• Plácido Fernandes Vieira
  • 12 Janeiro 2015

 

É a gravíssima a confissão de um executivo da Toyo Setal de que parte dos recursos desviados da Petrobras, entre 2008 e 2011, ia parar nos cofres do PT, por meio de doações oficiais ao partido. O caso, se comprovado, configura um crime "quase" perfeito, com a quadrilha se valendo da Justiça Eleitoral para lavar dinheiro roubado via aditivos contratuais com a estatal. Uma ousadia e tanto.

Como se trata de delação premiada, o diretor da empreiteira não pode mentir. Se o fizer, corre o o risco de perder o benefício judicial de redução da pena. Então, fica a pergunta: a grana da corrupção irrigou a campanha de Dilma em 2010? Se a resposta for sim, o escândalo da Petrobras pode chegar ao topo da cadeia de comando no Planalto e ter desdobramentos muito mais graves do que o mensalão.

À medida que as investigações da Operação Lava-Jato avançam, fica evidente o desconforto do governo com as revelações que vêm à tona. Não bastasse o noticiário negativo sobre as maracutaias na Petrobras, o juiz federal que chefia as investigações, Sergio Moro, afirmou haver indícios de que o mesmo esquema de ladroagem descoberto na maior estatal brasileira se estende a cerca de 750 obras públicas de infraestrutura no país.

Em linguagem figurada, é como se o câncer da corrupção, transmitido pela mesma organização criminosa, provocasse infecção generalizada no Brasil. Todo o "mapeamento" da sangria está detalhado, segundo o juiz, em agenda do doleiro Alberto Youssef apreendida pela Polícia Federal. São bilhões e bilhões de reais afanados dos cofres públicos. Dinheiro de impostos que você, leitor, e todos os brasileiros pagam. Sim: poderia melhorar a precária situação de escolas e hospitais no país. Em vez disso, serve para enriquecer corruptos e projetos de poder eivados de populismo e tentações autoritárias.
 

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  • Carlos I.S. Azambuja
  • 12 Janeiro 2015

"Não seríamos verdadeiros comunistas se não soubéssemos modificar inteiramente nossa tática de conformidade com o momento. Todos os recuos, todos os zig-zags de nossa tática tem um único fim: a revolução mundial". (Giorgy Dimitrov, Secretário-Geral da III Internacional na década de 30).


A incredulidade de seus adversários é a maior arma dos comunistas

Os princípios segundo os quais é organizada uma Frente Comunista são semelhantes a uma série de círculos concêntricos. Ao centro situa-se o partido da classe operária, composto tanto por comunistas conhecidos como por cripto-comunistas.

Em torno desse seleto núcleo central estão os companheiros de viagem, ou seja, pessoas que apóiam a filosofia, os objetivos, a tática e a organização do partido, mas que, por quaisquer motivos, não se submetem à disciplina partidária, talvez por não terem ainda atingido o ponto de completa entrega pessoal.

Os simpatizantes, por sua vez, mostram-se contrários a alguns aspectos do comunismo, mas reconhecem que nele há “coisas boas, aspectos positivos que correspondem aos interesses das classes trabalhadoras”, bem como que é plausível a associação com os comunistas para determinadas reivindicações. Alimentam a esperança de que, trabalhando ao seu lado, sendo tolerantes com eles, conseguirão, um dia, afastá-los de suas atividades extremadas. Nesse grupo pode ser incluído um bom número de religiosos, especialmente propensos a esse tipo de argumentação. Ou seja, como disse Winston Churchil, “alimentam um crocodilo na esperança de serem comidos por último”.

Após os simpatizantes, existe a categoria dos pseudo-liberais, cuja grande maioria é encontrada nas cátedras dos colégios e universidades. Freqüentemente, assim explicam sua posição: “Sou contra o comunismo. Sou contra as restrições comunistas à liberdade das pessoas e à livre manifestação do pensamento. Mesmo assim, ainda que abomine o que eles dizem e fazem, lutarei pelos seus direitos de expressão e organização, pois sou um democrata”.

