• Paulo Vasconcelos Jacobina
  • 25 Maio 2015

A maioria dos católicos e dos bispos do Brasil não apoiaram a proposta de "reforma política" da Coalizão
Qualquer plebiscito que termine com um resultado de 99,6% contra 0,4% encerra qualquer debate. Houve a entrega do projeto de reforma política apoiado por esta Coalizão ao Congresso Nacional, com cerca de 630.000 assinaturas, entre presenciais e eletrônicas.

Brasília, 22 de Maio de 2015 (ZENIT.org)


Este capítulo da coleta de assinaturas para uma proposta de "reforma política" redigida por uma "coalizão" com entidades de esquerda, sindicais, corporativas e eclesiais parece ter sido encerrado no último dia 20 de maio. Houve a entrega do projeto de reforma política apoiado por esta Coalizão ao Congresso Nacional, com cerca de 630.000 assinaturas, entre presenciais e eletrônicas.
Não quero discutir mais os defeitos e a linha ideológica do projeto. Já o fiz diversas vezes em outros artigos publicados aqui mesmo, como este , este ,este e este . Como já foi dito, não se nega nem a necessidade de fazer-se, no Brasil, uma reforma política urgentemente, nem a necessidade de repensar a forma de financiamento de campanha. Mas incomoda aos católicos a adoção, por parte de uma instituição eclesial, de um determinado modelo em preferência a todos os outros, sem claras razões de fé e moral, a apontar pendores estritamente ideológicos em matéria opinável. Mas a meditação agora é outra.
Como foi possível reunir tão poucas assinaturas?
Trata-se de pensar como foi possível que uma coalizão que existe há mais de três anos, e que é composta por entidades como a OAB e a CNBB, não tenha conseguido chegar senão a pouco mais de um terço do número mínimo de assinaturas necessárias para que a proposta se transformasse em projeto de lei de iniciativa popular. É interessante proceder a esta reflexão, até por um imperativo bíblico: sempre foi critério, para reconhecer uma eventual profecia ruim, examinar os respectivos frutos.
Nem falo aqui dos descaminhos da esquerda bolivariana em toda a América Latina. Estes são por demais visíveis: falência dos respectivos países em que se instalou, aumento da violência e da miséria, destruição dos respectivos regimes democráticos e instauração de ditaduras que se proclamam "populares e libertadoras", mas cujos frutos estão bem claros para quem os quiser enxergar. Devemos lutar para que esta situação jamais se instale no Brasil.

Mas falo agora das lições que devemos refletir, nós católicos, sobre a forma com que este episódio foi conduzido, para que possamos amar mais verdadeiramente a Igreja, compreendê-la mais a fundo e colaborar efetivamente para a sua santificação, que é o objetivo de todos, leigos e clérigos igualmente. Não podemos pecar, nem por atos, nem principalmente por omissão.

Avaliando a quantidade de assinaturas, nota-se que não foi, nem de longe, representativa de qualquer popularidade da ideia entre os fiéis católicos. Ponderemos que o último Censo, bem como as últimas pesquisas populacionais do IBGE, apontam que cerca de 64% da nossa população é de católicos. Seriam cerca de 132 milhões de católicos no país, dos quais pelo menos 30% declara ir à missa todos os domingos – cerca de quarenta milhões de pessoas.

Assim, apesar de dispor de um rebanho deste porte, e de contar com várias entidades que se declaram "representativas " e "populares", ao longo de três anos a Coalizão só conseguiu convencer um grupo de "assinantes" que representa menos de 1,5% dos católicos que vão à missa todo domingo, e menos de 0,4% do total de brasileiros que se declaram católicos. Considerando que há diversas assinaturas obtidas por outros membros da Coalizão, como a OAB e diversos órgãos de classe e associações feministas e de "gênero", isto significa que muito mais do que 99,6% dos católicos não assinaram o documento, ou que pelo menos 98,5% dos católicos que costumam ir à missa no domingo não o fizeram.
Ainda que se descontem deste total os católicos que não são eleitores, como os mais idosos e os adolescentes, a proporção ínfima deve ser bem significativa: os católicos, em massa, rejeitam as ideias da Coalizão. Então o assunto acabou.

