• Carlos I. S. Azambuja
  • 08 Outubro 2015

Publicado originalmente em www.alertatotal.net

Uma cuidadosa ação de Inteligência colocou fim à carreira do terrorista Carlos Lamarca, mas os homens que lutaram e erradicaram o terror comunista hoje não são reconhecidos.

No dia 7 de dezembro de 1970, uma segunda-feira, um grupo de militantes da Vanguarda Popular Revolucionária, chefiado por Carlos Lamarca, seqüestrou Giovani Enrico Bucher, embaixador da Suíça no Brasil. O seqüestro ocorreu na rua Conde de Baependi, Catete, no Rio de Janeiro. O embaixador viajava em seu carro, um Buick, dirigido por seu motorista, Hercílio Geraldo e, como sempre, acompanhado do agente da Polícia Federal Helio Carvalho de Araújo, designado para prover sua segurança.
Após o carro ter sido interceptado, Carlos Lamarca, utilizando o codinome de "Paulista", bateu no vidro da janela do agente de segurança, abriu a porta e desfechou-lhe dois tiros com um revólver calibre 38 à queima-roupa. O agente, conduzido para o Hospital Miguel Couto, faleceu 3 dias depois.

Desse seqüestro, tomaram parte diretamente seis militantes, além de Carlos Lamarca: Adair Gonçalves Reis, Gerson Theodoro de Oliveira, Alex Polari de Alverga, Inês Etienne Romeu, Maurício Guilherme da Silveira e Herbert Eustáquio de Carvalho. José Roberto Gonçalves de Rezende e Alfredo Helio Sirkis participaram do transporte do embaixador para o "aparelho" da VPR na rua Paracatu, em Rocha Miranda. O militante Paulo Brandi de Barros Cachapuz, nesse mesmo dia - e nos dias seguintes - deu seguidos telefonemas desinformando a polícia sobre o paradeiro do embaixador.

Essa data – 7 de dezembro de 1970 – marcou o início do fim da VPR.
Naquele mesmo dia a VPR distribuiu aos meios de comunicação o "Comunicado nº 1", um "Manifesto ao Povo Brasileiro" e uma "Carta Aberta à embaixada suíça", bem como uma carta de próprio punho do embaixador.
No dia 9 de dezembro, o Ministério da Justiça, através de uma nota oficial, afirmava que "o governo brasileiro, no empenho de preservar a vida e a liberdade do embaixador", aguardava a relação nominal dos terroristas a serem liberados. Nesse mesmo dia, a VPR expediu o "Comunicado nº 2", dizendo que somente divulgaria a lista dos 70 presos a serem liberados depois de cumpridas as exigências de divulgação do "Manifesto ao Povo Brasileiro" por dois dias consecutivos na primeira página dos jornais e em todas as rádios e TVs do país, às 6, 12, 18 e 20:30 horas, o que não foi feito.

Quatro dias depois, a VPR cobrou do governo o cumprimento dessa exigência através do "Comunicado nº 3" e, no dia 16 de dezembro com o "Comunicado nº 4".
No dia 17, o governo deu garantia de que libertaria os 70 presos e, no dia seguinte, a VPR enviou o "Comunicado nº 5", com a lista dos 70.

Na segunda-feira, 21 de dezembro, o governo respondeu que aceitava libertar apenas 51 presos constantes da relação. Não concordava com os outros 19 por vários motivos: 6 haviam participado de seqüestros, 4 estavam condenados à prisão perpétua ou a penas elevadas, 3 haviam cometido homicídios, 1 não estava identificado, 1 não queria ser banido do país e 4 já estavam em liberdade.
A partir desse documento teve início uma discussão dentro da VPR para ver se o embaixador seria morto ou não, sendo realizada uma votação a respeito com o resultado de 15 a 3 a favor do "justiçamento" do embaixador. Os 3 que votaram contra foram Carlos Lamarca, Alfredo Hélio Sirkis e José Roberto Gonçalves de Rezende que não vislumbravam dividendos políticos na morte do embaixador. Lamarca, como comandante-em-chefe da VPR, exerceu seu direito de veto e sustou o "justiçamento" enviando ao governo outra lista dos presos a serem liberados.

