Percival Puggina
Leio no Diário do Poder
O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), defendeu nesta segunda-feira (24) que o Senado altere pontos da reforma tributária e pediu mobilização pela reforma administrativa, sem citar diretamente eventuais mudanças.
“Eu penso que o Senado, o presidente Pacheco fez uma excelente escolha, não vou deixar de ressaltar a capacidade técnica do relator, Eduardo Braga, e o Eduardo estando contemplado como está a zona franca [de Manaus] ele vai se preocupar com outros assuntos vai ficar com a cabeça ainda mais tranquila para tratar de assuntos que eu penso que tem que ser modificados”, afirmou o deputado ao participar de uma conferência do Grupo de Líderes Empresariais (Lide), que discutiram pontos da reforma.
Lira disse ainda que respeita as decisões tomadas pela Câmara, mas destacou que “alguma coisa vai ter que ser reduzida na reforma para a gente ter tranquilidade”.
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Depois que Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, passou a trabalhar com e para Lula, tem tido alguns insucessos nas pretensões do governo, que sempre pressiona por votações urgentes e com insuficiente esclarecimento.
Alguma coisa as manifestações dos eleitores, alertados em tempo, conseguiram travar, como o controle das redes sociais e a proteções especiais dos parlamentares ante as críticas públicas por parte dos eleitores.
Mas não é esse o tipo de democracia que interessa ao governo.
Já a reforma tributária, mesmo assustando a quem tem juízo, passou.
Agora, parece que Arthur Lira, que precisava da pressa para sair em férias num cruzeiro pelo Caribe, descobriu que o projeto em cuja aprovação jogou o peso do centrão, é um disparate de quem pouco entende do assunto.
De fato, a ekipe economika do governo é formada por gente que não tem a menor ideia sobre como funciona a vida na iniciativa privada, longe da porta do erário.
E é para a mesa de quem produz que vão, além das próprias contas, as contas de um governo que só pensa em gastar o que não tem.
Percival Puggina
Nos meus tempos de estudante, anos 60, volta e meia algum colega sumia para ir estudar em Moscou, na Universidade da Amizade dos Povos Patrice Lumumba. O caminho passava pela indicação do PCB e tramitava pela União Internacional dos Estudantes (estou lendo isso no Wikipedia). Era o roteiro de formação dos jovens comunistas. Cerca de mil estudantes brasileiros passaram por lá.
Estarei exagerando, certamente, mas o exagero vale como palavras em “bold” num texto: para graduação em comunismo, hoje, basta matricular-se no curso superior mais perto de casa.
A Universidade Federal de Pelotas tem se destacado nesse mercado. É de lá que vem, agora, a ideia de criar um curso de Medicina para estudantes oriundos de assentamentos do MST. O ingresso seria por baixo da cancela usual, sem vestibular, mediante uma prova de redação e históricos pessoais. Suponho que o nível das exigências não se prenda à correção gramatical, nem à riqueza do vocabulário, nem às metáforas ou analogias, mas à fidelidade ideológica e à disposição de servir ao movimento, seu “saber histórico” e suas “narrativas” ...
A rigor, a linha de argumentos acima é inútil porque o Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária existe desde 1998 e desde 2012 pôs em funcionamento cursos de formação de médicos veterinários que já graduaram 139 profissionais.
A autonomia da universidade permite, a senhora reitora e a reitoria querem e de nada valem os protestos das entidades médicas nem os alertas que podem ser suscitados pelo bom senso.
Professores de cursos tradicionais de Medicina se queixam do despreparo dos alunos que ingressam através dos exames vestibulares. Esse despreparo tem razões graves oriundas das precariedades apontadas pelas avaliações do ensino fundamental e médio. Imagine o que acontecerá num curso de Medicina com as características desse concebido pela UFPel.
Percival Puggina, com conteúdo Jota Pro
Leio em Jota Pro (íntegra aqui)
O resultado do julgamento sobre o piso da enfermagem, aprovado pelo Congresso no ano passado, foi apresentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) na noite da última segunda-feira (3/7). A decisão representa uma vitória para os profissionais de enfermagem, mas é um balde de água fria para as demais categorias que esperavam a criação de um piso salarial nacional.
