É preciso acabar de uma vez por todas com a lenda segundo a qual a presidente Dilma Rousseff enfrenta imensas dificuldades políticas porque não é afeita ao varejo das negociações com o Congresso e porque ela tampouco se anima a se expor aos eleitores em busca de popularidade. O desastre de sua presidência não resulta dessas características, e sim de sua incontestável incapacidade de diagnosticar os problemas do País e de ministrar-lhes os remédios adequados. A esta altura, a maioria absoluta dos brasileiros, de todas as classes sociais, já se deu conta de que o problema de Dilma não é sua reclusão ou sua ojeriza aos políticos, mas simplesmente sua incompetência. Prometeram-lhes uma “gerentona” e lhes entregaram uma estagiária.
Portanto, tende a ser inútil a mais nova ofensiva de comunicação planejada pela assessoria da presidente com o objetivo de reverter o mau humor do País em relação ao governo petista. Inútil porque, enquanto se tenta mostrar uma Dilma mais “humana”, que é o que pretendem os marqueteiros do Planalto, conforme revelado em recente reportagem do Estado, os problemas concretos que resultam de sua má gestão continuarão a assombrar os brasileiros na vida real, especialmente o desemprego, a queda da renda e a inflação.
A mudança na comunicação de Dilma é tratada como questão de urgência urgentíssima, pois a pressão sobre a presidente é intensa. Estão programadas para o dia 16 de agosto manifestações que, a julgar pela pronunciada queda de popularidade da presidente, devem ter grande afluência e visibilidade. Além disso, crescem as suspeitas de que as falcatruas constatadas pela Operação Lava Jato podem ter ajudado a irrigar as campanhas eleitorais petistas, inclusive a de Dilma. E há também a percepção de que a irresponsabilidade fiscal da presidente ao longo de seu primeiro mandato, maquiada por truques contábeis, pode resultar em um processo que comprometa de vez o seu mandato. Tudo isso se dá em meio à certeza de que sua base no Congresso é apenas nominal, não representando nenhuma garantia de sustentação, especialmente em meio ao azedume da opinião pública nacional com o espantoso escândalo de corrupção na Petrobrás e com o desastre na economia.
Anuncia-se que o novo arsenal de comunicação de Dilma incluirá a participação da presidente em programas populares de TV e também a criação de um site chamado Dialoga Brasil, em que ministros responderão a dúvidas, sugestões e críticas dos internautas sobre programas do governo. Além disso, Dilma pretende fazer um giro por cidades do Nordeste com a difícil missão de tentar demonstrar que ainda tem popularidade – ela teve expressiva votação na região na eleição de 2014, mas mesmo lá, segundo as últimas pesquisas, a desaprovação a seu governo disparou.
As recentes tentativas de Dilma para melhorar sua imagem foram feitas a partir de iniciativas pessoais, com resultados embaraçosos – ela chegou a saudar a mandioca e a elogiar a “mulher sapiens” em um discurso. Além disso, ao dizer que defenderia seu mandato “com unhas e dentes”, Dilma trouxe o tema do impeachment definitivamente para a pauta política. Até os áulicos da presidente consideraram essas manifestações desastrosas.
Agora, porém, a mobilização do Planalto parece se dar de acordo com as diretrizes de seu padrinho, o ex-presidente Lula, que várias vezes cobrou de Dilma que viajasse mais pelo País e encostasse “a cabeça no ombro do povo” para ouvir suas queixas. Lula também pretende viajar pelo Nordeste e convencer os movimentos sociais a se mobilizar na defesa de sua afilhada. A estratégia para “vender” um governo ativo, com uma “agenda positiva”, foi combinada por Lula com Dilma em um encontro no Alvorada na semana passada, segundo o jornal O Globo.
Dilma, Lula e os petistas agarram-se assim à crença de que basta melhorar a comunicação com os eleitores para que esse combalido governo comece a respirar e a dar a volta por cima. De fato, a atividade política é baseada em imagem, marketing e slogans, mas, como mostram as agruras de Dilma, só isso não é suficiente: se a embalagem do produto vendido estiver vazia, o consumidor se sentirá enganado e não tornará a comprá-lo. eu não votei nela pois não conseguiu nem continuar com uma loja de 199,0 como vai governar o brasil e acaba tirando direitos do povo brasileiro tem que diminuir 12 ministerios ou mais ai economizara muito e tambem cancelar cartoes corporativos
Caro ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
Fico sabendo, pela Folha, que antes Lula e agora Dilma estariam dispostos a “conversar” com o senhor sobre o impeachment, ou seja, traduzindo para os leigos: eles teriam interesse em algum tipo de “acordão” para evitar um eventual processo de impedimento da presidente. O senhor já aproveitou seu espaço nos jornais para transmitir a mensagem de que considera o impeachment um último recurso muito traumático para a democracia, e que não enxerga, ainda, motivos para seguir nessa linha. Suas colocações atiçaram as esperanças dos líderes petistas de um pacto com o PSDB.