Todos os partidos de esquerda sempre proclamaram a necessidade da união em uma Frente: as famosas “Frentes Populares”. Essa tática não é recente. Ela foi aprovada e determinada pelo VII Congresso da Internacional Comunista, em agosto de 1935. Jamais foi revogada e não deixou de ser utilizada, embora o comunismo tenha sido demolido em 1989, 1990 e 1991.

Um partido comunista é e sempre será o mesmo e, onde quer que exista, legal ou clandestino, lutará pela constituição de uma Frente em termos de um Programa Comum. Desde os anos 30, em qualquer parte do mundo, sejam quais forem as circunstâncias de sua existência – legal ou ilegal – os militantes passaram a repetir, de forma insistente, a palavra-de-ordem de formação de uma Frente, ou seja, de uma unidade dos comunistas com os demais setores democráticos que, assumido o Poder, serão expelidos.

A essência dessa tática consiste em descobrir lemas ou slogans populares que possam servir de base a uma atividade conjunta. Eles, os comunistas, nunca desprezarão quaisquer oportunidades históricas que lhes permitam buscar a unidade de forças, inclusive antagônicas sob o aspecto doutrinário, visando a obtenção de benefícios políticos, de conformidade, aliás, com a ética e moral comunistas.

Unidade pela base para obter – como disse Lênin – um aliado de massas, ainda que temporário, instável, vacilante, pouco seguro e condicional”.

O objetivo principal dos comunistas, ao unir-se a não-comunistas, é conseguir um meio de obter acesso a setores da sociedade que, de outra forma, poderiam manifestar-se hostis ou inibidos.

Fiéis a essa tática, todos os partidos comunistas do mundo mantêm, sempre atualizado, um Programa-Mínimo contendo um elenco de reivindicações transitórias adaptado às condições objetivas de cada etapa da revolução e coerente com o grau de mobilização das massas.

É desnecessário recordar que o militante comunista é um profissional que desempenha compulsoriamente e em tempo integral uma tarefa proselitista e pastoral, para cujo exercício relega a um segundo plano a família, o lazer e quaisquer outras atividades. Essa é uma das qualidades que diferenciam o militante dos membros dos partidos políticos tradicionais – uma livre associação de homens livres. Livres para permanecerem ou retiraram-se de seus partidos na medida em que suas convicções ou opiniões coincidam ou não com as da maioria e, ademais, livres para fazer o que quiserem fora do limitado perímetro de uma militância voluntariamente aceita.

O nível de organização, a capacidade de exercer tarefas de agitação e propaganda objetivando a mobilização das massas e a homogeneidade de pensamento são outras qualidades dos partidos ou movimentos comunistas.

A circunstância de que a sua revolução social deva ser desencadeada antes ou depois de assumirem o Poder não passa de um irrelevante problema tático.

A finalidade da formação de Frentes é, em suma, buscar converter o maior número de pessoas em grupos de influência submetidos ao seu comando.

Os abaixo-assinados têm também muito valor para os partidos e grupos de esquerda, onde constem assinaturas de artistas, intelectuais e conhecidos liberais não-comunistas. Igualmente as concentrações de massas, as caminhadas e atos públicos nos quais esses mesmos liberais aparecem sempre nas chamadas comissões de frente.

Embora, na maioria dos casos, essas atividades não tenham nenhuma influência sobre a política governamental, os comunistas são sempre vitoriosos, pois criam uma situação na qual um grupo de liberais não-comunistas compartilha de seu fracasso.

Embora as palavras e as táticas sejam as mesmas através dos tempos, mudando apenas, como agora, o vermelho pelo rosa, muitas pessoas relutam em crer no que vêem, ouvem e lêem, incredulidade que se constitui no principal fator de força dos comunistas.


* Historiador
 

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  • Amir Taheri (New York Post)
  • 09 Janeiro 2015

PARIS - Era pouco antes de 11:00 de quarta-feira, quando um pequeno enclave de uma das grandes avenidas de Paris, perto da Praça da Bastilha, foi abalada por rajadas de tiros e gritos de "Alá é o maior" e "O Profeta está vingado."

