• J.R.Guzzo - Veja
  • 03 Agosto 2015

(Publicado na edição impressa da Veja)

De um ponto de vista puramente prático, como mostra a experiência, a maioria das pessoas que participam da vida pública acha preferível ser julgada pela história do que por uma vara da Justiça penal. Todos estão sempre prontos a garantir que sua grande preocupação é deixar uma biografia limpa para quando não estiverem mais em circulação física neste Vale de Lágrimas — algo que exige trabalho duro, sacrifícios e outros aborrecimentos durante o aqui e o agora. Mas em geral, quando têm de tratar com realidades, preferem deixar para depois, no conforto de um futuro em que não há promotores, juízes nem penas de prisão, o acerto de contas com os atos praticados hoje. É chato, claro, legar para o registro histórico uma reputação manchada por suspeitas ou por fatos. Mas muito pior é acabar residindo uma boa temporada no presídio da Papuda, por exemplo, ou em algum outro endereço do nosso “sistema prisional”, como dizem os técnicos em administração carcerária. Tirando isso, o resto se arranja. O futuro fica para o futuro.

Nunca antes, na história deste país, tal filosofia de vida prosperou tanto. O resultado é a criação de um ambiente em que o grau de sucesso dos políticos é medido pela distância que os separa do xadrez. Estar “blindado” — ou seja, não se sentir ameaçado por provas efetivas de má conduta — tornou-se a prioridade das prioridades, e um sinal superior de competência. Vitória, na política brasileira de hoje, é isso. É um problema, pois aí se abre um amplo portal de entrada para o tráfego de posturas que normalmente matariam de vergonha qualquer cidadão interessado em manter o seu bom nome — e que hoje são tratadas como a coisa mais normal do mundo. A pergunta, na vida pública do Brasil de 2015, deixou de ser: “Está certo fazer isso?”. Passou a ser outra: “Fazer isso vai me causar problemas com o Código Penal?”. Se não vai, ou se for difícil a Justiça provar que vai, tudo bem — vamos em frente.

É o caminho mais prático, como dito no início — ao mesmo tempo, é o motivo pelo qual as biografias a ser deixadas pelos que mandam hoje no governo parecem condenadas, cada vez mais, a ficar abaixo da linha da pobreza. Há pouco tempo, numa reportagem publicada na Folha de S.Paulo, a jornalista Estelita Carazzai produziu um desses trabalhos que não costumam ganhar prêmios, nem mexem com o movimento de rotação da Terra, mas que demonstram com impecável precisão a vida como ela realmente é nos lugares onde as coisas realmente se decidem. A reportagem reproduz mensagens trocadas na noite do segundo turno da eleição presidencial de 2014, e que são investigadas pela Operação Lava-Jato.

“Dilminha ganhou!!!!!”, escreve ali para um colega empreiteiro, com todos esses cinco pontos de exclamação, o executivo Léo Pinheiro, então presidente da OAS e no momento em prisão domiciliar. Ele anexa também a imagem de uma represa vazia, com um recado para a oposição: “Favor chorar aqui”. Numa mensagem enviada antes, ele diz: “Aécio despencando! Boa notícia”. As mensagens que recebe são do mesmo tom. “Desemprego em baixa. Muito bom… Vai dar 10% na urna de diferença, no mínimo”, escreve para ele o vice-presidente da OAS, Cesar Mata Pires Filho. Um outro companheiro lhe diz: “Mais que nunca, Super Ministro da Infraestrutura, Leozinho”. Léo responde: “Rsrsrsrs”.

Não há desculpa possível para uma coisa dessas — a fotografia em altíssima definição dos verdadeiros sentimentos que as empreiteiras têm em relação ao atual governo. A reação da máquina oficial é um perfeito sinal dos tempos. “E daí?”, foi sua pergunta básica. “Dilma não tem culpa se as construtoras de obras públicas gostam dela.” Ninguém é responsável, claro, pelo que os outros escrevem. Mas fica a questão que realmente importa: por que essa gente toda que está na cadeia ou usando tornozeleira, por ter participado comprovadamente dos mais agressivos atos de corrupção da história nacional, gosta tanto assim da presidente Dilma?