“Em todos os países democráticos é natural que ex-presidentes conversem e, muitas vezes, que sejam chamados pelos presidentes em exercício. Essa é uma prática comum nos Estados Unidos, por exemplo”, afirmou o ministro Edinho Silva, chefe da Secretaria de Comunicação Social do Palácio do Planalto. “Vejo com bons olhos a possibilidade de diálogo entre Fernando Henrique e Lula, como vejo com naturalidade que o mesmo aconteça com a presidenta”, concluiu. Mas nós, brasileiros indignados, aqueles quase 70% que rejeitam o governo Dilma, não vemos com bons olhos essa aproximação.
Serei franco na largada, caro FH: tenho sentimentos ambíguos em relação à sua pessoa. Do seu passado mais distante, como intelectual, nem preciso dizer que tenho aversão. Mas acho que até você já andou reconhecendo que deveríamos esquecer muito do que escrevera naqueles tempos, não é mesmo? Teoria da Dependência? Quanta baboseira terceiromundista! Coisa de um Marco Aurélio Garcia da vida. Depois o senhor evoluiu, virou um social-democrata mais esclarecido, mas ainda estava lá o ranço de socialista fabiano, que nunca o abandonou por completo.
Já como ex-presidente tenho coisas boas e ruins a falar. Menos por convicção ideológica e mais por necessidade, o fato é que importantes reformas foram feitas durante o seu governo. Privatizações importantes ocorreram, a Lei de Responsabilidade Fiscal passou, o Plano Real venceu a hiperinflação e o Banco Central teve autonomia para perseguir a meta de inflação. O câmbio passou a flutuar, após nossas reservas se esvaírem quase completamente. Ou seja, o senhor teve algum mérito na criação do “tripé macroeconômico”.
Por outro lado, e por conta daquele ranço socialista, várias medidas “sociais” tiveram começo no seu governo. Cotas raciais, por exemplo, um absurdo que segrega a população brasileira com base na cor. As bolsas-esmolas, que o PT unificou e transformou no maior esquema de compra de votos já visto na República. O MST, que continuou recebendo verbas públicas para desrespeitar as leis com suas invasões inaceitáveis. Enfim, o senhor foi um legítimo presidente de esquerda, apesar de ser “acusado” de “neoliberal” pela esquerda mais jurássica e pérfida.
E essa esquerda é justamente o PT. Como o PT o demonizou, presidente! Fez sua caveira perante a opinião pública, com o conluio dos “jornalistas” da esquerda radical. Devido ao fato de os tucanos serem um tanto pusilânimes e também não terem convicção liberal alguma, não souberam defender o seu legado. Teve que vir um liberal como eu para escrever Privatize Já, livro em que mostro como as suas privatizações fizeram bem ao país. Os tucanos ficavam na defensiva, tentando se desvencilhar da pecha de “privatistas” ou “neoliberais”. Veja só que coisa, presidente!
Sua postura, tomo a liberdade de dizer, fez muito mal ao país, em termos pedagógicos. Os leigos não compreenderam a relevância das reformas de cunho liberal feitas em sua gestão, e ainda ficaram com a nítida impressão de que direita significa PSDB, o que eu e você sabemos ser ridículo. O senhor se identifica mais com Thatcher ou Tony Blair? Com Reagan ou Clinton? Nós sabemos a resposta, mas muitos, influenciados pelo PT, não. E eis que direita, no Brasil, passou a ser associada aos tucanos de esquerda.