No dia 28 de dezembro, o governo divulgou que, da nova lista, alguns não poderiam ser também libertados. No dia 30, a VPR enviou outra relação e, no dia 4 de janeiro, o governo divulgou a preterição de mais 9 presos, substituídos no dia seguinte, por uma nova lista enviada pela VPR. No dia 6 de janeiro, nova preterição de 4 nomes e, no dia seguinte, nova lista substituindo esses 4.

Finalmente, no dia 11 de janeiro, uma nota oficial do Ministério da Justiça condicionou a liberação e embarque para o Chile dos 70 presos a um Comunicado da VPR comprometendo-se a liberar o embaixador. No dia seguinte, a VPR cumpriu essa exigência e, às 24 horas do dia 13 de janeiro de 1971, os 70 presos, escoltados por três agentes da Polícia Federal embarcaram no Galeão, em um Boeing da Varig e, às 4:15 horas de 14 de janeiro desembarcaram no aeroporto Puhaduel, em Santiago, sendo fotografados ao lado do avião com os punhos cerrados e saudados por dezenas de militantes, brasileiros e chilenos, postados nas varandas do aeroporto, entoando o hino da Internacional Socialista.

Dos 70 presos banidos do Brasil, 24 eram militantes da VPR e os demais 46 pertenciam a outras organizações.
No dia 15 de janeiro de 1971, Lamarca abandonou o "aparelho" e, no alvorecer do dia 16, o embaixador foi deixado próximo ao penhasco da igreja da Penha, em um Volks, por Alfredo Helio Sirkis e Gerson Teodoro de Oliveira. Pouco tempo depois, Gerson Teodoro de Oliveira, a bordo desse Volks, que estava registrado no nome frio por ele utilizado, foi morto pela polícia.

Após esse tremendo desgaste de ter que manter o embaixador confinado por 39 dias, de fazer e refazer relações de presos e de impedir o "justiçamento" do embaixador, conforme desejava a maioria da VPR, a liderança de Carlos Lamarca estava irremediavelmente desgastada.

Acolhido em um "aparelho" do MR8, na região dos Lagos, juntamente com sua amante Iara Iavelberg, Lamarca, em 22 de março de 1971, enviou um Comunicado à VPR escrito de próprio punho. Abaixo, uma cópia literal desse documento:
"Ao Comando da VPR. Assunto: Pedido de Desligamento. Caráter: Irrevogável.

Apresento, conforme normas internas da Org, o meu pedido de desligamento para apreciação no meu órgão de militância. Considero essa apreciação como necessária para a formalização de crítica e auto-crítica (sic).
Dou caráter de irrevogabilidade à (sic) este pedido em virtude de:
1) divergir da linha política da VPR, conforme coloquei em diversos documentos internos;
2) ter constatado desvios ideológicos da VPR e a deformação que acarreta em muitos dos seus quadros;
3) não ter conseguido levar a luta interna que iniciei há um ano com a devida serenidade;
4) não conseguir romper com o culto ao sectarismo existente na VPR;
5) discordar do método de direção (apesar de ser Cmt-em-Chefe); a Org impede a liberação de potencial, não forma quadros, aliena militantes, deforma dirigentes, elimina a criatividade, impede a prática leninista – tudo como já coloquei em documentos internos.

Considero-me também deformado – na Org em que vou militar farei autocrítica na prática. Coloco-me como deformado porque constatei, na prática, essa deformação. Na VPR não há lugar para uma autocrítica revolucionária, em todas as vezes que fiz, foi politicamente capitalizada para a defesa de posições – persistir é aceitar a deformação.

Estarei sempre atento para responder questionamento da VPR sobre qualquer acontecimento na organização – de 24 de janeiro de 1969 até esta data 22 de março de 1971 – se me chegar por escrito. Aguardarei a análise crítica da VPR, solicitando o direito de resposta, assim como apuração de responsabilidade pessoal, em qualquer época, e no nível desejado pela VPR. Condicionarei a minha entrada em outra Organização a isto, para que fique clara a minha predisposição de assumir a responsabilidade dos meus atos na militância individual ou coletiva na VPR.

Sempre travei a luta interna e procurei a coesão sem conciliar – saio sem travar uma luta desagregadora – apesar de ter cometido uma violência ao escrever o documento CONTRA O CUPULISMO. Uma violência, mas uma deformação. A deformação é uma necessidade da VPR. Sem a violência as posições políticas não afloram – e, de deformação em deformação à degradação política.
À VPR só resta um caminho, o CONGRESSO – um longo processo de discussões e um profundo imobilismo – se tentar andar quebra.

