(Publicado originalmente no Instituto Liberal)
O que compartilho abaixo é o testemunho pungente de uma jovem estudante de Harvard, filha de imigrantes que fugiram da desgraça comunista do Leste Europeu, que não se conforma com o fato de ver tantos dos seus colegas, ainda hoje, vivamente empolgados com aquela ideologia assassina de triste memória. (Link para o original em inglês)
100 anos. 100 milhões de vidas. Pense duas vezes
Por LAURA M. NICOLAE
Em 1988, meu pai, então com vinte e seis anos, saltou de um trem no meio da Hungria, com nada além de uma mochila de roupas nas costas. Nos dois anos seguintes, ele fugiu de um opressivo regime comunista romeno, que o mataria se lhe pusessem as mãos.
Meu pai fugiu de um governo que bateu, torturou e lavou o cérebro de seus cidadãos. Um amigo seu de infância desapareceu depois de rabiscar um insulto sobre o ditador na parede do banheiro da escola. Seus vizinhos morreram de fome por conta de rações de alimentos destinadas a combater a “obesidade”. À medida que a população diminuía, as mulheres eram enviadas ao hospital todos os meses para garantir que engravidassem.
A jornada de fuga do meu pai finalmente levou-o aos Estados Unidos. Ele se mudou para o Centro-Oeste e se casou com uma mulher romena que partiu para a América no momento em que o regime entrou em colapso. Hoje, meus pais são médicos no Kansas. Suas duas filhas foram para Harvard. Eles tiveram sorte.
Cerca de 100 milhões de pessoas morreram nas mãos da ideologia da qual meus pais escaparam. Elas não podem contar suas histórias. Nós devemos a eles reconhecer que essa ideologia não é uma moda passageira, e que suas vítimas não são uma piada.
O mês passado marcou os 100 anos da revolução bolchevique, embora a cultura da faculdade lhe dê exatamente a impressão oposta. As representações do comunismo no campus pintam a ideologia como revolucionária ou idealista, em oposição à sua violência autoritária. Em vez de aprofundar a nossa compreensão do mundo, a experiência da faculdade nos ensina a reduzir uma das ideologias mais destrutivas da história humana a uma narrativa unidimensional satanizada.
Caminhe ao redor do campus, e é provável que você veja Che Guevara em algumas camisas e botões. Piadas secundaristas declaram que ele é secundário em “ideologia e implementação comunistas”. O novo Clube esquerdista no campus busca “uma perspectiva moderna” sobre Marx e Lenin para “aliviar o estigma em torno do conceito de esquerdismo”. Um autor lamenta nessas páginas que é muito difícil encontrar comunistas por aqui. Para muitos estudantes, endossar o comunismo é uma maneira legal de se queixar do mundo.
Depois de passar quatro anos em um campus saturado de memes marxistas e piadas sobre as revoluções comunistas, meus colegas de classe se formam com a impressão de que o comunismo representa uma crítica ao status quo, em vez de uma filosofia empiricamente violenta que destruiu milhões de vidas.
As estatísticas mostram que os jovens americanos são realmente inconscientes do passado angustiante do comunismo. De acordo com uma pesquisa YouGov, apenas metade dos millenials acreditam que o comunismo foi um problema, enquanto cerca de um terço acreditam que o presidente George W. Bush matou mais pessoas do que o líder soviético Joseph Stalin – que matou 20 milhões. Se você perguntar aos millenials quantas pessoas o comunismo matou, 75% irão subavaliar.
Talvez antes de brincar sobre revoluções comunistas, devemos lembrar que a polícia secreta de Stalin torturou “traidores” em prisões secretas, enfiando agulhas sob suas unhas ou batendo até que seus ossos se quebrassem. Lênin tirou comida dos pobres, causando fome na União Soviética que induziu as mães desesperadas a comerem seus próprios filhos, e camponeses a desenterrar cadáveres por comida. Em todos os países em que o comunismo foi tentado, resultou em massacres, fome e terror.
O comunismo não pode ser separado da opressão; na verdade, depende disso. Na sociedade comunista, o coletivo é supremo. A autonomia pessoal é inexistente. Os seres humanos são simplesmente engrenagens em uma máquina encarregada de produzir utopia; eles não têm valor próprio.
