• Guilherme Fiuza
  • 28 Setembro 2015

O dólar e os termômetros andam apostando corrida para ver quem derrete o Brasil primeiro. Os dois vão perder, porque vilão aqui não tem vez. O país já está sendo desmilinguido pelos heróis do povo. Veja a cena: João Vaccari, o tesoureiro da revolução, é condenado a 15 anos de prisão na Operação Lava-Jato; ao mesmo tempo e no mesmo planeta, o PT vira líder da proibição de doações eleitorais por empresas — exatamente onde Vaccari fez a festa para abarrotar os cofres do partido. Enquanto você olhava para esta cena de moralização explícita, os companheiros no STF enfiavam a faca na Operação Lava-Jato — em mais uma ação heroica para salvar o Brasil da gangue de Sergio Moro.

O Supremo Tribunal companheiro só vai conseguir cozinhar a Lava-Jato se você continuar olhando para a cena errada. Caso contrário, a operação prosseguirá mais abrangente e infernal que um arrastão no Arpoador. Podem fatiar à vontade, podem mandar processo até para o quintal do Sarney, que a maior investigação da história da República haverá de varrer inexoravelmente tudo, como água morro abaixo e fogo morro acima. Mas se você zapear para o Discovery Channel, onde a reforma política do PT está salvando a democracia das garras do capitalismo selvagem, a Lava-Jato poderá virar um retrato na parede de um triplex no Guarujá.

Quem achava que tinha chegado ao fim a capacidade do brasileiro de ser ludibriado pela demagogia coitada, errou feio. Eis que surge o Partido dos Trabalhadores, todo melecado de pixulecos de variados calibres, no centro de uma orgia bilionária onde inventou a propina oficial com doações eleitorais de empresas, propondo o fim das... doações eleitorais de empresas. Você teve que ouvir: o PT quer purificar o processo eleitoral brasileiro, protegendo-o da influência do poder econômico. É o socialismo de porta de cadeia.

O Brasil cai em todas, e não deixaria de cair em mais essa. O companheiro monta em cima, rouba, estupra, enfia a mão na bolsa da vítima tentando arrancar mais uma CPMF, e ao ser pego em flagrante, grita: vamos discutir a relação! A vítima se senta, acende um cigarro, faz um ar inteligente e começa a debater o celibato das empresas no bordel eleitoral. Contando, ninguém acredita.

Boa parte das democracias no mundo permite a doação eleitoral de empresas. E também há várias que não permitem. Evidentemente, o problema não é esse. Os tesoureiros do PT ordenharam todo tipo de empresa no caixa dois do mensalão, no caixa um do petrolão, e saberão atualizar seu manual de extorsão de acordo com qualquer nova legislação vigente. Bandido é bandido — e não é para eles que se legisla. O problema é que o Brasil tem bandidos do bem, progressistas e humanitários. E quando eles gritam contra o poder econômico — mesmo já sendo podres de ricos — os brasileiros se comovem.

Com a missão cumprida, tendo colado o selo oficial de caloteiro na testa do Brasil após 12 anos de pilhagem, o governo popular voltou-se para seu hobby predileto — a “construção de narrativas”, como definiu o filósofo Gilberto Carvalho. Como a narrativa em curso é a de um governo prestes a ser posto na rua, fez-se necessário recorrer aos efeitos especiais. Os companheiros devem ter se perguntado se ainda havia algum otário capaz de embarcar nas suas fantasias de esquerda, e a resposta provavelmente foi: sempre há! Resposta certeira. Com um trabalho impecável da co-irmã OAB (apelidada injustamente de Ordem dos Aloprados do Brasil) e do companheiro Luis Roberto Barroso (o que decidiu que a quadrilha não era quadrilha) o disco voador da moralização eleitoral petista pousou no Supremo.

Como todo disco voador que se preze, ele trazia uma mensagem dos ETs — tornando sumariamente inconstitucionais as doações eleitorais de empresas. Perfeitamente sintonizado com o mundo da Lua (e da estrela), o STF do companheiro Lewandowski assinou embaixo. Spielberg talvez achasse um pouco forte, mas dane-se o Spielberg. Ele entende de ET, não de PT — ou seja: em termos de truques, é uma criança.

