• Ferreira Gullar (Folha)
  • 10 Novembro 2015

 

Desculpe se em vez de uma carta pessoal escrevo-lhe na página de um jornal, tornando público o que tenho a lhe dizer. A razão disso é que o assunto que pretendo abordar nada tem de íntimo. Pelo contrário, diz respeito a todos nós. Trata-se de sua posição em face de tudo o que está acontecendo neste nosso país governado, há quase treze anos, pelo seu partido, o PT.

Entendo que você, a certa altura da vida, tenha acreditado que Lula era um verdadeiro líder operário e que, como tal, conduziria os trabalhadores e o povo pobre na luta pela transformação da sociedade brasileira, a fim de torná-la menos injusta.

Era natural que fizesse essa opção, uma vez que lutar contra a desigualdade sempre fez parte de seus princípios. E muita gente boa, antes de você, também pusera sua esperança neste novo partido que nascia para mudar o Brasil. Alguns dos mais notáveis intelectuais brasileiros fizeram a mesma escolha que você.

É verdade também que, com o passar dos anos, essa convicção se desfez: Lula não era o que eles pensavam que fosse, e o seu partido não se manteve fiel ao que prometera. Mas você, não, você continua confiando em Lula e votando em todos aqueles que Lula indica, ainda que não os conheça ou, o que é pior, mesmo sabendo que não são nenhuma flor que se cheire.

Sei que há petistas mais cegos que você, como aqueles que foram às ruas para tentar impedir a privatização da Telefônica, alegando que se tratava de uma traição ao povo brasileiro. Lembra-se? Pois bem, a privatização foi feita e, graças a ela, o faxineiro aqui do prédio tem telefone celular. Mas, quando alguém fala disso, você muda de assunto.

Sei muito bem que política é coisa complicada. A pessoa defende determinada posição do seu partido, discute com os amigos, briga e, depois, aconteça o que acontecer, não dá o braço a torcer.

E, às vezes, chega ao ponto de defender atitudes indefensáveis, mas que, por terem sido tomadas por Lula, você se sente na obrigação de justificar. Por exemplo, quando Lula abraçou Paulo Maluf, quando se aliou ao bispo Edir Macedo, fazendo do bispo Crivela ministro do seu governo e quando viaja à custas da Odebrecht.

Não sei o que você diz a si mesmo quando, à noite, deita a cabeça no travesseiro. Como justificar o mensalão? Você poderia acreditar que Delúbio, tesoureiro do PT, tenha armado toda aquela patranha, sem nada dizer ao Lula, durante os churrascos que preparava para ele, todo domingo, na Granja do Torto. Tinha de acreditar, pois, do contrário, teria de admitir que Lula foi o verdadeiro mentor do mensalão.

Custa crer como você consegue dormir em meio a tanta mentira. E pior é agora, no chamado petrolão, que é o mensalão multiplicado por dez, já que, enquanto naquele a falcatrua era de algumas dezenas de milhões de reais, neste chega a bilhões. E, mesmo assim, consegue dormir? Não é para sacanear, mas você ainda repete aquele lema em que o PT dizia ser "o partido que não rouba nem deixa roubar"?

Quero crer que, pelo menos nisso, você se manca, porque as delações premiadas deixaram claro que ele não apenas deixa, como rouba também.

E a Dilma, que Lula tirou do bolso do colete e fez presidente da República, sem que antes tivesse sido sequer vereadora? Não chego a considerá-la paspalhona, como a chamou Delfim Neto, embora, com sua arrogância, tenha arrastado o país à bancarrota em que se encontra agora. Essa situação crítica a obrigou a adotar um programa econômico
que sempre rejeitou e combateu.

Mas, ainda assim, tem o desplante de dizer que esta crise é apenas uma transição para a segunda etapa de seu plano de governo. Noutras palavras: a primeira etapa foi para levar o país à bancarrota e a segunda, agora, é para tentar salvá-lo. Ou seja, estava tudo planejado!

Não me diga que acredita nisso, camarada.


