23 de novembro de 2019
Uma boa pergunta: Cuba é o país que os cubanos querem? Para os mais de dois milhões de cubanos que vivem fora da ilha, o NÂO é unânime. Para os onze milhões de cubanos que vivem, na ilha, sessenta anos de racionamento, não existe tal unanimidade, embora a resposta seja principalmente NÃO, rejeitando a insuportável opressão totalitária.
Uma ilha comandada pelo capricho antiamericano de um homem solteiro, que sacrificou os sonhos de 11 milhões de cubanos para tornar seu sonho violento, egoísta e personalista, é a República que queremos? Claramente NÃO. É a nação que queremos, esse conglomerado subjugado e estupidificado porque nunca foi o povo hierarquizado? NÃO.
O país que queremos é uma pátria confundida em slogans sobre a morte? Outra vez não. É o lar comum de todos os cubanos, a panacéia que apenas inclui um pequeno grupo de militantes privilegiados e mandões, acima do bem e do mal, principalmente mal dotados mental e eticamente? NÃO Você tem que ser e se sentir muito inferior para desejar um país sufocante como esse.
A pátria de homens como Martí, Maceo, Céspedes ou Agramonte, guarda semelhança com esse conglomerado servil e genuflexo antes de uma revolução de mentiras, que prometia primeiro a democracia e depois fazia algo muito diferente? NÃO. É a terra que gostaríamos de ter como nossa, uma montanha de ervas daninhas, nascida da negligência de um único partido que apenas se preocupa em manter o poder e não em servir seu povo, traindo os ideais originais já esquecidos? NÃO.
É nosso ideal, como cubanos, passar 24 horas por dia tentando encontrar o que vamos comer? NÃO será que os melhores filhos de Nossa Terra deram a vida para que em 60 anos os mandantes não aprendessem a produzir bens ou serviços? NÃO. Quantos dos revolucionários de 1959 são piores que os batistanos da época?
São bem nascidos em terras cubanas os policiais políticos que, violando suas leis comunistas, aprisionam, fazem desaparecer e torturam um cubano, cujo único crime foi o de se rebelar contra o totalitarismo sórdido e extemporâneo? Liberdade, honra e longa vida a José Daniel Ferrer!
O que restava de boas intenções murchou quando mataram três jovens cubanos humildes que queriam fugir do asilo de Castro; quando sacrificaram sangue cubano em Angola à taxa de dois mil dólares por mercenário cubano que o ditador colocou à disposição de Agostinho Neto; quando foram fusilados quatro comunistas comprometidos com a opressão, para salvar a pele dos líderes de Castro internacionalmente comprometidos com o narcotráfico por Pablo Escobar, transformando a ilha em um terreno baldio inútil, eunuco e estéril, típico de retardados mentais.
Cuba será livre, independente e democrática novamente, sem tiranos que nos subjugam ou policiais que nos vigiam, sem um único partido para entrar em nós, ou um CDR que nos manoteie; então podemos dizer: essa é a Cuba que os cubanos de dentro e de fora querem
* Artigo enviado pelo autor
** Tradução de Percival Puggina
*** NOTA DO EDITOR DO BLOG: José Daniel Ferrer é um preso político que a Anistia Internacional qualifica como preso de consciência. No vídeo com link neste texto, sua mulher e seus filhos protestam contra sua prisão em uma praça de Santiago de Cuba e, imediatamente, são detidos pela polícia, sob os olhos da população. Escrevi a 2ª edição de A tragédia da Utopia (desmontando uma farsa de 60 anos) porque o Brasil precisa conhecer toda a maldade daquele regime e a inteira falsidade dos que o defendem ere nós.
Segunda-feira à noite, em Barcelona. No restaurante, uma centena de advogados e juizes. Eles se encontraram para ouvir minhas opiniões sobre o conflito do Oriente Médio. Eles sabem que eu sou um barco heterodoxo, no naufrágio do pensamento único, que reina em meu país, sobre Israel. Eles querem me escutar. Alguém razoável como eu, dizem, por que se arrisca a perder a credibilidade, defendendo os maus, os culpados? Eu lhes falo que a verdade é um espelho quebrado, e que todos nós temos algum fragmento. E eu provoco sua reação: "todos vocês se sentem especialistas em política internacional, quando se fala de Israel, mas na realidade não sabem nada. Será que se atreveriam a falar do conflito de Ruanda, da Caxemira, da Chechenia?".