Gosta e paga: sua campanha de 2014 gastou 320 milhões de reais, na maior parte fornecidos pelos empreiteiros — e o fato de que também doaram para a oposição só torna as coisas piores, ao deixar provado que não pagam por acharem um lado melhor que o outro para os interesses do país, mas apenas porque querem comprar os dois. A reportagem citada acima joga luz sobre o lado mais escuro da política brasileira de hoje. Estará reproduzida, palavra por palavra, em qualquer biografia séria a ser escrita sobre Dilma Rousseff e seu governo. 

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  • Jacy de Souza Mendonça
  • 03 Agosto 2015



Segundo informações do IBGE, o Estado brasileiro conta com 39 Ministérios (por que ainda não arredondaram para 40?) que consomem 400 bilhões de reais por ano. Só para comparar: Getúlio tinha 11 Ministros, os governos militares tinham 16 e Luiz Inácio pulou para 35. Comparando com outros países, os Estados Unidos têm 15 e a Alemanha 14... Temos também 900.000 funcionários públicos federais, dos quais 113.000 apadrinhados, a maioria rotulada de assessores (não concursados); eles consomem 214 bilhões de reais por ano em vencimentos. Muitos nem podem ir à repartição em que estão lotados, por falta de espaço; ficam em casa mesmo. Temos ainda carros oficiais de luxo com motorista que gastam 1,5 milhão de reais por ano; apartamentos de luxo, mobiliados, em Brasília; escritórios políticos nos Estados; centenas de funcionários para cortar cabelo, engraxar sapatos, servir água e cafezinho, abrir e fechar portas... etc. etc. etc. Podem estar certos: se esse quadro contém erros é para menos – a realidade é muito pior.

Que faz esse monstruoso Leviatã? Deveria dar-nos: a segurança de que necessitamos e não nos dá; dar-nos as ferrovias, hidrovias, rodovias de que também carecemos e não nos dá; os portos que nos fazem falta; aeroportos eficientes; o tratamento à saúde pública que o povo reclama com razão; a superação da falência de nossas escolas mendicantes. Em compensação, suportamos a falta d’água, de energia elétrica, de medicamentos, de hospitais, de creches e escolas. Enfrentamos a produção industrial em queda, o comércio paralisado... A economia em recessão, o PIB que cai, a dívida pública que aumenta e a balança comercial que despenca... Como consequência, o Brasil entra na faixa dos maus pagadores no mundo financeiro internacional.

Sob esse tétrico pano de fundo, no qual a inflação e o desemprego gracejam sorridentes, fala-se em projetos para superar a mais terrível crise político-econômica que enfrentamos, como nunca antes nesse País. Remédio simples e corretíssimo seria reduzir o tamanho desse Governo monstruoso e ineficiente: menos Ministérios, menos casas legislativas (por que duas?), menos Deputados e Senadores, menos assessores, menos funcionários e mordomia zero: menos apartamentos, carros, viagens, cartões de crédito... menos, muito menos! Mas não. O que fazem é paralisar os investimentos, diminuir os já paupérrimos benefícios dos aposentados, aumentar o número e os vencimentos dos funcionários, a carga tributária, os juros e o preço dos produtos administrados pelo governo. Ou seja, os mesmos políticos, que anunciam dramaticamente estarem dispostos a cortar a própria carne, só cuidam de salvar o deles e sangrar o povo; o resultado é exatamente mais inflação e mais desemprego. Nesse ambiente eles descobrem, em um círculo vicioso, a necessidade de mais crescimento do Governo; e o Leviatã satisfeito aplaude!

Que será que nos falta para a redução desse governo gigantesco? Líderes inteligentes e honestos? Seriedade e racionalidade? Parece que sim.