E foi assim que o Brasil inteiro se viu de repente coçando a cabeça, como num arrastão de piolhos, tentando entender o que vale e o que não vale nos mandatos vigentes e vindouros. Dá até para imaginar os heróis da luta contra o capitalismo fumando seus charutos diante da TV e fazendo o célebre top-top de Marco Aurélio Garcia: delícia de lambança. Do alto de sua narrativa surrealista, Dilma Rousseff, a presidenta mulher, confirma a manobra do STF e salva a democracia nacional do capitalismo selvagem.

Aí só fica faltando narrar um capítulo da história: os capitalistas selvagens foram assaltados pelos oprimidos e o produto do roubo elegeu Dilma Rousseff, conforme indica a Operação Lava-Jato. A não ser que queira se refundar como cleptocracia, o Brasil terá que mandar os oprimidos selvagens procurar seu final feliz na suíte do companheiro Vaccari.

• Jornalista
 


 

Continue lendo
  • Desconhecido (quem conhecer me informe)
  • 27 Setembro 2015

Quem conhecer o autor desta "pérola" me avise para dar-lhe o devido crédito.

PRESIDENTE DA VOLKS ACONSELHADO POR LULA

Após uma reunião com Lula, o presidente da Volkswagen, Martin Winterkorn, que havia renunciado em virtude da escandalosa manipulação dos níveis de poluição dos seus veículos a diesel nos EUA, voltou atrás dizendo:

- Eu não sabia de nada;
- A Volks não inventou a poluição;
- É só a Volks que polui?;
- A poluição sempre existiu na indústria automobilística e agora a elite está chocada?;
- Se a poluição tivesse sido combatida na década de 90 não teria chegado aos níveis atuais;
- Não é que se polui mais, mas sim que hoje há mais transparência nos testes;
- Volkswagen significa carro do povo, e a elite não suporta ver o povo comprando carro e indo para a universidade;
- A mídia golpista persegue a Volks por fazer carros para o povo;
- Isso faz parte de um golpe dos EUA para prejudicar a indústria nacional;
- Quem crítica a poluição é "Ecoxinha";
- Quem critica a poluição não tem moral para fazê-lo pois também polui;
- Vamos recriar a CPMF (Contribuição sobre Poluição de Motores Farsantes);
- O aumento do número de câncer gera oportunidade de empregos a médicos e farmacêuticos mas isso a Veja não divulga;
- Criticam a poluição mas têm varanda gourmet.

Continue lendo
  • Bruno Braga
  • 26 Setembro 2015

http://b-braga.blogspot.com.br/

Francisco deixou Cuba no dia 22 de Setembro. A visita do Papa à ilha caribenha era aguardada com expectativa, e não só pelo objetivo apostólico, mas por ter sido o Pontífice uma espécie de "intermediário" na tão propagandeada "aproximação" entre Cuba e os Estados Unidos.

Raúl Castro deu a "más calurosa bienvenida" a Francisco [1]. Mas, diante do Papa, o Presidente cubano - para contrariar os que ainda creem numa "abertura" do regime totalitário - reafirmou o compromisso com a ditadura comunista:

"Avançamos resolutamente na ATUALIZAÇÃO de nosso modelo econômico e social para construir um SOCIALISMO próspero e sustentável" [...] "PRESERVAR O SOCIALISMO é garantir a independência, soberania, desenvolvimento e bem-estar da Nação" [2].

O irmão de Fidel ainda fez uma alusão importante:

"Os povos da América Latina e do Caribe avançam até sua INTEGRAÇÃO" [...] "A unidade, identidade e INTEGRAÇÃO REGIONAL devem ser defendidas" [3].

"Integração" é uma referência ao processo estratégico de transformar a América Latina na imensa "Patria Grande" comunista. Um projeto de poder totalitário e criminoso, traçado e promovido pelo Foro de São Paulo - organização fundada por Lula e por Fidel Castro - e por outras instâncias associadas, como a UNASUL, CELAC, ALBA, o BRICS [4].