Tenho contribuições a dar para a Revolução no Brasil, e aqui ficarei e, na Organização em que for militar farei um comunicado à esquerda apresentando os motivos do desligamento e do ingresso em outra Organização Revolucionária.

O que sei, e que possa afetar a segurança da VPR morre comigo.
OUSAR LUTAR
OUSAR VENCER
Claudio – 22- MAR - 71"

O original do documento acima foi apreendido pelo Centro de Informações da Aeronáutica no "aparelho" de Alex Polari de Alverga, pertencente Ao Comando Nacional da VPR, quando de sua prisão, em maio de 1971.

Em 22 de junho de 1971, Carlos Lamarca e Iara Iavelberg, em frente a uma loja do Bob’s, na Avenida Brasil, Rio de Janeiro, embarcaram em uma Kombi que, precedida por um Volks, os levou a Salvador/BA. Nas proximidades de Salvador, ambos passaram para o Volks e a Kombi retornou ao Rio com seu motorista. Investigações posteriores indicaram que a Kombi tinha placa de Belém/PA e pertencia a um paraense, estudante de Economia no Rio; e que o Volks, de cor branca, tinha placa de Petrópolis/RJ.
Com base nesses dois informes foram levantadas, pelo Centro de Informações da Aeronáutica, as identidades dos proprietários, dois colaboradores do MR-8. O Volks pertencia ao filho de um ex-Ministro do STF, cassado, e a Kombi pertencia, realmente, a um estudante paraense. Seus nomes serão preservados. Eles nunca foram presos. Passaram a ser monitorados, pois poderiam, no futuro, passar a colaborar – como realmente veio a ocorrer com um deles - e eram uma forma da Inteligência não perder contato com a Organização.

Menos de três meses depois, em 17 de setembro de 1971, Carlos Lamarca era morto no sertão da Bahia e o MR-8, no Rio de Janeiro e na Bahia, desmantelado. Lamarca foi o último dos chamados grandes comandantes da guerrilha a ser eliminado. Os dois outros, Carlos Marighela, e seu sucessor, Joaquim Câmara Ferreira (“Toledo”), morreram em novembro de 1969 e dezembro de 1970.

Em 1971, o balanço geral, feito por militantes da VPR, era de que as organizações da esquerda armada haviam sido derrotadas em razão da ação da chamada “repressão” que levou ao seu isolamento social e político. Os remanescentes da VPR no Brasil já haviam jogado a toalha com a divulgação, no dia 7 de agosto de 1971, de três documentos históricos:

O Comunicado nº 1 (Novo Comando) afirmava que “em vista dos últimos acontecimentos, fica estabelecido um novo comando na organização”; que esse novo comando “assume a organização praticamente extinta e vai tentar salvar o que sobrou”;

O Comunicado nº 2 (Medidas Imediatas) assinalava que “atualmente o que existe é o final da derrota, alguns elementos que devem ser preservados para que se possa tirar do fracasso desta experiência as lições necessárias (...) e, para isto, determina de forma imediata: a) a organização está desmobilizada; b) está convocado o II Congresso Nacional (...) por desmobilização entendemos a suspensão das ações armadas (...)”;

O Comunicado nº 3 (Aos Companheiros no Exterior): “A organização chegou agora ao esgotamento total. Estamos sem as mínimas condições de atuação e sem possibilidades por mais remotas de tirar uma definição conseqüente, que sirva de guia para uma prática revolucionária (...) A crise política da organização que se seguiu à ação do embaixador suíço levou a uma aguda crise no Comando em abril/maio deste ano, tendo como conseqüência o desligamento inusitado de dois dos companheiros do Comando Nacional. Um desses companheiros caiu a 3 de maio, outro pediu ingresso em outra organização (...) O companheiro do Comando restante estabeleceu uma assim chamada ‘Coordenação Provisória’ que teve vida curta. Sua finalidade era coordenar discussões na organização, mas já a 12 de maio caíam dois companheiros da Coordenação, restando dela um único. Na realidade, porém, a situação era muito pior: a Unidade de Combate da Guanabara perdeu de março até maio quase todos os seus quadros. Restaram alguns poucos, dos quais caíram dois entre maio e agosto. Em São Paulo já não existe Unidade de Combate, sendo alguns quadros recém recrutados, que não têm condições de, sozinhos, montar uma UC (...) Entre 1 e 5 de agosto caíram dois companheiros fundamentais no NE (...) A organização está desmobilizada (o que significa apenas reconhecer com palavras uma situação de fato que se estendia desde maio deste ano e buscar salvar o que sobrou). Convocamos o Congresso, mas para realizá-lo precisamos que os companheiros nos enviem dinheiro (...) Sem dinheiro certamente não sobrará um único remanescente no Brasil. Esperamos, com urgência, a colaboração dos companheiros”.
O ato final da VPR foi realizado no Chile, em julho de 1973, às vésperas da deposição do governo Allende: uma reunião de avaliação, da qual participaram os militantes que se encontravam foragidos ou banidos naquele país. Essa reunião formalizou a extinção da Vanguarda Popular Revolucionária e sua desmobilização por completo, pois voltar ao Brasil naquele momento para prosseguir na luta armada não fazia parte da agenda pessoal da quase totalidade dos militantes.