                                           

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  • Hermes Rodrigues Nery
  • 01 Agosto 2015

Conta Carlos Peñalosa que Fidel Castro, desde jovem, ainda quando era estudante de direito da Universidade de Havana, já tinha em mente retomar e colocar em prática a ideia e o projeto de poder totalitário da “Pátria Grande”, conceito este que veio não de Bolívar, mas de Francisco de Miranda, e que servia aos propósitos e interesses do internacionalismo socialista (das forças de esquerda). Com o Foro de São Paulo, a partir dos anos 90, Fidel Castro, Hugo Chávez, Lula e tantos outros tiranetes sul-americanos se encantaram com o discurso sedutor de Fidel, que via no projeto da “Pátria Grande” a forma de concretizar a extensão da revolução cubana para toda América Latina. Mas, para que tal projeto se consolidasse, depois de um bem sucedido processo gramscista de tomada de postos e aparelhamento das instituições, o próprio Fidel se convenceu de que era preciso instrumentalizar a Igreja Católica para tais fins, entendendo o fenômeno religioso como dado sociológico. E nesse sentido, a teologia da libertação desempenhou um papel relevante no processo de ganhar padres e bispos para a causa da “Pátria Grande” socialista. Como explica Miguel Ángel Barrios,

“…es la Teología de la Liberación post Concilio Vaticano II. Esta última, es la primera estrictamente latinoamericana. Más allá, de las apasionantes polémicas y de sus diferentes vertientes, la Teología de la Liberación unificó la opción preferencial por los pobres y la justicia. Y dentro de ella, la variante de la Teología de la Cultura, representada por figuras como el Padre Lucio Gera, Monseñor Gerardo Farrell y por el teólogo y filósofo uruguayo, Alberto Methól Ferré. Esta Teología, variante de la oleada de la Teología de la Liberación, acentúa el tema de la religiosidad popular, de los pobres y la cultura, y la de la revalorización de la historia latinoamericana, de la Patria Grande.


Foi em 1985 que Fidel Castro resolveu aproximar-se dos bispos cubanos para atrai-los, aos poucos, em sua estratégia. E houve anuência e colaboração de muitos nesse sentido. Fidel já havia realizado encontros com “os Cristãos pelo Socialismo”, inclusive em outros países latinoamericanos, como no Chile, em 1972. Ele próprio dizia que “esse movimento brotou em diversos lugares da América Latina após o triunfo da Revolução Cubana”. Com a aproximação com o clero cubano, Fidel Castro buscou intensificar sua aposta dos “cristãos pelo socialismo”.

Em 1986, foi realizado o Encontro Nacional Eclesial Cubano (ENEC), que o então Cardeal Pirônio chamou de “um verdadeiro Pentecostes para a Igreja de Cuba”. No mesmo ano, o Comitê Central do Partido Comunista de Cuba chamou François Houtart para dar um curso acelerado de sociologia da religião, e como explica o próprio Houtart, no trecho de 13:28 a 14:07 desse vídeo:

A razão foi que intelectuais marxistas de Cuba, que estavam em contato com Nicarágua, El Salvador, Guatemala, e com muitos cristãos comprometidos com a ação revolucionária e também com a Teologia da Libertação não podiam mais aceitar que a religião era necessariamente o ópio do povo. E se vocês são realmente marxistas, não podem ser dogmáticos”.

Era preciso, portanto, aproximar os marxistas dos cristãos, e ainda mais, disseminar a teologia da libertação no seio da Igreja (as várias vertentes da teologia da libertação e também a chamada teologia do povo, dentre outras variantes da mesma fé revolucionária). Francisco Mele entende a teologia do povo “como superação da teologia da libertação, embora não renegando-a”.