Na presença do Papa, Raúl Castro reafirmou a "devoção" ao totalitarismo comunista. E mais. Mentiu na cara do Pontífice para maquiar o caráter opressor do regime cubano: "Exercemos a liberdade religiosa como direito consagrado em nossa Constituição" [5].

A Constituição de Cuba reza:

Art. 55. O Estado, que reconhece, respeita e garante a liberdade de consciência e de religião, reconhece, respeita e garante ao mesmo tempo a liberdade de cada cidadão para mudar de crença religiosa ou não ter nenhuma, e a professar, dentro do respeito à lei, o culto religioso de sua preferência [6].

No entanto, a própria Constituição adverte:

Art. 62. Nenhuma das liberdades reconhecidas aos cidadãos [o que inclui a suposta "liberdade religiosa"] pode ser exercida contra o estabelecido na Constituição e nas leis, NEM CONTRA A EXISTÊNCIA E FINS DO ESTADO SOCIALISTA, nem contra a decisão do povo cubano de CONSTRUIR O SOCIALISMO E O COMUNISMO.
A infração deste princípio é punível [7].

Na visita do Papa, o regime cubano tratou de cumprir à risca o que está estabelecido na sua Constituição. Os opositores foram vigiados, receberam ameaças e - com Francisco na ilha - foram presos. A denúncia é do "Movimiento Cristiano Liberación":

"Rosa María Rodriguez, membro do Conselho Coordenador do 'Movimiento Cristiano Liberación' foi detida hoje, 20 de Setembro, às 7 da manhã, em Havana, QUANDO SE DIRIGIA À MISSA QUE O PAPA IA CELEBRAR na Praça José Martí da capital cubana".

[...]

"Muitos são os dissidentes PRESOS, AMEAÇADOS ou IMPEDIDOS de ASSISTIR AOS ENCONTROS E MISSAS QUE O PAPA FRANCISCO ESTÁ REALIZANDO EM CUBA, e se espera que essa escalada repressiva continue" [8].

Carlos Payá, do "Movimiento Cristiano de Liberación", fala sobre as detenções dos opositores durante a visita do Papa Francisco a Cuba. Cf. [http://www.rtve.es/alacarta/videos/los-desayunos-de-tve/desayunos-200915-0830/3293424/] - a partir do tempo [44:25] [9].

"Liberdade religiosa", portanto, apenas para os que fecham os olhos ou se calam diante da opressão do regime comunista. Ou para os que se "convertem" a uma "fé" corrompida e desfigurada pela Teologia da Libertação [10]. Não a da Santa Igreja Católica, mas a que respeita o artigo 62 da "tábua da lei" cubana e o seu "mandamento": "construir o socialismo e o comunismo". Tudo pela imposição de um "reino" totalitário na Terra, com o sangue dos cristãos fuzilados no paredão, com a falsificação e a intrumentalização da fé e da própria Igreja.

O que Francisco pensou ao ouvir o discurso de Raúl Castro? Somente o Papa pode revelar. No entanto, é inegável que recebeu a "más calurosa bienvenida" de um farsante, que confessa o compromisso com a preservação de um regime totalitário e opressor, que finge a existência de "liberdade religiosa" em Cuba para promover a sua verdadeira "profissão de fé": transformar a América Latina na imensa "Patria Grande" comunista [11].


REFERÊNCIAS.

[1]. Cf. "En nombre de este noble pueblo, le doy la más calurosa bienvenida". Granma, 19 de Setembro de 2015 [http://www.granma.cu/papa-francisco-en-cuba/2015-09-19/raul-castro-en-nombre-de-este-noble-pueblo-le-doy-la-mas-calurosa-bienvenida].

[2]. Idem.

[3]. Idem.

[4]. Cf. "Foro de São Paulo: a confabulação comunista no México" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/08/foro-de-sao-paulo-confabulacao.html]; "A 'prestação de contas" do ex-Secretário do Foro de São Paulo" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/05/a-prestacao-de-contas-do-ex-secretario.html]; "Foro de São Paulo: a gênese criminosa da 'Patria Grande' comunista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/08/foro-de-sao-paulo-genese-criminosa-da.html].