Não. São juristas, sua área de atuação não é a geopolítica. Mas com Israel se atrevem a dar opiniões. Todo mundo se atreve. Por quê? Porque Israel está sob a lupa midiática permanente e sua imagem distorcida contamina os cérebros do mundo. E, porque faz parte da coisa politicamente correta, porque parece solidariedade humana, porque é grátis falar contra Israel. E, deste modo, pessoas cultas, quando leem sobre Israel estão dispostas a acreditar que os judeus têm seis braços, como na Idade Média, elas acreditavam em todo tipo de barbaridades. Sobre os judeus do passado e os israelenses de hoje, vale tudo.
A primeira pergunta é, portanto, por que tanta gente inteligente, quando fala sobre Israel, se torna idiota. O problema que temos, nós que não demonizamos Israel, é que não existe debate sobre o conflito, existe rótulo; não se troca ideias, adere-se a slogans; não desfrutamos de informações sérias, nós sofremos de jornalismo tipo hambúrguer, fast food, cheio de preconceitos, propaganda e simplismo.
O pensamento intelectual e o jornalismo internacional renunciaram a Israel. Não existem. É por isso que, quando se tenta ir mais além do pensamento único, passa-se a ser o suspeito, o não solidário e o reacionário, e o imediatamente segregado. Por quê? Eu tento responder a esta pergunta há anos: por quê? Por que de todos os conflitos do mundo, só este interessa? Por que se criminaliza um pequeno país, que luta por sua sobrevivência? Por que triunfa a mentira e a manipulação informativa, com tanta facilidade? Por que tudo é reduzido a uma simples massa de imperialistas assassinos? Por que as razões de Israel nunca existem? Por que as culpas palestinas nunca existem? Por que Arafat é um herói e Sharon um monstro? Em definitivo, por que, sendo o único país do mundo ameaçado com a destruição é o único que ninguém considera como vítima?
Eu não acredito que exista uma única resposta a estas perguntas. Da mesma forma que é impossível explicar a maldade histórica do antissemitismo completamente, também não é possível explicar a imbecilidade atual do preconceito anti-Israel. Ambos bebem das fontes da intolerância, da mentira e do preconceito. Se, além disso, nós aceitarmos que ser anti-Israel é a nova forma de ser antissemita, concluímos que mudaram as circunstâncias, mas se mantiveram intactos os mitos mais profundos, tanto do antissemitismo cristão medieval, como do antissemitismo político moderno. E esses mitos desembocam no que se fala sobre Israel. Por exemplo, o judeu medieval que matava as crianças cristãs para beber seu sangue, se conecta diretamente com o judeu israelense que mata as crianças palestinas para ficar com suas terras. Sempre são crianças inocentes e judeus de intenções obscuras.
Por exemplo, a ideia de que os banqueiros judeus queriam dominar o mundo através dos bancos europeus, de acordo com o mito dos Protocolos (dos Sábios de Sião), conecta-se diretamente com a ideia de que os judeus de Wall Street dominam o mundo através da Casa Branca. O domínio da imprensa, o domínio das finanças, a conspiração universal, tudo aquilo que se configurou no ódio histórico aos judeus, desemboca hoje no ódio aos israelenses. No subconsciente, portanto, fala o DNA antissemita ocidental, que cria um eficaz caldo de cultura. Mas, o que fala o consciente? Por que hoje surge com tanta virulência uma intolerância renovada, agora centrada, não no povo judeu, mas no estado judeu? Do meu ponto de vista, há motivos históricos e geopolíticos, entre eles o sangrento papel soviético durante décadas, os interesses árabes, o antiamericanismo europeu, a dependência energética do Ocidente e o crescente fenômeno islâmico.