Dentro de minutos, as pessoas que correram para as suas janelas e varandas para ver o que estava acontecendo percebeu que a longamente ameaçada operação jihadista contra Paris estava em curso.

O alvo desta vez era o semanário Charlie Hebdo, um dos mais animados e, talvez necessariamente, mais irreverentes jornais satíricos que ainda atraíam um público importante em uma democracia ocidental.

Ao final da operação, realizada por um grupo tipo comando de três homens armados com fuzis de assalto, pelo menos 12 pessoas estavam mortas e outras seis feridas.

Entre os que foram mortos - seria melhor dizer executados - estavam 10 membros da equipe editorial do semanário, incluindo a flor dos cartunistas políticos franceses: Stephane Charbonnier, vulgo "Charb," Jean Cabut, vulgo "Cabu", Bernard Tignou e a estrela maior da revista , Georges Wolinski.

Todos haviam sido ameaçados de morte em numerosas ocasiões, especialmente por terem desenhado e publicado charges do profeta Maomé (incluindo uma com uma bomba escondida em seu turbante) e por uma edição especial, rebatizada de "Sharia Hebdo" para a ocasião, com "Maomé" como editor convidado.

Em 2011, Charlie Hebdo também foi a única grande publicação no Ocidente a republicar as caricaturas dinamarquesas de Maomé que provocaram violência em vários países.

Em 2013, o chanceler Laurent Fabius distanciou o governo francês das críticas abertas do semanário ao islamismo e ao Islam e advertiu Charlie Hebdo a não levar a provocação longe demais.

O ataque de quarta-feira deve ter sido cuidadosamente planejado e com base em algumas informações internas. Pois ele aconteceu exatamente enquanto a reunião editorial semanal de Charlie estava em andamento, com uma participação máxima de escritores, cartunistas e editores.

O ataque também veio apenas horas após a nova edição do semanário ter sido colocada à venda, com a primeira página inspirada por um novo romance de Michel Houelbeque, que aborda a eleição de um muçulmano como presidente da França em 2022.

O governo tinha fornecido proteção policial para quatro dos principais redactores do semanário. O assassinato de três deles na quarta-feira sugere que a proteção pode ter sido mais formal do que real.

O estilo do ataque e da fuga, as armas empregadas e o esconderijo seguro - provavelmente criado em Seine-Saint Denis, um subúrbio de Paris com uma grande população muçulmana - indicam alguma orientação por parte de bandidos armados profissionais, que parecem ter chegado a um acordo de coordenação com os jihadistas.

Duas horas após o ataque, o presidente François Hollande, acompanhado por uma série de altos funcionários, visitou o local do massacre para recitar uma declaração cheia de clichês sobre resistir ao terror e defender a liberdade de expressão.

O problema, porém, é que sucessivos governos franceses, tanto de esquerda como de direita, falharam ao não conseguir desenvolver uma posição coerente sobre o terrorismo, especialmente da variedade islâmica, muito menos forjar políticas para lidar efetivamente com ele.

Desde a década de 1960, a França tem sido um alvo para ataques terroristas por vários grupos palestinos, argelinos e libaneses, assim como outros patrocinados pela República Islâmica do Irã ou apoiados por organizações marxistas ligadas a Cuba e à agora extinta União Soviética.

Todo o tempo, os políticos franceses têm ficado divididos entre o desejo de fazer um acordo com os grupos terroristas, na esperança de garantir imunidade, e a necessidade de combatê-los com tudo o que for necessário.

Na década de 1970, a França comprou imunidade para suas aeronaves civis, fornecendo "contribuições financeiras" não-oficiais regulares, a grupos palestinos envolvidos no negócio de seqüestros.

Na década de 1980, Paris comprou o fim dos ataques terroristas patrocinados por Teerã-, que tinha custado dezenas de vidas em Paris e outras cidades, por meio da liberação de mais de um milhão de dólares em ativos iranianos congelados.
Na década de 1990, grupos terroristas argelinos foram subornados para oferecer imunidade a França, por meio de uma decisão de ignorar as suas actividades de angariação de fundos e de recrutamento em território francês.

