes islâmicos baseados na Europa. Fitas com sermões de Abu Qatada foram encontradas no apartamento de Hamburgo usado por Muhammad Atta, um dos atacantes do 11 de setembro.

A base de operações de Abu Qatada ficava no Four Feathers Club, em Londres. Nasiri diz que autoridades britânicas mandaram-lhe deixar Abu Qatada em paz e centrar suas atividades em Hamza. Acredita-se que Qatada também tivesse contatos com o MI5, mas não está claro quem manipulava quem.

Finalmente, em fevereiro de 2001 Abu Qatada foi interrogado pela Polícia, que encontrou 170 mil libras, em dinheiro, em sua casa, parte dessa quantia dentro de um envelope onde se lia “para os mujhadin da Chechênia”.

Autoridades britânicas citam a estrutura legislativa como um problema. Em meados dos anos 1990, conspirar dentro da Grã-Bretanha para cometer atos terroristas no exterior não era crime. Assim grupos como o Hamas e os Tamil Tigers, bem como o GIA, começaram a usar o Reino Unido como pólo central. A Polícia investigava um problema apenas se existissem evidências de que leis tivessem sido desobedecidas. A Polícia e os Serviços Secretos não priorizavam a coleta de informações sobre esses grupos. Os especialistas em contraterrorismo britânicos continuavam focados no terrorismo republicano irlandês, em vez do terrorismo islâmico.

Em fevereiro de 1996, uma bomba de meia tonelada explodiu na região portuária de Londres sinalizando uma nova fase de atividades após o cessar fogo irlandês. O MI5 e a Polícia estavam envolvidos em uma disputa burocrática sobre quem comandaria a política contraterrorista na Irlanda do Norte – por fim, vencida pelo MI5 – que também canalizava recursos e energia nessa direção.

Foi somente no início de 1998 que as autoridades britânicas começaram a ouvir mais sobre a Al-Qaeda. Na época ninguém se preocupava com Abu Qatada, Abu Hamza ou as redes do Norte da África. A preocupação girava em torno de grupos de árabes que haviam chegado por volta de 1998, predominantemente do Egito, bem como de outros árabes associados a Bin-Laden, como Khalid al-Fawwaz, que se acreditava vinha administrando o escritório de mídia de Bin Laden em Londres, organizando entrevistas para jornalistas ocidentais e publicando declarações em seu nome.
Khalid al-Fawwaz foi posto sob custódia britânica à espera de extradição para os EUA.

Embora as autoridades britânicas tenham começado a considerar a ameaça da Al Qaeda a partir do início de 1998, ela era percebida como distinta de figuras como Abu Qatada, Abu Hamza e os argelinos operando no Reino Unido.

O terrorismo internacional e particularmente o terrorismo ligado aos islâmicos, não era visto como algo que ameaçasse diretamente o país. A França poderia ser um alvo primário, devido ao seu envolvimento na Argélia, mas não o Reino Unido.

A Grã Bretanha está sentindo agora o impacto do longo prazo de sua tolerância para com os elementos radicais nos anos 1990-. A radicalização que se espalhou em algumas comunidades britânicas não se estabeleceu da noite para o dia.

Em 1998, um novo conjunto de ações da Polícia na Bélgica resultou em mais provas de natureza internacional das redes jihadistas e da ameaça que representavam. Os detidos vinham da Argélia, Marrocos, Síria e Tunísia e tinham conexões com inúmeros grupos islâmicos diferentes, bem como com Abu Zubayda, Afeganistão, Bósnia e Paquistão. Foram descobertos detonadores e materiais para a fabricação de explosivos e havia suspeitas de que a Copa do Mundo, que se realizaria na França no meio daquele ano, seria um alvo.

A Europa sempre foi uma base central de operações da Al Qaeda, um lugar no qual diferentes grupos islâmicos radicais forjaram suas alianças. Os sinais de alerta estavam ali, mas somente uns poucos os compreenderam.

Cinco anos após os ataques de 11 de setembro, é a Europa – e o Reino Unido em particular – não os EUA, que se defronta com o maior desafio do terrorismo.

Foi uma conquista de Bin Laden a globalização da noção de jihad. Reunir grupos que antes se concentravam unicamente em seus próprios conflitos locais – na Argélia, Ásia Central, Chechênia e outras regiões - e convencê-los a fazer parte de uma luta maior. Uma luta contra o “inimigo distante” - os EUA -, que apoiava os governos aos quais se opunham. Uma luta que devia ser travada sob a bandeira da Al Qaeda.

Em fevereiro de 1998 Bin Laden divulgou uma nota declarando a formação da Frente Islâmica Mundial para a Jihad contra Judeus e Cruzados. Ele anunciou uma fatwa de que “matar os americanos e seus aliados – civis e militares – é um dever pessoal de cada muçulmano que puder fazê-lo em qualquer país em que for possível fazê-lo” . Pouco depois, em agosto de 1998 veio a primeira operação de grande escala da Al Qaeda contra os EUA, atacando suas embaixadas na Tanzânia e no Quênia.

