Alex Pipkin
O ex-presidente Bolsonaro, não há um fiapo de dúvida, é imprudente com as palavras.
Muitas vezes, parecia-me que sua intenção era mesmo positiva, mas sua retórica deixava muito a desejar.
Muitos o classificavam como fanfarrão. Eu, porém, o apelidei de “rei do tropeço nas palavras”. Tá certo que, segundo sua estratégia, ele jogava para a turma bolsonarista-raiz.
Deve-se considerar que a grande pequena mídia, quase na totalidade, omitia e transformava notícias a fim de prejudicá-lo. Inegável. No entanto, ele falava mesmo em demasia e de forma não raras vezes inoportuna.
Contudo, não deverá existir na história desse país um presidente tão fanfarrão, populista, incompetente com o português e com as ideias, nem mentiroso, como esse tal de Lula da Silva.
A propósito, assisti a um vídeo em que o “pai dos pobres” chamava Bolsonaro de “fafarrão”, cruzes!
O show presidencial de horrores de verborragia, de bravatas, de mentiras e de projetos estapafúrdios, é diário.
É surreal o que esse ser incivilizado e tosco é capaz de produzir em suas falas. E há quem o considere um grande orador! Só se eu estiver ouvindo o que ele diz quando embriagado.
Não é por acaso que esse sujeito quer regular a mídia! Dessa forma, só poderá ser notícia a “verdade rubra” e o que lhe convém.
Esse sujeito, dotado de um vocabulário em que inexiste plural, afirmou agora que há pessoas que são pagas para criticá-lo. Bem, eu não tenho recebido um centavo sequer.
Com sua boca que equivale a uma metralhadora de disparos automáticos de asneiras e de erros a cada momento em que a abre, é tarefa singela criticá-lo.
É surreal o que esse cidadão fala - e pensa!
Faz pouco, o ex-presidiário afirmou que os aplicativos exploram os trabalhadores. Exploração + trabalhadores, palavras-mágicas da seita ideológica.
Fanfarrão é café pequeno para esse sujeito. O negócio inovador de aplicativos funciona melhor exatamente pela não interferência da mão pesada e equivocada do Estado.
Há uma relação voluntária entre empregados e empregadores. Nela, caso os empregados não estejam satisfeitos com a relação, podem abdicar das respectivas atividades. Os próprios motoristas de aplicativos, por exemplo, estão repudiando os eventuais “projetos” desse (des)governo.
Toda vez que Ofélio abre a boca, a chance de prejudicar os trabalhadores e as indústrias envolvidas, é abissal.
O desastre é que não há luz no fundo do túnel, e a metralhadora giratória de asneiras, de ignorância econômica e de mentiras não tem previsão de encerramento.
Homens públicos, a meu juízo, deveriam ter rigoroso cuidado com as palavras e com as ideias. Aqui, porém, quase tudo se dá de maneira invertida.
Aliás, juízes da suprema pequena corte se comportam aqui como verdadeiros superstars, que tristeza.
Aprontemo-nos, pois mais e mais pérolas virão da boca do grande “pai dos pobres”. A única semelhança, tristemente, é a incorreção no uso do idioma pátrio…
Alex Pipkin, PhD
Publiquei um texto sobre a iminente desglobalização e os reflexos no Brasil, em especial, o apetite contraproducente e ideológico no que diz respeito às insensatas políticas nacional-desenvolvimentistas. Evidente que é possível discordar do meu viés “aberto e entreguista”.
Obrigo-me a referir que na República das Bananas - isso, nós temos bananas! - sobra nacionalismo (barato) e há escassez de patriotismo.
Genuinamente, tem-se uma série de “especialistas” - grande parte das redes sociais - e poucos leitores instruídos nos temas em questão.
Por isso, quando o assunto é comércio internacional - entre muitos outros - recorro-me ao Mestre Adam Smith.
Nenhum país pode “ser tudo para todos”, existem certas vocações e especializações.
Países fechados possuem, então, maior pobreza e menor desenvolvimento econômico e social. Ponto. Comparem, por exemplo, à situação da Coreia do Norte em relação à Coreia do Sul.
Adam Smith em A Riqueza das Nações (1776), profetizou que a divisão do trabalho em nível internacional conduziria a especialização, as economias de escala e ao fundamental aumento da produtividade, que levaria ao aumento da prosperidade de uma nação.