A VPR, constituída em março de 1968, por um grupo partidário da teoria do “foco guerrilheiro” que havia deixado a organização Política Operária, mais conhecida como POLOP, e por diversos sargentos e marinheiros expulsos das Forças Armadas, muitos com treinamento em Cuba, remanescentes do falido Movimento Nacional Revolucionário de Brizola, durante os cinco anos em que atuou, seqüestrou embaixadores, matou, “justiçou”, assaltou bancos e carros-fortes e estabelecimentos comerciais. Os que sobraram, no entanto, foram anistiados e a maioria recompensada financeiramente por tentar transformar o Brasil em uma república popular democrática.

Na realidade, apesar da audácia, da lenda e do mito, Carlos Lamarca foi um desertor e um traidor do Exército Brasileiro.
E é assim que deverá passar à História.

Entretanto, aquele grupo de militares e civis – muitos dos quais não mais estão entre nós - que erradicou o terrorismo, os seqüestros, os assaltos e os assassinatos de cunho político, que sacrificaram suas vidas e a de seus familiares, não receberam, jamais, o reconhecimento da Pátria e de seus governantes.
 

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  • Luiz Carlos Da Cunha
  • 08 Outubro 2015


“A geografia prefigura a história” (Euclides Da Cunha)

Há um século e dez anos Euclides Da Cunha publicou o ensaio histórico intitulado O primado do Pacífico, profetizando sobre severos termos estatísticos da época, o determinismo da república americana no viés integracionista ao comércio asiático. À ocasião despontava como seu parceiro principal o Japão, e, de longe, o Império do Meio esboçava inclinar-se da influência inglesa ao anelo americano.

 Desde então até hoje, episódios surpreendentes e dramáticos estremeceram a instabilidade histórica mundial: a derrota do Japão na II Guerra Mundial, a criação da republica Popular da China em 48, a ousada virada diplomática de Nixon–Kissinger em 1972, estabelecendo relações com o inimigo, e assoalhando a escalada comercial de trinta anos de parceria interdependente das duas maiores potências econômicas mundiais.

Assistimos agora o presidente Obama anunciando a formação do acordo Transpacífico, com dez países distanciados 20 mil quilômetros de mar, do oeste asiático à margem oeste da América, articulados na maior malha marítima comercial ao peso respeitável de 40% do PIB mundial. O acometimento foi fermentado em oito anos de tratativas diplomáticas, econômicas, jurídicas e comerciais. Nele se exclui adrede a China. E por razões de prudência e pragmatismo; a China – agora parceira - ao embalo de seu crescimento ininterrupto, expõe explícitas e ambiciosas demonstrações de força sobre as nações circunvizinhas. A criação desta coalizão comercial debruçada sobre o Pacífico liderada pelos EEUU, credencia Obama entre os grandes condutores da presidência americana. Visão estratégica de cem anos.

A presença do Chile Peru e México relegou ao ostracismo os países prisioneiros do MERCOSUL, que há vinte anos desacertam um tratado comercial com os USA e a União Europea. As conseqüências mais percucientes da Parceria Transpacífico para conosco , na perspectiva de duas décadas no concerto mundial do comércio, são nada animadoras. O Brasil pagará um alto preço pela insensatez diplomática dominante nesta década. Nossa diplomacia estiolou-se.
 