Apesar de haver contestações sobre a proclamação do resultado por Luís Roberto Barroso, houve uma larga maioria de 8 votos no sentido de dizer que futuras iniciativas nessa direção “passarão a ser vistas como potencialmente incompatíveis com a Constituição”.
Os ministros afirmam que o STF sempre respeitou o poder e a liberdade do Congresso para fixar pisos salariais nacionais, mas que a possível generalização dessa prática “coloca em risco o princípio federativo e a livre-iniciativa”.
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Quando isso começou, parecia uma epidemia legislativa. Cada iniciativa de propor piso nacional para alguma categoria, representava uma confusão nacional, estadual, municipal, setorial e profissional individual. Mas consagrava o autor, que ganhava retrato na parede de sindicatos e conselhos profissionais.
No entanto, era uma anomalia. Parece pouco provável que algum outro país constitucionalize o piso salarial de suas categorias funcionais. Segundo o site Poder 360, existem atualmente 148 projetos em tramitação, sendo 133 na Câmara e 15 no Senado. Abro uma exceção para dizer que neste caso, o STF tem razão. Os acordos negociados, por preservarem a liberdade de negociação, atendem muito melhor o interesse geral e as peculiaridades locais do que as imposições estatais.
Os constituintes de 1989, infelizmente, nos deram uma Carta onde cabe tudo e funciona como uma esponja atraindo para ela mais e mais direitos e obrigações, regras e minúcias. Inspirado pelo modelo, todo brasileiro tem ideia de algum preceito que deveria estar na Constituição e governar é, sobretudo, aprovar PECs pelos corruptos mecanismos conhecidos.
Percival Puggina
Outro dia, enviaram-me um discurso que teria sido feito por Macron, no qual ele condenava de A a Z todo o discurso da esquerda. Continha frases como “Hoje derrotamos a frivolidade e a hipocrisia dos intelectuais progressistas”. Reprovava a “política do pensamento único que condena a politica enquanto a pratica”. “Desde 1968 não se podia falar em moral”. “Nos impuseram o relativismo”. “Nos fizeram crer que a vitima conta menos do que o delinquente, que a autoridade estava morta e as boas maneiras haviam terminado”. “Quiseram terminar com a escola de excelência e do civismo. Assassinaram os escrúpulos e a ética”. E assim por diante.
Achei estranho o conteúdo para ser do Macron. Fui pesquisar e encontrei que esse discurso havia sido proferido por Sarkozy, ex-presidente francês, em sua posse, no ano de 2007. Ou seja, há 16 anos o discurso dominante na França (e no Ocidente inteiro, diga-se de passagem) era o mesmo de hoje. Quando, sob esse ataque, se esboça a reação conservadora e liberal, obtendo vitórias com Trump e Bolsonaro, a esquerda brasileira retorna ao poder, pelos meios bem conhecidos de nossa recentíssima história.
O que disse Lula em seu discurso na sessão de abertura do Foro de São Paulo? Após chamar fascista o discurso da direita, ele declarou: “Aqui no Brasil nós enfrentamos o discurso dos costumes, o discurso da família, o discurso do patriotismo. Ou seja, nós enfrentamos o discurso de tudo aquilo que nós aprendemos historicamente a combater”. Surpresa geral da nação? Houve quem dissesse que Lula se enganou, que tropeçou nas palavras.
No entanto, logo após assumir, em 18 de janeiro, em entrevista à Globo News, ele disse a mesmíssima coisa: “A extrema-direita existe no mundo inteiro. Existe na Hungria, na Itália, na Alemanha, na Espanha, em Portugal… em todo lugar estão nascendo agrupamentos de extrema-direita. Convocações nazistas, stalinistas, com as mais diferentes formas de agir”. E continuou: “Estive com o ex-primeiro-ministro grego e ele me disse que, na Grécia, o discurso é o mesmo: pátria amada, família e costumes e a questão religiosa. É quase um discurso universal”.