Dizia ele que não é o acúmulo de dinheiro o responsável pela maior prosperidade, e sim o aumento da produtividade, o que implica nas trocas.
Por meio da especialização do trabalho e da produção, as empresas expandem seus mercados, aumentam sua produção e alcançam economias de escala, possibilitando a redução de preços para os consumidores, locais e estrangeiros.
No fundo, o comércio internacional não deixa de ser uma troca de trabalho e produção especializados.
O nacionalismo (barato) cega muitos de enxergarem que o Brasil não produz, ou não eficientemente, uma série de matérias-primas, componentes, produtos, bens de capital, etc., necessários para a manufatura da tão sonhada “produção nacional”.
Vejam o que está ocorrendo justamente agora com a Guerra na Ucrânia, em que a agricultura brasileira ainda é dependente dos fertilizantes russos para operar eficientemente. As pessoas não compreendem que muitos dos esforços para produzir bens nacionais não são verdadeiramente nacionais.
Eu não tenho qualquer sombra de dúvida de que uma das principais razões para a escassez de crescimento econômico e social na terra de Macunaíma, é exatamente o lobby efetivo de parte dos ”empresários”, que se associa com agentes estatais para impor proteção e barreiras a oferta estrangeira, obrigando os consumidores brasileiros a comprar produtos de pior qualidade e a preços mais altos.
Singelo, o famoso estamento burocrático brilhantemente exposto por Raimundo Faoro.
Similarmente, quando um governo protege um determinado setor, ele evita a natural mobilidade dos trabalhadores para os setores mais rentáveis, continuando a penalizar os consumidores que necessitam gastar mais de sua renda para consumirem a respectiva oferta.
Muitos alegam que a globalização rouba empregos nacionais. No caso brasileiro, penso que por não participarmos efetivamente das cadeias globais de valor, é que deixamos de gerar postos de trabalho, inclusive, adicionando conteúdo tecnológico.
Verdadeiramente, o grande problema da falta de empregos industriais no país, deve-se ao compadrio e a maior produtividade e/ou custos mais baixos em manufatura em outras nações.
Porém, mesmo que a fabricação de determinados itens esteja ocorrendo em países de baixo custo, essas empresas estão investindo recursos de forma mais eficiente em processos de maior valor agregado, tais como os de marketing, de distribuição, de pesquisa e desenvolvimento e de design.
A questão do desemprego no país, parece-me, ocorre muito mais pelo nosso baixo nível tecnológico, o que é essencial para adicionar produtividade às pessoas e às empresas, do que pela globalização dos mercados.
O baixo índice de inovação tecnológica nacional, por sua vez, é responsabilidade de nossas instituições patrimonialistas e corporativistas, que não abrem a economia e não investem em inovação, em qualificação de trabalhadores para os novos desafios econômicos e, especialmente, em um ensino moderno, transformador e “de verdade”.
Portanto, são necessárias mais trocas internacionais - não menos -, a fim de que possamos agregar mais tecnologias, mais empregos e mais renda.
Só maior produtividade nos alçará a uma posição de maior prosperidade.
Olavo de Carvalho (em 2011)
O prof. Alexandre Duguin, à testa da elite intelectual russa que hoje molda a política internacional do governo Putin, diz que o grande plano da sua nação é restaurar o sentido hierárquico dos valores espirituais que a modernidade soterrou. Para pessoas de mentalidade religiosa, chocadas com a vulgaridade brutal da vida moderna, a proposta pode soar bem atraente. Só que a realização da idéia passa por duas etapas. Primeiro é preciso destruir o Ocidente, pai de todos os males, mediante uma guerra mundial, fatalmente mais devastadora que as duas anteriores. Depois será instaurado o Império Mundial Eurasiano sob a liderança da Santa Mãe Rússia.
Quanto ao primeiro tópico: a “salvação pela destruição” é um dos chavões mais constantes do discurso revolucionário. A Revolução Francesa prometeu salvar a França pela destruição do Antigo Regime: trouxe-a de queda em queda até à condição de potência de segunda classe. A Revolução Mexicana prometeu salvar o México pela destruição da Igreja Católica: transformou-o num fornecedor de drogas para o mundo e de miseráveis para a assistência social americana. A Revolução Russa prometeu salvar a Rússia pela destruição do capitalismo: transformou-a num cemitério. A Revolução Chinesa prometeu salvar a China pela destruição da cultura burguesa: transformou-a num matadouro. A Revolução Cubana prometeu salvar Cuba pela destruição dos usurpadores imperialistas: transformou-a numa prisão de mendigos. Os positivistas brasileiros prometeram salvar o Brasil mediante a destruição da monarquia: acabaram com a única democracia que havia no continente e jogaram o país numa sucessão de golpes e ditaduras que só acabou em 1988 para dar lugar a uma ditadura modernizada com outro nome.