Não se alegue que a Coalizão, por qualquer motivo, não teve acesso ao grosso dos católicos. Se isto de fato ocorreu, é uma notícia muito animadora para nós, leigos. Isto significa que este setor da Igreja que se quer "popular" ou "social", e que se comprometeu com este setor ideológico da política brasileira, não tem, nem de longe, a relevância numérica que ele próprio acredita ter, entre os bispos. Não podemos duvidar que nossos santos bispos têm o poder de mover milhões de pessoas em direção á verdade de Jesus. Ora, somente a Jornada Mundial da Juventude colocou três milhões de católicos numa praia do Rio de Janeiro, ano passado. Esta coalizão, em três anos, e valendo-se de inúmeras ONGs além da CNBB, não conseguiu ultrapassar os seiscentos mil apoiadores – alguns dos quais, inclusive, pode-se supor, apenas católicos devotos que assinaram por temor reverencial, e não por convicção política.
Restar-nos-ia concluir, caso optemos pela primeira resposta, que este projeto da Coalizão tem uma esmagadora rejeição entre os católicos. Qualquer plebiscito que termine com um resultado de 99,6% contra 0,4% encerra qualquer debate. Perdeu.
Caso a interpretação seja a de que a Coalizão de alguma forma não teve acesso ao grosso da população católica para obter suas assinaturas, deve-se então concluir que a imensa maioria dos bispos agiu com extrema sabedoria e prudência neste assunto, e que simplesmente não apoia a atuação da Coalizão. De fato, pesquisando-se na Internet, descobre-se facilmente que não mais que meia dúzia de bispos estão com seus nomes vinculados a esta proposta, e nem todos dentre estes declararam-se incondicionalmente favoráveis. Quanto aos outras quatrocentos e tantos bispos, se simplesmente não deram prosseguimento prático a este intento nas suas próprias dioceses, estão demonstrando o que sempre se soube: o pastoreio efetivo do rebanho, no final das contas, cabe a cada Bispo em sua Igreja particular, e não às Conferências Episcopais nacionais como instituição colegial. Estas são sempre estruturas de apoio, de diálogo, não de substituição. A verdade na Igreja Católica jamais foi decidida e defendida no voto. Mas é muito bom ver que ela pode prevalecer estrondosamente mesmo quando é submetida ao voto.
Há notícias de que este abaixo-assinado parece ter circulado efetivamente em pouquíssimas dioceses. Não tenho dados concretos. Mas se isto ocorreu, foi um grande alento para nós, católicos: nossos pastores exercem, muitas vezes heroicamente, silenciosamente, seu pastoreio efetivo dentro das respectivas dioceses, onde são assistidos pelo Espírito Santo; e são sábios o suficiente para fazer com que projetos inadequados como este simplesmente não vinguem, por simples falta de apoio prático, poupando o rebanho da exposição pública das eventuais dissidências eclesiais frente a um ou outro mais entusiasmado neste ou naquele caminho político.
É aí que se mostra a força da Igreja: na sua aparente fraqueza.
É hora, pois, de louvar o fim deste procedimento. Acabou. Que bom. Que morra assim, silenciado e superado, para que a Igreja inicie, no Brasil, um novo capítulo de sua história. Embora, é claro, as notícias veiculadas no próprio site da Coalizão nos ameace com a continuação deste abaixo assinado. O que seria, no entanto, um absurdo lógico: ninguém entrega ao legislativo federal um abaixo assinado que ainda não terminou. Isto não seria sério. Ninguém levaria a sério.
Mas não podemos ficar desatentos: a crise política no país é gravíssima, e está longe de terminar. Precisamos deste mesmo trabalho silencioso e santo para manter a Igreja no seu rumo divino. Mas precisamos mais: queremos ser efetivamente Igreja, queremos ser ouvidos e representados, nós, os 99,6% de silenciosos. The end.
 

 

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  • Carlos I. S. Azambuja
  • 25 Maio 2015

"Como se reconhece um comunista? Bem, é alguém que lê Marx e Lênin. E como se reconhece um anticomunista? É alguém que compreende Marx e Lênin..." (Ronald Reagan)