Mas como “oposição” a uma outra esquerda, bem mais radical e que não joga nas regras do jogo, o senhor tem uma responsabilidade, um dever moral para com o Brasil. Muitos já atribuem ao seu esforço a tática tucana de não pressionar pelo impeachment de Lula durante o mensalão. Não sei até que ponto isso é verdade, mas veja, presidente, o mal que isso fez ao Brasil. Imagine se Lula tivesse sido exposto naquele ano de 2005: como as coisas estariam melhores hoje! Mas o PSDB optou pela estratégia de “deixar o homem sangrar”. Bem, como Jason, do Sexta-Freira 13, o populista-mor ressuscitou e ainda emplacou depois sua criatura por duas vezes, contra os seus companheiros tucanos.
Deixe-me lhe dizer uma coisa, presidente: traumático para a nossa democracia não é o impeachament, mas a manutenção do PT no poder! Entenda isso de uma vez por todas. Sei que, apesar de tudo que o PT já fez com o senhor, você ainda tem, lá no fundo, uma admiração pela trajetória do metalúrgico, do sindicalista oportunista. O senhor enxerga com bons olhos essa trajetória, pois tem alma de esquerdista, e ainda valoriza mais a classe do que o mérito individual. Lula veio de baixo, é verdade, mas como chegou no topo? De forma honesta, legítima? Ou como um populista safado?
Não vem mais ao caso. O fato é que milhões de brasileiros já sabem que Lula é um oportunista, um populista autoritário, e que seu PT precisa ser colocado para fora do governo o mais rápido possível, se desejamos preservar nossa democracia. Os brasileiros estão revoltados, presidente. Cansados demais. Inclusive da postura acovardada de muitos tucanos. Por que o senhor acha que Jair Bolsonaro teve 5% de intenções de voto para presidente na recente pesquisa da CNT, que mostrou apoio de somente 7,7% à Dilma? Por que o senhor acha que Aécio Neves só teve chances mesmo quando começou a subir o tom, a enfrentar o PT com mais determinação, a apontar para seu relacionamento obscuro com Cuba?
Sei que seu partido está rachado, que há uma ala mais jovem que quer partir para o enfrentamento, para a briga, e que uma ala mais velha pretende manter a “cautela”, o “diálogo”. Mas presidente, dá para dialogar com o PT? É possível “conversar” com gente do Foro de São Paulo, que apóia o Maduro na Venezuela? Dá para trocar ideias com quem apela para os golpes mais baixos nas campanhas? O PT cospe diariamente nos tucanos, e os tucanos vão se curvar diante dos petistas agora, justo quando a população está de saco cheio do partido, inclusive do ex-presidente Lula?
Seria uma decisão mortal para o PSDB, presidente. Seria o atestado de óbito do partido, que nunca soube bem como ser oposição ao PT. Se o PSDB afrouxar agora, se os tucanos permitirem uma aproximação com Lula e Dilma em prol da “governabilidade” até 2018, tirando o impeachment do caminho, ninguém mais levará o PSDB a sério. Se é para ser essa esquerda podre, já tem o PT. E se é para ser oposição a essa esquerda podre, agindo assim, o PSDB não terá utilidade, e Bolsonaro ou Ronaldo Caiado vão absorver sozinhos toda a revolta popular.
O Brasil precisa, urgentemente, de um partido realmente liberal e outro realmente conservador, de direita. Claro que o PSDB não tem nada com isso, pois é, como já disse, de esquerda, social-democrata. Mas numa democracia madura, há um espaço legítimo para tal esquerda. Que o PSDB ocupe tal espaço, e não os golpistas do PT, é o que as pessoas decentes e esclarecidas esperam. Mas, para tanto, o PSDB terá de agir com firmeza contra a outra esquerda, a carnívora, a jurássica, representada pelo PT e seus auxiliares, como o PSOL.
Recusar de forma peremptória qualquer aproximação ou acordo nesse momento com os golpistas do PT é condição sine qua non para preservar o PSDB no papel de ícone da esquerda democrática brasileira. Se os tucanos não compreenderem o momento em que o Brasil vive e acenarem com um acordo para impedir o impedimento de Dilma, então terá o mesmo destino do próprio PT: a extinção. E terei prazer, se isso acontecer, em ser um dos que jogarão a pá de cal. Mas tenho esperanças de que isso não será necessário. Conto com sua sabedoria, presidente!
Rodrigo Constantino
(ZH, 27 de julho de 2015)
Lula acha que os governos do PT são criticados e que a popularidade de Dilma é de apenas 7% porque graças a ele, Lula, os pobres agora viajam de avião e comem em restaurantes.
Sério, ele pensa isso.