Agora o prof. Duguin promete salvar o mundo pela destruição do Ocidente. Sinceramente, prefiro não saber o que vem depois. A mentalidade revolucionária, com suas promessas auto-adiáveis, tão prontas a se transformar nas suas contrárias com a cara mais inocente do mundo, é o maior flagelo que já se abateu sobre a humanidade. Suas vítimas, de 1789 até hoje, não estão abaixo de trezentos milhões de pessoas – mais que todas as epidemias, catástrofes naturais e guerras entre nações mataram desde o início dos tempos. A essência do seu discurso, como creio já ter demonstrado, é a inversão do sentido do tempo: inventar um futuro e reinterpretar à luz dele, como se fosse premissa certa e arquiprovada, o presente e o passado. Inverter o processo normal do conhecimento, passando a entender o conhecido pelo desconhecido, o certo pelo duvidoso, o categórico pelo hipotético. É a falsificação estrutural, sistemática, obsediante, hipnótica. O prof. Duguin propõe o Império Eurasiano e reconstrói toda a história do mundo como se fosse a longa preparação para o advento dessa coisa linda. É um revolucionário como outro qualquer. Apenas, imensamente mais pretensioso.
Quanto ao Império Mundial Eurasiano, com um pólo oriental sustentado nos países islâmicos, no Japão e na China, e um pólo ocidental no eixo Paris-Berlim-Moscou, não é de maneira alguma uma idéia nova. Stalin acalentou esse projeto e fez tudo o que podia para realizá-lo, só fracassando porque não conseguiu, em tempo, criar uma frota marítima com as dimensões requeridas para realizá-lo. Ele errou no timing: dizia que os EUA não passariam dos anos 80. Quem não passou foi a URSS.
Como o prof. Duguin adorna o projeto com o apelo aos valores espirituais e religiosos, em lugar do internacionalismo proletário que legitimava as ambições de Stálin, parece lógico admitir que a nova versão do projeto imperial russo é algo como um stalinismo de direita.
Mas a coisa mais óbvia no governo russo é que seus ocupantes são os mesmos que dominavam o país no tempo do comunismo. Substancialmente, é o pessoal da KGB (ou FSB, que a mudança periódica de nomes jamais mudou a natureza dessa instituição). Pior ainda, é a KGB com poder brutalmente ampliado: de um lado, se no regime comunista havia um agente da polícia secreta para cada 400 cidadãos, hoje há um para cada 200, caracterizando a Rússia, inconfundivelmente, como Estado policial; de outro, o rateio das propriedades estatais entre agentes e colaboradores da polícia política, que se transformaram da noite para o dia em “oligarcas” sem perder seus vínculos de submissão à KGB, concede a esta entidade o privilégio de atuar no Ocidente, sob camadas e camadas de disfarces, com uma liberdade de movimentos que seria impensável no tempo de Stalin ou de Kruschev.
Ideologicamente, o eurasismo é diferente do comunismo. Mas ideologia, como definia o próprio Karl Marx, é apenas um “vestido de idéias” a encobrir um esquema de poder. O esquema de poder na Rússia trocou de vestido, mas continua o mesmo – com as mesmas pessoas nos mesmos lugares, exercendo as mesmas funções, com as mesmas ambições totalitárias de sempre.
O Império Eurasiano promete-nos uma guerra mundial e, como resultado dela, uma ditadura global. Alguns de seus adeptos chegam a chamá-lo “o Império do Fim”, uma evocação claramente apocalíptica. Só esquecem de observar que o último império antes do Juízo Final não será outra coisa senão o Império do Anticristo.
* Publicado no Diário do Comércio, em 23 de maio de 2011
TOGA DE POLÍTICO-MILITANTE
Como os leitores perceberam, os dois últimos editoriais (2 e 3 de março) foram integralmente dedicados para refrescar a memória dos eleitores para que não percam de vista, e da mente, as medidas e ações que foram tomadas e/ou colocadas em prática pelo atual governo nesses últimos três anos, apesar da clara e fortíssima resistência formada por ferozes opositores, que mais precisamente a partir de 2020 passou a contar também, de forma muito franca e aberta com a decisiva aderência do STF, cuja maioria dos ministros passou a -governar- o país vestindo TOGA DE POLÍTICO-MILITANTE.