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  • Eliane Catanhêde - Estadão
  • 06 Outubro 2015

Podem anotar aí: a próxima etapa da “reforma ministerial” do Lula é limar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Lula demorou a exercer seu domínio sobre a pupila Dilma Rousseff, que esperneou o quanto pôde, mas, agora, ele não vai parar mais. A intervenção no governo, ou o impeachment branco, vai longe.

A estratégia e o cronograma do ataque a Levy, cada vez mais estranho no ninho, já está claríssima: deixar que ele faça o “trabalho sujo” e depois jogá-lo às traças, ou de volta aos bancos. Como “trabalho sujo”, entenda-se a correção de rumos, o ajuste fiscal, o aumento de impostos, o corte de gastos.

Depois, põe-se a culpa nele por tudo o que der errado, aponta-se Levy como o “inimigo do povo, o algoz dos pobres, o neoliberal, o que manchou os ideais do PT” e parte-se para uma política a la Lula: muito crédito barato, consumo, populismo e oba-oba. Embevecido com os seus oito anos, movidos pelos ventos externos, pelo efetivo processo de inclusão social e por sua inegável capacidade política, Lula acha que pode recuperar a deificação perdida e voltar nos braços do povo em 2018. Mas as coisas mudaram e mudaram muitíssimo, dentro e fora do País.

Os sinais da estratégia e da cronologia do ataque de Lula a Levy estão aí na praça, a céu aberto. Começaram com declarações daqui e dali de lulistas empedernidos, foram formalizados pela Fundação Perseu Abramo, viraram conversa animada no Congresso e disseminaram-se pelos restaurantes onde a pauta é “como salvar a pátria”. Leia-se: como salvar Lula e o PT.

Dilma não decide mais nada. E quem decide - Lula e os seus - imagina que a reforma ministerial, com o corte de 39 para “só” 31 ministérios, a dança de cadeiras e a invasão desenfreada do PMDB, vai resolver dois problemas imediatos: arquivar os processos de impeachment e possibilitar o aumento de receita, seja com a CPMF ou com outras ideias engenhosas do tipo.

Dois fatores são fundamentais. Eduardo Cunha não vale mais um tostão furado, seu destino aponta para a renúncia ou a cassação. E Lula acaba de ganhar um substituto não só à altura de Gilberto Carvalho, mas muito, muito, muito mais hábil como seus olhos, ouvidos e voz no gabinete presidencial: o carioca-baiano Jaques Wagner. Malandro, cheio de lábia, Wagner é o único grão petista que consegue ser, ao mesmo tempo, lulista e dilmista. Haja competência política! Que ele vai exercitar com a “base aliada”.

Depois do Congresso amansado, com o leão Cunha desdentado e a raposa Wagner botando as unhas de fora, o passo seguinte é “cuidar da economia”. Não interessa o custo para o País e o futuro, o que realmente importa é tomar um rumo que garanta a recuperação da popularidade esgarçada e o reencontro do PT com suas bases. Com Levy é que não seria.

“É a economia, estúpido!”, lembram-se? Depois de dar carne às feras aliadas, será a vez de dar sangue às bases e aos eleitores. Não pode ser o de Dilma, que precisa manter a cadeira para evitar que o vice Michel Temer puxe o PSDB de volta ao Planalto. E muito menos pode ser o de Lula, que é o eixo de tudo e um sobrevivente por natureza. Logo, o próximo a ser estraçalhado e jogado à opinião pública será Levy.

Quem vai levantar um dedo para defendê-lo no Planalto, no governo, no PT, na Fundação Perseu Abramo, no MST, na UNE, no MTST? Viv´alma. Se foi fácil desfazer-se até dos ícones José Dirceu e José Genoíno, será facílimo desvencilhar-se de Levy, como culpado número um. Só tem aquele probleminha: todo mundo sabe que a tragédia da economia começou com Dilma1, que as soluções populistas serão um novo desastre e que, apesar de Lula estar mandando e desmandando, a Lava Jato vai continuar firme e forte com ou sem Levy, com ou sem José Eduardo Cardozo. Eles saem, os problemas ficam. E tendem a piorar muito, inclusive para Lula. Gato comeu. E o PSDB, hein?! O PMDB usou, abusou e jogou fora.

