DIA DO SAIO, DIA DO FICO
Percival Puggina
Leio na Coluna de Cláudio Humberto, em Diário do Poder:
Ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal, Sepúlveda Pertence entrou numa fria ao juntar-se à defesa do ex-presidente Lula, achando que a prioridade era livrá-lo da cadeia. E se viu desautorizado ao pedir prisão domiciliar para o corrupto condenado. Jurista brilhante, percebeu o equívoco da defesa baseada em petições-panfleto do PT de São Paulo, na estratégia de vitimização que se revelou catastrófica no Judiciário. Tentou adotar teses jurídicas, mais técnicas, e se deu mal.
COMENTO
A conversa entre os dois durou mais de três horas e tudo indica que houve um acerto em torno da opção pelo pedido de prisão domiciliar, com outras restrições de liberdade, algo bem mais fácil de ser obtido que os pleitos apresentados nas petições-panfleto mencionadas por Claudio Humberto.
O PT de São Paulo estaria usando o encarceramento de Lula como mote para a promoção política do partido que vê aproximar-se o momento eleitoral num contexto de múltiplas deficiências. Com Lula em casa, a bandeira fica um pouco murcha. O Jornal da Cidade Online informa que entre os acertos dessa reunião estaria a decisão de que, doravante, apenas Sepúlveda representará Lula perante o STF.
PRESSÃO FUNCIONANDO? O COMPANHEIRO VAZOU?
Percival Puggina
Em entrevista à coluna Painel, da Folha, o ministro Dias Toffoli afirmou estar consciente de que irá “votar contra o próprio convencimento em defesa da instituição”.
Traduzindo em linguagem inteligível no acampamento Marisa Letícia, de Curitiba: o companheiro vazou.
Toffoli assume provisoriamente a presidência do STF no final deste mês, quando Cármen Lúcia, por viagem de Temer, ocupará a chefia do governo. Os petistas esperavam que nesse momento, como “plantonista” na presidência do Supremo, Toffoli se fosse espelhar no gesto do desembargador Favreto como plantonista do TRF-4. Pelo jeito, porém, a valer a entrevista, essa expectativa faleceu.
Ainda segundo a coluna, Toffoli teria dito a colegas que, ao assumir a presidência do STF em setembro, não pautará, antes do final das eleições de outubro, ações que questionam a prisão após condenação em segunda instância.
Parece, não mais do que parece, que a pressão nacional contra a eleição de Toffoli para a presidência do STF, iniciada pelo jurista Modesto Carvalhosa, está dando resultado junto a colegas do ministro e, indiretamente, atinge Toffoli obrigando-o a falar.
O engano de Toffoli
Contudo, a mobilização foi mal interpretada pelo aspirante ao posto. A mobilização contra ele quer algo bem elementar e racional: que a presidência do STF não seja assumida por quem não reúne as menores condições para estar no Supremo. Basta isso (por enquanto).
PRESERVAR A HISTÓRIA É PRESERVAR-NOS
Percival Puggina
Assinei e convido meus leitores a também assinar a petição pela preservação das Cavalariças Imperiais da Quinta da Boa Vista. Sociedades civilizadas sabem que prédios e lugares históricos abertos à visitação, ao lazer e à cultura são imprescindíveis à construção da identidade nacional e, logo, da identidade individual dos cidadãos. Não há cultura sem raízes e as nossas veem sendo sistematicamente cortadas.
Boa parte de patrimônio histórico brasileiro foi consumido pelo tempo, descaracterizado por aproveitamentos esdrúxulos ou, simplesmente, destruído para reaproveitamento da terra nua. Isso é imperdoável!
As Cavalariças do Palácio de Buckingham integram roteiros turísticos de Londres. As da Quinta da Boa Vista jazem no esquecimento e precisam estar integradas ao seu sítio histórico, salvas da destruição e do retalhamento, como já aconteceu com a maior parte da área verde, depois de ser tombada pelo ministro Capanema nos anos 30. Nesse cenário, objeto do notável projeto paisagístico de Augusto Glaziou, atuaram, desde D. João VI, os protagonistas do Reino Unido, da Independência e do Brasil Imperial.
Percival Puggina
O HELICÓPTERO JURÍDICO NÃO CONSEGUIU DAR FUGA A LULA
Aquele helicóptero jurídico que tentou descer no pátio da carceragem da Polícia Federal de Curitiba para dar fuga a Lula levantou uma poeira que vai demorar muito a baixar.
A decisão do presidente do TRF4, revogando as determinações do desembargador ex-petista foi lida por todas as pessoas de bom senso como a fragorosa derrota de uma estratégia de seriedade mais do que duvidosa.
É o que parece. No entanto, para os petistas, essa “decepção” está longe de ser lida como derrota. Lula voltou ao noticiário, os que andavam deprimidos se reanimaram e o jogo continua por outros caminhos.
O que estamos vendo é uma característica da esquerda em geral e do petismo em particular: todo insucesso é mera etapa de uma “luta” sem fim rumo ao horizonte da vitória. Ou seja, tudo se passa como se o partido fosse imbatível e, em vista disso, não desiste nunca de qualquer de suas intenções e objetivos políticos.