*Ferreira Gullar é cronista, crítico de arte e poeta.
 

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  • Cesar Maia
  • 03 Novembro 2015

PMDB: “UMA PONTE PARA O FUTURO”... PÓS-IMPEACHMENT!

1. O debate público sobre o impeachment da presidente Dilma, no calor da sua impopularidade e de uma clara maioria na Câmara de Deputados liderada pelo presidente da casa, foi sendo arrefecido entre empresários e economistas, com a interrogação: Michel Temer, com seu PMDB, será mesmo uma alternativa? As respostas entre aqueles foi se tornando consensual: Não vale a pena o risco. Melhor deixar como está para ver como fica.

2. Nesse quadro, Dilma, mesmo se desgastando com Lula, com o PT e com a CUT, reforçou o ministro Joaquim Levy. A presença garantida de Levy, por Dilma, ajudava àquela resposta: Bem, pelo menos temos um dos nossos no governo e a garantia de paz sindical. Nesse sentido, Lula passava a ser o agente maior da desestabilização de Dilma ao desestabilizar Levy. Ingênuo ele não é. Pego em flagrante, reuniu o PT e pediu silêncio a respeito.

3. De repente, dia 29 de outubro, o PMDB apresenta seu programa alternativo: “Uma Ponte para o Futuro”. No palco, o vice-presidente Michel Temer e o presidente da Fundação Ulysses Guimarães, do PMDB.

4. O programa alternativo é a transcrição do que empresários e economistas liberais vinham propondo para a economia brasileira: literalmente. Os pontos: uma política de desenvolvimento centrada na iniciativa privada, volta ao regime de concessões no petróleo, liberdade comercial ignorando o Mercosul, ampliar a idade mínima de aposentadoria, acabar com as vinculações constitucionais incluindo educação e saúde, fim de todas as indexações, incluindo benefícios previdenciários e salários, permitir que convenções coletivas de trabalho prevaleçam sobre as normais legais, reduzir o número de impostos, racionalizar (flexibilizar) os licenciamentos ambientais... E por aí vai.

5. É claro que um programa como esse não tem a mínima chance de tramitar no Congresso com Dilma na presidência, Lula, CUT e PT na garupa. Haveria a necessidade de um governo novo, carregado de expectativas que, na lógica de Maquiavel, assumiria e faria tudo isso de uma vez, num pacotão para tramitar em regime de urgência, “carregado de esperança e legitimidade”. Não foi assim que Collor fez?

6. Dessa forma, o real, verdadeiro e único objetivo da “Ponte” é atravessar o rubicão da crise e da impopularidade de Dilma e alcançar o outro lado do poder. Esse é o “Futuro” que leva a “Ponte”.

7. Com a confiança do empresariado e de economistas liberais, exponenciado pela mídia que abraçou o programa do PMDB, é desmontado o argumento que ruim com Dilma, pior com Temer. Sem a confiança de Lula, do PT e da CUT, sem o lastro parlamentar do PMDB, o que restaria à Dilma? Ser tragada pela crise? Aceitar pedir licença por razões de saúde? Ou ser atropelada por um impeachment e ficar bradando contra o golpe?

8. O ‘Panorama visto’ da “Ponte” é que não haverá nenhuma pressa para que as medidas de ‘ajuste fiscal’ caminhem em 2015. E que deixem que a crise se aprofunde e asfixie Dilma, que teria deixado de ser solução.
 

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  • Ruy Castro
  • 31 Outubro 2015


FOLHA DE SP - 30/10

Foi o pior aniversário de Lula desde os tempos em que, de calça curta e dedo no nariz em sua Garanhuns (PE) natal, ele torcia pelo Vasco e matava aula para caçar calango. Com um agravante: hoje, aos 70 anos, Lula deve ter menos amigos para lhe soprar velinhas do que aos 10, em 1955.