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  • Luciano Henrique
  • 06 Outubro 2015

(Publicado originalmente em http://lucianoayan.com/)

Acabei de ler um troço inacreditável, que por si só já deveria levar o Sr. Luís Inácio Lula da Silva para a cadeia. Está na notícia Lula critica Foro de São Paulo e propõe nova organização de esquerda, do Estadão. Bem lembrou Ricardo Almeida, no Facebook: “O Estadão diz que Lula critica uma organização que não existe e propõe criar outra que eles vão esconder a existência no futuro.”

Diz o Brahma, em evento que contou com a presença do vice-presidente da Bolívia, Alvaro Linera:
Faço o mea culpa. O PT não soube transformar em grandeza de política internacional aquilo que fizemos aqui no Brasil. O PT poderia ter feito muito mais. Nós ficamos só no Foro de São Paulo e cada vez com menos gente importante comparecendo. Temos que criar um instrumento na América Latina para unificar as forças de esquerda.
Quer dizer: já não estão satisfeitos com o butim. O caso é que os partidos do Foro já saquearam todos seus países, e daí, em um mundo globalizado, estão se complicando. Por isso, estão tendo que apelar a golpes mais radicais e muita violência para se sustentar no poder. Mas isso dá trabalho. Qual a solução? Organizar mais países no “esquema”.
Mas a coisa ainda piora. Veja isto:

Petrobrás. Ao lado do segundo homem na cadeia de comando da Bolívia, Lula revelou que foi consultado por Evo Morales, então candidato a presidente do país vizinho, sobre a possibilidade de estatizar as plantas da Petrobrás em território boliviano.

“O Evo me perguntou: ‘como vocês ficarão se nós nacionalizarmos a Petrobrás’. Respondi: ‘o gás é de vocês’. E foi assim que nos comportamos, respeitando a soberania da Bolívia”, disse Lula.

No dia 1º de maio de 2006, assim que assumiu o poder, Morales determinou a nacionalização de toda cadeia de exploração de gás e petróleo da Bolívia e a ocupação militar das plantas, inclusive da Petrobrás, sob alegação de que as petroleiras ganham muito, pagam pouco ao Estado e que os contratos haviam sido fechados em governos anteriores sob suspeitas de corrupção. A estatal brasileira havia investido US$ 1,5 bilhão (cerca de R$ 6 bilhões) no país andino desde 1997.

É isto!
O Foro de São Paulo também serve como um cartel, cujos membros combinam táticas e métodos para tomar o poder totalitário, e utilizarem o dinheiro suado de seus pagadores de impostos para manutenção de ditaduras. Conforme a necessidade, um líder político ajuda o outro. Basicamente como funciona um cartel do tráfico de drogas.
Mas será que Lula havia bebido nesse dia? Pois ele soltou a língua e confessou ser um entrevista, praticando um crime contra o Brasil. Ele não podia combinar o jogo em um cartel dessa forma, pois a Petrobrás não é sua propriedade privada. Ele só poderia ser considerado inocente se conseguisse convencer aos demais de que “não sabia de nada”, mas suas declarações demonstraram o exato oposto.

Fica a pergunta: será que ninguém vai fazer nada?
Outra dica: há muitos direitistas que acham que os ataques ao Foro de São Paulo devem ser priorizados (enquanto outros acham que priorizar o ataque ao PT, neste momento), é melhor. Para os primeiros, que tal transformarem esse discurso em realidade e exigirem que deputados não-bolivarianos do Brasil exijam a prisão do Sr. Lula e, agora sim, punições mais assertivas ao PT, pelo crime de lesa-pátria?

 

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  • Gilberto Simões Pires
  • 05 Outubro 2015

(www.pontocritico.com)

MALDIÇÃO
A noticia divulgada hoje, no jornal O Globo, que trata das infames e injustas pensões vitalícias pagas pelo governo a pelo menos 60.707 filhas, maiores de 21 anos, de funcionários civis da União, tem tudo a ver com que venho escrevendo nos últimos editoriais do Ponto Critico.
 

AUMENTO DE IMPOSTOS
Estou certo de que ao ler o texto publicado em O Globo, os leitores entenderão, claramente, as razões pelas quais o governo está tão interessado em aumentar a arrecadação tributária. Olhem só o tamanho do absurdo:

FILHAS SOLTEIRAS
Há beneficiárias que recebem pensão há pelo menos 25 anos. A lei que prevê a pensão a filhas solteiras foi instituída no caso dos servidores civis, em 1958, e diz que para manter o privilégio, basta que elas se mantenham solteiras e não tenham cargo público ou outra ocupação capaz de prover subsistência.
A lei foi extinta em 1990, mas as beneficiárias que já tinham a pensão seguiram recebendo o dinheiro. Pode?