Mas também surge de um conjunto de derrotas que nós sofremos como sociedades livres e que desemboca em um forte relativismo ético. Derrota moral da esquerda. Durante décadas, a esquerda ergueu a bandeira da liberdade, onde houvesse injustiça, e foi a depositária das esperanças utópicas da sociedade. Foi a grande construtora do futuro. Apesar da maldade assassina do stalinismo ter afundado essas utopias e ter deixado a esquerda como o rei que estava nu, despojado de trajes, ela conservou intacta sua auréola de lutadora, e ainda dita as regras do que é bom e ruim no mundo. Até mesmo aqueles que nunca votariam em posições de esquerda, concedem um grande prestígio aos intelectuais de esquerda, e permitem que sejam eles os que monopolizam o conceito de solidariedade. Como fizeram sempre. Deste modo, os que lutavam contra Pinochet, eram os lutadores pela liberdade, mas as vítimas de Castro são expulsas do paraíso dos heróis e transformadas em agentes da CIA, ou em fascistas disfarçados.
Da mesma forma que é impossível explicar a maldade histórica do antissemitismo completamente, também não é possível explicar a imbecilidade atual do preconceito anti-Israel. Ambos bebem das fontes da intolerância, da mentira e do preconceito.
Eu me lembro, perfeitamente, como, quando era jovem, na Universidade combativa da Espanha de Franco, ler Solzhenitsyn era um horror! E deste modo, o homem que começou a gritar contra o buraco negro do Gulag stalinista, não pôde ser lido pelos lutadores antifranquistas, porque não existiam as ditaduras de esquerda, nem as vítimas que as combatiam.
Essa traição histórica da liberdade se reproduz no momento atual, com precisão matemática. Também hoje, como ontem, essa esquerda perdoa ideologias totalitárias, se apaixona por ditadores e, em sua ofensiva contra Israel, ignora a destruição de direitos fundamentais. Odeia os rabinos, mas se apaixona pelos imãs; grita contra o Tzahal (Exército israelense), mas aplaude os terroristas do Hamas; chora pelas vítimas palestinas, mas rejeita as vítimas judias; e, quando se comove pelas crianças palestinas, só o faz se puder acusar os israelenses. Nunca denunciará a cultura do ódio, ou sua preparação para a morte, ou a escravidão que suas mães sofrem. E enquanto iça a bandeira da Palestina, queima a bandeira de Israel.
Um ano atrás, eu fiz as seguintes perguntas no Congresso do AIPAC (Comitê de Assuntos Públicos EUA-Israel) em Washington: "Que profundas patologias alijam a esquerda de seu compromisso moral? Por que nós não vemos manifestações em Paris, ou em Barcelona, contra as ditaduras islâmicas? Por que não há manifestações contra a escravidão de milhões de mulheres muçulmanas? Por que eles não se manifestam contra o uso de crianças-bomba, nos conflitos onde o Islã está envolvido? Por que a esquerda só está obcecada em lutar contra duas das democracias mais sólidas do planeta, e as que sofreram os ataques mais sangrentos, os Estados Unidos e Israel?”
Porque a esquerda, que sonhou utopias, parou de sonhar, quebrada no muro de Berlim do seu próprio fracasso. Já não tem ideias, e sim slogans. Já não defende direitos, mas preconceitos. E o preconceito maior de todos é o que tem contra Israel. Eu acuso, portanto, de forma clara: a principal responsabilidade pelo novo ódio antissemita, disfarçada de posições anti-Israel, provém desses que deveriam defender a liberdade, a solidariedade e o progresso. Longe disto, eles defendem os déspotas, esquecem suas vítimas e permanecem calados perante as ideologias medievais que querem destruir a civilização. A traição da esquerda é uma autêntica traição à modernidade.
Derrota do jornalismo. Temos um mundo mais informado do que nunca, mas nós não temos um mundo melhor informado. Pelo contrário, os caminhos da informação mundial nos conectam com qualquer ponto do planeta, mas eles não nos conectam nem com a verdade, nem com os fatos. Os jornalistas atuais não precisam de mapas, porque têm o Google Earth, eles não precisam saber história, porque têm a Wikipedia. Os jornalistas históricos que conheciam as raízes de um conflito, ainda existem, mas são espécies em extinção, devorados por este jornalismo tipo hambúrguer, que oferece fast food de notícias, para leitores que querem fast food de informação.