Muitos na minha geração borram a realidade do comunismo com a ilusão da utopia. Nunca tive esse luxo. Minha compreensão do comunismo foi personalizada; eu pude ver seu impacto duradouro nos rostos dos membros da minha família, contando histórias de seu passado. Minha perspectiva em relação à ideologia é radicalmente diferente porque conheço as pessoas que sobreviveram; meus parentes continuam a se perguntar sobre seus amigos que morreram.
As histórias de sobreviventes pintam uma imagem mais vívida do comunismo do que os livros texto que meus colegas de classe leram. Embora possamos nunca entender completamente todas as atrocidades que ocorreram sob os regimes comunistas, podemos tentar desesperadamente garantir que o mundo nunca repita seus erros. Para esse fim, devemos contar as histórias dos sobreviventes e lutar contra a banalização do passado sangrento do comunismo.
Meu pai deixou seus pais, amigos e vizinhos na esperança de encontrar a liberdade. Conheço sua história porque esta é minha herança; Você agora conhece sua história porque eu tenho uma voz. Cem milhões de outras pessoas foram silenciadas.
Cem anos depois, não esqueçamos a história das vítimas que não têm voz porque não sobreviveram para escrever suas histórias. Mais importante ainda: não tenhamos a tentação de repeti-lo.
* Laura M. Nicolae, 20 anos, é aluna de Matemática Aplicada em Winthrop House – Harvard.
No Brasil, empresa privada é aquela que é controlada pelo governo, e empresa pública é aquela que ninguém controla (Roberto Campos).
São 150 empresas estatais federais (elefantes brancos) e suas centenas de subsidiárias onde existem algumas curiosidades, tais como: empresas com patrimônio líquido (PL) negativo e outras empresas dependentes exclusivas do tesouro nacional.
Por que não iniciar a privatizaçao ou extinção das empresas com PL negativo e dependentes exclusivas do tesouro nacional?
Esses "elefantes brancos" somente servem para gerar déficit público e empregos para apadrinhados de políticos, além de ser o principal ninho petista. E o mais grave é que o "prostíbulo BNDES" financia muitas delas. Uma imoralidade sem precedentes. No Brasil é proibido ser normal.
- Em 2016 o tesouro nacional colocou R$ 15,1 bilhões na lixeira das estatais dependentes exclusivas do tesouro nacional e está orçado colocar mais R$ 18,4 bilhões em 2017).
- Em junho de 2017 a dívida das estatais era de R$ 428,0 bilhões.
- Em 2015 as empresas com patrimônio líquido negativo totalizaram passivo a descoberto da ordem de R$ 24,5 bilhões. Em 2016 totalizaram passivo a descobeto de R$ 33,3 bilhões.
- Em 2006 existiam 431.259 servidores ativos nas estatais, já em junho de 2017 saltou para 516.375, cujo crescimento foi de 19,74% em relação ao ano de 2006.
- Em 2006 somente nas empresas dependentes exclusivas do tesouro nacional tinha um efetivo de 34.616 servidores ativos, já em junho de 2017 saltou para 72.810 servidores ativos, cujo crescimento foi de 110,34%.
* Informações completas e os anexos mencionados estão disponíveis no 3º Boletim das Empresas Estatais Federais - 2º Trimestres de 2017 - Ministério do Planejamento
(Artigo publicado na Folha, desistindo de disputar a presidência)
Como Ulisses em “A Odisseia”, nos últimos meses estive amarrado ao mastro, tentando escapar da sedução das sereias, cantando a pulmões plenos e por todos os lados, inclusive dentro de mim.
A tripulação, com seus ouvidos devidamente tapados com cera, esforçando-se em não deixar que eu me deixasse levar pelos sons dos chamados quase irresistíveis. São meus amores incondicionais. Meus pais, minha mulher, meus filhos, meus familiares e os amigos próximos que me querem bem.
Eles são unânimes: é fundamental o movimento de sair da proteção e do conforto das selfies no Instagram para somar forças na necessária renovação política brasileira. Mas daí a postular a candidatura a presidente da República há uma distância maior que os oceanos da jornada de Ulisses.