Ao longo dos anos, os sucessivos governos franceses também têm feito arranjos para o pagamento de resgates, em troca da libertação de mais de 100 reféns franceses no Oriente Médio e na África.

No contexto de uma chamada "Política Árabe", sucessivas administrações também têm apostado na ilusão de que, ao colocar a França como o único amigo ocidental "das massas de Árabes e Muçulmanos", eles estariam comprando segurança ao mesmo tempo que estariam se beneficiando de oportunidades de negócios .

Assim, a França foi a primeira potência ocidental a impor uma proibição de exportação de armas para Israel, e a primeira a permitir que a Organização de Libertação da Palestina, de Yasser Arafat, abrisse uma "embaixada" em sua capital.

Em 1996, uma recusa francesa a colocar várias organizações, incluindo o Hezbollah e o Hamas, em uma lista de terroristas, impediu a adoção de um acordo do G-7 sobre 45 medidas para combater o terrorismo global.

Em 2003, a França fez tudo o que podia para evitar a ação conjunta da ONU contra o tirano iraquiano Saddam Hussein.

No mês passado, a França também se destacou por votar, no Conselho de Segurança da ONU, a favor de uma resolução árabe para reconhecer a Autoridade Palestina como um Estado-nação, sem um acordo de paz com Israel.

O horror de quarta-feira é uma amarga lição sobre os limites dessa estratégia de apaziguamento.
 

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  • Olavo de Carvalho
  • 09 Janeiro 2015


O estilo é o homem? Sim, e o é para o bem e para o mal. Para o bem, quando a análise revela, por trás das construções sintáticas e figuras de linguagem, a percepção viva de aspectos obscuros e dificilmente dizíveis da experiência humana, que assim emergem da nebulosidade hipnótica onde jaziam e se tornam objetos dóceis da meditação e da ação, transfigurando-se de fatores de escravidão em instrumentos da liberdade. Para o mal, quando nada mais se encontra por baixo da trama verbal senão o intuito perverso de construir uma “segunda realidade” à força de meras palavras, transportando o leitor do mundo real para um teatro de fantoches onde tudo e todos se movem sob as ordens do distinto autor, elevado assim às alturas de um pequeno demiurgo, criador de “outro mundo possível”.

Para demonstrá-lo, pedirei ao leitor a caridade de seguir até o fim esta exposição do sr. Leonardo Boff, conselheiro de governantes e, segundo se diz, até de um Papa, bem como, e sobretudo, porta-voz eminente de uma “teologia da libertação” onde não se encontra nenhuma teologia nem muito menos libertação:
A pobreza não se restringe ao seu aspecto principal e dramático, aquele material, mas se desdobra em pobreza política pela exclusão da participação social, em pobreza cultural pela marginalização dos processos de produção dos bens simbólicos...
“A pauperização gera por sua vez a massificação dos seres humanos. O povo deixa de existir como aquele conjunto articulado de comunidades que elaboram sua consciência, conservam e aprofundam sua identidade, trabalham por um projeto coletivo e passa a ser um conglomerado de indivíduos desgarrados e desenraizados, um exército de mão-de-obra barata e manipulável consoante o projeto da acumulação ilimitada e desumana.
“Essa situação provoca um modelo político altamente autoritário... Somente mediante formas de governo autoritárias e ditatoriais se pode manter um mínimo de coesão e se abafam os gritos ameaçadores que vêm da pobreza.”

O trecho é extraído do livro E a Igreja se Fez Povo (Círculo do Livro, 2011, p. 167). Tudo o que aí se descreve realmente aconteceu. São fatos, e fatos tão bem comprovados historicamente, que não teríamos como recusar ao sr. Boff um definitivo “Amém”, se não nos ocorresse a idéia horrível de perguntar: Aconteceu onde e quando?