A história de Omar Nasiri termina quando ele se muda para a Alemanha. Lá, em relação aos serviços secretos alemães, entra em colapso. Na sua visão, eles o abandonaram sem jamais fornecerem proteção e a nova identidade que os franceses haviam prometido inicialmente. Quase quatro anos depois, enquanto assistia aos atentados a bomba em Londres em 7 de julho de 2005, ele decidiu que queria contar a sua história. Isso o fez procurar a BBC e a escrever o relato dos sete anos em que viveu como espião no emergente movimento jihadista.
 

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  • Sandra Cavalcanti
  • 15 Agosto 2014

 

Quem quiser se escandalizar, que se escandalize. Quero proclamar, do fundo da alma, que sinto muito orgulho de ser brasileira. Não posso aceitar a tese de que nada tenho a comemorar nestes quinhentos anos. Não agüento mais a impostura dessas suspeitíssimas ONGs estrangeiras, dessa ala atrasada da CNBB e dessas derrotadas lideranças nacional-socialistas que estão fazendo surgir no Brasil um inédito sentimento de preconceito racial.

Para começo de conversa, o mundo, naquela manhã de 22 de abril de 1500, era completamente outro. Quando a poderosa esquadra do almirante português ancorou naquele imenso território, encontrou silvícolas em plena idade da pedra lascada. Nenhum deles tinha noção de nação ou país. Não existia o Brasil.

Os atuais compêndios de história do Brasil informam, sem muita base, que a população indígena andava por volta de cinco milhões. No correr dos anos seguintes, segundo os documentos que foram conservados, foram identificadas mais de duzentos e cinqüenta tribos diferentes. Falando mais de 190 línguas diferentes. Não eram dialetos de uma mesma língua. Eram idiomas próprios, que impediam as tribos de se entenderem entre si. Portanto, Cabral não conquistou um país. Cabral não invadiu uma nação. Cabral apenas descobriu um pedaço novo do planeta Terra e, em nome do rei, dele tomou posse.

O vocabulário dos atuais compêndios não usa a palavra tribo. Eles adotam a denominação implantada por dezenas de ONGs que se espalham pela Amazônia, sustentadas misteriosamente por países europeus. Só se fala em nações indígenas.

Existe uma intenção solerte e venenosa por trás disso. Segundo alguns integrantes dessas ONGs, ligados à ONU, essas nações deveriam ter assento nas assembléias mundiais, de forma independente. Dá para entender, não? É o olho na nossa Amazônia. Se o Brasil aceitar a idéia de que, dentro dele, existem outras nações, lá se foi a nossa unidade.

Nos debates da Constituinte de 88, eles bem que tentaram, de forma ardilosa, fazer a troca das palavras. Mas ninguém estava dormindo de touca e a Carta Magna ficou com a palavra tribo. Nação, só a brasileira.

De repente, os festejos dos 500 anos do Descobrimento viraram um pedido de desculpas aos índios. Viraram um ato de guerra. Viraram a invasão de um país. Viraram a conquista de uma nação. Viraram a perda de uma grande civilização.

De repente, somos todos levados a ficar constrangidos. Coitadinhos dos índios! Que maldade! Que absurdo, esse negócio de sair pelos mares, descobrindo novas terras e novas gentes. Pela visão da CNBB, da CUT, do MST, dos nacional-socialistas e das ONGs européias, naquela tarde radiosa de abril teve início uma verdadeira catástrofe.

Um grupo de brancos teve a audácia de atravessar os mares e se instalar por aqui. Teve e audácia de acreditar que irradiava a fé cristã. Teve a audácia de querer ensinar a plantar e a colher. Teve a audácia de ensinar que não se deve fazer churrasco dos seus semelhantes. Teve a audácia de garantir a vida de aleijados e idosos.

Teve a audácia de ensinar a cantar e a escrever.

Teve a audácia de pregar a paz e a bondade. Teve a audácia de evangelizar.

Mais tarde, vieram os negros. Depois, levas e levas de europeus e orientais. Graças a eles somos hoje uma nação grande, livre, alegre, aberta para o mundo, paraíso da mestiçagem. Ninguém, em nosso país pode sofrer discriminação por motivo de raça ou credo.

Portanto, vamos parar com essa paranóia de discriminar em favor dos índios. Para o Brasil, o índio é tão brasileiro quanto o negro, o mulato, o branco e o amarelo.Nas nossas veias correm todos esses sangues. Não somos uma nação indígena. Somos a nação brasileira.

Não sinto qualquer obrigação de pedir desculpas aos índios, nas festas do Descobrimento. Muitos índios hoje andam de avião, usam óculos, são donos de sesmarias, possuem estações de rádio e TV e até COBRAM pedágio para estradas que passam em suas magníficas reservas. De bigode e celular na mão, eles negociam madeira no exterior. Esses índios são cidadãos brasileiros, nem melhores nem piores. Uns são pobres. Outros são ricos. Todos têm, como nós, os mesmos direitos e deveres. Se começarem a querer ter mais direitos do que deveres, isso tem que acabar.