E a partir dessa tônica, padres e bispos foram sendo “catequizados” pela “nova teologia” libertária, preparando assim uma ressignificação dos conteúdos da fé, para que padres e até bispos se tornassem apóstolos dóceis da nova utopia da “Pátria Grande”, ajudando a construir a nova realidade geopolítica e cultural no continente latino-americano. Poucos anos depois, em 1993, os bispos cubanos publicaram uma “Carta Pastoral”, “abertos ao diálogo, tratando o regime de Fidel Castro como se fosse democrático e legitimamente constituído”. Com a visita do Papa São João Paulo II a Cuba, o terreno estava aplainado e o processo de cooptação de padres e bispos se intensificou, por parte dos comunistas cubanos, sob o comando de Fidel Castro. O próprio Mario Jorge Bergoglio, que coordenou a edição do livro “Diálogo entre João Paulo II e Fidel Castro”, destaca na obra que “Fidel propôs aliança entre marxistas e cristãos”. “A nossa presença no meio deles – escreveu Leonardo Boff – não deve ser tanto como agentes que vêm da grande tradição”, reconhecendo que, naqueles anos 80-90, já haviam “cardeais, bispos, sacerdotes e leigos” dispostos à esta “liberdade para a utopia”, à “utopia revolucionária”, tão bem expressa no projeto de poder da “Pátria Grande”. O próprio Lula reconheceu, em reunião do Foro de São Paulo, dever muito aos cubanos o esforço por viabilizar a integração latino-americana da “Pátria Grande”, e fez o apelo para isso, para que as forças revolucionárias estejam cada vez mais envolvidas neste projeto de poder, projeto este convergente com interesses do internacionalismo de esquerda, favorecendo inclusive potências de fora da América Latina, como a China, por exemplo, que tanto tem se beneficiado ideológica e economicamente, com tal projeto de poder.

Mas o avanço da “Pátria Grande” não teria sido possível sem os setores da Igreja imbuídos de teologia da libertação e movidos pelos interesses políticos do internacionalismo de esquerda, setores esses que ocuparam postos de decisão dentro da Igreja e estão hoje inclusive dentro do Vaticano, agindo para intensificar a instrumentalização da Igreja para os fins políticos da “Pátria Grande”, fins estes que contrariam os princípios e valores da sã doutrina católica. A Igreja vive, portanto, nesse momento, uma tensão sem precedentes, tomada pelas forças revolucionárias — as forças modernistas que São Pio X tão bem definiu como “síntese de todas as heresias” –, e não se sabe como a verdadeira Igreja de Cristo conseguirá se libertar de tais forças, alinhadas também com uma agenda globalista inumana e anticristã. O fato é que tais forças estão minando, por dentro, a sagrada doutrina. Padres e bispos (e também leigos) dispostos a defender a sã doutrina católica padecem o martírio cotidiano das retaliações, perseguições, coações e pressões, para que ninguém fale nada, e todos aceitem a ressignificação da “nova teologia” a sustentar ideologicamente a panaceia da “Pátria Grande”.

“Pátria Grande”: ideólogos influentes

O problema é que a “Pátria Grande” tem ideólogos influentes [Manuel Ugarte, Alberto Methól Ferré, Gusmán Carriquiry, entre outros] também na Igreja; autores e mentores inclusive com poder de decisão nas altas esferas eclesiásticas, como Carriquiry, por exemplo. Gusmán Carriquiry [o mais influente leigo na cúria romana] está no Vaticano desde Paulo VI, e gosta de lembrar que “desde Puebla” tem trabalhado lá como ponte com o CELAM. Em 13 de março deste ano, Carriquiry palestrou na Universidade Católica Argentina, ocasião em que algumas lideranças de esquerda [entre elas, Leonardo Boff] apresentaram o movimento social chamado “O coletivo de Francisco”. A relação de Jorge Mario Bergoglio com Carriquiry é de muita proximidade e de apoio ao projeto da “Pátria Grande”, apoio este de longa data, como comprova este vídeo de 2005, quando o então arcebispo de Buenos Aires recebeu Carriquiry na Universidade Católica Argentina. Bergoglio inclusive prefaciou a obra de Carriquiry, intitulada “El Bicentenario de la Independencia de los Países Latinoamericanos”.

Marcello Gullo, ao escrever sobre “o pensamento geopolítico” de Bergoglio, diz claramente que “as raízes mais profundas” de seu pensamento está no socialista Manuel Ugarte. O próprio Gullo chama Bergoglio de “apóstolo da Pátria Grande”:

La sola lectura del pensamiento del Cardenal Bergoglio demuestra que solamente desde el prejuicio, la ignorancia o la mala fe, puede afirmarse que el Cardenal Bergoglio ha sido elegido Papa para obstaculizar el actual proceso de integración política suramericano y para destruir el proyecto de construir la Gran Patria Grande con que soñaron los libertadores Simón Bolívar y José de San Martín. El ahora Papa Francisco será, muy por el contrario, el “apóstol de la unidad”, de la Patria Grande.”