Israel é o lugar mais vigiado do mundo e, ainda assim, o lugar menos compreendido do mundo. Claro que, também influencia a pressão dos grandes lobbys dos petrodólares, cuja influência no jornalismo é sutil, mas profunda. Qualquer mídia sabe que se falar contra Israel não terá problemas. Mas, o que acontecerá se criticar um país islâmico? Sem dúvida, então, sua vida ficará complicada. Não nos confundamos. Parte da imprensa, que escreve contra Israel, se veria refletida na frase afiada de Goethe: "Ninguém é mais escravo do que aquele que se acha livre, sem sê-lo". Ou também em outra, mais cínica de Mark Twain: "Conheça primeiro os fatos e logo os distorça quanto quiser".
Derrota do pensamento crítico. A tudo isto, é necessário somar o relativismo ético, que define o momento atual, e que é baseado, não na negação dos valores da civilização, mas na sua banalização. O que é a modernidade?
Pessoalmente a explico com este pequeno relato: se eu me perdesse em uma ilha deserta, e quisesse voltar a fundar uma sociedade democrática, só necessitaria de três livros: as Tábuas da Lei, que estabeleceram o primeiro código de comportamento da modernidade. "O não matarás, não roubarás", fundou a civilização moderna. O código penal romano. E a Declaração dos Direitos Humanos. E com estes três textos, começaríamos novamente. Estes princípios que nos endossam como sociedade, são relativizados, até mesmo por aqueles que dizem defendê-los. "Não matarás", depende de quem seja o objeto, pensam aqueles que, por exemplo, em Barcelona, se manifestam aos gritos a favor do Hamas.
"Vivam os direitos humanos", depende de a quem se aplica, e por isso milhões de mulheres escravas não preocupam. "Não mentirás", depende se a informação for uma arma de guerra a favor de uma causa. A massa crítica social se afinou e, ao mesmo tempo, o dogmatismo ideológico engordou. Nesta dupla mudança de direção, os fortes valores da modernidade foram substituídos por um pensamento fraco, vulnerável à manipulação e ao maniqueísmo.
Derrota da ONU. E com ela, uma firme derrota dos organismos internacionais, que deveriam cuidar dos direitos humanos, e que se tornaram bonecos destroçados nas mãos de déspotas. A ONU só serve para que islamofascistas, como Ahmadinejad, ou demagogos perigosos, como Hugo Chávez, tenham um palco planetário de onde cuspir seu ódio. E, claro, para atacar Israel sistematicamente. A ONU, também, vive melhor contra Israel.
Finalmente, derrota do Islã. O Islã das luzes sofre hoje o ataque violento de um vírus totalitário, que tenta frear seu desenvolvimento ético. Este vírus usa o nome de D'us para perpetrar os horrores mais inimagináveis: apedrejar mulheres escravizá-las, usar grávidas e jovens com atraso mental como bombas humanas, educar para o ódio, e declarar guerra à liberdade. Não esqueçamos, por exemplo, que nos matam com celulares conectados, via satélite, com a Idade Média. Se o stalinismo destruiu a esquerda, e o nazismo destruiu a Europa, o fundamentalismo islâmico está destruindo o Islã. E também tem, como as outras ideologias totalitárias, um DNA antissemita. Talvez o antissemitismo islâmico seja o fenômeno intolerante mais sério da atualidade, e não em vão afeta mais de 1,3 bilhões de pessoas educadas, maciçamente, no ódio ao judeu.
Na encruzilhada destas derrotas, se encontra Israel. Órfão de uma esquerda razoável, órfão de um jornalismo sério e de uma ONU digna, e órfão de um Islã tolerante, o Estado de Israel sofre com o paradigma violento do século XXI: a falta de compromisso sólido com os valores da liberdade. Nada é estranho. A cultura judaica encarna, como nenhuma outra, a metáfora de um conceito de civilização que hoje sofre ataques por todos os flancos. Vocês são o termômetro da saúde do mundo. Sempre que o mundo teve febre totalitária, vocês sofreram. Na Idade Média, o fascismo europeu, no fundamentalismo islâmico, sempre o primeiro inimigo é Israel, que encarna, na própria carne, o judeu de sempre.