A virtude principal do comunista, convocado para a transformação do mundo, suposto portador da ideologia social mais avançada, consiste em... não pensar!
Os partidos comunistas só podem cumprir o seu papel se forem organizados de forma mais centralizada, se possuírem uma disciplina férrea, próxima à militar, e se o seu organismo central estiver dotado de amplos poderes para exercer uma autoridade indiscutível. Cada comitê deve ser onipresente em face dos comitês inferiores e impotente face aos superiores.
A teoria do socialismo em um só país foi convertida na doutrina oficial da Internacional Comunista e passou a ser o princípio diretor da concepção da revolução mundial formulada no programa aprovado no VI Congresso do PCUS, em 1928, que assinalou: "A desigualdade do desenvolvimento econômico e político é uma lei absoluta do capitalismo. Essa desigualdade se agrava e acentua na época imperialista. Disto resulta que a revolução proletária internacional não pode ser considerada uma ação única, simultânea e universal (...) Conseqüentemente, o proletariado internacional, do qual a URSS é a única pátria, a fortaleza de suas conquistas, o fator essencial de sua libertação internacional, tem o dever de contribuir para o êxito do socialismo na URSS e defendê-la por todos os meios contra os ataques das potências capitalistas. A luta de classes em cada país e a luta de libertação nacional dos povos oprimidos pelo imperialismo continuam sendo fatores importantes da revolução mundial, mas o fator essencial é a construção do socialismo na URSS. Daí, que a ditadura do proletariado na URSS detenha a hegemonia do movimento revolucionário mundial".
Nas características adquiridas pela Internacional Comunista, desde os momentos iniciais, exerce notável influência a forma como ela foi criada. Partindo da idéia de que a revolução mundial comunista estava em marcha irresistível, que as grandes massas estavam em movimento e que tudo dependia da existência de uma vanguarda intransigente em face do reformismo e do centrismo, foram adotadas, desde o princípio, medidas drásticas para assegurar a pureza dos novos partidos. Essa foi a finalidade das chamadas "21 Condições", modelo de sectarismo e de método burocrático. Como se declara em sua introdução, o objetivo das "21 Condições" era impedir o ingresso na Internacional Comunista de grupos e partidos "que não se tornaram verdadeiramente comunistas" e o critério para reconhecer "os verdadeiramente comunistas" era a aceitação integral, incondicional, das "21 Condições". Nelas se resume a concepção de partido comunista, para que todos os postos nos órgãos da imprensa, frações parlamentares, sindicatos, cooperativas, prefeituras, fossem ocupados por comunistas "firmes e provados", eliminando-se os reformistas de qualquer matiz.
Sob a influência das "21 Condições" e, em geral, dos métodos adotados pela Internacional Comunista na luta contra o reformismo e o centrismo, implantou-se fortemente nos partidos comunistas de todo o mundo, desde o primeiro dia, um espírito sectário e dogmatizante, embalado num verbalismo revolucionário que dissimulava a perda de noção da realidade. Esse espírito sectário e dogmatizante permanece até hoje, embora o comunismo seja uma doutrina falida.
Em suma, a Internacional Comunista foi concebida em março de 1919, como uma organização semi-militar, constituída por revolucionários profissionais assalariados (Comitê Executivo, rede de delegados, instrutores, assessores e assistentes), voltados para a direção da guerra revolucionária internacional e, nesse sentido, exigia a criação de partidos bolcheviques quimicamente puros do dia para a noite, a partir de uma classe operária que durante decênios se educara no espírito reformista, na ação sindical e parlamentar. Isso significou que os revolucionários profissionais de cada partido comunista ficaram subordinados a esse corpo central, a IC. Os bolcheviques cristalizaram numa teoria acabada para todo o mundo a tática a que foram compelidos pelas condições de uma Rússia atrasada e medieval, e através da Internacional Comunista passaram a recomendar ao proletariado internacional a sua imitação como modelo de tática socialista.
Assim, a verdade da Revolução Bolchevique convertia-se em verdade da revolução em todas as latitudes, com ajustamentos táticos – é certo – conforme as "condições nacionais". Uma política abstrata e ineficaz que transformou a IC numa instituição alienada e alienante a serviço da nova classe burocrática soviética. Os partidos comunistas nutriam-se, basicamente, das obras de Stalin e chegavam a Lênin através de Stalin. Marx vinha em um remoto terceiro lugar e a maioria dos comunistas só o conheciam de ouvir falar...
No entanto, quando da criação da Internacional Comunista, contrariamente ao que Lênin pensava, ainda não haviam amadurecido as condições objetivas para a revolução comunista. Portanto, a Internacional Comunista foi concebida e criada para atuar em condições inexistentes e teve que enfrentar uma tarefa fundamentalmente diferente: ganhar as massas proletárias para uma política revolucionária em condições não revolucionárias.
É importante assinalar que do II (julho de 1920) ao VI Congresso (julho de 1928) da Internacional Comunista, os seus Estatutos foram sendo modificados sempre no sentido de acentuar a centralização e os poderes do Comitê Executivo, onde se acotovelavam os cappos da instituição. Os estatutos aprovados no II Congresso determinavam que as instruções do Comitê Executivo "têm força de lei" para todas as seções nacionais. O V Congresso, por sua vez, afirmava que as diretivas do Comitê Executivo "são imperativas" e têm que ser "imediatamente aplicadas".
Uma fórmula similar foi adotada pelo Foro de São Paulo quando da realização do seu II Encontro, em junho de 1991, no México. Esse Encontro foi precedido de uma reunião preparatória do Grupo de Trabalho do Foro (uma espécie de Comissão Executiva, da qual faz parte o Partido dos Trabalhadores), realizada na cidade do México em março de 1991, na qual foi definido, mediante acordo, que a partir desse II Encontro seria firmado o conceito do caráter consultivo e deliberativo dos Encontros. Isso significou que, a partir de então, as decisões aprovadas em plenárias e constantes das Declarações Finais passavam a ser consideradas deliberativas e decisórias em termos de aceitação e cumprimento pelos partidos e organizações membros do Foro, subordinando-os, dessa forma, aos ditames dos Encontros na ação a ser desenvolvida em nível internacional e nos respectivos países, fato que transfere para um segundo plano os interesses nacionais, fere os princípios de soberania e autodeterminação, viola a Lei Orgânica dos Partidos Políticos e ignora a Constituição.
Voltando à Internacional Comunista, o VI Congresso, finalmente, criou uma série de "birôs" para auxiliar o Comitê Executivo a dirigir os âmbitos regionais. Ou seja, aumentou consideravelmente o aparato burocrático do Comitê Executivo. Além disso, concedeu a este o direito de enviar "representantes" e "instrutores" às seções nacionais. Sobre essas decisões, Trotski comentou em 1930, em seu livro "Revolução Permanente", referindo-se à Internacional Comunista: "Atualmente todos os pensamentos e todas as ações humanas se dividem em duas categorias: as indiscutivelmente justas, que se inserem na 'linha geral do partido', e as indiscutivelmente erradas, que se desviam da 'linha geral do partido'. O que, é claro, não impede que se declare hoje errado o que ontem se proclamou como absolutamente justo".
A partir do momento em que a construção do socialismo na URSS foi considerada como o fator essencial, determinante, da revolução mundial, todos os outros movimentos revolucionários passaram objetivamente a ter um papel subordinado e assim foram enquadrados pela estratégia e pela tática da Internacional Comunista. Desnecessário é dizer que o princípio da "subordinação" dos interesses parciais do movimento revolucionário a seus interesses gerais foi adotado pela Internacional Comunista desde o seu nascimento e o VI Congresso apenas o reafirmou: "A coordenação das ações revolucionárias e sua boa direção impõem ao proletariado uma disciplina internacional de classe (...) que deve expressar-se na subordinação dos interesses parciais e locais do movimento a seus interesses gerais e permanentes".
Taticamente, até a viragem realizada no VII Congresso, quando a Internacional Comunista optou pela construção das frentes populares – que deveria unir comunistas e social-democratas na luta contra o fascismo – a Internacional sempre preconizou a formação de sovietes a cada vez que pressentia a chegada de uma situação revolucionária em determinado país. Todavia, essa palavra-de-ordem, manejada abstratamente, nunca surtiu efeitos práticos em qualquer país capitalista.

