Percival Puggina
Outro dia, enviaram-me um discurso que teria sido feito por Macron, no qual ele condenava de A a Z todo o discurso da esquerda. Continha frases como “Hoje derrotamos a frivolidade e a hipocrisia dos intelectuais progressistas”. Reprovava a “política do pensamento único que condena a politica enquanto a pratica”. “Desde 1968 não se podia falar em moral”. “Nos impuseram o relativismo”. “Nos fizeram crer que a vitima conta menos do que o delinquente, que a autoridade estava morta e as boas maneiras haviam terminado”. “Quiseram terminar com a escola de excelência e do civismo. Assassinaram os escrúpulos e a ética”. E assim por diante.
Achei estranho o conteúdo para ser do Macron. Fui pesquisar e encontrei que esse discurso havia sido proferido por Sarkozy, ex-presidente francês, em sua posse, no ano de 2007. Ou seja, há 16 anos o discurso dominante na França (e no Ocidente inteiro, diga-se de passagem) era o mesmo de hoje. Quando, sob esse ataque, se esboça a reação conservadora e liberal, obtendo vitórias com Trump e Bolsonaro, a esquerda brasileira retorna ao poder, pelos meios bem conhecidos de nossa recentíssima história.
O que disse Lula em seu discurso na sessão de abertura do Foro de São Paulo? Após chamar fascista o discurso da direita, ele declarou: “Aqui no Brasil nós enfrentamos o discurso dos costumes, o discurso da família, o discurso do patriotismo. Ou seja, nós enfrentamos o discurso de tudo aquilo que nós aprendemos historicamente a combater”. Surpresa geral da nação? Houve quem dissesse que Lula se enganou, que tropeçou nas palavras.
No entanto, logo após assumir, em 18 de janeiro, em entrevista à Globo News, ele disse a mesmíssima coisa: “A extrema-direita existe no mundo inteiro. Existe na Hungria, na Itália, na Alemanha, na Espanha, em Portugal… em todo lugar estão nascendo agrupamentos de extrema-direita. Convocações nazistas, stalinistas, com as mais diferentes formas de agir”. E continuou: “Estive com o ex-primeiro-ministro grego e ele me disse que, na Grécia, o discurso é o mesmo: pátria amada, família e costumes e a questão religiosa. É quase um discurso universal”.
Olha aí, Papa Francisco, o homem piedoso que esteve com o senhor entre sorrisos e afagos!
Claro que nada disso foi dito antes da eleição, que essa é uma hora de esconder as unhas. Agora, porém, Lula se sente sólido para seguir seu roteiro, porque, como certa vez confessou, está “mais Maduuuro”.
Estamos vivendo um capítulo bem trágico da guerra cultural agravada pelo consistente apoio do ex-Direito, da ex-Imprensa e da ex-Cultura transformados em corneteiros de uma algazarra anticivilizatória.