[5]. Idem.

[6]. Cf. "Constitución de la Republica de Cuba" [http://www.cuba.cu/gobierno/cuba.htm].

[7]. Idem. A observação entre colchetes é minha.

[8]. Cf. "Comunicado de Prensa del Movimiento Cristiano Liberación" [http://www.oswaldopaya.org/es/2015/09/21/comunicado-de-prensa-del-movimiento-cristiano-liberacion/].

[9]. RTVE - Espanha. apud. "Movimiento Cristiano Liberación" [http://www.oswaldopaya.org/es/2015/09/21/television-espanola-carlos-paya-mcl-detenciones-durante-visita-del-papa/] (Fonte da imagem utilizada na publicação).

[10]. Cf. "Francisco: Fidel e a Religião" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/09/francisco-fidel-e-religiao.html].

[11]. Cf. "Foro de São Paulo: a gênese criminosa da 'Patria Grande' comunista" [http://b-braga.blogspot.com.br/2015/08/foro-de-sao-paulo-genese-criminosa-da.html].


LEITURA RECOMENDADA.

BRAGA, Bruno. "Quem é Raúl Castro?" [http://b-braga.blogspot.com.br/2012/01/quem-e-raul-castro-bruno-braga.html].

Continue lendo
  • André Vanoni de Godoy
  • 26 Setembro 2015

 

  O atento leitor certamente percebeu o duplo sentido do título: qual Estado queremos e a serviço de quem ele deve estar. Esta dualidade semântica guarda a causa e a solução para a maioria dos problemas enfrentados pelas sociedades que ainda não compreenderam o papel deste ente abstrato, com todos os prejuízos que esta incompreensão pode causar.

  Então, qual Estado queremos? Certamente deve ser o que cumpre sua vocação de prover saúde, educação básica e segurança (aqui incluído um eficiente sistema judiciário). Estas funções cabem ao Estado porque sua oferta não pode ficar a mercê de interesse outro que não a instrumentalização dos cidadãos, a permitir que escolham com liberdade o seu destino. Isto é, dar-lhes condições para que desenvolvam suas capacidades e tenham oportunidades para ser aquilo que desejam ser, livres da tutela de um estado onipresente e falaciosamente eficiente.

Fica claro que o Estado deve estar a serviço do cidadão, e não o contrário. Parece óbvio, não? Mas não é o que se vê naquelas sociedades mencionadas lá no início, entre as quais está a brasileira. Pois, por aqui, ainda há os que entendem que o Estado deve atuar em todos os campos de nossa vida. Querem um Estado hipertrofiado para resolver todos os problemas que não teríamos se não fosse o seu gigantismo. Esta visão distorcida fez com que o Estado brasileiro se tornasse um polvo com longos tentáculos, que quer decidir o que e onde devemos empreender, o que devemos vestir e até se podemos ter saleiros nas mesas dos restaurantes.

O avanço desmesurado do Estado se reflete também na influência exagerada que a política partidária tem na vida do país, já que interesses de partidos, não raro pouco republicanos, imiscuem-se nos interesses do Estado e acabam por contaminar a racionalidade das decisões dos agentes econômicos.

Assim, inflado e narcisista, adulado por suas corporações, o Estado brasileiro tornou-se um fim em si mesmo, sangrando a Nação com excessivos tributos, os quais, consumidos quase que integralmente para sustentá-lo, em muito pouco revertem aos seus legítimos destinatários.

O Estado que nos serve deve ser humilde e eficiente, garantindo nossa autonomia para escolhermos nosso destino com liberdade. E nós, como cidadãos, devemos assumir os bônus e os ônus inerentes à responsabilidade de sermos livres.

25/09/2015.