Um pária de nação entre as nações, para um povo pária entre os povos. É por isso que o antissemitismo do século XXI foi vestido com o disfarce efetivo da crítica anti-Israel. Toda crítica contra Israel é antissemita? Não. Mas, todo o antissemitismo atual transformou-se no preconceito e na demonização contra o Estado Judeu. Um vestido novo para um ódio antigo.
Benjamim Franklin disse: "Onde mora a liberdade, lá é a minha pátria". E Albert Einstein acrescentou: "A vida é muito perigosa. Não pelas pessoas que fazem o mal, mas por aquelas que ficam sentadas vendo isso acontecer".
Este é o duplo compromisso aqui e hoje: nunca se sentar vendo o mal passar e defender sempre as pátrias da liberdade.
* Pilar Rahola é uma jornalista e colunista de perfil conservador, ex-parlamentar espanhola representando a Catalunha.
No Império Romano surgiu aquela maneira nem um pouco gentil de se bater à porta de uma fortaleza: o aríete.
Olhem a ideia de um excêntrico padrinho fazendeiro: deu ao afilhado, como animal de estimação, um carneirinho – vivinho e saltitante. Detalhe: a família do garoto morava num apartamento térreo no bairro São Lucas. Como era de se esperar, não funcionou. Além de despejar centenas de bolinhas de cocô pela área útil, o bicho metia a cabeça onde cismava. Armários, criados-mudos, utensílios domésticos, cristaleiras e seus frágeis recheios – incluindo bibelôs e porta-retratos – jaziam por terra, em cacos, ao final do dia. Após uma semana, antes que derrubasse também um casamento, o carneirinho foi levado de volta à roça.
No Império Romano surgiu aquela maneira nem um pouco gentil de se bater à porta de uma fortaleza: o aríete. A turma arrumava um tronco de árvore bem duro; cortava-o na medida e pendurava-o numa armação sobre rodas. Nas batalhas, arrastavam a trapizonga até o castelo inimigo. Lá os soldados iam socando a porta e os muros com o peso do tronco, até rompê-los.
Um talentoso guerreiro com pendores artísticos – talvez para sair do tédio enquanto a guerra não começava – talhou a dianteira de uma tora, esculpindo ali uma cabeçona de carneiro. Boa inspiração. Como sabemos e também foi reforçado no episódio acima, carneiro tem a testa dura pra caramba e adora testá-la (ops!) contra árvores, objetos e cabeças de outros carneiros.
Num papo ameno com um amigo versado em astrologia, lembrou-me ele que o primeiro signo do zodíaco é Áries – representado por um carneiro robusto. Por isso, Áries é, simbolicamente, o signo dos começos, do impulso inicial para se obter algo, companheiro ideal para ir longe partindo do zero. É a arrancada, o rompimento da situação anterior, a força necessária para vencer a inércia e pôr-se em movimento.
O amigo astrólogo de horas vagas citou-me algumas analogias divertidas que circulam por aí ligando o recente cenário político brasileiro ao tal aríete. Pode ser apenas fruto da imaginação exacerbada dos eleitores do presidente, ponderou. O fato é que seus entusiastas afirmam ter sido Bolsonaro a opção perfeita no dramático momento de transição que o país viveu. Segundo o raciocínio da turma, ele agiu como um aríete, derrubando o portão e rachando a muralha protegida anos a fio por governos similares. Tinha de ser desse jeito, afirmam. E completam: ele abriu caminho à força para mudanças profundas e urgentes. Feito isto, a seguir virão outros presidentes menos brigões, menos cabeças-duras. Assim também espero.
O papo gerou minha pauta desta quinta. Com o bom-humor possível que prezo para não me afogar na insana polarização vigente, fiz exercícios criativos imaginando como se comportariam os últimos candidatos à Presidência – metaforicamente – na luta para conquistar a fortaleza do poder.
Amoêdo, no pragmatismo dos executivos, exibiria uma fantástica apresentação digital em telão. Provaria aos inimigos que os gráficos do “break even point” indicavam a inevitável rendição aos modelos capitalistas modernos. Funcionou? Naninha.
Alckmin, elegante, solicitaria repetidamente que lhe abrissem o portão, por favor, prometendo as alianças estapafúrdias e os acordos esquisitos de sempre. Fracassou.