E muitos outros autores confirmam o quanto avançada está a instrumentalização da Igreja no processo da integração latinoamericana sob o ideário da “Pátria Grande”, alinhado ao internacionalismo socialista. É o que diz Miguel Ángel Barrios, autor de “El Latinoamericanismo en el pensamiento político de Manuel Ugarte”, com ênfase:

“:…el Pueblo Católico Universal será potencializado por Nuestra América y la Patria Grande potencializará al Papa a favor de los débiles del mundo.

E ainda:

“Pasamos ahora, al hecho histórico que trasciende al hombre, en un momento singular de la Historia de la Iglesia como pueblo Universal y de América Latina en su camino hacia la Patria Grande. El circulo cultural latinoamericano tiene su raíz en la Iglesia católica, por eso, los Movimientos Nacionales Populares no cayeron en el anticlericalismo oligárquico de la segunda mitad del siglo XIX de nuestras repúblicas insulares”.

Movimentos populares estes que foram recebidos no Vaticano, com a presença do próprio Evo Morales, defensor da “Pátria Grande”.

Não só Evo Morales, mas Dilma Roussef e quase todas as lideranças de esquerda latino-americanas, estão comprometidas com os propósitos do Foro de São Paulo, na defesa da “Pátria Grande” socialista.

Miguel Ângel Barrios diz mais:

“El Mercosur, el Alba, la Unasur y la Celac potencia a la Iglesia como pueblo de Dios y el Papa, únicamente se potencializará con nosotros. Es una interconexión mutua y reciproca. Los pueblos sin misión, mueren y los hombres, sin visión, también mueren. Aquí reside la necesidad de interpenetrarnos con el Papa desde nuestra identidad y nuestra historia.

Como anécdota personal, muy simple, de las infinitas que se han contado en estos días, contaré algo que me atañe, y tiene que ver, con este sentido de esperanza. Mi tesis doctoral en Ciencia Política presentada en la USAL bajo la dirección de Alberto Methol Ferré – al cual Bergoglio admiraba y presento su libro “La América Latina del Siglo XXI – fue “El Latinoamericanismo en el Pensamiento Político de Manuel Ugarte”, publicado en el 2007. Un día, me sorprendió una llamada breve del Cardenal Bergoglio, diciéndome “ha llegado la hora de la Patria Grande”, en relación al libro.”

Não só Bergoglio, mas também o Cardeal Maradiaga [o chefe do Conselho de Cardeais para a reforma da cúria romana – C8] também prefaciou o livro de Carriquiry, “Uma Aposta pela América Latina”. Cabe lembrar que Maradiaga presidiu por muitos anos a Cáritas internacional, tendo então sérios problemas com Bento XVI, e recentemente uma reportagem na Alemanha critica a ideologia marxista impregnada na Cáritas.

Francisco Mele, ao esboçar “um perfil geopolítico-teológico do Papa Francisco” ao jornal La Repubblica, reconhece que:

O projeto geopolítico ao qual se volta a simpatia do Papa Francisco é o de Bolívar, mas também o de Artigas, de San Martín e de tantos outros patriotas latino-americanos: a unidade da América do Sul como contrapeso aos Estados Unidos, a superpotência que representa os interesses do Norte. Bergoglio disse e escreveu em várias ocasiões sobre a unidade latino-americana. Por exemplo, referindo-se ao livro do secretário da Pontifícia Comissão para a América Latina, Guzmán Carriquiry, sobre a América Latina do século XXI, publicado em 2011 por ocasião do bicentenário das independências dos países latino-americanos. Sobre a atualidade da integração latino-americana, dentre outras coisas, a Conferência Episcopal Argentina também interveio em 2008, inspirada pelo próprio bispo de Buenos Aires. Outro interlocutor de Bergoglio nessa questão foi a filósofo e historiador uruguaio Alberto Methol Ferré.”