* Advogado. Mestre em Direito, Diretor do Sistema FIERGS, Conselheiro do SEBRAE/RS
 

Continue lendo
  • Paulo Moura
  • 26 Setembro 2015

http://professorpaulomoura.com.br/


A intensidade dos acontecimentos que levaram o país à crise atual, notadamente na área política, econômica e moral, puxa o foco da mídia para as entranhas do governo Dilma e para a operação Lava Jato. E, quando o povo é protagonista dos fatos, para as manifestações de rua que, simbólicas pelo impacto que causam na opinião pública, ou expressivas pela grande participação da cidadania, empurram para a frente a agenda das mudanças.

Em política usa-se a expressão “o governo joga com as brancas” em alusão às regras do xadrez segundo as quais o primeiro movimento no tabuleiro é de quem joga com as peças brancas. Sob circunstâncias normais o padrão do jogo é o de que o governo paute a agenda e provoque reações da oposição ou de agentes sociais e grupos de interesse.

Essa relação de forças somente se inverte em situações de crise nas quais os fatos oferecem à oposição a possibilidade de tomar as iniciativas e forçar o governo a reagir. A situação do Brasil no momento é dessas. Seria de se esperar, então, que o principal protagonista da oposição fosse o PSDB. Afinal, os tucanos governaram o país por dois mandatos consecutivos, tendo o PT como principal opositor, e, quando o PT passou ao governo, foram os candidatos do PSDB os principais adversários de Lula e Dilma nas eleições que se sucederam.

Mas, ao olhar-se para os principais acontecimentos políticos nacionais, quem vemos como os principais criadores de problemas para o governo do PT?

Em primeiro lugar o povo nas ruas, mobilizado pela insatisfação com a crise econômica, política e moral que assola o país sob o patrocínio de Lula. Em segundo lugar, as centenas, talvez milhares, de cidadãos autônomos que se organizam (ou não) em grupos de ação política nas mídias sociais e nas ruas, gerando fatos que forçam os partidos e lideranças políticas tradicionais a terem esse elemento em conta ao fazerem suas escolhas.

Em terceiro lugar, o PMDB que, não obstante fazer parte do governo petista, dá verdadeiras aulas de esperteza, dribles, rasteiras e bailes de política em todos os demais players, inclusive, e especialmente, em Lula.

Em quarto lugar, o próprio PT. Isto é, suas lutas internas que trazem à luz as guerras de poder pelo controle do governo moribundo de Dilma e pelo espólio do petismo. Nesse ambiente, Lula movimenta-se erraticamente, ora criticando Dilma para salvar sua imagem do desastre que criou, ora tentando salvar seu acesso às instrumentalidades que o poder disponibiliza para quem precisa salvar-se da cadeia, melar a Lava Jato, influenciar julgamentos no STF e comprar difíceis apoios na bacia das almas, a um preço cada vez mais impagável.

Sim, não nos iludamos como fizeram os editoriais do Estadão, acreditando que Lula está louco para largar o osso e voltar à oposição, deixando ao sucessor de Dilma à responsabilidade por consertar seus estragos. Lula pode até sonhar com isso. Mas, não pode se dar a esse luxo. Se o PT perder o governo, seu poder de compra no mercado de pixulecos se esvairá de forma mais intensa e rápida do que o preço das ações da Petrobrás.

Ao observador atento não terá passado desapercebido que, nas duas últimas oportunidades em que Dilma ganhou algum fôlego para protelar seu fim inevitável, foi por obra de Lula, que foi às compras para consertar os estragos de Mercadante na articulação política do governo. O primeiro movimento foi o acordo com Renan Calheiros, chefe da Casa onde o impeachment será votado. O segundo, mais recente, foi a tentativa de dar ao PMDB (e ao PDT) mais ministérios, de forma a barrar a formação do quórum pró-impeachment da Câmara dos Deputados.

O esquartejamento da Lava Jato e o anúncio desse acordo causaram comoção nos grupos autônomos que debatem, trocam informações e organizam as ações políticas que impulsionaram as três últimas grandes manifestações de rua contra o PT. Sem conhecimento teórico, sem malícia e nem experiência os mais precipitados anunciaram estar jogando a toalha e desistindo da luta.