Em compensação, ninguém tem uma lista mais ilustre de ex-amigos, vivos ou mortos: Hélio Bicudo, Chico de Oliveira, Cristovam Buarque, Fernando Gabeira, Vladimir Palmeira, Plínio de Arruda Sampaio, Marina Silva, Erundina Silva, Chico Alencar, Cesar Benjamin, Francisco Weffort, Paulo de Tarso Venceslau, Beth Mendes, Airton Soares. Juntar esse time a seu favor foi uma façanha; fazê-lo desertar em massa, outra. Sem contar os que, por terem se tornado cadáveres políticos, ele abandonou, como José Dirceu.

Em lugar deles, Lula poderia ter convidado para sua festa os empreiteiros, banqueiros e pecuaristas com quem se dá tão bem. Mas boa parte estava impedida de comparecer, por cumprir temporada em Curitiba ou estar reunindo ou apagando documentos. É compreensível também que, subitamente, muitos não queiram ser vistos ao seu lado. O jeito, para fazer quorum, seria Lula convidar antigos aliados, como Sarney, Collor, Maluf –mas estes bem sabem quando e com quem devem se aliar.

Diante dessa evasão humana, só restou a Lula passar o aniversário com seus filhos, noras, sobrinhos e irmãos, com a recomendação de que eles não levassem os amigos, os quais, por coincidência, têm estreitos laços comerciais entre si e com órgãos da administração pública. Devido a esse caráter de festa íntima, não fazia sentido fechar um restaurante de luxo ou mesmo uma churrascaria –o feudo do Instituto Lula era suficiente.

E quem esteve lá pode ter presenciado um fato histórico: a última vez que Dilma e Lula foram vistos juntos.

 

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  • Carlos I. S. Azambuja
  • 31 Outubro 2015


(Publicado originalmente em www.alertatotal.net)

Um artigo intitulado “Ameaça à Soberania”, publicado em 14 de outubro de 2007 pelo Correio Braziliense, assinalou que o governo venezuelano, através de um grupo de diplomatas, municia uma organização – Círculos Bolivarianos - para transformar o Brasil em uma democracia socialista. Todavia, a infiltração ideológica do então presidente Hugo Chávez no Brasil vai muito além do lançamento e distribuição às universidades e escolas do livro “Simon Bolívar – o Libertador”. Ele é apenas a ponta do iceberg do projeto político de Chávez.

O trabalho de campo foi articulado pelo venezuelano Maximilian Arvelaiz, assessor de política internacional de Chávez. Arvelaiz. no segundo semestre de 2007 percorreu várias capitais brasileiras, com a missão de coordenar os Círculos Bolivarianos, o que culminaria com a realização da I Assembléia Bolivariana Nacional.

O Movimento Bolivariano tem um hino, um símbolo e uma bandeira. “Ousar Lutar, Ousar Vencer. Pátria Socialismo ou Morte! Venceremos!” Essas são as palavras de ordem utilizadas.

Aurélio Fernandes, militante do PDT, conseguiu unificar todas as organizações similares existentes no Rio, como o Círculo Bolivariano Che Guevara, que reúne universitários. Para isso, teria recebido o apoio do Cônsul da Venezuela, embaixador Mario Guglielmelli Vera.

O Rio é o Estado com maior número de unidades bolivarianas: 7. O DF, PE, SC, SP, BA e AM também possuem unidades bolivarianas. A Casa Bolivariana, no Rio, funciona na Praça da República 25-3º andar (prédio da Federação das Associações de Favelas do Rio de Janeiro), local onde, em novembro de 2006 foram realizadas diversas conferências bem como um ato público em favor da reeleição de Hugo Chávez.

Os chavistas brasileiros se aproximaram da Federação das Favelas e fazem palestras para líderes comunitários locais. Nesses encontros foi exibido o documentário “A Revolução não Será Televisionada”, que mostra os bastidores do golpe que tentou tirar Chávez do Poder.

João Claudio Pitillo, líder do Círculo Bolivariano Che Guevara, estudante de História na Universidade do Estado do Rio de Janeiro, era o encarregado da ligação do Movimento com as favelas, segundo reportagem da revista Época de 11 de dezembro de 2007.