Sua frase, durante um discurso para 200 pessoas no ABC paulista, no fim de semana, foi a seguinte:
"Eu ando de saco cheio. Tudo que é conquista social incomoda uma elite perversa neste país".
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É estranho. Jurava que a elite amava Lula. Afinal, vejamos:
1. Nunca na história deste país, os banqueiros obtiveram tantos lucros como nos governos do PT;
2. A elite política, representada por Maluf, Sarney, Calheiros, Temer, entre outros, sempre esteve fechada com Lula. Um de seus aliados, Fernando Collor, inclusive, pôde montar uma linda coleção de carros de playboy durante as administrações petistas;
3. Empresários emergentes, como Eike Batista, emergiram de vez graças a generosos empréstimos do BNDES, mesmo que depois tenham submergido;
4. Há vários amigos próximos de Lula morando atualmente no Paraná, todos com sobrenomes famosos, como Odebrecht, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Um deles até o apelidou, carinhosamente, de "Brahma".
Esses é que são a elite do Brasil. A elite do Brasil mora em tríplex, como Lula. Roda em Maseratis, como Collor. Tem contas na Suíça, como Odebrecht. Assalariados, como eu e a maioria dos meus amigos, não pertencemos à elite. Mas Lula quer dizer que sim. Quer dizer que eu, filho de professora primária e neto de sapateiro, que sustento minha família com meu salário, amigo de aposentados que ganham mil reais por mês, de funcionários públicos que pagam aluguel, de jornalistas que andam de ônibus, Lula quer dizer que eu e toda essa gente que sofre com o desconto do Imposto de Renda, com a falta de água e de luz a cada chuva, com as ruas esburacadas, com os assaltos, com a educação deficiente, com os hospitais lotados e com o preço do tomate, Lula quer dizer que nós somos da elite?
Não somos, Lula. E tampouco nos importamos, eu e todas, absolutamente todas as pessoas que conheço, com pobres que frequentem restaurantes ou aeroportos. Nos importamos é com um país em que os assalariados pagam imposto para ter segurança, saúde e educação públicas e, ao mesmo tempo, pagam por segurança, saúde e educação privadas. Nos importamos é com um país que coloca presos em masmorras medievais, um país em que 60 mil pessoas são assassinadas e outras 50 mil morrem em acidentes de trânsito a cada ano, um país em que são gastos bilhões para construção de estádios em lugares onde praticamente não existe futebol, um país que tem sua principal estatal sangrada em bilhões de dólares pela navalha da corrupção. É com isso que nos importamos, nós, que você chama de elite perversa. Nós, elite perversa? Não. Elite perversa são seus amigos magnatas que o levam para passear de jato fretado, são seus intelectuais apaniguados, seus jornalistas financiados, seus donos de blogs comprados, seus parlamentares cooptados. Você, Lula, e os parasitas dos trabalhadores do Brasil, vocês são a elite perversa.
(Publicado em Direto ao Ponto)
Lula anunciou no começo do mês a descoberta da fórmula que garantiria à detentora do recorde mundial de rejeição a reconquista do título de campeã brasileira de popularidade: bastaria abandonar por uns tempos o local do emprego e sair por aí tapeando plateias que amam vendedores de fumaça. “Ela conviveu muito tempo comigo e sabe que, nas horas difíceis, nas horas mais difíceis, não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo”, pontificou o doutor honoris causa em bravata & bazófia. “É preciso conversar com ele, explicar quais são as dificuldades e quais são as perspectivas”.
Para sorte da afilhada, nem o padrinho onisciente sabe onde fica essa parte da nação: se Dilma conseguisse encostar a cabeça no ombro do mundaréu de indignados, vaias e panelaços nunca antes ouvidos neste país produziriam estragos de bom tamanho no aparelho auditivo presidencial. Prudentemente, o neurônio solitário só se aproximou de plateias que aplaudem até acessos de tosse. Nem por isso escapou de afundar mais alguns metros na pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes. A mulher que não diz coisa com coisa talvez adiasse o afogamento se não tivesse dito tanta coisa de assustar doido de pedra.
Entre outros prodígios, o neurônio solitário saudou a conquista da mandioca, ordenou à homenageada que comungasse com o milho, descobriu a mulher sapiens, inventou o etanol que dá em planta, pintou de verde e amarelo o combustível brasileiríssimo, virou mais uma vez a página do Petrolão que a Operação Lava Jato ainda está escrevendo e enxergou na roubalheira da Petrobras a versão 2015 da Inconfidência Mineira, fora o resto. A bula do remédio receitado por Lula decerto omitiu a lista de efeitos colaterais. Um deles deixa com cara de suplente de vereador presidentes da República reeleitos seis meses antes.