Nesse sentido, vemos, por toda a parte, em blogs, periódicos e mídias da esquerda, ampliar cada vez mais a ação de Bergoglio na defesa da “Pátria Grande”, confirmada em sua viagem à América Latina, em julho de 2015, especialmente no pronunciamento que fez na Bolívia aos Movimentos Populares. “Papa Francisco pide construir la Patria Grande de Bolívar y San Martín”, afirma a manchete do “CubaDebate en Panamericanos”, ainda em novembro de 2013. E na entrevista com Fenando “Pino” Solanas, Bergoglio afirmou: “El sueño de la PATRIA GRANDE de San Martín, Bolívar, es algo que hay que recuperar”, como é possível ver neste vídeo, aos 07:54.

Todos sabem que Bergoglio secretariou e influiu na redação final do Documento de Aparecida. Foi então incluído no item 525, o conceito de “Pátria Grande”:

A dignidade de nos reconhecer como família de latino-americanos e caribenhos implica uma experiência singular de proximidade, fraternidade e solidariedade. Não somos mero continente, apenas um fato geográfico com mosaico ininteligível de conteúdos. Muito menos somos uma soma de povos e de etnias que se justapõem. Una e plural, a América Latina é a casa comum, a GRANDE PÁTRIA de irmãos… (525) E ainda: “NOSSA PÁTRIA É GRANDE, mas será realmente “GRANDE” quando o for para todos, com maior justiça…” (527).

Trata-se de um novo idealismo político

A instrumentalização da Igreja para os fins utópicos da “Pátria Grande” é certamente um dos problemas mais sérios da atualidade, com desdobramentos imprevisíveis, sob todos os aspectos. Não se trata de um fenômeno irrelevante ou algum modismo que deve passar facilmente. Trata-se de um projeto de poder totalitário, que tem conseguido neutralizar a Igreja por dentro. O fato é que há uma tensão de forças antípodas. Por exemplo, a “Pátria Grande” bolivarianista visa destruir o que eles chamam de “eurocentrismo”. E nos faz lembrar de Joseph Ratzinger, que escolheu o nome de São Bento, padroeiro da Europa, quando assumiu o seu pontificado, em 2005. É evidente que há uma tensão, dois olhares da realidade, e a “Pátria Grande” parece não sinalizar para a verdadeira concepção católica. O fato é que a “nova teologia” que visa a utopia da “Pátria Grande” tende ao grave equívoco e desvio da verdade, não sendo nem mesmo teologia, mas ideologia anticatólica.

E o mais grave não são as consequências políticas, mas acima de tudo, espirituais, pois está evidente que as forças de esquerda que agem no seio da Igreja querem substituir a “teologia católica” de sempre pela “nova teologia”, que visa a subversão da sã doutrina. O apoio à “Pátria Grande” por altos prelados da Igreja causa grande apreensão. Os católicos sabem que só estarão seguros e salvos ancorados na sã doutrina de sempre, ensinada e testemunhada por Nosso Senhor Jesus Cristo, que deu vigor à Igreja, em sua história bimilenar. E dará o vigor até o final dos tempos.

A exemplo do que ocorreu com o arianismo, no séc. IV, poucos são os que percebem a gravidade da situação no momento e muito menos ainda estão dispostos a denunciar o erro, por amor à verdade e à Igreja. Temem as retaliações e perseguições, inclusive dos próprios setores da Igreja comprometidos com os enganos desse novo utopismo. A ideologia e o projeto de poder da “Pátria Grande”, de interesse do internacionalismo de esquerda, ao ser defendido e irradiado pelo próprio Vaticano, traz muitas apreensões. Não parece tratar-se de uma aposta com realismo. E a doutrina social da Igreja é profundamente realista, por isso a Igreja é “perita em humanidade”. A utopia da “Pátria Grande” trata-se de um novo idealismo político, com os riscos já conhecidos de sombras totalitárias.