Há algum tempo me vejo diante desta pergunta: qual foi exatamente a trajetória, o fato e até mesmo o momento em que meu nome foi lançado entre os possíveis candidatos à Presidência do Brasil?
Eu mesmo demorei um pouco para encontrar a resposta. Mas depois de alguma reflexão, ela veio e me pareceu muito clara: minha exposição pública e, espero, meu jeito, minhas características, minha personalidade e a forma como vejo o mundo. As mesmas forças que me movem desde sempre me levaram a esse lugar.
Explicando em outras palavras, entre as centenas de defeitos que carrego, talvez eu tenha uma única virtude: carrego desde sempre, genuinamente, enorme paixão e curiosidade pelo outro.
Gosto muito de gente. Sempre gostei. De todo tipo, origem, tamanho, cor, posição na pirâmide. É só olhar para o que faço profissionalmente há mais de duas décadas. Não paro de procurar pelo diferente. E não falo de um olhar distante, acadêmico, teórico. Falo de andanças intermináveis por todos os quadrantes do Brasil e por vários do mundo atrás daquilo que não conheço. Ando há anos e anos por lugares ricos, paupérrimos, super ou subdesenvolvidos, em guerra, centros moderníssimos de saber, cantos absolutamente esquecidos pelo desenvolvimento. Sempre atrás da mesma coisa: gente boa.
E a sensação de “intimidade” que meus mais de 20 anos de televisão provocam nas pessoas possibilita conversas instantaneamente francas e verdadeiras.
Esse dia a dia me permitiu construir uma visão muito própria e ampla dos recortes, curvas e reentrâncias do país. Sinto na pele o pulso das ruas.
E foi essa permanente “bateção de perna”, sempre ” in loco”, que me tirou definitivamente da zona de conforto e me fez ver: O Brasil está sofrendo demais —especialmente os mais pobres, mas não apenas eles— para ficarmos passivos e reféns deste sistema político velho e corrupto. O que está aí jamais será empático, perceberá e muito menos traduzirá as reais necessidades da gente. Da nossa gente.
Vendo meu nome apontado, é muito importante frisar sempre, sem ter levantado a mão ou me oferecido para concorrer ao cargo mais importante na governança do país, minha reação natural foi tentar entender melhor do que se tratava. Gosto de aprender, de saber o que não sei e penso que cultivo um bom hábito desde muito cedo: tentar descobrir e encontrar quem sabe.
De forma intuitiva e quase caseira, fui procurando referências em pessoas que se dedicam de forma mais intensa a entender o Brasil; o sofrimento, as dificuldades e, principalmente, as soluções.
Acho também que sou meio obsessivo por fazer as coisas direito. Por isso, saí buscando e principalmente ouvindo dezenas de pessoas que admiro, que considero inteligentes, sensíveis, maduras e capacitadas, para que elas compartilhassem comigo suas visões. Foram meses que produziram em mim uma pequena revolução, um aprendizado enorme.
Tantas ideias, tanta gente interessada, brilhante e altamente capacitada, disposta a colocar energia a favor de uma transformação definitiva: De um país à deriva em uma nação de verdade, que possa de uma vez por todas refletir a qualidade indiscutível do seu povo.
Aqui é importante pontuar uma constatação que logo apontou no meu radar e que há tempos ecoa nele de maneira incômoda. Minha geração está trabalhando e inovando com vigor em muitas frentes. Há milhares de notáveis empreendedores, profissionais liberais, atletas, executivos, artistas, intelectuais, pensadores e por aí vai. Mas pela política, ela tem feito pouco.
Tenho dito sempre algo que me parece muito evidente, quase óbvio, mas assim mesmo um alerta necessário: se não nos aproximarmos de fato da política, se seguirmos negando esse universo e refratários ao seu ambiente, ele definitivamente não se reinventará por um passe de mágica.
Dito isso, sigo acreditando que o melhor caminho passa obrigatoriamente pelos movimentos cívicos, pela abertura de espaço na mídia para novas lideranças, por uma escuta dos anseios das pessoas, por reformas estruturais, muitas delas doloridas, por políticas públicas afetivas e efetivas, por políticas econômicas modernas e eficazes, pela educação levada a sério, pela saúde tratada com respeito, por tecnologia que alavanque as boas ideias e pela total transparência dos gastos públicos. Por menos politicagem e por mais e melhor representatividade. A lista é grande.
