MINISTRO MARCO AURÉLIO CRITICOU INDICAÇÃO DE UM MILITAR PARA A DEFESA
Percival Puggina
Leio em O Globo
Para o ministro Marco Aurélio Mello, o ideal seria um civil comandar o Ministério da Defesa.
— A tradição de sempre se ter civil (no Ministério da Defesa) foi quebrada por um civil. Por que agora, com dois militares (Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão), se ter na chefia do ministério um militar? — questionou.
Perguntado se a nomeação de um civil, nessa configuração, seria melhor, o ministro foi enfático:
— Seria. Eu sou um cidadão conservador neste ponto.
COMENTO
Apesar de o ministro haver respondido a uma pergunta da repórter Carolina Brigido, de O Globo, a manifestação inevitavelmente extrai do leitor o seguinte comentário: “E quem está interessado nessa opinião?”. A escolha dos ministros é matéria de competência exclusiva do presidente da República. Em relação a ela as preferências dos membros do STF têm aquela importância negativa, própria das coisas inconvenientes.
DOIS DISCURSOS SOBRE O MÉRITO
Notas do Editor
1. O primeiro discurso é da juíza Fernanda Orsomarzo, ligada à Associação Juízes para a Democracia (que abraça todas as teses esquerdistas). Segundo a magistrada paranaense, a meritocracia é injusta porque desconhece desigualdades de condições. Para alguns, diz ela, “os entraves são meras pedras no caminho, enquanto para outros a vida em si é uma pedra no caminho”.
2. O segundo discurso, cuja íntegra transcrevo a seguir, é da juíza Ludmila Lins Grilo, do TJ/MG. Ela tomou conhecimento do artigo da colega e o contestou apresentando sua própria história de vida para formular uma eloquente convocação ao esforço pessoal em contraposição ao vitimismo do texto precedente. O esperar pelo Estado para tomar decisões e assumir atitudes individuais nunca foi bom aconselhamento.
3. A imagem que ilustra este texto viralizou na Internet em 2015. Registra a atitude de uma criança estudando à noite, na rua, aproveitando-se da iluminação externa projetada por uma lancheria MacDonalds. Há depoimentos de que essa imagem modificou a vida de muita gente.
A Dra. Ludmila Lins Grilo diz:
“Minha resposta ao POST da juíza Fernanda Orsomarzo, integrante da AJD (Associação Juízes para a Democracia), associação de magistrados de viés marxista que frequentemente fala ao público como se representasse todos os juízes, quando, na verdade, é repudiada pela grande maioria dos magistrados.
Fernanda disse que ralou duro para ser juíza de direito. Entretanto, ressaltou que essa vitória não deve ser imputada somente a ela e aos seus méritos, mas sim, a uma conjunção de fatores positivos que, desde sua tenra infância, pôde desfrutar: casa, escola particular, comida na mesa, aulas de inglês, informática. Diz que, graças a todas essas circunstâncias, ela foi alçada a um patamar de maior comodidade, e, privilegiada, teve mais chances de conseguir chegar onde chegou. Invoca questões raciais: “nasci branca”.
Fernanda é contra a meritocracia. Acha injusto desresponsabilizar o Estado e jogar “nos ombros do indivíduo todo o peso de sua omissão e falta de políticas públicas”. Diz que “quem defende essa falácia não se recorda que contou com inúmeros auxílios para chegar onde chegou”.
Fernanda se esforça em mostrar para o público como é difícil para o pobre vencer na vida. Milhares de pessoas compraram a sua ideia. Fernanda estimulou a revolta nesses milhares de pessoas.
Pois eu não farei isso. Jamais estimularei a sua revolta contra um ente abstrato e sem rosto, como o “Estado”. Estimularei a sua coragem sua força de vontade e, principalmente: sua FÉ. Vem comigo!
Assim como Fernanda, eu ralei duro (duríssimo!) para ser juíza de direito. Era um verdadeiro sonho a ser perseguido dia após dia. Mas, ao contrário de Fernanda, não tive tantas facilidades assim. Morava no subúrbio do Rio de Janeiro, no bairro de Olaria. Não tinha vista para o Cristo Redentor, mas sim, para o Complexo do Alemão. Conservo até hoje uma pequena cicatriz na perna de um TIRO tomado dentro da escola, aos 11 anos, em Ramos. Minha mesinha de estudo ficava à beira da janela: quando começavam os tiroteios, eu precisava sair dali da linha de tiro. Pegava o livro e ia ler na cama, toda torta e com baixa visibilidade. Os olhos e a coluna sofriam, mas o espírito sempre estava em FESTA.