Carlos Peñalosa diz que Fidel Castro sempre foi mais que um líder político, mas um homem de ideias e de sonhos, e justamente tal “idealismo”, como a história já confirmou tantas vezes, conduz a soluções políticas perigosas por justamente faltar o senso da realidade. A Igreja, na sua força sobrenatural de “comunhão dos santos”, deve estar orante e vigilante, fiel à sã doutrina, com a convicção da promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo de que as portas do inferno não irão prevalecer. 

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  • Marcus Vinicius Motta
  • 01 Agosto 2015

 

Outro dia eu li uma excelente reportagem da New Yorker sobre a chanceler alemã Angela Merkel, onde o jornalista buscava entender as razões para o seu sucesso - chega a ser chamada de "mutti" (mãe) pelos alemães - num país que tomou aversão por cultos à personalidade.

desde a sua juventude até o atual período como comandante da nação, uma característica é sempre presente: a monotonia. Sim, Angela Merkel é uma mulher comum, uma pessoa "sem graça", no entanto é justamente isso que faz seu sucesso, porque as pessoas podem saber o que esperar dela e a enxergam como uma delas.

Em 1991 o fotógrafo Herlinde Koelbl começou uma série de fotografias chamada "Traços do Poder" onde retratava políticos alemães e observava como mudavam ao longo de uma década. O fotógrafo conta que homens como o ex-chanceler Gerhard Schröder ou o ex-ministro das relações exteriores Joschka Fischer pareciam cada vez mais tomados pela vaidade, enquanto Merkel, com seus modos desajeitados, não passava nenhuma idéia de vaidade, mas de um poder crescente que vinha de dentro.

A vaidade é subjetiva enquanto a ausência desta é objetiva, daí que Merkel é tão eficiente enquanto outros políticos parecem se perder nas liturgias e rapapés do poder.

Essa normalidade é vista em vários outros países - ainda que exista a vaidade, que é de cada pessoa - como no caso de deputados suecos que moram numa espécie de república tal qual a de estudantes e lavam e passam a própria roupa.

Certa vez vi uma reportagem de um jornal britânico analisando uma foto do primeiro-ministro David Cameron lavando a louça na cozinha. A reportagem não se espantava com o fato do primeiro-ministro lavar a própria louça, já que Tony Blair fazia o mesmo e Margaret Thatcher cozinhava para o marido, mas observava uma tábua de cortar carne com a expressão "calma, querida" num canto.

A própria Angela Merkel mora no mesmo apartamento de sempre com o marido e a única mudança que houve em relação ao seu tempo fora do poder é a presença de um guarda na porta do prédio. Eles compram entradas para assistir ópera com o próprio cartão de crédito e entram no teatro junto com todos, sem nenhum esquema especial.

Daí partimos para o Brasil, onde um simples governador de estado possui jatinhos, helicópteros, ajudantes de ordem e comitivas com batedores de moto que param o trânsito para que ele passe. Pessoas que vivem em palácios, como se ainda fosse alguma corte real. Empregadas, arrumadeiras, garçons, equipes de cozinheiros, serviço de quarto, motoristas, inúmeros seguranças, esquemas especiais para entrar ou sair de algum lugar.

Essa é a diferença: a normalidade do poder, a noção de que um servidor público é apenas um servidor público, seja um escriturário ou o presidente/primeiro-ministro da nação. Eles continuam sendo homens e mulheres, maridos e esposas, pagadores de impostos, trabalhadores e cidadãos.

Cidadania é isso.
 

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  • Paulo Briguet
  • 01 Agosto 2015

 

A principal característica do militante petista – declarado ou não – é a sua revolta contra a estrutura da realidade. Millôr Fernandes definia o comunismo como “uma espécie de alfaiate que quando a roupa não fica boa faz alterações no cliente”. Com o PT acontece algo parecido: quando a realidade desmente a versão petista, tanto pior para quem sofre a realidade.

Isso explica a obsessão da esquerda brasileira em controlar a mídia. Se as notícias não são boas, o alfaiate petista quer tesourar o noticiário. “Controle social da informação” é apenas o nome esquerdista da censura. Mas, convenhamos, será um pouquinho difícil censurar os nossos extratos bancários e contas de supermercado. Não sou eu que estou gritando “Fora PT”: é a realidade, são os números, é a vida. Os petistas não a perdoam. “Abaixo a realidade!” tornou-se o novo slogan dos companheiros.