O momento de total frustração com a classe política e com as opções que se apresentam no panorama sucessório levou o meu nome a um lugar central na discussão sobre a cadeira mais importante na condução do país.
É claro que isso me trouxe a sensação boa de que uma parte razoável da população entende o que sou e faço como algo positivo. Evidente também que junto vieram uma pressão muito pesada e questionamentos de todos os tipos.
Já disse e escrevi antes, aqui neste mesmo espaço, mas tenho hoje uma convicção ainda mais vívida e forte de que serei muito mais útil e potente para ajudar meu país e o nosso povo a se mover para um lugar mais digno, ocupando outras posições no front nacional, não só fazendo aquilo que já faço mas ampliando meu raio de ação ainda mais.
Com a mesma certeza de que neste momento não vou pleitear espaço nesta eleição para a Presidência da República, quero registrar que vou continuar, modesta e firmemente, tentando contribuir de maneira ativa para melhorar o país. Vou bem além da voz amplificada enormemente pela televisão que amo fazer, do eco monumental das redes sociais que aprendi a tecer, do instituto que fundei há quase 15 anos e de todos os meios que o carinho das pessoas me proporcionou.
Vou também direcionar toda a energia de que disponho para outra coisa que acredito saber fazer: agregar.
Agregar as mentes sábias que fui encontrando em diferentes camadas da sociedade, dentro e fora do Brasil, pessoas extremamente capazes e dispostas de fato a conjugar o verbo servir no tempo e no sentido corretos. Vou trabalhar efetivamente para estruturar e me juntar a grupos que assumam a missão de ir fundo na elaboração de um pensamento e principalmente de um projeto de país para o Brasil.
E, para isso, não são necessários partidos, cargos, nem eleições.
Essa intenção já esta viva através dos movimentos cívicos dos quais me aproximei com bastante interesse e intensidade. E de outras iniciativas que estão por vir.
Quero registrar de novo que entre as percepções que confirmei nesses últimos meses está a convicção de que não há nada mais importante do que tomarmos consciência da importância da política e de que precisamos nos mover concretamente na direção da atuação incisiva, para que não sejamos mais vítimas passivas e manobráveis de gente desonesta, sem caráter, despreparada e incapaz de entender o conceito básico da interdependência ou de pensar no coletivo.
A hora é de trabalhar por soluções coletivas inteligentes e inovadoras para o país, e não de focar o próprio umbigo ou de alimentar polêmicas pueris e gritas sem sentido.
Quem se interessa pelo que sou e faço pode acreditar: vou atuar cada vez mais, sempre de acordo com minhas crenças, em especial com a fé enorme que tenho neste país.
Contem comigo. Mas não como candidato a presidente.
* Publicado originalmente na Folha de São Paulo
Aqui em Portugal os jornais noticiaram com destaque a morte do antigo chefe mafioso Salvatore Totò Riina, nascido em Corleone, na Sicília, cidade que inspirou Mário Puzzo a escrever O Poderoso Chefão. Totò morreu na cadeia, um dia depois de completar 87 anos, de câncer nos rins. Foi ele que mandou explodir o carro onde estava, com a mulher, o juiz Giovanni Falcone, da operação Mãos Limpas, tão estudada pelo juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro. Os juízes Falcone e Borsellino foram assassinados em 1992 e no ano seguinte Totò estava preso. As autoridades foram ajudadas por delações premiadas, como a de Tomaso Buschetta, preso no Brasil. Totò ao morrer já estava 24 anos atrás das grades, cumprindo 26 condenações a prisão perpétua. Sem direito a tornozeleira ou prisão domiciliar, ou semi-aberto. Morreu sem abrir a boca para contar suas ligações com políticos de Roma.