Muito tempo de estudo foi tomado durante minhas viagens no 621 (Penha-S.Peña), ônibus que eu pegava para a ida ao trabalho administrativo em um hospital ao pé do morro da Mangueira. Nem sempre conseguia ir sentada, muitas vezes eram 40 minutos, uma hora em pé, desconfortável, suando, sendo empurrada, com os braços doendo por ficar segurando naquele ferro acima da cabeça. Mas minhas “folhinhas” de estudo estavam à mão: não havia tempo perdido. Não havia espaço para vitimismo: minha alma estava em FESTA.
O retorno da faculdade era feito na linha 313 (Pça. Tiradentes-Olaria): altas horas da noite eu voltava sozinha naquele ônibus vazio, cheio de perigos, transpassando a Central do Brasil, Leopoldina, São Cristõvão, Jacaré…ah como eu tremia quando entravam no ônibus aquelas pessoas sinistras no Jacaré! Cheguei a presenciar assalto com fuzis na estação de Bonsucesso. Mas meu livrinho estava sempre à mão, e meu coração estava em FESTA. Fazia uma breve oração, pedia a Deus por minha vida. E Ele me conservou.
Sabe por que estou te contando toda essa história? Pra mostrar ao mundo o quanto sou fera e incrível? Nada disso. Estou te contando essa história para que você não acredite em pessoas como a Fernanda.
Enquanto a Fernanda diz que só é juíza porque também recebeu um “empurrãozinho” da vida, eu te digo que esse empurrãozinho não é necessário: você pode começar do zero. Não temos castas no Brasil. Um rico pode ficar pobre e um pobre pode ficar rico.
Enquanto a Fernanda te diz que você deve esperar tudo do Estado, eu te digo que você não deve esperar NADA do Estado. Levante-se! Faça você mesmo! Come on!
Enquanto Fernanda invoca questões raciais para dizer que esta circunstância a ajudou na vida, eu te digo: deixe o racismo com eles. Independentemente da sua cor, você PODE.
Enquanto a Fernanda te conta que você deve ter revolta, eu te digo: você deve ter otimismo, força de vontade e FÉ.
Enquanto a Fernanda te estimula a permanecer onde está, por não ter condições financeiras, eu te digo: ignore sua condição financeira. Não fique onde está, se não te agrada. Saia daí. É possível e viável. Você pode sim.
Isso é a meritocracia que tanto irrita a Fernanda. E claro que existem desigualdades sociais – e, lamento informar: sempre existirão. Por isso, parta para o abraço: não deixe que pessoas como Fernanda digam que você não pode. Não acredite nisso. Não se vitimize. VOCÊ PODE SIM.”
SER PAJUBÁ
Harley Wanzeller
Num dia calmo, andando pela rua,
Um ser estranho aproximou-se.
Parou-me.
Dei-lhe atenção, pois falava um português claro.
Inteligível.
Voz doce. Parecia normal.
Minutos se foram.
A conversa evoluiu quando, de repente, passei a não compreendê-lo.
Não entendia uma só palavra...
"Nhaí, amapô! Não faça a loka e pague meu acué, deixe de equê se não eu puxo teu picumã!".
O quê?
Não entendeu?
É Pajubá, uai...
A curiosidade foi instantânea.
O Pajubá não conheço. Nunca ouvi alguém falar.
Melhor, então, calar...
Mas ele insistia no tal Pajubá, forçando-me ouvir uma cantilena indecifrável.
"Vamu fazer a chuca e acuendar a neca!"
O moço está bem?
É Pajubá!
É Pajubá!
Mim falar Pajubá!
Mim falar...
Mim, Pajubá!
Espantado. Atônito. Sem reação...
Tensão e atenção voltadas para o ser que tentava me tocar,
Tentava invadir o espaço que não era seu.
E insistia...
É Pajubá!