Giorgy Dimitrov, Secretário-Geral da Internacional Comunista, reafirmou esses dogmas no VII Congresso, em julho-agosto de 1935, advertindo em seu discurso de encerramento do Congresso: "Aquele que tentar violar a unidade de ferro de nossas fileiras através de uma ação fracionista qualquer aprenderá, por experiência própria, o que significa a disciplina bolchevique que nos ensinaram Lênin e Stalin. Que isto sirva de aviso aos poucos elementos que, em certos partidos, pensam poder aproveitar as dificuldades passadas, as feridas, as derrotas e os golpes assestados pelo inimigo para realizar seus planos fracionistas ou prosseguir com seus interesses de grupo! Acima de tudo o partido! Defender a unidade bolchevique do partido como a menina dos nossos olhos! Esta é a lei primeira, a lei suprema do bolchevismo!". Só faltou dizer, mas deu a entender, que aqueles que não agirem assim serão"justiçados".
Observe-se que o discurso raivoso de Dimitrov tinha razão de ser, considerando o desastre político que precedeu o VII Congresso. Entre as seções da Internacional Comunista, o Partido Comunista Alemão era o melhor organizado e o numericamente mais forte. Tinha profundas raízes na classe operária e o respaldo das chamadas massas. Em fins de 1932 tinha 360 mil membros e 6 milhões de eleitores, que somados aos da Social-Democracia ultrapassavam em cerca de 1,5 milhão os do partido nazista. Todavia, em janeiro de 1933, o marechal Paul Ludwig Von Hindenburg (1847-1934), presidente da República de Weimar, entregou o poder aos nazistas. E logo a seguir, em março, por decreto, Hitler dissolveu o Partido Comunista, confiscou seus bens, ocupou suas sedes, expulsou do Parlamento os seus 100 deputados e começou a encarcerar massivamente seus membros. Pouco depois fez o mesmo com o Partido Social-Democrata, tudo isso sem qualquer resistência das chamadas massas. Assim, o partido-modelo da Internacional Comunista desapareceu da cena histórica. Esse foi o maior desastre da história da Internacional Comunista, mesmo porque a Alemanha figurava na sua estratégia como o cenário mais provável de uma nova ruptura revolucionária do sistema capitalista, e para os destinos da Revolução de Outubro era vital que essa hipótese se confirmasse.
Mas a história do VII Congresso da Internacional Comunista é longa, pois foi aí que se aprovou e impôs a todos os partidos comunistas uma mudança de tática, ordenando a aliança entre os comunistas e os social-democratas, com a constituição das famosas Frentes Populares, tática que consistia, basicamente, em subordinar o movimento de massas aos limites admissíveis em cada momento pela ala burguesa ou reformista da "Frente". O papel essencial das "Frentes" era o de dar "um empurrão" na irresistível dinâmica histórica, facilitando às grandes massas populares compreender que a única salvação estava no poder soviético. Ou seja, fazê-las marchar atrás da vanguarda (os PCs), mesmo sem saber exatamente para onde iam. Facilitando também aos grupos sociais, partidos políticos e entidades estatais – que, no final da festa, deveriam desaparecer de cena – que caminhassem para esse destino ignorado oferecendo o mínimo de resistência. Segundo as análises da Internacional Comunista, a extrema caducidade das estruturas políticas e econômicas capitalistas conduzia velozmente toda a sociedade para o "Hic Rhodus, hic salta!"("Aqui está Rhodes, salta aqui!", passagem extraída de uma fábula de Esopo e utilizada por Marx em "O 18 Brumário de Luís Bonaparte").
Desde o momento em que a construção do socialismo na URSS foi definida como o fator permanente, essencial, determinante da revolução mundial, a Internacional Comunista passou a ser igualmente a representante por excelência dos "interesses gerais e permanentes" do movimento revolucionário. Todos os demais – "parciais e locais" – passaram a subordinar-se a ele. Mas como a expressão franca dessa subordinação se prestava ao ataque dos inimigos, às suas "calúnias", como disse Stalin em 1943, quando dissolveu a Internacional Comunista – dissolvendo as "calúnias" - era conveniente negá-las. Havia que negar a subordinação dos partidos comunistas do mundo para que ela se tornasse realmente efetiva.
A teoria do socialismo em um só país, convertida em fundamento teórico da estratégia da Internacional Comunista significou, em resumo, subordinar a revolução mundial – em cada uma de suas fases e episódios – às exigências da construção do socialismo na URSS. As estruturas ultracentralizadas da Internacional Comunista, o todo poderoso Comitê Executivo (do qual Luiz Carlos Prestes fazia parte), no topo da pirâmide controlado, por seu turno, pela direção do partido soviético e, em última análise pelo seu Secretário-Geral, o papai Stalin, constituíam o mecanismo idôneo para assegurar, na prática, a subordinação.
Como se sabe, Trotski foi o principal contraditor teórico de Stalin no que tange ao socialismo em um só país, criticando a degeneração burocrática e nacionalista da revolução russa. Trotski, todavia, não foi além dos velhos esquemas de Marx e Lênin, rubricando-os com a etiqueta de "revolução permanente".
Conforme a observação de Gramsci, a teoria da revolução permanente "é apenas uma previsão genérica que se apresenta como um dogma e se destrói a si mesma porque não se expressa nos fatos". No Programa de Transição, Trotski escreveu: "As forças produtivas da humanidade pararam de crescer (...) As premissas objetivas da revolução proletária não só estão maduras; já começam a apodrecer. Tudo depende do proletariado, isto é, tudo depende, antes de mais nada, da sua vanguarda revolucionária. A crise histórica da humanidade se reduz à crise da direção revolucionária". A saída é... a Quarta Internacional.
A perspectiva da construção integral do socialismo em um só país não foi uma meta cientificamente elaborada, mas um mito que se agitou ao povo soviético para justificar os imensos sacrifícios que lhes eram requeridos. E, por isso, justamente por isso, não serviu para formar as massas como sujeito consciente, exigente e crítico de sua própria obra mas, ao contrário, serviu para cultivar nelas uma atitude acrítica, conformista, convertendo-as em objeto de fácil manipulação. Como todos os mitos que respondem a exigências reais não resolvidas cientificamente, o da construção integral do socialismo, ao fim de uns quantos planos qüinqüenais, desempenhou um papel instrumental eficaz, despertou ilusões, estimulou a fé, favoreceu a mobilização das massas e a liquidação de toda oposição crítica. Mas quando os prazos se cumpriram e houve que declarar: este é o socialismo, já está sendo construído – o mito entrou em derrocada. A fé começou a ser substituída pelo ceticismo, os sentimentos generosos pelo cinismo, a ebulição política pelo apoliticismo e, para dar relevo ao mito, houve que recorrer ao terror. Os problemas se tornaram cada vez mais complexos e suas dimensões quantitativas cederam lugar às qualitativas, mas o nível teórico para abordá-los era cada vez mais baixo, mais escassas as idéias em circulação, os cérebros mais atrofiados pelo terror e, sobretudo, pelo hábito de não pensar por conta própria, com a própria cabeça. Foi esse o esquema ideológico-organizacional que passou a vigir nos partidos comunistas de todo o mundo – isso até hoje -. Sua lógica conduz a considerar que a virtude principal do comunista, convocado para a transformação do mundo, suposto portador da ideologia social mais avançada, consiste em... não pensar!
A II Guerra Mundial chegou quando esse processo se iniciava, quando apenas uma minoria começava a tomar consciência da existência do mito. Essa minoria pagaria alto preço pela sua lucidez. Os sentimentos patrióticos vieram em ajuda ao mito e, afinal, a vitória conferiu-lhe nova seiva mas por pouco tempo, pois o XX Congresso do PCUS, em fevereiro de 1956, tirou todas as dúvidas: na URSS ainda não existia socialismo. Segundo o kamarada Kruschev expôs nesse Congresso, durante 30 anos existira uma autocracia burocrática – graças à qual, diga-se, ele chegou ao cargo de Secretário-Geral -, não uma democracia proletária. E sem democracia proletária não há propriedade social dos meios de produção. Na União Soviética existiam – e continuaram a existir até que ela desapareceu, em dezembro de 1991 – relações de produção não capitalistas e não socialistas, cuja caracterização teórica, do ponto de vista marxista, ainda está por ser feita. Por agora - e não se sabe até quando - é mais seguro defini-las por aquilo que não foram.