A Itália é o berço do Direito Romano, que é ensinado a todos os brasileiros que queiram ser advogados. E foi a Justiça italiana que condenou, em todas as instâncias, à prisão perpétua, o assassino de quatro pessoas, Cesare Battisti. Mas ele está livre, porque fugiu para o Brasil com passaporte falso. Ele sabe que aqui é o país da impunidade; por isso foi para o Brasil. Desde menino vejo em filmes americanos que o bandido, para escapar impune, vai para o Brasil. Foi assim com o assaltante do trem pagador inglês, Ronald Biggs. Em vez de ser preso, ficou famoso no Brasil. No Brasil, bandidos ficam famosos. No caso do tetra-assassino Battisti, ganhou a proteção do Presidente da República, Sr. Lula.
É o país onde mesmo que a Justiça mande prender, o Legislativo manda soltar. E se argumenta com Montesquieu, com a separação de poderes, autônomos e funcionando como pesos e contrapesos do poder, o que sugere o trocadilho “presos e contrapresos”. Outros são condenados várias vezes, mas cumprem a pena em casa, dançando em festas - como se divertem com este país festivo! A lei permite que o condenado só cumpra uma sexta parte da pena e ja vai saindo das grades. Outros nem querem sair, porque de lá ficam comandando o crime nas ruas, mandando matar os rivais, como fazia Totò antes de ser preso. Depois, ele ficou incomunicável com o mundo. Aqui, não; tem o celular, tem advogados, tem amigos entre autoridades.
Aqui, assaltante é preso mas é solto em 24 horas e pode continuar o exercício de sua profissão. É protegido pela lei, por advogados, por militantes dos direitos humanos, pelos que odeiam a polícia. Aliás, muita gente se queixa da insegurança mas odeia os defensores da lei. Muita gente se queixa de bala perdida, mas cheira a cocaína com que se compram fuzis. Muita gente se queixa de que as leis são fracas, mas trata de enfraquecê-las ainda mais, desrespeitando-as sempre que for de seu interesse egoísta e incivilizado. Dá arrepios de pensar que na nossa cultura Totò quem sabe pudesse ser candidato à Presidência da República. Parece que vivemos num hospício legal, jurídico, político e de incivilidades.
Cuba comemora o primeiro aniversário da morte de Fidel Castro, focada em um processo eleitoral que implicará mudança presidencial, em uma situação de regressão econômica, hostilidade dos Estados Unidos e estagnação em suas reformas.
A vontade do líder da revolução cubana foi cumprida: nenhuma rua, praça ou edifício, tem seu nome, nem há estátuas ou monumentos dele em Cuba, mas Fidel Castro (1926-2016) é constantemente lembrado.
"Sempre no presente", o jornal Granma, órgão do Partido Comunista Comunista de Cuba (PCC, único), destacou em sua capa na sexta-feira, sublinhando que "a Revolução Cubana, o trabalho perfeitamente construído entre todos, é o maior legado de Fidel. "
A Granma também dedicou um suplemento especial de 12 páginas à Fidel, reproduzindo na capa o "conceito da Revolução" que ele lançou em 2000 e uma foto da guerrilha em Sierra Maestra com mochila e rifle no ombro.
Em Havana e Santiago de Cuba, uma cidade no sudeste da ilha onde as cinzas do "Comandante-em-Chefe" são enterradas e onde Raúl Castro deve comparecer no aniversário, estão planejadas atividades culturais e políticas, sem alterações na vida diária.
Os jovens cubanos vão fazer uma vigília no sábado à noite na histórica escada da Universidade de Havana.
Os cartazes de "Fidel entre nosotros" e "Yo soy Fidel" abundam nas ruas da capital cubana e em anúncios de televisão.
No ano seguinte à sua morte, em 25 de novembro de 2016, os cubanos viram algumas expectativas legítimas: as reformas de Raúl Castro "acabaram sendo muito graduais e irregulares", de acordo com um relatório do economista cubano Pavel Vidal, do Universidad Javeriana de Colômbia, enviada à AFP.
Em agosto, a entrega de licenças para o trabalho privado foi congelada em uma série de atividades e outras foram eliminadas.
De acordo com o ex-diplomata e acadêmico Carlos Alzugaray, há "atrasos" em três objetivos: descentralização estatal, maior abertura ao setor privado e unificação monetária.