O formidável fiasco não desativou a fábrica de ideias de jerico, revelou aFolha nesta quarta-feira. Acuado pela enxurrada de más notícias procedentes de Curitiba, Lula resolveu transformar Fernando Henrique Cardoso na corda que vai resgatá-lo do buraco negro em que se meteu. Sempre sinuoso, valeu-se de emissários para saber se FHC toparia um encontro clandestino. Gente que mente só se sente à vontade em conversas a dois: a ausência de testemunhas permite a divulgação de versões sem qualquer compromisso com a verdade.
É o que faria o camelô de empreiteira se o alvo do truque não tivesse desmontado a armadilha com um email publicado pela Folha: “O presidente Lula tem meus telefones e não precisa de intermediários. Se quiser discutir objetivamente temas como a reforma política, sabe que estou disposto a contribuir democraticamente. Basta haver uma agenda clara e de conhecimento público”. Os acólitos juram que o chefe da seita estendeu a mão ao inimigo por amor à pátria. Quer ajuda para manter Dilma no emprego. Papo de 171. Lula só pensa em Lula. O que pretende é salvar-se a si próprio — e prorrogar a sobrevida do sonho de voltar ao gabinete presidencial.
O que FHC precisa ouvir é a voz do país que presta. Não se tira para uma valsa quem só sabe dançar quadrilha. E o sentimento da honra não foi revogado pela era da canalhice. Desde 2003, quando acusou o antecessor de ter-lhe repassado uma “herança maldita”, o grande farsante não parou de atribuir ao homem que o derrotou duas vezes (ambas no primeiro turno) todos os males do Brasil. Primo da inveja, o ressentimento nunca passa. Há dois meses, o governante que jamais leu um livro atribuiu ao sociólogo brilhante até a paternidade do escândalo nascido e criado na cabeça baldia do chefão do bando gerenciado por José Dirceu.
“Quem criou o Mensalão foi o governo do FHC, quando estabeleceu a reeleição no país”, fantasiou em 12 de maio o São Jorge de bordel. A invencionice cafajeste foi reprisada uma semana depois: “Se o FHC quisesse falar de corrupção, ele precisaria contar para este país a história de sua reeleição”, reincidiu o palanque ambulante em 20 de maio. “Eu espero que, com a mesma postura com que ele foi agredir o PT ontem à noite na TV, ele diga - se não quiser dizer para mim não tem problema, eu sei como foi. Senta na frente do seu neto e conta pra ele”. Caso sobrasse tempo, o avô também deveria confessar que quebrou três vezes o Brasil.
Por que Lula e Dilma querem agora ouvir o que pensa o Grande Satã? Por que o maior dos governantes desde Tomé de Souza anda mendigando encontros com o ex-presidente que o obrigou a reconstruir a nação em frangalhos? Porque sempre que se vê em apuros o espertalhão de ópera-bufa faz qualquer negócio para safar-se da enrascada. Até vender a mãe em suaves prestações e entregá-la em domicílio. Ou fingir que não liga o nome à pessoa quando alguém pergunta se já foi apresentado a Rosemary Noronha.
Por Ruth Cardoso e por milhões de vítimas da grande farsa, por tudo isso e muito mais, Fernando Henrique Cardoso tem o dever de ensinar a Lula que gente honrada não desperdiça palavras com quem só sabe falar a linguagem da infâmia.
Para muitos uma provocação, desrespeito, uma afronta. Para outros, - como para o Diretor da Sala de Imprensa do Vaticano - nada de "ideologia", mas um "sinal de diálogo muito aberto". No retorno da viagem apostólica pela América Latina, o Papa Francisco esclareceu o polêmico episódio do crucifixo talhado sobre o símbolo comunista da foice e do martelo que recebeu do Presidente da Bolívia [1].
[JORNALISTA]. Santidade, o que sentiu ao ver o Cristo sobre a foice e o martelo que o presidente Morales lhe ofereceu? Onde está este objeto agora?