Por fim, devemos recordar que em 2 de março de 1969, exatos 50 anos desde a fundação da Internacional Comunista, os comunistas chineses e soviéticos se matavam no Usuri. Meses antes os tanques soviéticos foram lançados contra os comunistas checoslovacos. Anos antes, idem contra os comunistas húngaros, e apenas 5 anos depois que a Internacional Comunista foi dissolvida, em 1943, por Stalin, o movimento comunista internacional declarava guerra aos iugoslavos. Depois de tudo isso, Boris Ponomariov (membro do Comitê Central do PCUS e na década de 70 responsável pelo Departamento Internacional, encarregado das relações com os partidos comunistas do Ocidente), em seu livro "O Comunismo num Mundo em Mudança", editado em 1985, teve o desplante de escrever que "a Internacional Comunista criara os fundamentos sólidos e duradouros do internacionalismo, não apenas entre os comunistas, mas no conjunto do movimento operário mundial..."

  * Historiador

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  • Jenifer Castilho
  • 23 Maio 2015

(Publicado no Estudantes Pela Liberdade e reproduzido pelo Rodrigo Constantino)

Olá, eu preciso desabafar com vocês! E digo que é com vocês porque sou Pedagoga em formação, estudo no faculdade de educação da UERJ e estava mostrando para meus amigos os absurdos que aprendo sobre “o que é ser um professor” e um deles me deu a ideia de falar isso para vocês.

Bem, como eu já disse, faço pedagogia e um dia darei aula para os filhos de vocês, mas, em relação a mim, os senhores não precisam se preocupar, não quero ser doutrinadora, quero ser professora, e por isso não levo a sério o que os professores da universidade falam e estudo por mim mesma em casa, com livros, pela internet e por outros métodos. Mas gostaria de explicar melhor porque não posso e nem devo levar a sério o que meus professores universitários (ou doutrinadores?) me passam sobre o que é ser um professor.

Primeiro, esses profissionais informam que tudo que há de ruim no mundo é culpa do capitalismo e da pedagogia tradicional. Se seu filho não sabe ler direito aos 14 anos, é culpa do capitalismo e da pedagogia tradicional. Seu filho não sabe fazer conta? o professor vai dizer que é culpa do capitalismo e da pedagogia tradicional. Todavia, observem as ideias de autores adorados na Pedagogia: “O professor deve trazer à atenção dos alunos aquelas ideias que deseja que dominem suas mentes. Controlando os interesses dos alunos, o professor vai construindo uma massa de ideias na mente que, por sua vez, não vão favorecer a assimilação de ideias novas.”, frase de Johann Friedrich Herbart. Há algo de libertador nisso? Não. Nada mais que doutrinação pura. E o tempo todo recebo ensinamentos de como “superar a escola tradicional”, e fico me perguntando o que há de tão errado no ensino tradicional, já que as melhores escolas do Brasil tem ensino puramente tradicional, como por exemplo as escolas Santo Agostinho e São Bento, as escolas presbiterianas, escolas salesianas e os Colégios Militares. E também aprendo que tenho que ensinar seus filhos sobre classe social. Para exemplificar, em uma página de uma das minhas apostilas está escrito “classe social” umas 20 vezes.