Politicamente, ele ressalta, ainda devemos superar "a velha mentalidade" e atualizar a ordem legal e institucional, "porque ninguém pode governar Cuba como Fidel e Raúl fizeram".
Esta desaceleração foi mais dramática devido à deterioração da economia: o objetivo anual de crescimento anual de 2% foi ajustado, em julho, para 1% em julho. A CEPAL estimou recentemente em 0,5% e alguns economistas até previram um valor negativo, como os -0,9% de 2016. Isso sem mencionar os danos causados pelo furacão Irma, ainda não quantificado, que afetou quase toda a ilha em setembro, especialmente os domicílios.
Paralelamente, o presidente Donald Trump endureceu o embargo contra Cuba, limitou mais visitas americanas e voltou ao idioma da Guerra Fria, "um revés" na política de seu antecessor, Barack Obama, segundo Raúl.
Um dia após o aniversário da morte de Fidel, os cubanos vão votar nas eleições municipais, um processo que terminará em fevereiro com a primeira mudança geracional em 60 anos: um novo presidente sem sobrenome Castro e que não será uma figura histórica da revolução.
Todas as previsões coincidem que o atual primeiro vice-presidente, Miguel Díaz-Canel, engenheiro de 57 anos, ocupará a presidência de Cuba, depois de uma lenta carreira política, passo a passo, em todos os níveis de poder.
No entanto, não há nenhuma indicação de que Raúl Castro deixará a liderança do Partido, o principal escritório político do país, pelo menos até seu próximo Congresso, em 2021.
"Nesse cenário, nos próximos dois anos, a agenda e o estilo operacional do governo provavelmente não vão mudar muito", estima Michael Shifter, do Diálogo Interamericano, um centro de análise em Washington.
No entanto, o académico cubano Arturo López-Levy, da Universidade do Texas-Rio Grande Valley, acredita que esta mudança "oferece oportunidades para outras políticas, de acordo com a visão da nova geração que ocupará as melhores posições".
Trata-se do "fechamento de uma era política cubana", acrescenta, mesmo que ele tenha um roteiro até 2030 aprovado pelo Partido.
Raúl Castro deixará pendentes uma reforma constitucional e eleitoral essencial. Também novas leis de negócios, imprensa e cinema.
"É possível que essas medidas pendentes sejam um lastro, mas também podem fornecer uma nova agenda para o presidente", diz Shifter. "Pode se tornar a carta de apresentação", concorda López-Levy. Apesar de um "pouso suave" estar previsto para a nova equipe de Diaz-Canel, de acordo com López-Levy, a adoção dessas medidas pendentes pode causar um choque "mais ou menos agudo entre a mentalidade nova e antiga no poder", diz Alzugaray.
* Texto de Yusnaby.com
** Tradução de Percival Puggina
(Publicado originalmente em www.mises.org.br)
Com a ascensão do populismo nos países desenvolvidos, a globalização econômica caiu em descrédito. Cada vez mais pessoas estão rejeitando a globalização com o argumento de que ela não apenas é injusta como também representa a fonte de todos os males — sendo inclusive a fonte de crises econômicas e imigrações em massa.
Esse tipo de condenação generalizada e abrangente da globalização, porém, apresenta dois erros graves: ela não só é factualmente errada — a globalização econômica comprovadamente aumentou o padrão de vida da população mundial — como também é conceitualmente errada.
Existe o globalismo e existe a globalização. O globalismo é um conceito político. Já a globalização é um conceito econômico.
Globalização econômica
A globalização econômica significa "divisão do trabalho em nível mundial".
A população de cada país se especializa naquilo em que é boa, adquirindo assim uma vantagem comparativa em relação às outras: faço aquilo em que sou melhor que os outros e vendo para eles; e compro dos outros aquilo que eles fazem melhor do que eu. Todas essas transações econômicas devem ser feitas o mais livremente possível, sem a intervenção de governos na forma de tarifas protecionistas e de outras barreiras alfandegárias. (Veja aqui um exemplo prático).
A consequência deste arranjo foi, é e sempre será um aumento no padrão de vida de todos os envolvidos.