[FRANCISCO]. É curioso, eu não conhecia isso e não sabia que o padre Espinal era escultor e ainda poeta. Eu soube estes dias. Quando vi, para mim foi uma surpresa. Segundo: pode-se qualificar como um gênero de arte de protesto. Por exemplo, em Buenos Aires, há alguns anos, fez-se uma exposição de um bom escultor, criativo, argentino - agora está morto -: era arte de protesto, e eu me lembro de uma obra que era um Cristo Crucificado sobre um bombardeiro que ia descendo. Era uma crítica do cristianismo que se aliou com o imperialismo, o bombardeiro. Então, primeiro, EU NÃO SABIA DE NADA; segundo, eu o qualificaria como arte de protesto que, em alguns casos, pode ser ofensivo, em alguns casos. Terceiro, neste caso concreto: o padre Espinal foi morto na década de 80. Era uma época em que a Teologia da Libertação tinha várias vertentes diferentes, uma delas era a análise marxista da realidade, e o padre Espinal pertencia a esta. Eu sabia, porque naquele tempo eu era reitor da Faculdade de Teologia e se falava muito disso, das diversas vertentes e dos seus representantes. No mesmo ano, o superior geral da Companhia de Jesus redigiu uma carta sobre a análise marxista da realidade na teologia, um pouco de "parar isso", dizendo: não, não, as coisas são diferentes, não é certo, não é justo. Quatro anos depois, em 84, a Congregação para a Doutrina da Fé publica o primeiro documento, pequeno, a primeira declaração sobre a Teologia da Libertação, e a critica. Depois o segundo, que abre a perspectiva mais cristã. Estou simplificando. Façamos a hermenêutica daquela época. Espinal é um entusiasta dessa análise marxista da realidade, mas também da teologia, usando o marxismo. Daí vem aquela obra. A poesia de Espinal também é daquele gênero de protesto: era a sua vida, era o seu pensamento, era um homem especial, com tanta genialidade humana, e que lutava com boa fé. FAZENDO UMA HERMENÊUTICA desse tipo EU COMPREENDO AQUELA OBRA. PARA MIM, NÃO ERA UMA OFENSA. Mas eu tive que fazer essa hermenêutica, e a digo a vocês para que não haja opiniões erradas. ESTE OBJETO AGORA EU CARREGO COMIGO, VEM COMIGO. O PRESIDENTE MORALES quis me dar duas honrarias: uma é a mais importante da Bolívia, e a outra é a Ordem do Padre Espinal, uma nova ordem. Agora, eu não aceito mais honrarias, não posso... MAS ELE FEZ ISSO COM BOA VONTADE E COM O DESEJO DE ME AGRADAR. EU PENSO QUE VEM DO POVO DA BOLÍVIA - eu orei sobre isso, e pensei: se levo para o Vaticano, vão para o museu e ninguém verá. Então eu pensei em deixar para Nossa Senhora de Copacabana, a Mãe da Bolívia, e vai para o Santuário de Copacabana, a Nossa Senhora, estas duas honrarias que eu entreguei. MAS O CRISTO EU TRAGO COMIGO. Obrigado [2].
Esta é a posição do Papa sobre o assunto. Não é o propósito aqui considerar a resposta de Francisco ponto a ponto. Não. Interessa apenas um breve trecho: o que trata da "boa vontade" e do "desejo de agradar" de Evo Morales.
Em 2009, o Presidente da Bolívia participou do 9o Fórum Social Mundial (FSM). Um evento que é apresentado como um "contraponto" ao Fórum Econômico Mundial de Davos, apesar de ser concretamente um instrumento para a promoção do projeto de poder comunista latino-americano e um braço do Foro de São Paulo [3]. Evo Morales juntou-se ao tiranete venezuelano Hugo Chávez, ao então Presidente do Paraguai e "apóstolo" da Teologia da Libertação, Fernando Lugo, e a Rafael Correa, Presidente do Equador. Em Belém, no estado do Pará, o cocaleiro que preside a Bolívia fantasiado de índio disse o seguinte:
"Na Bolívia apareceram novos INIMIGOS; já não é somente a imprensa e a direita, senão, quero dizer para os irmãos e irmãs, grupos da IGREJA CATÓLICA. Os hierarcas da Igreja Católica, inimigos das transformações pacíficas. Eu estava refletindo um pouco, quero dizer-lhes. Como se grita permanentemente "outro mundo é possível", eu quero dizer, OUTRA FÉ, OUTRA RELIGIÃO, OUTRA IGREJA também é possível, irmãs e irmãs".