2,4 BILHÕES/ANO
A maior parte das pensionistas está no Executivo Federal. Elas corresponde a 60.461 benefícios, cujo valor médio é de 3.048,46 reais mensais, conforme informou o Ministério do Planejamento. O impacto estimado APENAS AOS COFRES DO GOVERNO FEDERAL ( tem muita coisa tipo nos Estados) equivale a 2,4 bilhões de reais por ano.

SENADO
No Senado, o recurso é distribuído a 195 mulheres e consumirá 32,55 milhões de reais apenas neste ano. Dessas pensionistas, 49,2% recebem mensalmente mais de 10.000 reais e outras 23,5% ganham acima de 20.000 reais. Onze mulheres recebem 30.000 reais ou mais - respeitando o teto do serviço público, que é de 33.700 reais.

1a CLASSE
Além da estúpida e injusta ESTABILIDADE NO EMPREGO, que só existe no setor público, a sociedade ainda é obrigada a sustentar o escândalo das aposentadorias e pensões dos chamados - servidores -, considerados de 1a Classe.

OUTRA FORMA
Como não há santo que consiga acabar com a CLASSE DOS PRIVILEGIADOS, quem sabe tentamos outra forma: forçando a barra para fazer com que a turma da 2a CLASSE seja promovida.

 

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  • Paulo Moura
  • 04 Outubro 2015


Prof. Paulo Moura - professorpaulomoura.com.br

Uma breve passagem pelo noticiário sobre dos desdobramentos da recém-concluída(?) reforma ministerial do governo Dilma revela alguns consensos:

1. Lula entrou de cabeça na operação política;
Com isso, o petista comprometeu-se definitivamente com a condução política do governo, passando a ser uma espécie de ministro-chefe sem pasta. Por mais que Jaques Wagner e Berzoini venham a ser negociadores e executores dos próximos movimentos do Planalto, Lula terá que ser o fiador e, muitas vezes, ele mesmo terá que agir para garantir a eficácia daquilo que for deliberado. Em política é sempre difícil fazer-se afirmações definitivas sobre o que pode vir a acontecer, mas, esse lance tem as características de “última cartada”. Lula é a última bala. O PT dificilmente terá outra oportunidade se essa jogada fracassar.

1. Dilma tornou-se irrelevante, mas o PT ganhou algum fôlego;
O PT mata um leão por dia na ânsia de permanecer no poder. Uma mudança da magnitude dessa que Lula acaba de patrocinar sempre exige dos demais players um certo tempo para avaliarem o cenário e se reposicionarem. Isso, por si só, coloca em questão o calendário das ações patrocinadas pelos adversários do PT. É hora de o TCU rejeitar as contas da Dilma ou vale protelar? É hora de prosseguir com a tramitação do impeachment ou vale segurar mais um pouco? É hora de voltar às ruas? Se três manifestações com milhões de pessoas nas ruas não foram suficientes para derrubar Dilma, o que será preciso fazer para consumar o impeachment?

Os movimentos anteriores de Dilma tiveram fôlego curto. Em pouco tempo as “mudanças” que Dilma patrocinou se mostraram ineficazes. Em seguida o rio dos acontecimentos que conduz a conjuntura na direção do impeachment retomou seu curso e a presidente se mostrou mais encurralada pela sua incompetência política até o momento em que se rendeu a Lula.

Dessa vez a mudança foi efetiva. Em primeiro lugar, porque a operação política mudou de mãos com a substituição de Dilma e Mercadante por Lula, Jaques Wagner e Berzoini. Em segundo lugar, porque novos segmentos do PMDB foram trazidos para dentro do governo, sugerindo possíveis obstáculos à tramitação do impeachment.

1. Cunha está ferido, mas não está morto;
A revelação das contas de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) na Suíça, visivelmente abalou sua imagem e roubou-lhe força para agir com a desenvoltura com que vinha pautando a agenda antipt. Para os partidos de oposição e os movimentos de rua, ficou, no mínimo, constrangedor associar-se a Cunha daqui para frente. Mesmo assim, nada impede que sigam atuando de forma combinada.