PRINCIPAIS ENTREGAS
Pois mesmo contando com enormes dificuldades para governar, algumas impossibilitadas pelo STF e outras tantas pela negligência de maus deputados e senadores, a lista das PRINCIPAIS ENTREGAS que publiquei nos dois últimos editoriais elenca apenas as proposições efetivas e realizações incontestáveis feitas pelos MINISTÉRIOS DA INFRAESTRUTURA, MEIO AMBIENTE, CIÊNCIA E TECNOLOGIA e AGRICULTURA. Hoje, para dar continuidade à importante tarefa de -refrescar a memória dos eleitores- separei apenas os 10 RECENTES -FATOS ECONÔMICOS- DO GOVERNO BOLSONARO:
FATOS ECONÔMICOS RECENTES -1
1. Dívida pública do país cai para gerenciáveis 80,3% do PIB em 2021, previsões pessimistas do mercado estimavam que a dívida passaria de 100% do PIB.
2. FGV aponta crescimento de 4,7% do PIB brasileiro em 2021, superando estimativas do mercado e economistas.
3. Balança Comercial registra superávit de US$ 61 bilhões em 2021.
4. Brasil registra mais de 2,7 milhões de empregos formais em 2021 (O período de janeiro de 2019 a dezembro de 2021 registra um saldo positivo de 3.183.221 novos postos de trabalho), já recuperando todos os postos de trabalho perdidos durante a Pandemia.
5. Em 2021, o resultado das contas públicas é o segundo melhor entre as 50 maiores economias do mundo e o melhor entre as 20 maiores. Com isso, a política fiscal brasileira voltou ao padrão de 2014, antes da recessão e da pandemia.
FATOS ECONÔMICOS -2
6. O déficit primário caiu de 10% do PIB, em 2020, para 0,4% em 2021, o melhor nível desde 2014.
7. Mesmo com o enfrentamento da recessão provocada pela pandemia, o Brasil tem apresentado, para diversos indicadores fiscais, resultados melhores em 2021 do que o previsto em 2018, na hipótese de cenários com reformas elaborados pela equipe econômica do governo Temer.
8. Ranking Doing Business (facilidade de fazer negócios): da Posição 124ª para 65ª – Banco Mundial (Descontinuado, mas mensurado pelo Projeto da Secretaria Especial de Modernização do Estado).
9. Ranking de Liberdade Econômica: Da 143° para 134º - Heritage Foundation (medido até metade de 2021, vai aumentar na próxima divulgação em decorrência das políticas econômicas implementas até o fechamento e após).
10. A realidade fiscal brasileira, apesar de desafiadora como sempre foi, devido à rigidez orçamentária, não corrobora o pessimismo de alguns analistas e mostra que, apesar das medidas emergenciais que ainda foram necessárias em 2021, houve responsabilidade fiscal e melhora de diversos indicadores fiscais.
Fontes: dados compilados em fevereiro de 2022
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/centrais-de-conteudos/publicacoes/conjuntura-economica/estudos-economicos/2022/ni-melhora-do-mercado-de-trabalho-em-2021.pdf/view
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/centrais-de-conteudos/publicacoes/conjuntura-economica/estudos-economicos/2022/ni-desempenho-fiscal-2021-e-comparacao-internacional.pdf/view
https://www.gov.br/fazenda/pt-br/centrais-de-conteudos/publicacoes/conjuntura-economica/estudos-economicos/2022/ni-trajetorias-com-e-sem-reformas.pdf/view
SUGESTÃO
Agora, a minha sugestão/recomendação aos leitores e/ou eleitores: coloquem cuidadosamente estas LISTAS junto ao TÍTULO DE ELEITOR. Elas servirão de bom e inconfundível guia para orientar corretamente os votos para -presidente, para senador e para deputado federal.
Alex Pipkin, PhD
Não existe “guerra boa”, pelo menos para mim. Ela representa o sacrifício de vidas humanas.
Notoriamente, a guerra comercial entre Estados Unidos e China, já havia mexido sensivelmente no tabuleiro das trocas internacionais, e pressionado para uma remodelação nas cadeias globais de suprimentos. Some-se a isto a Covid-19 e os seus impactos deletérios nas cadeias logísticas globais.