O segundo parágrafo fala-nos de algo que aconteceu na Europa nas primeiras décadas do século XIX: massas de camponeses reduzidos à miséria pelo rateio dos seus parcos bens e obrigados a deixar suas terras para vir à cidade compor um “conglomerado de indivíduos desgarrados e desenraizados”, reservatório de mão-de-obra barata para a prosperidade dos novos capitalistas. Karl Marx descreve em páginas que se tornaram clássicas a formação do proletariado urbano com os destroços do antigo campesinato, no começo da Revolução Industrial.

Mas justamente onde isso aconteceu não aconteceu nem pode ter acontecido o que se descreve no parágrafo anterior: a “pobreza política pela exclusão da participação social” e a “pobreza cultural pela marginalização dos processos de produção dos bens simbólicos”. Bem ao contrário, a vinda dos camponeses para as concentrações urbanas coincidiu com o advento das eleições gerais, não apenas convidando mas forçando a participação das massas numa política que lhes era totalmente desconhecida no tempo em que viviam no campo, isoladas dos grandes centros. E coincidiu também com a criação da instrução escolar obrigatória, que extraía os filhos dos proletários das suas culturas locais provincianas para integrá-los na grande cultura urbana da razão, da ciência e da tecnologia, substancialmente a mesma cultura das classes altas, dos malditos capitalistas. Pode-se lamentar a dissolução das velhas culturas locais, mas ela não aconteceu pela exclusão e sim pela inclusão das massas na vida política e na cultura urbana.

A “exclusão da participação social” e a “marginalização dos processos de produção de bens simbólicos” aconteceram, sim, mas a centenas de milhares de quilômetros dali, em países da África, da Ásia e da América Latina que viriam a ser chamados de “Terceiro Mundo” justamente porque neles não houve Revolução Industrial nenhuma, nem portanto integração das massas, seja na política, seja na cultura urbana. O sr. Boff cria a unidade fictícia de um espantalho hediondo com recortes de processos históricos heterogêneos e incompatíveis, ocorridos em lugares enormemente distantes uns dos outros. A única realidade substantiva desse monstro de Frankenstein é o ódio que o sr. Boff desejaria instilar contra ele na alma do leitor.

Mas a fisionomia do monstro não estaria completa sem uma terceira peça, que o sr. Boff vai buscar em outro lugar ainda:
Esta situação, diz ele, provoca um modelo político altamente autoritário... Somente mediante formas de governo autoritárias e ditatoriais se pode manter um mínimo de coesão e se abafam os gritos ameaçadores que vêm da pobreza.”

Descontemos a imprecisão vocabular -- “provocam” em vez de “produzem” – e a sintaxe subginasiana: “esta” em vez de “essa” e “se pode manter um mínimo de coesão e se abafam os gritos” em vez de “se pode produzir um mínimo de coesão e abafar os gritos”. Vamos direto aos ponto essencial: é verdade que para controlar as massas esfomeadas surgiram governos autoritários, mas não na Europa da Revolução Industrial nem nos EUA da mesma época, onde justamente iam triunfando as instituições democráticas junto com o capitalismo nascente, e sim, bem ao contrário, em países subdesenvolvidos (ou empobrecidos pela guerra), que, invejando a prosperidade das nações industrializadas, mas não dispondo de uma classe capitalista pujante e criativa, resolveram industrializar-se às pressas e à força por via burocrática, desde cima, por meio do investimento estatal maciço e da economia planificada. Foi essa a fórmula econômica da Alemanha nazista, da Itália fascista e, obviamente, a de todas as nações socialistas queridinhas do sr. Boff. Foi também, pelas mesmíssimas razões, e embora em menor grau, a da ditadura Vargas e a do governo militar brasileiro.

Em suma, se fosse possível juntar o que há de mau nos países mais distantes, nos tempos mais diversos e nos regimes mais heterogêneos, teríamos aí o monstro ideal contra o qual o sr. Boff deseja voltar a ira da platéia. O sr. Boff aposta na possibilidade de que o leitor não repare na superposição postiça de recortes e, impressionado pela soma de maldades, acredite piamente estar vivendo entre as garras do monstro, tirando daí a conclusão lógica de que deve deixar-se libertar pelo sr. Boff.