Ciro Gomes dirigiria palavrões e gestos obscenos aos adversários, sem resultados. Terminada a batalha, ficaria ali ainda por um ano, discursando, batendo no peito e salpicando a parca audiência com uma chuva de perdigotos.
Havia ainda o Haddad. Para ele, seria mole: já tinha a cópia da chave, bem escondida. Entraria no castelo ouvindo aplausos da minoria de dentro e as vaias da maioria de fora.
É tudo brincadeira, claro; cronista também se diverte enquanto escreve. Finalizando, fui conferir a biografia do Bolsonaro. Coincidência danada: ele é do signo de Áries.
* Publicado originalmente em https://www.otempo.com.br/opiniao/fernando-fabbrini/cabecas-duras-1.2264223
As razões para o início da execução provisória da condenação penal estabelecida após dois julgamentos são abundantes e consistentes. Sem qualquer pretensão de esgotar o extenso rol de possibilidades, seguem algumas delas.
A primeira descende da Constituição Federal, que em momento algum condicionou o recolhimento do condenado ao trânsito em julgado do seu processo. Muito pelo contrário. Ao assegurar que “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória” e que “ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente”, a Lei Fundamental vinculou a prisão à culpabilidade. Por força disso, o encarceramento pode ocorrer enquanto o réu recorre às instâncias superiores.
A segunda, é que são os juízes de primeira instância e os tribunais de segundo grau que dispõem de competência originária para analisar o contexto probatório e decidir o mérito dos casos mediante um “juízo de consistência”, conforme ressaltou precisamente o Ministro Néri da Silveira no HC nº 72.366/SP.
A terceira está atrelada ao conteúdo intransponível das Súmulas 7 do STJ e 279 do STF vedando aos tribunais superiores que reexaminem os fatos e provas já apreciados pelos inferiores.
A quarta vincula-se ao art. 637 do Código de Processo Penal dispondo que os recursos federais não suspendem as sanções deliberadas pelas cortes estaduais enquanto os condenados recorrem.
A quinta situa-se na jurisprudência. Ao longo dos 31 anos de vigência da Constituição Federal, especificamente nos períodos compreendidos entre 28/06/1991 a 05/02/2009 e 17/02/2016 a 07/11/2019, prevaleceu o acertado entendimento de que o Princípio da Presunção de Inocência não inibe a execução provisória imposta por Câmaras, Grupos, Seções, Turmas ou Plenários de tribunais. Portanto, na maior parte do período da CF/88, a orientação jurisprudencial dominante foi a de que o encarceramento não implica em inconstitucionalidade, desumanidade ou violação a direito individual.
A sexta decorre das pesquisas e dos estudos especializados. Enriquecido a partir de informações coligidas do Direito Comparado, o detalhamento aponta que ordenamento jurídico algum suspende o cumprimento de uma condenação de segunda instância para aguardar decisão de órgão de cúpula do Judiciário.
A sétima: “Evidencia-se, destarte, a necessária revisão dos “tradicionais conceitos dogmáticos de culpa, culpabilidade e pena, reescrevendo um panorama teórico mais realista e factível, intimamente relacionado às modernas demandas sociais” e o combate à macrocriminalidade organizada”, consoante manifestou uma Nota Técnica subscrita por 5.048 magistrados e Membros do Ministério Público de todo o país.
A oitava: são infindáveis os recursos que tramitam por anos a fio, às vezes uma década, até a obtenção de um veredicto no STJ ou STF.
A nona: o índice de condenações revertidas nesses dois tribunais superiores varia de ínfimo (STF, inferior a 1,5%) a diminuto (STJ, 10,3%).
A décima: a não prisão de condenados reforça a violência, despreza a dor das vítimas e agride o sagrado Direito à Segurança Pública (CF/88, art. 144).
Em síntese: após uma sentença condenatória ser confirmada por um órgão colegiado, a presunção passa a ser de culpa, e não mais de inocência.
*Antônio Augusto Mayer dos Santos - Advogado, Professor e colunista da Revista VOTO.
Hoje acordei lutando com minha consciência.