Agora, a guerra na Ucrânia, decretou uma espécie de tiro de misericórdia naquilo que conhecemos como globalização. Ao menos, no médio prazo.
Sem dúvida que muitos apologistas da pobreza e das desigualdades sociais irão saudar o feito.
Por convicção - e fatos e dados - penso que o comércio e a globalização foram capazes de tirar milhões de indivíduos da linha da miséria e da pobreza no mundo, melhorando o padrão de vida de comunidades, especialmente, nas áreas menos desenvolvidas.
Desde Adam Smith, “O Grande”, sabemos que o comércio internacional, especificamente a importação, é uma forma de produção indireta.
Trocamos aquilo que produzimos melhor e/ou mais barato, por aquilo que não somos eficientes e/ou não produzimos, mas necessitamos consumir.
Costumo dizer que o comércio é a dádiva de Deus. Pena que na “fechadura” que desde sempre é a nação tupiniquim, de mentalidade tacanha e introvertida, teimamos em desconhecer esta verdade. Ou se conhece, e se deseja persistir com o favorecimento dos sempre protagonistas “amigos do rei”.
A fatídica guerra na Ucrânia já provocou, por exemplo, um deslocamento das cadeias de suprimentos em energia no mundo, e na cadeia de fertilizantes brasileira. Em uma série de matérias-primas, componentes, produtos e serviços, as empresas no mundo precisarão buscar e desenvolver novas fontes estrangeiras de fornecimento e/ou relocalizar - manufaturar em casa - a produção, o que seguramente trará impactos na forma de aumento de custos/preços.
Evidente que ainda é cedo para se determinar com exatidão as consequências dessa guerra, porém, é vital planejar - antecipar os eventos para decidir e colocar-se numa posição mais favorável no futuro - os próximos passos em nível macroeconômico. Muita gente não se dá conta de que quem opera nos mercados são as empresas.
Como na Terra do Faz de Conta se polariza tudo e qualquer coisa, o governo brasileiro, que começou a abrir frentes internacionais para os fertilizantes no Canadá, diminuiu alíquotas do I.I., e reduziu o IPI em uma série de categorias, passou a ser alvo de retórica e das narrativas políticas e ideológicas de uma parte da população.
As indústrias brasileiras não participam das cadeias globais de suprimentos, e justamente por isso, os produtos nacionais são tecnologicamente defasados, de pior qualidade e mais caros.
Mesmo não atuando nessas cadeias, as empresas brasileiras necessitam de fontes estrangeiras; por exemplo, mais de 90% do potássio para o agronegócio é importado, suprido de empresas internacionais.
Penso que nesse “novo contexto”, deveríamos aprofundar as medidas econômicas para tornar o ambiente de negócios nacional mais atrativo para os empreendimentos e para os investimentos, abrir a economia de fato, e celebrar acordos de comércio com nações e blocos estrangeiros.
Muito triste, mas o tabuleiro internacional que será configurado, além das ameaças reais, representará uma gama de oportunidades para as empresas nacionais.
Internamente, será necessário fazer “o tema de casa” quanto à abertura.
É imperativo, pois em ano eleitoral a nova conjuntura poderá alimentar as falácias e as narrativas contra a abertura, o comércio e a globalização.
Um espectro político já inventou e adotou no passado recente - para meu desespero e catástrofe nacional - a cartilha das políticas nacional-desenvolvimentistas. O ambiente é propício para a demagogia “da produção e da geração de empregos nacionais”, indo de encontro a lógica smithiana bem-sucedida do comércio internacional.
Não adianta tal política ser e ter fracassado, objetivamente, resultando em menor produção, piores produtos e em custos muito mais altos.
A mentalidade dessa turma escarlate, atrasada e simplista, sempre acredita que em algum momento dará certo. Momento é bastante distinto de longo prazo.
Ainda que haja um retrocesso na globalização, é hora do Brasil “se abrir” ao mundo, a fim de reduzir às ameaças e aproveitar as potenciais oportunidades nos mercados globais, além, é claro, de continuar inovando nas áreas de vocação verde-amarela, como é o agronegócio nacional.
Afora as narrativas ideológicas, pouco importa o selo do produto; importa para os consumidores produtos de melhor qualidade, preços mais baixos e soluções mais inovadoras.