O público foi ao delírio com as acusações de Evo Morales. Um público formado por militantes políticos disfarçados de "movimentos sociais" - a mesma militância que o boliviano recebeu em seu país recentemente para participar com o Papa Francisco do "II Encontro Mundial de Movimentos Populares" [4]. João Pedro Stédile - o líder do "exército" do MST [5] - estava ao lado daqueles quatro Chefes de Estado comprometidos com o projeto comunista latino-americano.
No mesmo ano de 2009, Evo Morales foi mais direto sobre como combater o seu "inimigo":
"A IGREJA CATÓLICA é um símbolo do colonialismo europeu e, portanto, deve DESAPARECER da Bolívia" [6].
O cocaleiro boliviano estava disposto a determinar o controle estatal sobre a Igreja Católica para reduzir o âmbito de suas ações, uma vez que a considerava uma instituição "tradicionalista" [7].
No entanto, em 2013, veio a "conversão" - segundo o próprio Evo Morales, após ouvir Francisco dizer que "um cristão, se não é revolucionário hoje em dia, não é um cristão":
"Depois de escutar algumas mensagens do Papa, volto a confiar novamente na Igreja Católica" [8].
Disse que "Jesus Cristo foi o primeiro socialista do mundo" [9] e que a Jornada Mundial da Juventude no Brasil seria para "relançar a Teologia da Libertação", uma iniciativa com a qual, afirmou, "compartilho bastante" [10].
Não. Não é o caso de discutir a relação entre Francisco e a Teologia da Libertação. Independentemente disso, Evo Morales está empenhado em fazer do Papa um dos seus "apóstolos". A mudança de postura do cocaleiro com relação à Igreja Católica não é um sinal de "conversão". Trata-se de uma conveniência, uma oportunidade política. O mesmo aconteceu com o crucifixo talhado sobre a foice e o martelo. Ora, será que o Presidente da Bolívia não pensou sequer na repercussão - inevitável - de oferecer a Francisco uma peça e uma honraria com um símbolo comunista? O objetivo de Evo Morales é um só: instrumentalizar a fé para ampliar e fortalecer o projeto de transformar a América Latina na imensa "Patria Grande" comunista. Não se questiona a generosidade e a benevolência do Papa, mas "boa vontade" o índio de araque não teve, e as suas ofertas definitivamente não foram apenas uma expressão do "desejo de agradar".
REFERÊNCIAS.
[1]. "Francisco: a cruz, a foice e o martelo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/07/francisco-cruz-foice-e-o-martelo.html].
[2]. Cf. [http://w2.vatican.va/content/francesco/it/speeches/2015/july/documents/papa-francesco_20150712_paraguay-conferenza-stampa.html]. Trad. Bruno Braga.
[3]. Cf. "A 'prestação de contas' do ex-Secretário do Foro de São Paulo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/05/a-prestacao-de-contas-do-ex-secretario.html]; KINCAID, Cliff. "Grupo católico revela influência vermelha no Vaticano". Trad. Bruno Braga [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/06/grupo-catolico-revela-influencia.html].
[4]. Cf. [1].
[5]. "Lula ameaça com 'exército' do MST" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/02/lula-ameaca-com-exercito-do-mst.html].
[6]. "La Iglesia Católica es un símbolo del colonialismo europeo y por la tanto debe desaparecer de Bolivia", CNN, 24 de Junho de 2006, apud "Panorama Católico Internacional" [http://panoramacatolico.info/articulo/la-iglesia-catolica-debe-desaparecer-de-bolivia-dice-evo-morales].
[7]. Idem.
[8]. Erbol, 02 de Setembro de 2009 [http://www.erbol.com.bo/noticia/politica/02092013/evo_otra_vez_vuelvo_confiar_en_la_iglesia_catolica].
[9]. Terra, 29 de Julho de 2013 [http://noticias.terra.com.ar/mundo/renuncia-y-sucesor-de-benedicto-xvi/evo-morales-apoyara-a-catolicos-si-relanzan-teologia-de-la-liberacion,adc800b16cb20410VgnCLD2000000dc6eb0aRCRD.html]
A internet trouxe vários efeitos benignos, que todos conhecemos. Mas também trouxe alguns vírus: a malignidade da rede aberta. Mesmo assim, qualquer ideia de regular, censurar ou monitorar a rede é uma aberração contra a qual temos que lutar até as vias de fato.