Olha aí, Papa Francisco, o homem piedoso que esteve com o senhor entre sorrisos e afagos!
Claro que nada disso foi dito antes da eleição, que essa é uma hora de esconder as unhas. Agora, porém, Lula se sente sólido para seguir seu roteiro, porque, como certa vez confessou, está “mais Maduuuro”.
Estamos vivendo um capítulo bem trágico da guerra cultural agravada pelo consistente apoio do ex-Direito, da ex-Imprensa e da ex-Cultura transformados em corneteiros de uma algazarra anticivilizatória.
Percival Puggina
Nos dias que se seguiram ao fracasso do submarino Titan em sua tentativa de visitar os destroços do Titanic ouvi muitos comentários depreciativos aos que nela se aventuraram.
Foi impossível não perceber na maior parte dessas opiniões um sentimento de desapreço, talvez involuntariamente associado ao uso impróprio da riqueza que poderia estar canalizada a causas sociais mais nobres ou a investimentos produtivos.
De minha parte, quando me falaram da experiência e do sumiço do pequeno submarino lembrei-me imediatamente da figura mitológica de Ícaro tentando deixar Creta voando e de todos os que morreram nos ares e nos mares descortinando, com sua curiosidade e coragem, novos horizontes para a civilização.
A humanidade é devedora dos corajosos e foi assim me senti em relação aos embarcados naquela funesta expedição. Antes de Gil Eanes atravessar o Cabo do Medo (Cabo Bojador) em 1434 muitas expedições portuguesas ali foram tragadas ensejando o mito dos monstros marinhos. Antes dos ônibus espaciais (construídos para viagens de ida e volta) Challenger em 1986 e Columbia em 2003 explodirem com sete tripulantes embarcados em cada um deles, quantos pilotos ficaram no Atlântico em arriscados voos com pequenos monomotores?
É possível que um dia alguém consiga fazer o que tentaram os passageiros e tripulantes do Titan. Por isso, enquadro a experiência mal sucedida no arquivo da grande aventura humana no planeta.
Leio no Diário do Poder
* Reproduzo trechos. A íntegra pode e deve ser lida aqui.
(...) A vice-procuradora-geral da República, Lindôra Araújo, tem travado um duro embate contra atos que considera ilegais e determinações de prisões sem fundamento, atribuídas ao ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes. É o que revelam documentos sigilosos de processos que tramitam a cúpula da Justiça Brasileira, revelados pela edição deste fim de semana da revista Veja.
De forma contundente, a vice da Procuradoria-Geral da República (PGR) afirma que Moraes fez uma espécie de “pesca” aleatória em busca de provas de crimes. Lindôra faz referência à mesma prática em outras investigações em curso no STF, ao classificar como ilegais os procedimentos e prisões autorizados pelo ministro no âmbito da Operação Venire, que investiga a falsificação de cartões de vacinação, e prendeu o ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenente-coronel Mauro Cid, e outros dois em maio.
A procuradora considera os elementos incipientes para recomendar ações contra os investigados, sob risco de “validar pesca probatória”.
Sobre as mensagens, Lindôra conclui terem sido “mero diálogo entre pessoas comuns, desprovidas de conhecimento jurídico ou político suficiente para arquitetar um golpe de Estado”; bem como “uma simples troca de informações apenas e tão somente entre os interlocutores, sem contato com qualquer pessoa com condições de executar”; e ainda “posturas especulativas que poderiam ser encontradas nos dispositivos móveis de grande parte da população brasileira, sob o contexto de intensa polarização do debate político à época das eleições de 2022”.
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Nada diferente da conclusão a que chega qualquer pessoa portadora do mínimo senso de justiça. É impossível que as coisas aconteçam assim e que a liberdade e a intimidade da vida pessoal estejam sob ameaça de intervenções não previstas no Código de Processo Penal e na Constituição Federal.
Quantos pesos e quantas medidas estão no estoque das determinações de nossos tribunais superiores?