Antes disso, em outubro de 2003, foi realizada em São Paulo uma reunião de um Grupo de Trabalho, preparatória para o Congresso Bolivariano dos Povos, realizado em Caracas em 20/23 de novembro de 2003. Esse Congresso foi antecedido por uma outra reunião do Grupo de Trabalho, em Caracas, dias 28 a 30 de agosto de 2003, que aprovou a criação de uma Secretaria Provisional do Congresso e de Comitês Nacionais, em um encontro preparatório para a realização do Congresso, em novembro de 2004.

Para implementar as propostas acima foram aprovadas por unanimidade e decidido designar os integrantes da Secretaria Provisional: Círculos Bolivarianos, da Venezuela; Comitês de Defesa da Revolução, de Cuba; FMLN, de El Salvador; Movimiento al Socialismo, da Bolívia, Movimiento Piquetero Bairros de Pie, da Argentina, e MST, do Brasil.

Participaram do Congresso Bolivariano dos Povos: MST, Instituto de Estudos Políticos Mario Alves, do PCBR, representando por Bruno Costa de Albuquerque Maranhão, coordenador do MLST e do Grupo Brasil Socialista (que atua dentro do PT), além de representantes da UNE e MR8.

Em dezembro de 2006 foi fundado no Rio o Partido da Revolução Bolivariana do Brasil, com 109 assinaturas de eleitores de 11 Estados. O PRBN diz-se nacionalista e defensor da economia de mercado “com presença forte do Estado”.

Em setembro de 2007, integrantes do IV Seminário Internacional de Luta contra o Neoliberalismo, realizado na sede do jornal Inverta, editado pelo Partido Comunista Marxista-Leninista (PCML), decidiram lançar, no Rio de Janeiro, o Capítulo Brasil da Coordenadora Continental Bolivariana, um espaço de coordenação progressista que projeta sua atividade face a consolidação de uma estrutura ampla e democrática. Estiveram presentes ao evento 59 pessoas, a maioria absoluta militantes do PCML.

Finalmente, a Coordenadora Continental Bolivariana realizou seu II Congresso entre os dias 23 e 27 de fevereiro de 2008, em Quito com a presença de militantes do PCML representando a Coordenadora Continental Bolivariana – Capítulo Luiz Carlos Prestes.

Segundo a devassa que vem sendo feita nos computadores de “Raúl Reyes” (terrorista morto no Equador em março de 2008), um correio de 7 de fevereiro de 2007, de “Ivan Márquez Rios” (Luciano Marin Arango) – membro do Comando das FARC – dava detalhes sobre esse Congresso. Segundo esse correio, a Coordenadora foi criada em 2003 pela guerrilha e é controlada por ela em detalhes. Essa nota de “Ivan Márquez Ríos” revelava o local e o programa do II Congresso que viria a ser realizado em Quito em 23 de fevereiro. Esse fato revela a influência das FARC na organização da Coordenadora Continental Bolivariana.

Mensagem de 14 de novembro de 2007, de “Ivan Márquez”, localizada no computador de “Raúl Reyes”,morto em março de 2008 nas selvas do Equador, revela que não apenas os movimentos radicais se aproximaram das FARC. Esse documento indica que o Ministro do Interior da Venezuela, Ramon Rodríguez Chacin, “se interessou sobre possibilidades de que lhes transmitamos nossa experiência em guerra de guerrilhas, a qual eles chamam de guerra assimétrica”. Os e-mails encontrados no computador de “Raúl Reyes” revelam que desde 2002, quando o presidente Uribe assumiu o Poder, as FARC vêm lançando mão de militantes, supostamente refugiados, para montar núcleos de apoio ideológico, financeiro e logístico.

Esse esquema teria propiciado às FARC a montagem de uma rede de cerca de 400 organizações no continente, desde partidos políticos legais até organizações revolucionárias clandestinas.