O escritor Umberto Eco chama de "máquina de lama" a miríade de sites destinados a propagar informações falsas - na qual muitos incautos caem -, inverdades e fraudes que versam o outro lado da verdade. Porém, lembro a vocês que não existem dois lados para a verdade: o outro lado da verdade é a mentira. O que tem faces diversas são as opiniões, a visão dos fatos. Mas fato é fato. Não tem meio-fato. O que não é fato, mas divulgado como tal, é factoide, ou seja, mentira. Cuidado com elas.
Eco diz que os sites que espargem verdades inventadas, são a versão atualizada e repaginada, com novo layout editorial, dos veículos sensacionalistas de um passado nem tão distante. Diante desse ambiente, a função da imprensa profissional é apurar fatos, checá-los e, a partir deles, fazer suas análises. Permitindo inclusive, a publicação da opinião do divulgador do fato jornalístico, mesmo diante de uma visão que pode ser controversa. Mas a verdade ignora o lado de quem a divulga. Faz pouco caso da elegância ou da estética. A verdade não participa de concursos de beleza, tampouco de concurso de simpatias. Não tem cores, não tem bandeiras, ideologias ou partidos. Não torce por ninguém, pois que se basta em si mesma, simplesmente por ser a verdade. Isso faz da verdade algo ímpar, sem cópias,subtítulos ou linhas de apoio. A verdade é pontual, e ponto!
A verdade é a ferramenta do verdadeiro jornalismo, e serve de espada e escudo ao leitor interessado. "Os jovens leem os jornais para saber se o que veem na internet é verdadeiro ou falso", disse o escritor há algumas semanas ao jornal espanhol El País, em entrevista.
A análise aparentemente em nível de superfície, feita por Umberto Eco, na verdade tem raízes extremamente profundas e consolidadas, e vale muito para o Brasil do momento. O Brasil atual, o qual nenhum de nós queria ver e ter que conviver. Seguramente gostaríamos que fosse apenas um sonho ruim, daqueles pesadelos que temos depois de um porre de vinho de má qualidade. Muita dor de cabeça e indisposição, mas que passa até a hora do almoço, depois que acordamos. Pena que seja mais que um porre. É uma brutal infecção, gestada há décadas, que agora eclode em septicemia social e moral, com efeitos colaterais de total ausência de ética, decência e moral. Nos tornamos a nação dos desmoralizados.
Nunca antes na história desse país a Justiça, todas as polícias e o Ministérios Público, trabalharam com tanta liberdade...até que a pata suja do Estado começasse a se mostrar, tal como agora, com determinação de que investiguem o Promotor Federal que indiciou Lula; da proibição do Juiz Federal Sergio Moro de emitir decisão sobre indiciamento de Eduardo Cunha, por ordem do ordenança do reino, Ricardo Lewandowski.
Até aqui, antes do retrocesso com sintomas fétidos, empresários e políticos poderosos foram investigados e muita sujeira saiu debaixo do tapete, borbulharam os bueiros entupidos com os dejetos da corrupção. Outros tantos, por decisão abalizada da Justiça, foram encarcerados. Isto foi um sinal de saúde democrática, em meio a história repleta de imoralidade e privação de liberdade e autonomia dos poderes. Um sinal de democracia madura, mas que começa a dar seus sinais de falência, caso a inércia dos cidadãos permita a reconstrução da pizzaria.
Jornalismo não é militância, e nem pode ser. Cabe à imprensa profissional manter a sobriedade. Mais: a serenidade e a independência absoluta. Fazer jornalismo para o leitor é a regra fundamental. Nunca, penas à soldo.
O exemplo mais profundo do jornalismo verdade que se tem buscado - e encontrado em alguns veículos, e em muitos trabalhos independentes, porém muito profissionais - foi a afirmação de Emílio Odebrecht, que disse em entrevista à uma revista, diante da iminência da prisão de seu filho Marcelo: "Ao prenderem o Marcelo, terão que arrumar mais três celas. Uma para mim, uma para o Lula e outra para Dilma".
"A existência da imprensa é uma garantia de democracia, de liberdade", disse Umberto Eco naquela entrevista aos espanhóis. Que as sábias palavras de Umberto façam Eco em nossos ouvidos e que não deixemos passar o bonde superlotado da história, da qual somos partícipes, autores e atores.
Estamos cansados de ser os mal pagos coadjuvantes de um história suja, onde os que nos roubam o circo sempre ficam com a parte do leão.
*Jornalista