Hoje, nenhum país é capaz de viver em autarquia, produzindo absolutamente tudo de que sua população necessita para viver decentemente. Caso um país realmente tentasse produzir tudo o que consome, isso não apenas seria um monumental desperdício de recursos escassos, como também levaria a custos de produção e, consequentemente, preços exorbitantes, afetando drasticamente o padrão de vida da população.
Pense em uma simples camisa. Fabricada na Malásia utilizando máquinas feitas na Alemanha, algodão proveniente da Índia, forros de colarinho do Brasil, e tecido de Portugal, em seguida sendo vendida no varejo em Sidney, em Montreal e em várias cidades dos países em desenvolvimento (ao menos naqueles que são mais abertos ao comércio exterior), a camisa típica da atualidade é o produto dos esforços de diversas pessoas ao redor do mundo. E, notavelmente, o custo de uma camisa típica é equivalente aos rendimentos de apenas umas poucas horas de trabalho de um cidadão comum do mundo industrializado.
Obviamente, o que é verdadeiro para uma camisa vale também para incontáveis produtos disponíveis à venda nos países capitalistas modernos.
Como é possível que, atualmente, um trabalhador comum seja capaz de adquirir facilmente uma ampla variedade de bens e serviços, cuja produção requer os esforços coordenados de milhões de trabalhadores? A resposta é que cada um desses trabalhadores faz parte de um mercado tão vasto e abrangente, que faz com que seja vantajoso para muitos empreendedores e investidores ao redor do mundo organizarem operações de produção altamente especializadas, as quais são lucrativas somente porque o mercado para seus produtos é de escala global.
Esta especialização tanto do trabalho quanto da produção, ao longo de diferentes setores industriais ao redor do mundo, é exatamente o fenômeno da globalização econômica.
(Recentemente, um homem resolveu fabricar, do zero, um simples sanduíche. Ele plantou o trigo para fazer o pão, retirou o sal da água do mar, ordenhou uma vaca para fazer o queijo e a manteiga, matou uma galinha para retirar o filé de frango, fez o próprio picles e teve até de extrair o mel do favo. Seis meses e US$ 1.500 depois, o sanduíche ficou pronto. E, a julgar pela reação dele próprio, a qualidade do produto final foi medíocre).
O fato é que, hoje, nenhum país produz apenas para satisfazer suas próprias necessidades, mas também para atender a produtores e consumidores de outros países. E cada país se especializa naquilo que sabe fazer melhor.
A globalização econômica, com o livre comércio sendo seu componente natural, aumenta a produtividade de todos os envolvidos. E, consequentemente, aumenta também o padrão de vida de todos. Sem a globalização econômica, a pobreza neste planeta não teria sido reduzida com a intensidade em que foi nas últimas décadas.
Por fim, vale ressaltar que todo e qualquer indivíduo é, em si mesmo, um defensor árduo da globalização econômica, mesmo que ele não saiba disso. As pessoas acordam cedo e vão trabalhar exatamente para ganhar dinheiro e, com isso, poderem consumir o que quiserem. As pessoas trabalham e produzem para poder consumir produtos bons e baratos, independentemente de sua procedência. Eles podem ser oriundos de qualquer parte do mundo; o que interessa é que sejam bons e baratos. Isso é globalização econômica.
Impor obstáculos a esse consumo — isto é, restringir a globalização econômica — significa restringir a maneira como as pessoas trabalhadoras podem usufruir os frutos do seu trabalho. No mínimo, isso é imoral e anti-humano.
Globalismo
Logo de início, é fácil ver que o globalismo — que também pode ser chamado de globalização política— não tem absolutamente nada a ver com a globalização econômica.
Globalização econômica significa livre comércio e livre mercado. Trata-se de um arranjo que não apenas não necessita da intervenção de governos e burocratas, como funciona muito melhor sem eles. Indo mais além, trata-se de um arranjo que surge naturalmente quando não há políticos e burocratas impondo obstáculos às transações humanas.
Já o globalismo é o exato oposto: trata-se de um arranjo que só existe por causa de políticos e burocratas. Seria impossível haver globalismo se não houvesse políticos e burocratas.
O globalismo é uma política internacionalista, implantada por burocratas, que vê o mundo inteiro como uma esfera propícia para sua influência política. O objetivo do globalismo é determinar, dirigir e controlar todas as relações entre os cidadãos de vários continentes por meio de intervenções e decretos autoritários.