Em menos de 24 horas o cenário mudou da água para o vinho. Eduardo Cunha (PMDB/RJ), que muitos imaginavam comprado, pautou o impeachment na Câmara dos Deputados. Logo após Fernando Collor de Mello (PTB/AL), o maior especialista vivo em impeachment no país, concede entrevista a Fernando Rodrigues (UOL), afirmando que, depois de instaurado o processo torna-se irreversível devido à impossibilidade de controlarem-se as pressões das ruas.

Em seguida o PMDB leva ao ar um programa em rede nacional de TV, no qual se apresenta como alternativa de poder em condições de substituir o estrelismo reinante. Movimento seguinte, líderes do baixo clero peemedebista recuam do acordo supostamente firmado com Lula, anunciando que não abririam mão dos ministérios da Saúde e Infraestrutura que lhes teriam sido oferecidos, ante anunciadas reações do petismo diante da possibilidade de perderem as tetas da Saúde, até o momento, muito sugadas, mas pouco alcançadas pela Lava Jato.

Coincidência ou não, o presidente do TCU anuncia que as pedaladas fiscais deverão ser rejeitadas na segunda quinzena de outubro, num movimento que exala cheiro de sincronismo com a agenda de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) para a tramitação do impeachment na Câmara e com a Convenção Nacional do PMDB, agendada pera 15 de novembro, data em que se comemora a proclamação da República. Evento que, como se sabe, terminou com o Império na história do Brasil.

O leitor atento terá percebido que acabo de escrever onze parágrafos sobre os principais acontecimentos da cena política nacional recente e, em nenhum deles o PSDB e seus líderes foram citados como protagonistas. Pelo contrário, o que se vê, é o ex-presidente FHC resistindo ao impeachment sob alegação de trauma nacional (para quem?), e falando frases de efeito para as manchetes como quem imagina que não sabemos que em política valem as atitudes e não a retórica.

Falando em atitudes, o ex-candidato Aécio Neves, anda providencialmente calado e submerso, não sem antes protagonizar solenes ambiguidades retóricas e notadas ausências nas manifestações de rua em que 100% dos seus ex-eleitores pediam sua adesão militante.

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, tido como líder conservador do PSDB, e, portanto, capaz de angariar simpatias, é flagrado protagonizando cenas de personalismo explícito em favor de seu interesse em derrubar Aécio da posição de presidenciável; ao contestar o impeachment contra a absoluta e majoritária vontade das ruas.

O senador Álvaro Dias (PSDB/PR), por seu turno, foi flagrado apoiando explícita e veementemente a nomeação de um advogado do MST para o STF, e o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB/SP), sendo arrastado para dentro da Lava Jato.

A cúpula do PSDB não deve saber, mas em vários desses grupos que mobilizam a cidadania nas mídias sociais e nas ruas formando as redes de influência que levaram milhões às três grandes manifestações de março, abril e agosto, há membros da base do PSDB e outros partidos, que são natural e democraticamente aceitos como parceiros pelos milhares de indivíduos sem partido que saíram da zona do conforto para mudar o país e varrer o petismo do poder.

Os tucanos de alta plumagem não percebem, mas a corrosão da imagem do PSDB junto a esse público líder das opiniões mobilizadas é enorme. Como participante de vários desses grupos, testemunhei as cobranças e constrangimentos que os tucanos sofrem dos demais; li cartas de desfiliação do PSDB endereçadas à direção partidária e publicadas nos grupos virtuais e perfis pessoais dessas pessoas; testemunhei militantes tucanos ativos nas ruas questionando-se: “Porque FHC não cala a boca???” “Porque Aécio não fala e não age?” “Será que estão com o rabo preso?”

As placas tectônicas da política brasileira estão se movendo. A estrutura da polarização PSDB versus PT está em vias de desaparecer devido à perda de poder, força e tamanho do PT. E ao desgaste da imagem do PSDB, em função dos fatos aqui referidos. A esquerda levará tempo para se reagrupar sob outras lideranças e se constituir em polo de poder após a falência do PT. A estratégia do PMDB é de nítida tomada do poder e a agenda que o os peemedebistas têm acenado é conservadora nos valores morais e liberal na condução da economia.