Pajubá!
O distanciamento da realidade tornava aquele arremedo cultural um ser insano.
Louco. Tarado por Pajubá, insistindo em tamanha demência.
Não aguentei.
Tive que falar!
Vixe! Arriégua! Vá pra lá!
Desconjuro! Saravá!
Deus te guie!
Ele te abençoará!
Vai-te curar, ser Pajubá!
Que o português te exorcize, e afaste de ti esta "analfademência".
Ainda há tempo.
És melhor que um Pajubá.
Vai-te tratar! Estudar! Trabalhar!
Para de "pajubar"!
Retoma a dignidade. A sociedade te acolherá!
Findo o ritual, e sem saber muito bem como, a exortação funcionou.
E lá se foi o Pajubá...
Como homem das cavernas, saiu "pajubando" e defecando asneiras na face de transeuntes,
Não deixou em mim um pingo sequer de ódio, rancor ou mágoa.
Coitado.
Indiferente Pajubá.
Pouco me importam suas convicções...
Que seja feliz no mundo de "pajubices"!
Mas, em meio à indiferença,
Pajubá conseguiu algo: despertou minha compaixão.
Acabei sentindo pena de sua pobreza de espírito.
Pena do povo que pajeia os "pajubeiros".
Pena dos educadores, que impõem a deformação cultural.
Pena dos pais, que são vítimas da ditadura "pajubense".
Pena de nossa língua.
Esquecida.
Enterrada por caciques Pajubás.
Santa e analfabeta ignorância...
Santíssima decrepitude intelectual!
Piedade, Senhor!
Piedade do Pajubá!
Piedade de nós!
Harley Wanzeller 06.11.2018
SONETOS ALÉM DO TEMPO
XXXI - 2018
Ives Gandra da Silva Martins
A esquerda pensa ter sempre razão
E quem dela discorda é neo-facista,
Os meios justificam a assunção
Do poder na lição bem marxista.
Apenas tem um fim, os governantes,
Para si retirar dos ricos bens,
Os pobres ficam sempre como dantes
Não mais de seus discursos que reféns.
Os divergentes são excomungados,
O livre pensamento não existe,
Pois desde cedo tão manipulados
Os jovens todos são de forma triste.
O povo contra o mal não tem seguro,
Em países que vivem sem futuro.
03/11/2018.
OS DESESPERADOS
Editorial do Estadão
Uma oposição “propositiva” ao governo de Jair Bolsonaro é o que prometem alguns partidos de esquerda que já começam a se organizar com vista à próxima legislatura. Não por acaso, esse bloco excluirá o PT. Segundo explicou o deputado André Figueiredo (CE), líder do PDT na Câmara, o partido do ex-presidente e hoje presidiário Lula da Silva “tem um modus operandi próprio dele”, enquanto o bloco formado por PDT, PSB e PCdoB “tem um outro modelo de oposição”, isto é, “um modelo construtivo para o País”.
Ainda será preciso esperar que esses partidos passem das belas palavras aos atos concretos, mas é significativo que agremiações que tão fortemente antagonizaram com Bolsonaro durante a campanha agora se digam dispostas a fazer oposição responsável ao próximo governo.
Também é significativo que o grupo tenha dispensado o PT e sua linha auxiliar, o PSOL, das conversas para a formação de um bloco de oposição. O pedetista André Figueiredo explicou que não é mais possível aceitar “o hegemonismo que o PT quer impor aos demais partidos” e que nenhuma dessas legendas de esquerda aceita ser “um puxadinho do PT”.
O isolamento do PT no campo da oposição é a consequência natural do comportamento autoritário do partido, incapaz de uma convivência democrática mesmo com aqueles com os quais nutre alguma afinidade ideológica. Para os petistas, nada que não tenha sido ditado pelo PT tem legitimidade.
À medida que foi sendo desossado pelas urnas e pela Justiça, o partido de Lula da Silva recrudesceu seu autoritarismo, expondo cada vez mais seu desespero. Depois de passar a campanha inteira a denunciar como “golpe” o impeachment constitucional de Dilma Rousseff, a exigir a libertação de Lula, como se este não tivesse que cumprir pena pelos crimes que cometeu, e a exigir apoio a seu candidato como única forma de “salvar a democracia” ante o perigo do “fascismo” supostamente representado pela candidatura de Bolsonaro, o PT agora trata de dizer que a vitória do oponente resultou de um processo “eivado de vícios e fraudes”, conforme declarou a presidente do partido, Gleisi Hoffmann.