Observe-se que os computadores de “Raúl Reyes” continham cerca de 600 gigabytes de dados, entre os quais 37.872 documentos escritos, 451 folhas de cálculo, 210.888 imagens, 22.481 páginas web, 7.989 endereços eletrônicos, 10.537 arquivos multimídia (de som e vídeos) e 983 fichários cifrados. Algumas mensagens:

“Osvaldo, chefe do Partido Pátria Livre [do Paraguai] informa de 300 mil dólares nossos em seu poder, cobrados em um resgate em trabalho conjunto FARC-PL (...) No Paraguai existem boas condições para trabalhos financeiros conjuntos”.

Recordamos que no Brasil também foi constituído o Partido Pátria Livre, em 21 de abril de 2009, tornado legal pela Justiça Eleitoral em 3 de outubro de 2011, que não passa da nova denominação do Movimento Revolucionário Oito de Outubro (MR8). Seu presidente é Sérgio Rubens de Araujo Torres, militante do MR8 durante a luta armada, participante de várias ações armadas.

Dois membros da Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional de El Salvador pedem ajuda para sua campanha em 2003. “Podemos pedir que eles façam a inteligência sobre um alvo econômico de 10 ou 20 milhões no Panamá para fazê-lo em conjunto e dividir as utilidades em partes iguais”.

Segundo outros correios eletrônicos, encontrados no computador de um guerrilheiro preso na Colômbia (Gustavo Arbelaiz – “Santiago”),as FARC receberam em 2007, armas procedentes da Nicarágua. Treze mensagens do computador informavam sobre esse envio de armas e munições. Essas mensagens foram expedidas entre 8 de janeiro e 28 de abril de 2008. Em outra mensagem, “Santiago” informa que chegaram 15 mil tiros de AK-47 e 300 de ponto 50. Algumas mensagens falam do “justiçamento” de guerrilheiros por temor que entreguem seus chefes.

“Santiago”, um dos mais importantes chefes da guerrilha, foi detido em abril de 2008 em Buenaventura, Pacífico colombiano. “Santiago” responde a 27 processos, entre os quais o seqüestro de 11 deputados posteriormente assassinados pelas FARC, como aconteceu com “Ivan Ríos” (Luciano Marín Arango), morto por seus homens.


* Historiador.
 

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  • Miguel Nagib
  • 31 Outubro 2015

 

(Publicado originalmente em escolasempartido.org)

No último domingo, enquanto milhares de pessoas denunciavam o despudorado viés ideológico das questões do ENEM, o músico Roger Moreira chamava a atenção, no Twitter, para um problema ainda mais grave e preocupante: “Ganham zero [as] ideias que desrespeitem os direitos humanos. Ué? Não é prova de redação? Ou é controle do pensamento?”

Roger se referia à exigência de que o candidato elabore, na redação, uma proposta de intervenção para o problema abordado, “respeitando os direitos humanos”. Segundo o INEP, é necessário que o candidato “não rompa com valores como cidadania, liberdade, solidariedade e diversidade cultural”, sob pena de zerar na redação.

Ao impor esse requisito, porém, o próprio INEP desrespeita claramente os direitos humanos, já que as liberdades de pensamento, opinião e expressão, além de garantidas pela Constituição Federal, estão previstas na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Condicionar o acesso de um estudante ao ensino superior a que ele possua ou expresse determinada opinião sobre o que quer que seja configura, sem sombra de dúvida, uma forma acintosa de cerceamento àquelas liberdades.

Para piorar a situação, os candidatos e os corretores das provas não estão familiarizados com a legislação brasileira sobre direitos humanos ? o que de resto não é exigido pelo INEP. Assim, o mais provável é que todos considerem como “direitos humanos” um punhado de clichês politicamente corretos consagrados na academia e nos meios de comunicação. É o que sugere aliás o INEP, ao falar vagamente em “cidadania, solidariedade e diversidade cultural”, expressões que remetem de forma inequívoca ao discurso da esquerda.

Este ano, mais de 7 milhões de estudantes tiveram de escrever uma redação sobre a violência contra a mulher na sociedade brasileira. Cuidava-se, é claro, de uma provocação ideológica, e é de supor-se que muitos candidatos tenham ficado temerosos de expressar seu pensamento.