Eis o argumento central do globalismo: lidar com os problemas cada vez mais complexos deste mundo — que vão desde crises econômicas até a proteção do ambiente — requer um processo centralizado de tomada de decisões, em nível mundial. Consequentemente, leis sociais e regulamentações econômicas devem ser "harmonizadas" ao redor do mundo por um corpo burocrático supranacional, com a imposição de legislações sociais uniformes e políticas específicas para cada setor da economia de cada país.
O estado-nação — na condição de representante soberano do povo — se tornou obsoleto e deve ser substituído por um poder político transnacional, globalmente ativo e imune aos desejos do povo.
Obviamente, a filosofia por trás dessa mentalidade é puramente socialista-coletivista.
Representa também o pilar da União Europeia (UE). Em última instância, o objetivo da UE é criar um super-estado europeu, no qual as nações-estado da Europa irão se dissolver como cubos de açúcar em uma xícara quente de chá. Foi majoritariamente disso que os britânicos quiseram fugir.
Ao menos para o futuro próximo, este sonho burocrático chegou ao fim. O desejo de impor uma uniformidade afundou em meio a uma dura e difícil realidade política e econômica. A UE está passando por mudanças radicais — culminando com a decisão dos britânicos de sair dela — e pode até mesmo entrar em colapso dependendo dos resultados eleitorais em alguns importantes países europeus (França, Holanda, Alemanha e possivelmente Itália) neste ano de 2017.
Com Donald Trump na presidência americana não há mais qualquer apoio intelectual dos EUA ao projeto de unificação européia. A mudança de poder e de direção em Washington diminuiu o poder de influência dos globalistas — o que permite alguma esperança de que a futura política externa americana seja menos agressiva em termos militares. Trump — ao contrário de seus antecessores — ao menos não parece querer impingir uma nova ordem mundial.
Por outro lado, os defensores da globalização econômica têm motivos para estar preocupados. O governo Trump vem ameaçando utilizar medidas protecionistas — majoritariamente na forma de tarifas de importação — para supostamente estimular o emprego e a produção nos EUA, mesmo com toda a teoria e realidade econômicas demonstrando que o efeito será o oposto.
Tamanha interferência na globalização econômica, o que representaria um retrocesso no tempo, não apenas seria um ataque à prosperidade, como também pode se degenerar em conflitos políticos, reacendendo antigas rixas e contendas. Não precisaria ser assim.
Para atacar e até mesmo aniquilar o globalismo não é necessário atacar e fazer retroceder a globalização econômica.
A globalização é Steve Jobs, Jeff Bezos e Michael Dell; o globalismo é George Soros, o CFR, a Comissão Trilateral, os Rockefeller, os Rothschilds e a ONU.
Conclusão
Ao passo que o globalismo representa o autoritarismo e a centralização do poder político em escala mundial, a globalização econômica — que nada mais é do que a divisão do trabalho e o livre comércio — representa a descentralização e a liberdade, promovendo uma produtiva e, ainda mais importante, pacífica cooperação além fronteiras.
A restrição à globalização econômica — ou seja, o protecionismo — nada mais é do que o medo dos incapazes perante a inteligência e as habilidades alheias. Tal postura, além de moralmente condenável, por ser covarde, é também extremamente perigosa. Como já alertava Bastiat, se, em vez de nos permitirmos os benefícios da livre concorrência e do livre comércio, começarmos a atuar incisivamente para impedir o progresso de outras nações, não deveríamos nos surpreender caso boa parte daquela inteligência e habilidade que combatemos por meio de tarifas e restrições de importações acabe se voltando contra nós no futuro, produzindo armas para guerras em vez de mais e melhores bens de consumo que eles querem e podem produzir, e os quais nós queremos voluntariamente consumir.
Como também disse Bastiat, quando bens param de cruzar fronteiras, os exércitos o fazem.
Por isso é de extrema importância preservarmos a globalização econômica.
* Economista-chefe da empresa Degussa e co-fundador da firma de investimentos Polleit & Riechert Investment Management LLP. Professor honorário da Frankfurt School of Finance & Management.