Margaret Thatcher dizia que o socialismo dura só até acabar o dinheiro dos outros. Pois o dinheiro acabou – graças à competência e à incompetência do PT. Incompetência em governar o País; competência em… vocês sabem.
Mas não pensem que isso comove os caciques do PSDB, a nossa oposição pusilânime. Pusilânime quer dizer “aquele que tem a alma pequena”. Quando se é assim, nada vale a pena. Não há outra definição para os tucanos que governam o Paraná e São Paulo.

A ridícula “aliança estratégica” entre Alckmin e Dilma com vistas à sucessão presidencial em 2018 e as declarações de Beto Richa contra o ato marcado para 16 de agosto demonstram, mais uma vez, que a verdadeira luta se dá entre a classe política brasileira assessorada por seus cúmplices – preocupados unicamente com as suas sinecuras e dividendos eleitorais – e os 90% da população que enxergam um palmo além do nariz. É preciso tirar os petistas e seus aliados do poder, de forma democrática, se não quisermos afundar para sempre no abismo da corrupção e da mentira.
A realidade pede socorro. Nós pedimos socorro. O Brasil pede socorro. Fora PT!

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  • Reinaldo Azevedo
  • 01 Agosto 2015


Publicado na Folha em 31/07/2015 

O "petrolão" já tem uma derivação: o "eletrolão". Com mais algumas enxadadas, novas minhocas podem brotar. Quem sabe o "estradão", "meu casão meu vidão", "saudão", "escolão", "pacão"... E quantos outros aumentativos vocês queiram rimar aí para indicar um estado que foi literalmente assaltado pelo crime e que não tem solução.

O governo desapareceu. Dilma se alimenta de algumas esperanças que, embora plausíveis, têm pouco efeito prático para ela. Pensemos em Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara. A sua situação vai, por desdobramento óbvio, se agravar –afinal, é certo que será denunciado por Rodrigo Janot.

Digamos, só por hipótese, que Cunha saísse de cena. Dilma ficaria rigorosamente onde está. Seu discurso dialoga cada vez mais com os rinocerontes que batem à porta. A mais recente contribuição da presidente, todos vimos, foi anunciar que, tão logo cumpra no ProUni a meta que faz questão de não ter, pretende dobrá-la. Fez tal raciocínio especioso uma vez. Achou pouco. Repetiu-o. A claque aplaudiu.

Em todas as outras crises, antes ou depois de 1964, sempre houve ao menos com quem conversar. Quando a conversa falhou... Conversar sobre o quê? Não precisa ser sobre um arranjo de compadres, táticas ou estratégias para conter as investigações ou conchavos, conluios e conspiratas. Há, é evidente, um núcleo de interesses que não diz respeito ao governo ou à oposição, mas ao país. Até Lula, apesar dos discursos rombudos, mantinha interlocutores.

Desta feita, não há ninguém, o que decorre também das escolhas feitas pela presidente para cuidar da política. O vice, Michel Temer, reconheça-se, até que tenta esfriar a crise com falas moderadas, ensaiando a constituição de um núcleo de governabilidade no Congresso, mas a realidade insiste em atropelá-lo. Eis aí o "eletrolão" tomando vulto, com todos os elementos necessários para causar um curto-circuito também no PMDB.

Até João Santana, competentíssimo na sua área, mostra que se deixou contaminar pelo clima de bunker sitiado. O ator que vai conduzir o programa do partido na TV, no dia 6, é uma espécie de "hater" profissional, que sempre escolheu com os críticos do governo, nos embates nas redes sociais, as armas da agressão verbal e da desqualificação. Na prática, Dilma e o PT vão convocar o megaprotesto do dia 16.

Esse costuma ser o fim de governos em crise. Mas estamos apenas no começo. É o colapso do petismo. Não sobrou ninguém nem para acender a luz.
 

 


 

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