E com razão. Basta pensar no possível desfecho das seguintes situações: o candidato A sustenta, em sua redação, que a proibição do aborto é uma forma de violência contra as mulheres; e apresenta como proposta de intervenção a descriminalização dessa prática. Já o candidato B relativiza o problema da violência contra as mulheres; identifica, entre suas causas, o comportamento das próprias mulheres; e propõe como solução a mudança desse comportamento.

Como serão corrigidas essas redações? Se a legislação brasileira fosse aplicada, o candidato A deveria receber zero, pois a Convenção Americana sobre Direitos Humanos estabelece que o direito à vida deve ser protegido pela lei “desde o momento da concepção". Mas, se prevalecerem os clichês do politicamente correto, não só isso não vai acontecer, como quem pode acabar levando zero é o candidato B, embora sua proposta de intervenção não desrespeite a legislação relativa aos direitos humanos.

Ora, nenhum dos candidatos deveria ser punido ou beneficiado por possuir ou expressar sua opinião. Ninguém pode ser obrigado a dizer o que não pensa para poder entrar numa universidade. O exemplo demonstra, em todo caso, que, além de ferir a liberdade de consciência e de crença dos candidatos, a exigência do INEP, na prática, transforma a prova de redação do ENEM num imenso filtro ideológico de acesso ao ensino superior.

No fim das contas, Simone de Beauvoir era apenas o boi de piranha do ENEM.

Aguardemos para ver se o Ministério Público Federal vai tomar alguma providência contra mais essa afronta à Constituição perpetrada pelo governo petista.

 

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  • Prof. Dr. Juan I. Koffler Anazco
  • 29 Outubro 2015

 

Quando deflagramos em 1964 a revolução que iria varrer do mapa a ameaça comunistoide desses grupelhos celerados de criminosos travestidos de políticos, nunca pensamos que teriam coragem de voltar à cena política nacional. Mas, paradoxalmente, voltaram e são os mesmos que, a exceção do covarde Lula, foram responsáveis pela canalhice que ceifou vidas, assaltou cofres públicos e privados e desestabilizou nossa grande nação, na década de 60. Que grosseira e ridícula situação de contrassenso! Quem entende uma sociedade como a nossa?

Em 2003, um conluio nacional criminoso abriu novamente espaço àqueles que haviam nos infernizado a vida na década de 60. E voltaram mais fortes, graças às leis ignaras e prostituídas que tutelam nossa pátria, permitindo que criminosos de toda e qualquer espécie se locupletem diuturnamente com as benesses do poder - central e periférico. No mesmo diapasão e na mesma época, países como Argentina, Bolívia, Equador, Colômbia e Venezuela (apenas para ficar nos mais ostensivos), além do nosso Brasil, passaram a ser governados por facínoras que visavam (e assim continuam) se locupletar impunemente, chafurdando nas benesses dos cargos públicos em todas as instâncias e em todos os níveis da administração nacional, manchando de maneira indelével nossa imagem internacional e nosso sagrado "pendão da esperança", tão festejado pelo imortal Olavo Bilac.

Sedentos por vingança, cegados pela ignorância que naturalmente os tipifica, ansiosos para assaltar, literalmente, os cofres públicos, esses homúnculos energúmenos se assenhoraram do poder e iniciaram um processo irreversível de destruição da nossa pátria. Com o beneplácito - saliente-se - dos poderes Legislativo e Judiciário, que foram criminosamente estruturados com membros dessa ideologia-seita raivosa, asquerosa, destrutiva, criminosa. Para tanto, concorreram toda a sociedade alienada, alheada e prostituída no processo eleitoral; nossas gloriosas Forças Armadas, manietadas e amordaçadas, silentes e coniventes ao permitirem tão infame sucessão de crimes de lesa-pátria; nossos sindicatos, comprados a peso de ouro; nossa indústria, ansiosa para também se locupletar com os bilionários projetos megalômanos que nunca saíram do papel e apenas exauriram e endividaram os cofres públicos; enfim, uma verdadeira hecatombe nacional, "nunca antes vista neste país" - como gosta tanto de reverberar o grosseiro e intragável mentor de toda essa balbúrdia institucionalizada.

