• Francisco José Dominguez
  • 19/09/2018
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UMA NOVA CONSTITUIÇÃO - COISAS A SEREM PENSADAS

 

O autor divergiu do entendimento que manifestei em “A Constituição ‘Cidadã’, a de Mourão e a Viável”. Por isso, escreveu-me a mensagem que aqui transcrevo por atribuir-lhe valor argumentativo num debate que, logo mais, estará aberto em nosso país.

Prezado Puggina


Há muito sigo seus artigos. Sempre muito ponderados, muito cheios de sabedoria e de lógica. Mas, pela primeira vez discordo de um artigo seu. E isto é um elogio ao seu trabalho, já que eu sou tido como um crítico impiedoso.....

Não vou me meter a discutir com o prezado amigo (acho que posso chama-lo assim, pelas afinidades de ideias), porque eu não tenho nenhuma veleidade de me achar mais bem informado, ou mais culto do que ninguém. O fato é que todos concordamos com o óbvio: a Constituição precisa ser mudada, porque está atrapalhando o desenvolvimento do país e criando condições para que a corrupção tome conta dos Três Poderes. O que deve ser mudado é assunto para inúmeros artigos e sugestões. Vou me ater somente ao ponto em que você tocou em seu artigo: Como mudar.

Assim, gostaria de lhe dar alguns tópicos para pensar, ou repensar, suas ideias a respeito de uma nova Constituição.

1 – A Constituição americana foi feita por uma comissão de notáveis. E que notáveis.... Thomas Jefferson, George Washington, Benjamin Franklin e os demais "Founding Fathers", eram a elite da época. Os tempos eram outros, eu sei. Os EUA tinham acabado de se tornar independentes e o povo os apoiava. Bem como não havia ninguém melhor do que eles para fazer o serviço. Fizeram uma Constituição enxuta, que vale até hoje, e que conduziu os EUA à situação de maior potência mundial. Mas também podemos considerar que, se Bolsonaro vencer, teremos vencido a nossa guerra da independência. A guerra contra os comunistas Bolivarianos, Venezuela e Cuba. E o povo vai estar do nosso lado. Difícil dizer se teremos outra oportunidade como esta. Entendo perfeitamente o seu medo de quem seriam os "notáveis" do nosso tempo. Estamos num deserto de homens e ideias, com raros "oásis" espalhados no mesmo. Mas precisamos correr o risco, e escolher bem quem serão os notáveis. Pelos motivos a seguir.

2 – Segundo um grande estudioso de organização, Peter Drucker, existem três modos de alterar as organizações: Reforma, Revolução e Inovação.
- A Reforma seria caracterizada por pequenas mudanças ao longo do tempo. O que ele considera que, na verdade, não mudaria muita coisa. Tudo continuaria como antes.
- A Revolução seria caracterizada pela total destruição de tudo que existia antes, e pela criação de tudo novo, a partir de zero. Seria como a revolução comunista, que pretende destruir a civilização ocidental, para implantar seu "Um mundo novo melhor". O que o professor também desaconselha, porque se jogaria fora toda a experiência acumulada.
- A Inovação, por ele recomendada, seria uma solução que, considerando toda a experiência adquirida previamente, criaria uma nova estrutura organizacional, a partir de zero.
E aqui eu me atrevo a dizer que concordo com ele. Todos os locais onde trabalhei ao longo da vida optaram pelas Reformas. Todos eles se tornaram ineficientes, e perderam suas oportunidades de construírem algo produtivo para si e para seus clientes. E o Brasil tem seguido esse caminho, com resultados bem ruins.

3 – Uma das coisas mais faladas, em Análise de Sistemas, é que, após um sistema receber uma certa quantidade de remendos, quem o projetou se perde no meio da confusão gerada. Portanto, periodicamente, o sistema tem que ser redesenhado a partir de zero, usando a experiência anteriormente adquirida. Como dizia Drucker, INOVAÇÂO. E a Constituição nada mais é do que a documentação que guia um grande Sistema, chamado Brasil.

4 – Temos a mesma idade aproximadamente, eu estou com 73 anos. Portanto, passamos pelas mesmas coisas no país, e temos muitas semelhanças no modo de pensar. Por isso, posso dizer, sem medo de criar melindres, que nós somos uma geração que já está passando o bastão. E é importante que passemos esse bastão em condições favoráveis ao progresso do país.

Uma vez li um livro que me deixou uma grande lição: O Zero e o Infinito, de Arthur Koestler. A lição? "Os jovens querem mudar o mundo, querem mudar tudo. Os velhos não querem mais mudar nada. Da interação do velho com o novo, sai o progresso da humanidade, na velocidade que ela pode suportar."

Não podemos abrir mão, nem do entusiasmo dos jovens, nem da experiência dos velhos. Mas acho que está na hora de mudar o paradigma das reformas progressivas. Estamos num ponto crucial de nossa História. Podemos optar pelas reformas, e manter tudo mais ou menos a mesma coisa, ou INOVAR.

Acredito que o Brasil já teve sua dose de Reformas, e nada me indica que foi uma boa solução.
Abraços do seu leitor e admirador

Francisco José Dominguez