Creio que estava exercitando aquilo que Sócrates denominava de modelo dois-em-um.
Eu e meu eu, na minha unicidade, questionando-me se meus pensamentos eram apropriados, de fato, ou se meu senso reprovador me desautorizava a continuar escrevendo - e talvez tornando-me enfadonho - sobre o devastador sistema de pensamento e ação vermelhos.
Será que é pertinente continuar refletindo e escrevendo sobre aquilo que os utópicos engenheiros sociais da perfectibilidade humana decretam para o bem-estar social de todos; a suposta igualdade social?
Evidente que muita desigualdade regada a champanhe francesa para a nata rubra!
Mas não seria "chutar cachorro morto"? O povo brasileiro já não se deu conta da farsa e do farsante-mor?
Então, primeiro pensei na famosa guerra cultural que faz muito tempo, vem sendo vencida pelos pseudointelectuais tupiniquins. Em quase duas décadas de governos socialistas, o aparelhamento das instituições, especialmente das universidades e de grande parte da mídia, pela retórica bondosa da utópica igualdade continua sendo hegemônico.
Os humanistas rubros, aparenta-me, foram sempre estrategicamente organizados e espertos.
Uma vez que o antagonismo econômico perdeu parte de seu glamour, a caridosa trupe migrou para temas morais, dos direitos de grupos minoritários (raciais, ideologia de gênero, feminismo, etc.) e, similarmente para a politização de questões tais como a do meio ambiente.
Além disso, suas doces narrativas do "tudo é permitido" e do "você pode ser quem você quiser" têm muito mais apelo, em especial para as joviais mentes idealistas.
Como fiz psicanálise por um bom tempo, e relaciono-me com uma psicanalista, tenho lido muito sobre o assunto, e interessei-me pelo processo psicanalítico.
Nessa situação, o sujeito frente a seu psicanalista busca compreender seus conflitos e verdades.
Por meio do relato de sua vida, experiências e memórias, o analisando se depara com suas dificuldades e seus conflitos.
A análise oferece a oportunidade de tomar contato com suas marcas e reordena-las a luz do presente.
Rememorar em análise é a transformação de uma memória que foi configurada de uma certa forma, e que a partir do presente na relação com o analista, dá lugar a construção de uma nova perspectiva.
De acordo com tal lógica, não é possível viver o presente e um futuro mais saudável, sem "livrar-se" ou bem conviver com o passado "traumático".
Claro que indivíduos diferentes reagem de forma distintiva em nível individual aos maléficos e destruidores regimes do nazismo, do comunismo e do fascismo, que mataram milhões de pessoas. Mas na vida relacional no tecido social, nas configurações culturais contingentes, a grande maioria dos cidadãos sente as dores e os ressentimentos de tais regimes perversos.
Como judeu, como não lembrar do Holocausto a fim de travar todos os esforços possíveis para que tal barbárie não se repita?
Pela reflexão à la modelo socrático, não há como não recordar o horror comunista, que matou muito mais pessoas que os nazistas!
Natural que seus apologistas, com suas retóricas e mentiras igualitárias, inacreditavelmente ainda seduzam os mais incautos e, obviamente, uma elite irresponsável e interesseira.
Interessante que por aqui seu símbolo maior, o ex-presidiário Lula, o maior ladrão da história desse país, construtor do esfacelamento econômico e do roubo da esperança popular por desenvolvimento econômico e social, não reconheça seus crimes para com a nação brasileira, tampouco em relação àqueles recursos surrupiados para o próprio usufruto.
Similarmente, Rússia, China, Cuba e Venezuela não reconhecem ou não admitem as atrocidades que os regimes vermelhos causaram e têm acarretado aos cidadãos desses países!
Na atualidade, a miséria e a fome matam muitos na Venezuela e em Cuba.
Pois é. A sangrenta farsa comunista continua viva, travestida nas suas diversas facetas, dos direitos de minorias a defesa politizada do meio ambiente, defendida por populistas e intelectuais que esperam ter seus espaços privados garantidos.
Não é realmente possível ser tolerante com intolerantes e criminosos.
Mao Tse Tung, o fundador da República Popular da China, pontuou que: "Comunismo não é amor, comunismo é um martelo com o qual se golpeia o inimigo." É, esse inimigo está sempre à espreita!