O PSDB, que protagonizou a criação do Plano Real e poderia articular alguns dos melhores economistas do país em torno da agenda da mudança, está perdendo uma oportunidade que não se oferecerá novamente. Esse Congresso já deu sobrados sinais de que não vai entregar saídas para esse governo. O PMDB vai tomar o poder. Não há saídas com Dilma. Só há saídas com o PT fora do poder.

Quando o impeachment de Collor emergiu, a geração de líderes caras pintadas que assumiu o poder no país nos anos seguintes, e se corrompeu, já estava dentro dos partidos tradicionais. Naquela oportunidade não houve nenhum trauma, pelo contrário, foi o impeachment de Collor que possibilitou o Plano Real e a eleição de FHC. O momento e as circunstâncias são outros. Mas, o PSDB vai seguir enfiando a o bico no chão e deixando a bunda de fora como avestruz?

As lideranças que mobilizam os grupos e as ruas no movimento pelo impeachment de Dilma e a faxina das instituições, está fora dos partidos tradicionais, cuja credibilidade perante esses segmentos mobilizados da opinião pública é baixíssima.

Das ruas emergirá uma nova direita, moderna, liberal/conservadora e democrática, avessa ao estatismo e ao patrimonialismo. Ao contrário do que dizia Marx, a vanguarda das mudanças é a classe média e não o proletariado. É por isso que Marilena Chauí e o PT nos odeiam. Nós representamos a sepultura do lulopetismo.

As lideranças dos grupos virtuais e reais que mobilizam as ruas se compõem de empresário médios e pequenos; de profissionais liberais, gente com noções de administração e estratégia que estão sendo aplicadas no planejamento de suas ações. Gente que tira dinheiro do próprio bolso para as vaquinhas que financiam ações nas mídias sociais e nas ruas. Gente que vai levar esse know-how para dentro da política partidária em estratégias sofisticadas para eleger líderes identificados com a causa da liberdade e da democracia, por vários partidos. Poucos, muito poucos, talvez alguns poucos tucanos venham a merecer os votos e o apoio dessas pessoas.

Essas pessoas começarão a invadir a política formal já nas próximas eleições municipais. Muitas delas pelo Partido NOVO. A maioria, em outros partidos de centro e centro-direita, mas, todas, ostentado selos de certificação conferidos pelos grupos a que pertencem, por sua identidade e compromisso com a agenda das ruas; com a defesa das liberdades; da democracia; da economia de mercado; da boa qualidade dos serviços públicos e da redução do Estado e da carga tributária.

E o PSDB de FHC e Aécio Neves, que, por falta de opção à direita, foi o estuário recebedor dos votos, das esperanças e expectativas desses milhões de brasileiros, está perdendo o bonde da história; jogando no lixo a oportunidade de corresponder aos sonhos que outrora representou. Talvez haja tempo para o PSDB mudar seu destino. Mas, estaria o PSDB interessado nisso?

(Membro do grupo Pensar+)

Continue lendo
  • Augusto Nunes - Veja
  • 26 Setembro 2015

 

Sempre que craques da Justiça ameaçam golear campeões da bandidagem, juízes do Supremo Tribunal Federal arranjam algum pretexto para atrapalhar atacantes cujo esquema tático é tão singelo quanto eficaz: aplicar a lei. Foi assim no julgamento do mensalão: os delinquentes estavam a um passo da prisão em regime fechado quando o STF exumou um certo “embargo infringente”.

O palavrão em juridiquês reduziu crime hediondo a contravenção de aprendiz, transformou culpado em inocente e acabou parindo duas brasileirices obscenas: a quadrilha sem chefe e o bando formado por bandidos que agem individualmente, nunca em grupo. Agora incomodado com o desempenho exemplar do juiz Sérgio Moro, dos procuradores federais e dos policiais engajados na Operação Lava Jato, o Supremo inventou o que a imprensa anda chamando de “fatiamento” do escândalo.

Fatiamento coisa nenhuma. O nome certo é trapaça.

Continue lendo