Por outro lado, Lula patrocinou um movimento inteligente de cooptação de liderados (ou seriam ex-liderados?) de Cunha, apostando no possível ocaso da liderança do presidente da Câmara dos Deputados dentro do PMDB. Mas, Cunha segue no cargo, no controle da tramitação da pauta e da agenda do impeachment e, agora, com maiores razões para querer vingança de quem o teria ferido de morte.

A dúvida que o futuro logo responderá é: o PMDB vai entregar o que Lula comprou?

2. O PT reposicionou-se no governo;
A imprensa, de modo geral, apontou enfraquecimento do PT no governo. Discordo. Se os movimentos que Lula está patrocinando derem certo a ponto de tirar o governo das cordas, o PT terá ganhado poder.

Ninguém na imprensa percebeu dois lances estratégicos muito importantes que Lula bancou na reforma ministerial. O primeiro deles foi alojar Miguel Rosseto no ministério dos sindicatos, agora com orçamento turbinado pela fusão com a Previdência. Nesse momento em que o STF proibiu financiamento empresarial das campanhas, irrigar os sindicatos com polpudos repasses governamentais pode ser uma forma de o PT retomar (se é quem um dia abandonou), o conhecido método de usar os sindicatos para “alavancar” candidatos de esquerda. Afinal, embora vivam de dinheiro público, os gastos dos sindicatos não são controlados pelo TCU e nem por qualquer outro órgão que os audite externamente. Igualmente, nunca se viu a Justiça Eleitoral jogar a lupa sobre a forma como os candidatos oriundos do sindicalismo financiam suas campanhas.

O segundo foi a extinção do Gabinete de Segurança Institucional e a transferência das responsabilidades (ABIN, inclusive) a ele atribuídas das mãos de um General (que abriu a boca, diga-se de passagem), para as mãos de Berzoini. Se, a esse gesto se somar o decreto de Jaques Wagner (que não foi revogado, de fato) retirando do Comando das FFAA o poder deliberativo sobre promoções, ver-se-á em andamento uma estratégia deliberada de aparelhamento dessa área, de grande utilidade nas disputas de poder que se travam longe da vista ingênua dos leigos.

Se, por um lado, Lula patrocinou movimentos decisivos para comandar a política do governo, o mesmo não se pode dizer sobre a gestão da economia. A imprensa especula sobre a eventual substituição de Joaquim Levy (que iria para o BC) por Henrique Meirelles, que assumira o ministério da Fazenda. Se confirmada, essa jogada visaria contornar o segundo rebaixamento do Brasil por mais uma agência de rating (Fitch), e ganhar tempo para o governo assaltar nossos bolsos com mais impostos de modo a conter a deterioração das contas públicas e das suas débeis condições de governabilidade.

Mesmo com todo esse esforço, tudo indica que a volta da CPMF não passa no Congresso devido à dificuldade de aprová-la com maioria de 3/5 nas duas Casas Legislativas com duas votações em cada uma. O governo terá que buscar alternativas, e rápido. Por outro lado, quanto mais busca meter a mão no bolso da população, mais insatisfação e impopularidade causa. A deterioração da economia se acelera e o agravamento da situação tende a gerar fatos capazes de chacoalhar o tabuleiro e embaralhar as peças que Lula recém “organizou”.

Se isso acontecer, o PT terá que enfrentar um PMDB reposicionado, ocupando maiores fatias do governo, e sempre com a possibilidade do impeachment ao alcance da mão. Cunha, que controla o calendário do impeachment, aparentemente, não foi comprado e quer vingança. Temer segue reticente, distante e enigmático. Tendo ido até onde foi, fica difícil ao vice retroceder. A convenção nacional do PMDB, na qual seria anunciado o desembarque do governo, segue marcada para 15/11. Faltam seis semanas. Uma eternidade prenhe de imprevisibilidades.

O TCU pode rejeitar as contas de Dilma essa semana. A Fitch pode rebaixar o Brasil a qualquer momento. Sérgio Moro não está parado e as investigações sugerem Lula cada vez mais próximo da prisão. Nos grupos que convocam as manifestações nas mídias sociais já se discute a volta às ruas em 15/11 e a radicalização das ações preparatórias visando constranger de forma mais incisiva os aliados do PT no TCU; no STF e no TSE.

 

 

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