Guilherme Baumhardt
Semanas atrás, na véspera da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, um recuo das tropas comandadas por Vladimir Putin foi comemorado como um sinal de que o iminente conflito com a Ucrânia poderia não ocorrer. O quadro remete ao que muitas vezes ocorre com o paciente internado por longo período em um hospital: uma leve melhora antes do óbito. No caso das tropas russas, o que houve foi um embuste. A decisão de Moscou de atacar Kiev já estava tomada. Era apenas questão de tempo. Prova disso é a velocidade com que avançam sobre o território ucraniano.
Bombas, mísseis e mortes ocorrem todos os dias – a população de Israel que o diga, volta e meia atacada pelo grupo terrorista Hamas. O que estamos assistindo neste momento, porém, é bem diferente. Trata-se de uma potência nuclear avançando sobre o segundo país em área territorial do Velho Continente. Não é pouca coisa.
A ruína da antiga União Soviética trouxe cicatrizes. Países foram desmantelados (Tchecoslováquia e Iugoslávia, para ficarmos em apenas dois dos mais expressivos exemplos) e deram origem a outras nações. E embora tenham sido processos traumáticos e construídos muitas vezes à base de protestos, sangue e mortes, eram conflitos essencialmente internos.
Sem saber ainda qual o apetite de Vladimir Putin e qual a dimensão que terá o impacto nas relações políticas e econômicas, ficam algumas lições do que ocorre neste momento.
A primeira e, talvez, mais básica é: não existe vácuo de poder. Quando alguém abre mão da liderança, o que surge não é o vazio, mas sim uma substituição natural. Donald Trump estava longe de ser o mais polido dos presidentes norte-americanos. Mas se faltava educação e finesse, sobrava habilidade nas negociações. Joe Biden oscila. A ameaça de retaliar a Rússia com embargos econômicos tem alcance limitado e ele sabe disso. O mundo esperava uma reação mais enérgica. Ela não veio.
A segunda lição serve de alerta: a agenda ambiental que demoniza combustíveis fósseis pode ser, aos olhos das novas gerações, limpa e cheirosa. Mas traz riscos, especialmente do ponto de vista de segurança, tanto de fornecimento quanto de estabilidade política. A pergunta mais óbvia é: enfiar goela abaixo, a fórceps, o uso de energias alternativas interessa a quem?
Nações têm interesses e estão de olho em mercados. A relação entre parceiros pode gerar benefícios, mas quando ela se traduz em dependência pode significar, também, riscos. A Europa que estimulou (inclusive com a adoção de prazos legais) a propagação dos carros elétricos estava interessada em depender menos do petróleo que ela pouco produz (exceção feita aos nórdicos). Até aí, sem problemas. Mas a mesma Europa que queria reduzir esta dependência é hoje praticamente refém do gás russo, especialmente a Alemanha, que decidiu precipitada e erroneamente desligar usinas nucleares após o terremoto e posterior tsunami que atingiu a usina de Fukushima.
Em meio à onda desarmamentista que avança sobre o mundo, uma importante lembrança: na metade da década de 1990, um acordo selou o destino do poderio nuclear da Ucrânia, o terceiro mais importante do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos e Rússia. As ogivas foram devolvidas aos russos sob a promessa de que o ocidente garantiria a segurança dos ucranianos. Pergunto: se a Ucrânia ainda tivesse este arsenal sob seus domínios, Putin se arriscaria a fazer o que fez? Pouco provável.
O fato é que Joe Biden parece perdido. Não é a primeira vez que isso ocorre com um presidente dos Estados Unidos. Na década de 1960, John Kennedy passou por situação semelhante. Após vencer Richard Nixon nas eleições, o jovem presidente democrata entrou em uma ciranda de desgaste da gestão. A aprovação a ele e ao governo caía. Assim como ocorre agora, a antiga União Soviética viu na fraqueza de Kennedy uma oportunidade de expandir seus domínios e ampliar seu poder bélico.
O resto é história. A chamada "Crise dos Mísseis" tirou o sono de boa parte do planeta ao longo de quase duas semanas. Habilidoso, Kennedy viu ali uma oportunidade. O jovem peitou Nikita Khrushchev, impediu a instalação do arsenal soviético em solo cubano e aproveitou para recuperar o terreno perdido. Kennedy ressurgiu como liderança no seu país e, também, no ocidente. O mundo hoje olha para Joe Biden e não nutre grandes esperanças de que algo semelhante possa ocorrer. Se nada for feito, a resposta para o título da coluna será: não há limite. Infelizmente.
*Publicado originalmente no Correio do Povo de 25/02/2022