Aprendo que o ensino está ruim por culpa do capitalismo opressor, que organiza as escolas de uma forma em que os filhos das pessoas mais ricas tenham um ensino que os façam permanecer em suas classes acreditando que conseguiram suas coisas por mérito próprio e que filhos de pessoas mais pobres tenham um ensino ruim para que ele continue na pobreza. Agora me explique, amigo socialista: se a chamada elite tem uma educação de qualidade, como estes mesmos dizem, porque ao invés de inventar um método novo (Paulo Freire) não imita o que já existe (nos colégios religiosos e militares) e não passa para os pobres? Vai saber, né!

Pois bem, nesse meu discurso enorme vocês viram em alguma parte eu dizer que boa parte professores nos ensinam a como ensinar a criança a ler? Não, né? Porque esses magísteres não nos ensinam.

São discutidas questões políticas, colocam a culpa no capitalismo, se fazem de vítimas do sistema, mas na hora de ensinar as crianças a ler e a escrever, não o fazem. Ensinar as crianças a fazer operações matemáticas, também não! Está aí a explicação para uma educação de pouca qualidade. Começa na formação dos professores. Eu pesquiso por fora, compro livros, assisto vídeos que possam me ajudar, mas e quem não faz isso e sai da faculdade acreditando nessas barbárie? Eu te respondo: eles, os professores, que um dia estavam na faculdade sendo doutrinados, um dia doutrinarão seus filhos. Tomem cuidado!

*Jenifer Castilho é estudante de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e participante do Grupo de Estudos Frèderic Bastiat (EPL/UERJ).

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  • Mateus Colombo Mendes
  • 23 Maio 2015

(Publicado originalmente em Zero Hora de hoje, 23/05/2015)

 

Sou contrário à iniciativa governamental do Humaniza Redes porque ainda há judiciário e polícia neste país e porque me recuso a ouvir o que se pode ou não dizer de um governo que vem quebrando nossa economia, negligenciando a segurança e estimulando tensões sociais.

À exceção de psicopatas, ninguém é a favor da disseminação do ódio. Qualquer pessoa em sã consciência procura evitar atitudes odiosas; na pior das hipóteses, quando incorre em postura extremada, sente-se mal após o ato de raiva. Mas quem defende o Humaniza Redes diz que seus opositores são a favor do ódio. Ora, isso sim é odioso!E malicioso. Equivale a fundar o Partido do Amor e dizer que quem não lhe der seu voto não tem amor no coração. A crítica à ação estatal de controle do que se fala na internet vai muito além desse maniqueísmo maldoso, do “nós, o bem, os humanistas” contra “eles, os que odeiam”.

Em qualquer democracia sadia, a polícia investiga e o judiciário julga, com base em códigos formulados e estabelecidos conforme a tradição e os valores locais. Não é papel de governo algum pautar o que a população pode falar e julgar o que for dito – isso é próprio de ditaduras. E se isso não é recomendável a nenhuma administração pública, que dizer de uma gestão que, antes de querer regrar algo, deve muitas explicações à população? É do governo do “Mensalão” e do “Petrolão” que ouviremos o que é certo ou errado?

Num país em que quase 60 mil pessoas são assassinadas por ano, é uma afronta ao povo a mobilização de recursos públicos para, com tons humanitaristas, dourar a pílula da censura. Foi o que tentei dizer no “plenarinho” da Assembleia Legislativa, na última quarta-feira (20/5), no lançamento do Humaniza Redes RS. O evento foi organizado pela deputada estadual Manuela D’Ávila, do Partido Comunista do Brasil – que, há alguns meses, publicou manifesto em defesa daditadura da Coreia do Norte, país em que imperam o medo e a miséria; e onde “liberdade” é, se muito, apenas uma palavra no dicionário.

Opor-se ao controle da linguagem por parte de mensaleiros e amigos de ditadores não é ódio – é autodefesa.

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  • Paulo Vasconcelos Jacobina
  • 22 Maio 2015