Curiosa e paradoxalmente, os tímidos e inócuos movimentos em contra dessa avalanche de desprezo pela pátria, sequer tiveram qualquer reação social à altura e com a necessária, convincente e enérgica ação que detivesse, in continenti, essa sucessão de crimes de lesa-pátria. Esmolas (ao estilo tipicamente comunista de "programas" tipo "bolsa-família", "bolsa-escola", "minha casa, minha vida", apoio ao homossexualismo, defesa ostensiva de criminosos, aparelhamento estatal superdimensionado, "mais médicos", etc.) resultaram na vitória continuada desse grupelho de apátridas, mantendo-os no poder por estes últimos doze anos, mas com vistas (e intenções insanas) de se perpetuarem no poder por mais 50, 100 anos, enquanto seus "líderes" e respectivas famílias enriquecem a olhos vistos, com a mais descarada e "angelical" face da inocência. Que grotesco paradoxo!

Indivíduos destemidos e honrados, em esforços isolados, surgiram (a exemplo do Juiz Federal Sergio Moro, apenas para citar o de maior proeminência e visibilidade) como raros combatentes sem quartel, com a cara e a coragem de quem sabe defender sua pátria, com a valentia às raias do quixotesco, enquanto essa turba de destruidores da pátria riem e se lambuçam com os gordos resultados do butim expropriado da sociedade brasileira. Sem vergonha, sem censo de responsabilidade, sem arrependimento, sem qualquer sentimento minimamente patriótico, rumo à "venezuelização" brasileira. Que espécie de homúnculos aloprados são esses, afinal?

Mas o que mais causa espécie é a inusitada e compactuadora postura subserviente das nossas gloriosas FFAA e dos seus respectivos comandantes. Não há explicação para essa atitude passiva, às raias do covarde ou do condescendente ao extremo. Mesmo muitos dos seus ilustres oficiais membros de alta patente tendo sido execrados, vilipendiados, massacrados por essa infame, mentirosa, grosseira e virulenta "Comissão da [meia] Verdade" (sic), nada parece lhes afetar, enquanto a sociedade chora a mais amarga, deprimente e destrutiva crise (de valores, de sentimentos, de ética, de moral, econômica, laboral, existencial). Em que se transformou nossa pátria, afinal?

Enquanto esse dantesco cenário cresce e se perpetua como o mais violento, grosseiro, criminoso status quo infernal, festejam-se com foguetórios jogos de futebol, finais de campeonato, festerês de toda e qualquer espécie, olimpíadas e seus bilionários custos, como se estivéssemos vivendo o período mais profícuo, mais benfazejo, mais alvissareiro, mais prometedor de todos os tempos, neste quinhentos anos de vida. Afinal, em que tipo de país se transformou nosso amado Brasil? No mais ostensivo motivo de troça do planeta? Na asquerosa latrina do mundo? Num bizarro país da marginalidade institucionalizada?

Rezo diuturnamente para que o destino me leve deste asqueroso mundo. Não é o meu lugar nem o daqueles que ainda cultuam a ética, a moral, o respeito pela pátria, os bons costumes, a verdadeira cidadania, a solidariedade, o respeito pelo próximo. Não desejo ver a destruição do meu país. Não desejo vê-lho ajoelhado perante mentes insanas, grotescas, indignas de serem tidas como pertencentes a um ser humano. Me penitencio profundamente por estar fazendo parte de uma herança maldita aos meus filhos e netos. Não mereço ser infeliz por condição imposta por esses homúnculos desvairados, aloprados, alienados, criminosos da pior espécie (pois que o fazem para destruir sua própria pátria), cujo lugar de insofismável merecimento é o mais cruento e inimaginável inferno!

Ardam nele por toda a eternidade e, mesmo assim, ainda não será suficiente para que paguem suas monstruosas penas!

* Cientista Jurídico-Social, Professor-Orientador Mestrado & Doutorado
 

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