Por isso, considerar que o PT “foi derrotado” é conduta imprudente, que abre flanco para um contra-ataque logo ali adiante. Observe a história e veja que o partido em questão jamais bate em retirada, jamais acusa ou aceita uma derrota.
Só há um jeito de derrotar o PT: deixá-lo à mingua de votos nas urnas, de púlpito nas igrejas, de estrado nas salas de aula e de espaço nos meios de comunicação. Se você ponderar essas quatro condições verá que todas implicam necessariamente uma ampla rejeição social. Na democracia é assim.
FLORENSE – DO BARRACÃO À VANGUARDA MUNDIAL
Percival Puggina
A FLORENSE, que distingue este site com seu patrocínio, completa, neste 18 de maio, 65 anos de atividades. Ao contrário dos organismos vivos, que inexoravelmente envelhecem, empresas podem se perenizar, superando o tique-taque da vida humana, quando aprendem a se renovar e a se inovar. Quem visita – e a visita vale muito a pena! – as instalações industriais da FLORENSE na bela cidade gaúcha de Flores da Cunha, tem a impressão de que suas instalações foram recém-inauguradas. Mais, se a visita se estender ao showroom FLORENSE FUTURO, conhecerá as inovações já projetadas para as futuras linhas de produção.
Pois essa pujante organização, que se conta entre as maiores e mais conhecidas marcas do Rio Grande do Sul, nasceu em 1953, num pequeno barracão com 200 metros quadrados sob a determinação de se construir, de se renovar e de se inovar a cada dia. É altamente exemplar o fato de que seus fundadores, Lourenço Castellan e Ângelo Corradi, imigrantes italianos do pós-guerra, iniciaram-se no mundo da indústria fazendo santos e bancos para as igrejas da região; passaram à produção de mesas e cadeiras vendidas de porta em porta; e a indústria que criaram, nessa permanente expansão, se alinha, hoje, entre as melhores marcas internacionais do setor moveleiro.
Quem tenta, por vezes, jogar grandes contra pequenos e vice-versa, também no setor empresarial, mostra desconhecer o fato de que todo empreendimento deveria animar-se com o desejo saudável de se tornar grande, de prosperar e se tornar local de trabalho de uma multidão que ali busque realização pessoal e profissional. Também no mundo da produção industrial, a vida é interdependente. No pequeno e dinâmico município de Flores da Cunha, na esteira aberta pelo pioneirismo de Castellan e Corradi, opera hoje quase uma centena de empresas do mesmo setor.
Multipremiada, reconhecida nacional e internacionalmente, a FLORENSE, hoje dirigida pelos amigos Gelson Castellan e Mateus Corradi, descendentes dos fundadores, permanece familiar e integrada à comunidade local, numa conjugação virtuosa de gestão, tecnologia, trabalho, arte e artesanato.
Parabéns à família FLORENSE e à sua dinâmica comunidade neste evento que é uma celebração do mundo do trabalho!
DIRETO NA FERRADURA: ALCKMIN CONVIDOU CRISTOVAM
Percival Puggina
Dos inábeis costuma-se dizer que dão uma martelada no prego e outra na ferradura. Pois o convite feito por Geraldo Alckmin a Cristovam Buarque para elaborar suas propostas no campo educacional deixou o prego de lado e foi direto à ferradura.
Em pleno século XXI, o senador do PPS tem longa carreira como paulofreireano dedicado e eleitor petista entusiasmado. Foi ministro de Educação no primeiro governo Lula. Mesmo demitido pelo presidente, e mesmo depois do mensalão, votou nele em 2006 e em Dilma em 2010. Ele admitiu esses seus votos em carta à viúva de Paulo Freire que o criticou por se haver afastado de Dilma em 2014, numa carta em que diz:
"Nita, eu votei no Lula em 2006, no segundo turno, no primeiro eu era candidato. E na Dilma em 2010. Mas é difícil votar em um governo que, depois de 12 anos no Poder, além de tantas coisas erradas, não deu prioridade ao analfabetismo e não conseguiu reduzir o número de analfabetos adultos. Meu problema não é não ter esquecido a demissão, mas não ter esquecido o Paulo [Freire]. Abraço".
Quando o portal e-Cidadania abriu uma lista de adesão à proposta para retirar de Freire o título de Patrono da Educação nacional, Cristovam juntou-se a Luiza Erundina, Jean Wyllys, Fátima Bezerra, Marta Suplicy e outros para protestar contra a iniciativa dizendo que a ideia era uma “babaquice”, algo “idiota” e “imbecil”.
Para quem tinha alguma ilusão em relação à amplitude da abertura mental do candidato tucano, o convite feito a Cristovam Buarque para orientar suas propostas na área da Educação – setor tão vital para o upgrade do desenvolvimento humano, social e econômico do país – é uma péssima notícia.
O convite formulado por Alckmin, aliás, também bateu na ferradura junto à esquerda. O blog 247, ao divulgar a informação, qualificou o senador como traidor que “votou pelo golpe” e prognosticou que sua carreira política “afundaria de vez”. Pelo jeito, de mãos dadas com Alckmin.