É preciso mesmo explicar, divulgar e combater toda e qualquer possibilidade do regime mais sangrento já presenciado pela história da humanidade retornar, sobretudo sob os véus do horror vestido de bondade humana!
Desse modo, parece-me fundamental que se siga repetindo incansavelmente as mesmas verdades sobre os regimes autoritários e assassinos de esquerda e direita.
Tal iniciativa necessita ser robustecida com um sistema econômico de mercado vigoroso, produtor de maior liberdade, com o Estado criando incentivos positivos e regulando adequadamente o funcionamento dos mercados, gerando ainda maiores oportunidades para o desenvolvimento econômico e social de toda população.
Infelizmente, nunca deixará de ser imperioso o alerta ao iminente perigo vermelho: a doença ideológica é incurável!
1) Na graduação (1981), professores diziam o que nós NÃO devíamos ler (ou assistir). Dois exemplos: o livro “Casa Grande & Senzala” (1933), de Gilberto Freyre (1900-1987) e o filme “Che” (1969, com Omar Sharif);
2) Na pós, autores “proibidos” de serem citados: Régine Pernoud (1909-1998), Barbara Tuchman (1912-1989), Giovanni Reale (1931-2014), Will Durant (1885-1981), Raymond Aron (1905-1983) (a lista é longa);
3) Em um concurso público, fiquei em terceiro lugar por ter explicado a defesa que Marx (1818-1883) fez do imperialismo inglês na Índia (disse-me um colega que era para eu ter passado em primeiro, mas como “fiz uma crítica” a Marx, fiquei em terceiro); em outro concurso público, fui criticado por ministrar uma prova didática muito boa (estava “querendo furar a fila” e passar na frente de outro candidato, pois era “a hora dele”); noutro, fui “aconselhado” a elogiar o Construtivismo na prova escrita, caso contrário, seria reprovado. Elogiei. Minha nota foi 9,2;
4) Certa vez, presenciei um doutor esquerdíssimo comprar o livro “Mea Cuba” (1968) de Guillermo Cabrera Infante (1929-2005), dissidente cubano. Há histórias inacreditáveis no livro (como, por exemplo, o pagamento de jornalistas da BBC de Londres para elogiar Fidel e o regime). Só havia um exemplar na livraria. Comprou-o para ninguém comprá-lo (e lê-lo);
5) Quando ingressei na universidade, me “aconselharam” a estudar “História colonial” (para ficar mais “próximo” dos colegas);
6) Certa vez, um colega criticou minha roupa (estava com uma camisa verde musgo e uma bota): achou minha aparência “militar”; outro criticou que escutava Frank Sinatra (1915-1998); outra, que eu não deveria usar a expressão “a coisa tá preta”;
7) Quando critiquei Eric Hobsbawm (1917-2012) em uma palestra, um aluno, no dia seguinte, me perguntou como eu “tinha coragem” de fazer aquilo;
8) Quando divulguei em minha página do Facebook os desenhos do coronel Danzig Baldaiev (1925-2005), integrante da polícia política soviética de 1947 até meados da década de 80, dos gulags soviéticos, um “amigo” me escreveu para me “aconselhar” a “tomar cuidado”, porque “poderiam me pegar em Vitória”;
9) Em um mesmo dia, fui publicamente censurado TRÊS vezes por um colega (doutor, ex-jesuíta) por usar um crucifixo no peito;
10) Participei de uma banca de doutorado. Em sua tese, o candidato fez uma crítica (em nota de rodapé!) a Jacques Le Goff (1924-2014). Aborrecido, um doutor da banca LEU o currículo do historiador francês (sim, é inacreditável, mas aconteceu) para afirmar que o rapaz não poderia ter feito aquilo.
Mas, caríssimos, digo isso para afirmar que, MESMO ASSIM, fiz tudo o que quis: pesquisei o que quis, fiz minha carreira APESAR disso tudo (e muito mais, pois coleciono histórias absolutamente inacreditáveis). Por isso, CORAGEM, cidadão! Não se acovarde!
* Texto de 27/11/2016
** Extraído do Facebook do autor.