Nisso, e em nada mais, consiste a “teologia da libertação”. A técnica da superposição é, a rigor, o único procedimento estilístico e dialético do sr. Boff e o resumo quintessencial do seu, digamos, pensamento. Podemos encontrá-la, praticamente, em cada página da sua autoria, onde em vão procuraremos outra coisa.

Já poucas linhas adiante temos outro exemplo, no trecho em que ele usa a figura de S. Francisco de Assis como protótipo do revolucionário que ele mesmo pretende ser. O leitor, paciente e bondoso, por favor, siga mais este paragrafinho:
Tal atitude [a de S. Francisco ao rejeitar os bens do mundo] corresponde à do revolucionário e não a do reformador e do agente do sistema vigente. O reformador reproduz o sistema, introduzindo apenas correções aos abusos por meio de reformas.... O que [Francisco] faz representa uma crítica radical às forças dominantes do tempo... Não optou simplesmente pelos pobres, mas pelos mais pobres entre os pobres, os leprosos, aos quais chamava carinhosamente ‘meus irmãos em Cristo’.

Francisco aparece aí, pois, como o revolucionário que em vez de servir ao sistema vigente busca destruí-lo e substituí-lo por algo de totalmente diverso. Nem discuto a inverdade histórica, que é demasiado patente. S. Francisco jamais se voltou contra o sistema hierárquico da Igreja, mas, ao contrário, fez da sua ordem mendicante o instrumento mais dócil e eficiente da autoridade papal. Para usar os termos do próprio Boff, corresponde rigorosamente à definição do “reformador” e não à do “revolucionário”. Mas o ponto não é esse. A coisa mais linda é que, segundo o sr. Boff, quando Francisco se aproxima não somente dos pobres, mas “dos mais pobres entre os pobres”, isto é, dos leprosos, há nisso um claro protesto contra a hierarquia social. Mas desde quando a lepra escolhe suas vítimas por classe social? Não eram leprosos o rei de Jerusalém, Balduíno IV, e o rei da Alemanha, Henrique VII, filho do grande imperador Frederico II e de Constança de Aragão? Francisco recusaria o beijo ao leproso de família rica? Superpondo artificialmente a idéia da deformidade mórbida à da inferioridade econômica, que lhe é totalmente alheia, o sr. Boff faz do menos anti-social dos gestos de caridade cristã um símbolo do ódio revolucionário, e o leitor, estonteado pela imagem composta, nem percebe que foi feito de trouxa mais uma vez, engolindo como pura teologia católica a velha distinção marxista entre reforma e revolução. Desfeito pela análise o jogo de impressões, a “teologia da libertação” do sr. Boff revela-se nada mais que uma técnica de escravização mental.

Sim, o estilo é o homem. Uns escrevem para mostrar, outros para esconder e esconder-se, lançando, desde as sombras, a miragem de uma falsa luz.
 

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  • Darcy Francisco Carvalho dos Santos
  • 09 Janeiro 2015

Entre 1987 e 2014 houve sete governadores. A maioria recebeu o governo em más condições, mas nenhum deles em situação financeira tão precária como o governador José Ivo Sartori (PMDB), tanto pela dimensão e rigidez dos déficits, como pelo esgotamento dos recursos para seu financiamento, pelas seguintes razões: o déficit projetado para 2015 é superior a R$ 5 bilhões e com comportamento crescente. Como agravante, os déficits, que eram em grande parte potenciais, passaram a ser reais, porque as despesas já foram feitas. Isso porque foram concedidos reajustes a categorias representativas de servidores, em percentuais que chegam ao dobro daquele esperado para o crescimento da receita, até 2018.