Os petistas, assim, fazem exatamente aquilo que deles se esperava – isto é, em vez de aceitar o resultado das urnas e se organizar para fazer oposição decente e leal ao futuro governo, preferem deflagrar campanha para deslegitimar a vitória de Bolsonaro. Do alto de sua prepotência, os petistas dizem que Bolsonaro foi eleito depois de “uma campanha de ódio e de mentiras, que nos últimos anos manipulou o desespero e a insegurança da população”, como diz uma resolução da Executiva Nacional do PT aprovada logo após a eleição. Ou seja, para o PT, se não houvesse “manipulação” e “mentiras” o candidato petista seria eleito com folga.
Um partido que em documento oficial chama um presidente democraticamente eleito de “aventureiro fascista”, como faz o PT, não tem a menor intenção de fazer oposição. Para esta atitude verdadeiramente golpista já chamávamos a atenção no editorial Desespero, de 19 de outubro. Sua intenção é inviabilizar o governo e, por tabela, impedir que o País saia da crise que os próprios petistas criaram em sua desastrosa passagem pela Presidência. Os desesperados petistas prometem “construir uma frente de resistência pelas liberdades democráticas”, como se o País estivesse às portas da ditadura, e essa “resistência” se estende a tudo o que interessa à maioria da população, a começar pela reforma da Previdência.
Enquanto isso, os grupelhos a serviço do lulopetismo mostram do que é feita a “democracia” que defendem: uma manifestação convocada pelo notório Guilherme Boulos para exigir que Bolsonaro “respeite a oposição” e “as liberdades democráticas” acabou em tumulto e depredação na terça-feira passada em São Paulo.
Não surpreende, assim, que a tal “frente de oposição” que o PT pretende liderar não tenha apoio. O grave momento do País exige um esforço de todos para a superação da crise, o que implica a existência de uma oposição dura, porém prudente. Os sabotadores – aqueles que não se importam com o interesse público – devem ser isolados, para que fique patente de vez sua profunda irresponsabilidade.
Publicado originalmente no Estadão, em 04/11
COMO SERÁ PREENCHIDA A VAGA DE SÉRGIO MORO NA LAVA JATO
Conteúdo do Diário do Poder
Com a saída de Sérgio Moro da 13ª Vara Federal de Curitiba, quem deve assumir em um primeiro momento o andamento dos processos da Lava Jato na primeira instância é a juíza substituta Gabriela Hardt.
Ela já vinha atuando em situações de ausência do magistrado titular. Foi a juíza que decretou a prisão do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu em maio deste ano. Além dos casos próprios, a juíza ficará provisoriamente a cargo também de todos os casos sob a responsabilidade de Moro, que não devem ser redistribuídos, permanecendo na 13ª Vara Federal.
Critérios
A partir da exoneração de Moro, a vaga de titular aberta deverá ser oferecida por meio de um edital de remoção, do qual poderá participar qualquer juiz federal titular interessado que atue não só no Paraná, mas também em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul. Os três estados estão sob a supervisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), com sede em Porto Alegre.
A preferência pela vaga se dá pelo critério de antiguidade. O TRF4 possui sob sua jurisdição atualmente 233 juízes federais, dos quais oito ingressaram em 1994, sendo os mais antigos e, portanto, com preferência caso se interessem em assumir a Lava Jato.
A escolha do novo titular da 13ª Vara é feita pelo Conselho de Administração do TRF4, após análise dos candidatos. Caso nenhum titular se interesse pela vaga, ela é oferecida a título de promoção para algum dos juízes federais substitutos que atuam no Sul, novamente com preferência aos mais antigos. Nesse caso, é o plenário do TRF4 quem escolhe o candidato.
Moro já anunciou seu afastamento imediato das atividades como juiz, “para evitar controvérsias desnecessárias”, disse, em nota. Ele deverá assumir uma superpasta da Justiça, que englobará a área de Segurança Pública e outros órgãos de fiscalização federal.