(Publicado oroginalmente em Zenit.Org

Há um momento oportuno, com a renovação na direção da CNBB, para que finalmente soltemos um grito que está preso há muitos anos nas gargantas dos católicos do Brasil: precisamos da CNBB cada vez mais para os católicos. Precisamos acabar com este vago desconforto que os católicos mais simples, os que acreditam no Credo e tentam viver como manda a Igreja, sentem quando entram em muitas paróquias, sedes diocesanas e outros órgãos eclesiais católicos, de que estão entrando em centros de política partidária de esquerda, altamente laicizados.
Pode parecer pretensioso que um leigo se ponha a externar propostas de caminhos ou reformas na vida religiosa da Igreja; mas uma vez que nossos Bispos estão promovendo movimentos de rompimento constitucional na vida política, coletando assinaturas para reformas políticas visivelmente de esquerda e inclusive propondo a instalação de assembleia constituinte para modificar a Constituição Federal no meio da crise econômica e política mais séria que o Brasil já teve desde a redemocratização, e motivada pelas más opções ideológicas que estão presidindo a vida pública no Brasil - tomadas exatamente pelos grupos que serão beneficiados pela reforma política que a Igreja brasileira agora promove - essa fronteira fica, digamos, borrada: se os clérigos empenham seu precioso tempo em complicar os assuntos políticos, resta a nós, leigos, arcar com a situação um tanto desorganizada que se apresenta na nossa vida religiosa negligenciada. É preciso rezar. Alguém tem que fazê-lo.
Compreendemos que, no período da ditadura militar e da empolgação com uma leitura “descontinualista”, ou "de ruptura", do Vaticano II, e com a empolgação com uma “teologia da libertação” que nasceu na Alemanha e na URSS e foi trazida para a América Latina por alguns teólogos que estudaram ali no final da década de sessenta e na década de setenta, como se fosse uma “teologia latino-americana”, mas que na verdade é uma ideologia estrangeira que apenas tirou Jesus do centro da fé, retirando da Bíblia e da Tradição sua autoridade de Revelação, para substituí-los pelo socialismo, pelo “Pobre” e “Oprimido”, e por Marx e Gramsci, tenhamos perdido uma parte da Igreja brasileira para os esquerdistas, marxistas e socialistas. Isto decorreu, em grande parte, da circunstância política de então e, muitas vezes, da omissão dos bons católicos. Não se pode negar que alguma coisa boa ficou. Mas muita coisa péssima, também. Mas ainda há tempo de mudar.
É necessário iniciar uma grande corrente de oração, em frente às cúrias diocesanas, sedes de institutos religiosos e da CNBB ou mesmo paróquias pelo Brasil inteiro: a Igreja Católica de volta para os católicos! Seria talvez o caso de reunir semanalmente um grupo de leigos para rezar o terço nesta intenção, nas portas desses lugares, ou seja, cumprir o pedido do Papa Francisco de que todos rezemos pela fé dos nossos padres e bispos. É preciso que os bons padres e principalmente os bons bispos vejam que nós, povo católico, queremos que eles se posicionem mais corajosamente frente àqueles que já não têm fé, mas apenas querem usar a Igreja para fazer política ideológica. Eles podem parecer fortes, podem parecer maioria, mas não são. Estamos do lado de vocês: desafiem-nos com a verdade cristã! Deixemos de lado o engajamento político eclesial socialista, proponham-nos a verdadeira fé cristã, e sua verdadeira doutrina social. Quanto mais resgatarmos a verdadeira fé, mais gente haverá com vocês, do lado de Deus e da fé católica. E mais nossos pobres serão amados e nossos ricos, evangelizados. Ousemos retomar nossa identidade!
Pleitear a devolução da Igreja para os católicos não significa, de jeito nenhum, descuidar do grande diálogo com o mundo e com a cultura contemporânea, nem de abandonar o fervor missionário e evangelizador, nem de diminuir eventuais esforços de diálogo ecumênico e inter-religioso. o problema é que, muitas vezes a pretexto de diálogos assim, nós católicos perdemos a noção de quem somos. Vemos alguns de nossos pastores, ou seus delegados, a título de "diálogo com o mundo contemporâneo", tornarem-se algumas vezes tão mundanos quanto o mundo. A título de "diálogo com a cultura atual", renegarem o legado da Tradição católica. Ou a título de diálogo ecumênico, tornarem-se mais protestantes que os protestantes. para que o diálogo entre os católicos e estas realidades aconteça realmente, é preciso que do lado dos católicos haja verdadeiros católicos. Dialogar não significa renunciar nossa identidade, nem encher a Igreja de gente sem fé. Se não, não se trata de diálogo, mas de renúncia e destruição da própria Igreja.
Assim, como proposta de intenções a serem incorporadas nessa grande reza do terço em prol da fé católica em nosso país, sugerimos as seguintes:
- Que os sacerdotes estejam disponíveis aos fiéis leigos para as celebrações sacramentais, e que aconselhem o povo de Deus a frequentar a missa e educar seus filhos na fé católica.
- Que os sacerdotes voltem a estar disponíveis para confessar o povo, e ensinem aos leigos que a confissão sacramental, aliás a participação efetiva na vida sacramental como um todo, nunca foi revogada pelo Concílio Vaticano II.
- Os sacerdotes voltem a usar trajes eclesiásticos, conforme o direito canônico.
- Os religiosos voltem a rezar, e a usar os hábitos estabelecidos pelas respectivas regras de vida. Em especial os de vida ativa.
- As escolas e universidades católicas voltem a ser confessionais, e não apenas vagamente “espiritualizadas”.
- Os professores e formadores de seminário ensinem aos seminaristas a reta fé cristã, exposta em documentos como a “Dominus Jesus” e a “Libertatis Nuntius”, e sejam, caridosamente, impedidos de usar autores que solapam e destroem a fé católica, já notificados ou não pela Congregação da Doutrina da Fé. Que todo marxismo, toda teologia liberal protestante e todo enfraquecimento das normas de castidade e de disciplina sacerdotal seja banido dos seminários.
- Que a liturgia da Igreja tenha sua referência no Missal romano atualmente em vigor no mundo inteiro, revisando-se as traduções aberrantes como por exemplo falar “Ele está no meio de nós” quando toda a Igreja do mundo inteiro, durante os últimos dois mil anos, falou “et cum spiritu tuum”.
- Que invencionices locais bizarras, como o uso de música popular, as “respostas às orações eucarísticas” e a substituição de textos canônicos por poemas e outros textos não-bíblicos sejam proibidos. Que se eliminem as “homilias” paralelas feitas por “apresentadores” e “comentaristas” da missa que mais parecem os verdadeiros presidentes das celebrações, e que introduzem ritos descabidos e invencionices que descaracterizam o verdadeiro rito litúrgico, a ponto de o fiel desavisado duvidar se está mesmo na missa.
- Que se esvaziem os presbitérios das multidões de leigos uniformizados, devolvendo o centro da vida litúrgica para os sacerdotes e o centro da vida social e política para os leigos. Pela reversão da tendência de "clericização dos leigos", juntamente com a tendência de "laicização do clero".
- Que os catequistas ensinem aos catequizandos a verdadeira doutrina católica, e não uma “sociologia das religiões” ou uma espiritualidade meio difusa estilo new age. Que os sacerdotes se comprometam com a catequese, e acompanhem efetivamente os catequistas leigos no seu dia-a-dia.
- Não se trata de fazer a missa voltar a ser celebrada em latim. Mas que a língua utilizada nas celebrações litúrgicas seja ao menos uma língua utilizada pelos seres humanos, deixando as línguas angélicas para as celebrações ocorridas nas esferas dos anjos.
- Que as homilias passem a ser de novo para a edificação das almas na fé e na moral, e não para a “luta social” ou para a promoção de um “ecumenismo” vago ou uma “religiosidade” abstrata.
- Que as editoras católicas publiquem a verdadeira doutrina católica, e sejam fortemente recomendadas a retirar de catálogo autores já notificados pela Congregação da Doutrina da Fé da Santa Sé ou das respectivas Conferências Episcopais dos países de origem.
- Que os Bispos voltem a ser nossos guias seguros de fé e moral em todas as dioceses.
- Que os marxistas, os ateus e os não-católicos em geral que atualmente compõem as “comissões de Justiça e Paz” no Brasil inteiro sejam convidados a se converter e sejam efetivamente evangelizados, inclusive encaminhados para viver efetivamente uma vida sacramental.
- Que as campanhas da fraternidade e as “vias-sacras”, bem como os documentos da CNBB, deixem de lado as categorias sociológicas da “opressão” e da “luta de classes”, e a ideia de que os “pobres”, e não Jesus Cristo, são o centro da fé, para refletir a verdadeira Doutrina Social da igreja existente no respectivo Compêndio.
- Que nossos bispos e padres deixem de ser “intelectuais orgânicos”, líderes políticos ou militantes sociais e voltem a ser bispos e padres católicos.
Esta relação é exemplificativa, mas mostra como poderíamos usar, construtivamente, a energia que hoje usamos para combater o projeto de reforma política desastrosa que está sendo gerada no seio da Igreja brasileira para fazer aquilo que, acredito, é o anseio de muitos: ter, no Brasil, uma Igreja Católica cada vez mais santa, para construir um povo brasileiro mais santo, mais feliz, mais livre e mais próspero de verdade. Sem Marx. Sem Gramsci. Com Jesus.