O maior percentual de reajuste para o magistério (13,7%) foi concedido, com um reflexo de R$ 1 bilhão na folha de 2015, para cujo pagamento não há recursos no orçamento. Foram desrespeitados dois princípios basilares da responsabilidade fiscal, que é gastar muito além da arrecadação e gerar despesas permanentes e crescentes custeadas por recursos finitos. Os depósitos judiciais estão com o saldo praticamente zerado. Os ingressos futuros servirão apenas para pagar os juros, calculados com base na taxa Selic sobre os saques efetuados, que alcançam R$ 8 bilhões, 73% dos quais pelo governo que saiu.

A margem para novas dívidas no curto prazo está esgotada pelas operações de crédito efetuadas em 2014. E para piorar a situação, a economia está com um crescimento muito baixo, o que se refletirá na arrecadação, mas que deve apresentar pequena melhora em função de um fator negativo, que são os reajustes da energia e dos combustíveis, acima da inflação. Faço essas constatações sem nenhuma motivação que não seja demonstrar a verdade, quase sempre escondida nas respostas evasivas dos entrevistados ou nos textos distorcidos pelas mentes ofuscadas pelo fanatismo.

* Contador e economista
 

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  • Adolfo Sachsida
  • 08 Janeiro 2015

Participo de vários grupos e, inevitavelmente, em algum momento alguém começa a falar sobre Olavo de Carvalho. Uns defendem outros criticam, esse post é a minha resposta a todos eles.

Olavo de Carvalho é um craque. Mais do que isso, é um homem de coragem e força de vontade ímpar. Assim, ele é um exemplo de conhecimento, inteligência, preparo acadêmico, e coragem para enfrentar desafios. Este homem lutou praticamente sozinho, por mais de 10 anos, contra toda a esquerda nacional e internacional. Alertou sobre os perigos do socialismo, sobre o Foro de São Paulo, sobre o PT, sobre o problema da deterioração da alta cultura quando estes problemas sequer eram imaginados seja na academia ou nas redações de jornais e revistas brasileiras.
Pagou um preço altíssimo por seus avisos: foi sendo paulatinamente ridicularizado, posto de lado, relegado ao esquecimento, e demitido de seus empregos. Resumindo: teve que suportar a solidão intelectual e a perda de empregos por falar a verdade, por embasar seus argumentos em raciocínios lógicos e comprovados.

Onde outros teriam desistido ele perseverou. Foi dele um dos artigos mais importantes que já li em toda vida: O Natal não é para os Covardes. Foi em seus textos que encontrei as primeiras referências a von Mises e Hayek (sim, o professor Ubiratan Iorio também é uma referência nesse tema). Boa parte das pessoas que tiveram contato com pensadores conservadores, ou mesmo libertários, tomaram conhecimento de suas obras lendo artigos de Olavo de Carvalho.

Alguns dizem que Olavo de Carvalho é extremamente agressivo. Sim, ele é. Mas quando se luta sozinho por tanto tempo essa arma que hoje lhe atrapalha é a mesma que o manteve vivo. Ninguém passa incólume por lutar tanto tempo contra um inimigo tão forte, essa foi a cicatriz que tal batalha lhe deixou.

Outros dizem que Olavo de Carvalho fala besteira demais. Bom, esses para mim são pessoas despreparadas. Certamente não concordo com todas as ideias do professor Olavo de Carvalho, mas daí a dizer que ele fala muitas besteiras é de um absurdo completo. Todo mundo erra de vez em quando, isso não é motivo para se jogar uma biografia no lixo. Ainda mais que tais erros, se é que eram erros mesmo, não são o ponto central de sua obra em nada comprometendo sua análise geral.

Deixemos que a esquerda tente destruir a reputação e a obra desse grande pensador. À direita cabe respeitar e promover o nome de Olavo de Carvalho como um de seus grandes ícones. A direita, a democracia, a liberdade de expressão, os conservadores e os liberais brasileiros devem muito a Olavo de Carvalho. Esse post é um pequeno agradecimento a esse gigante guerreiro das batalhas quase impossíveis. Boa parte da assim chamada direita brasileira só existe graças a obra e a perseverança desse nobre homem.

* Economista.
http://www.bdadolfo.blogspot.com.br/

 

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