O Brasil é nosso. Não é dos índios. Nunca foi.
 

*Professora

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  • Rodrigo Gurgel
  • 13 Agosto 2014

 

A principal característica de um governo esquerdista é que ele jamais se contenta em governar de acordo com a ordem legal, instituída. Ele sempre acredita que detém a chave, a poção, a receita miraculosa para transformar o país no que, ele imagina, será o melhor dos mundos. O problema é que o melhor dos mundos, quando se trata da esquerda, está sempre próximo do que imaginamos ser o Inferno, quando não é o próprio Inferno.
A prova do que afirmo encontra-se não apenas na história das revoluções — vejam o Purgatório congelado no tempo em que Cuba se transformou, sobrevivendo graças à submissão de um povo sem esperança e sem armas e à propaganda esquerdista mundial, ou os milhões de crimes perpetrados pelo comunismo soviético —, mas também no presente, no cotidiano da sociedade brasileira, sequestrada, em grande parte, pelo pior tipo de populismo que já conhecemos, superior, em método e recursos, aos refinamentos do getulismo.
Esta semana, mais uma vez, o governo ensaiou uma tentativa de golpe. O alarme foi dado pelo editorial do Estadão, “Mudança de regime por decreto”, e rapidamente se espalhou pelas redes sociais e blogs, transformando-se em um fenômeno viral.
De fato, enquanto os políticos de oposição dormem, refestelados em seus altos salários e mordomias, parcela da sociedade vigia, atenta, os ensaios para se criar uma ditadura. As reações foram múltiplas: Reinaldo Azevedo pontificou: “A ‘democracia direta’ de Dilma é ditadura indireta do PT”. Alexandre Borges deu uma breve mas incisiva aula de história em “Todo poder aos sovietes petistas”. Felipe Moura Brasil denunciou a lentidão dos tucanos, sempre envergonhados ou sempre pactuando silenciosamente com o governo, no post“Ronaldo Caiado sai na frente de Aécio: ‘É golpe do PT!’”. No artigo “Um tumor inserido por decreto”, Fábio Blanco sangrou ainda mais a manobra traiçoeira. E Milton Simon Pires não deixou por menos: mostrou, em“Brasil 8243”, como o PT pretende destruir as instituições do país.
O mais didático e irônico, contudo, foi Erick Vizolli, no sempre ótimo Liberzone. No artigo “Afinal, o que é esse tal Decreto 8.243?”, Vizolli mostra que o sistema representativo, apesar de todos os seus defeitos, ainda é a única forma de nos protegermos de um Estado controlado por grupos que não têm compromisso com a democracia ou a liberdade, mas apenas com suas próprias ideologias.
Todos esses articulistas me recordaram as reflexões de Roger Scruton em The Uses of Pessimism and the Danger of False Hope (As vantagens do pessimismo, Editora Quetzal, Lisboa). No Capítulo 6, “A Falácia do Planeamento”, Scruton faz uma brilhante analogia entre a estrutura da União Europeia e a forma como Lenin aboliu, na Revolução Russa, “todas as instituições através das quais o partido e seus membros pudessem ser responsabilizados pelo que fizeram”, permitindo que um erro se sucedesse a outro, sempre maior, sempre mais criminoso.
Scruton reflete como se tivesse acabado de ler o decreto de Dilma Roussef: “Quando os poderes de Governo estiverem adequadamente repartidos e quando os que detêm a soberania puderem ser expulsos por uma votação, os erros podem encontrar o seu remédio. Porém suponhamos que as instituições de Governo estão montadas de tal maneira que toda a concentração de poder é irreversível, de modo que os poderes adquiridos pelo centro nunca podem ser recuperados. E suponhamos que aqueles que mandam no centro são nomeados, não podem ser afastados a pedido do povo, encontram-se em segredo e guardam poucas ou nenhumas atas das suas decisões. Acha que, nessas circunstâncias, existem condições em que possam ser retificados erros ou mesmo convincentemente confessados?”.
Todos os infinitos casos de corrupção; todas as manifestações de ódio coletivo que têm tomado as ruas; o longo e incansável trabalho de controle ideológico feito pelo Ministério da Educação, censurando, de forma velada, o conteúdo de milhões de livros didáticos distribuídos país afora; todas as tentativas de manter sob vigilância a mídia e a Internet; o evidente controle do Executivo sobre parcela do Congresso e do Supremo Tribunal Federal — tudo contribui para transformar o Decreto 8.243 na cereja do bolo.
Se ainda podemos ter alguma esperança, ela reside no fato de que eles sempre acabam destruindo uns aos outros. “Doze vozes gritavam cheias de ódio e eram todas iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco” — conta George Orwell no final de A Revolução dos Bichos.
 

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