* Procurador Regional da República e Mestre em Direito Econômico
 

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  • Paulo Briguet
  • 21 Maio 2015

 

A editora Boitempo escolheu Frei Betto para escrever a orelha e um professor marxista para escrever o prefácio da edição brasileira de O homem que amava os cachorros, romance do escritor cubano Leonardo Padura. É mais ou menos como se Richard Dawkins prefaciasseConfissões de Santo Agostinho. Pois o prefácio e a orelha são os únicos trechos dispensáveis nas quase 600 páginas deste livro magistral. Padura concebeu uma obra-prima literária sobre o medo e o desamor.

O livro conta a história de três homens: Liev Trotski, líder comunista soviético, expulso da Rússia por seu arquirrival Stalin; Ramón Mercader, militante stalinista e assassino de Trotski; e Iván Cárdenas Maturell, obscuro escritor cubano mergulhado na miséria e na desolação da ilha socialista.

Ancorado na pesquisa histórica, Leonardo Padura narra a história de Trotski a sofrer no exílio (Turquia, Noruega, França e México), enquanto seus antigos companheiros de revolução eram perseguidos e assassinados a mando de Stalin. Com notável poder descritivo, o autor reconstitui as faces de Mercader, agente comunista espanhol escalado e treinado para se infiltrar nos círculos trotskistas e matar o exilado a qualquer custo. Um de seus codinomes era Soldado 13. Entrementes, sem utilizar qualquer clichê sobre o tema, Padura conta os tormentos de Iván, que luta para sobreviver em um país mais parecido com um cárcere a céu aberto.

Tão diferentes, os três personagens possuem em comum o amor pelos cachorros. Mas há outra característica: são indivíduos esmagados pela força da ideologia e do coletivismo. A revolução só causa desgraças na vida de Trotski, Mercader e Iván. Para alguém que, como eu, já levou a sério o trotskismo e teve simpatias pelo regime cubano, a leitura de O homem que amava os cachorros é ainda mais impactante, por fazer a descrição do inferno de dentro para fora.
Poucos sabem, mas Ramón Mercader terminou seus dias como hóspede do regime cubano, em outubro de 1978. Após sair da prisão no México, migrou para a União Soviética (onde foi condecorado) e depois acabou preferindo mudar-se para a ilha tropical. Virou amigo e conselheiro de Fidel Castro.

“De que outra coisa podem falar os náufragos, a não ser do mar?”, diz, numa passagem do livro, o homem que treinou o Soldado 13. Espero sinceramente que os amigos esquerdistas leiam O homem que amava os cachorros. Para o ideal socialista, é um livro tão devastador quantoArquipélago Gulag, O Zero e o Infinito ou A Revolução dos Bichos. Náufragos, falem do mar.

http://www.jornaldelondrina.com.br/blogs/comoperdaodapalavra

* Jornalista
 

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