Percival Puggina
A militância política das redações nasce nas salas de aula da cadeia produtiva da Educação. É um dos resultados desejados pelos ativistas do giz e quadro negro. O jornalismo que temos é produto acabado desse aparelhamento. Sei que, retoricamente, estou tomando a maioria pelo todo, mas é a maioria que faz a maior parte da receita no bolo da comunicação social. Certo?
O entusiasmo missionário de muitos jornalistas, ou mesmo de profissionais de outras áreas atraídos para as programações na condição de consultores, acaba fazendo de tudo uma simulação da realidade, como se os programas fossem apresentados desde o interior da caverna de Platão. As coisas não são como são, mas como as sombras que dela se projetam.
Há bem poucos dias, na CNN, uma jornalista mocinha defendia (o jornalismo de hoje ou ataca ou defende) a ideia de que o “subsídio” aos combustíveis (na verdade a redução de impostos) só interessa às classes a partir da classe média porque aos pobres interessa o alimento...
Tratava-se, no caso, de defender o retorno da tributação que produziu a imediata elevação dos custos de um insumo com repercussão direta na formação dos preços das demais mercadorias. A militância, porém, não se preocupa com a racionalidade. O negócio é vender o peixe com o discurso politicamente conveniente.
Do alto de sua sensatez, um amigo meu comentou a absurda tese da mocinha em poucas palavras: “Para ela o alimento do pobre deve chegar a pé no mercadinho”.
Percival Puggina
Ontem (26/02), zapeando as News, passo pela CNN e leio nas manchetes do telenoticiário que as “fake news” russas são um grave problema da Ucrânia na guerra entre os dois países.
Não é, apenas, ignorância de quem preparou a matéria. A militância jornalística de esquerda tem uma necessidade compulsiva de colar essa etiqueta em toda informação de seu desagrado. É preciso fazer das fake news um novo “mal do século” (para justificar os abusos cometidos por quem diz nos proteger delas). É indispensável, portanto, que a expressão apareça ininterruptamente ante os olhos e os ouvidos do público. Esse jornalismo esquece o quanto ele mesmo incorre nesse mal quando distorce uma informação ou quando promove algo ainda mais enganoso – a análise tendenciosa dos fatos (fake analysis).
Então, a matraca das “fake news” roda e a expressão passa a denominar aquilo que qualquer recruta reconhece como estratégias de comunicação típicas em tempos de guerra: a transmissão de informação ilusória (misisformation), e a propaganda com o objetivo de levar o adversário a avaliar de modo errado as forças inimigas (disinformation).
O jornalismo é indispensável à liberdade e à democracia e sobreviverá à atual crise de identidade.
Percival Puggina
Leio no jornal O Tempo (21/02)
Em meio ao resgate de pessoas e corpos após o temporal da madrugada de domingo (19) em São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, há comerciantes aproveitando a tragédia para explorar a população. Alguns deles estão vendendo um litro de água por R$ 93 na região.
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Obviamente, a informação causa revolta e eu imagina o que diria a quem tivesse o descaramento de me cobrar esse preço por água de beber durante uma tragédia.
Em sequência, novas reflexões se impõem. Isso é o livre mercado? Escassa a mercadoria, seus preços sobem na mesma prateleira onde antes custava menos? Por outro lado (ou até do mesmo lado) enquanto houver quem pague R$ 93 por galão de água, haverá quem o venda por esse preço, não é mesmo? E haverá, também, quem acrescente ser essa a forma de regrar o consumo para evitar o desabastecimento pela formação de estoques privados.
Há uma certa “lógica” nesses raciocínios. Basta que para isso desprezemos um fato tão simples quanto esquecido: nós não somos seres apenas racionais. Somos também sentimentos, inclusive sentimentos morais; não somos apenas matéria; temos, também, uma dimensão espiritual. Somos tendentes ao eterno, ao infinito, principalmente quando pensamos em felicidade. Não somos apenas indivíduos pois temos uma existência social.
Se não fôssemos assim, por natureza, como explicar que, de um modo ou outro, façamos todos os dias, por imposição de consciência, tarefas que nos são penosas ou desagradáveis? Por que tantos se dispõem a ajudar os outros em suas dificuldades? É moralmente errado valer-se do desastre alheio para ampliar de modo expropriatório os próprios ganhos. O desabastecimento pela formação de estoques privados pode ser evitado com a restrição ao número de unidades vendidas por cliente, ora essa!
O sujeito que vendia água por R$ 93 podia alinhar diversos motivos para fazê-lo. Mas não tinha razão, de modo algum, porque há coisas que não se faz. “Punto e basta!” como dizem os italianos.
Percival Puggina
Essa imagem e o respectivo vídeo (aqui) impressionaram-me vivamente. São sinais visíveis do nível de intimidação que atingiu a sociedade brasileira: cidadãos constrangidos a protestar em ambiente rural, com a cabeça encoberta, para não serem arrebanhados nos rancores do Estado. Reflitam sobre isso as autoridades. Cumpram seu dever aqueles congressistas que preservam sua honestidade intelectual.
Gradualmente, a esquerdização do país perverteu um dos fundamentos do constitucionalismo: o Estado, em vez de proteger a sociedade, dela se distancia e se resguarda.
Como recentemente escreveu o cronista Idico Luiz Pellegrinotti: “Em Brasília, pessoas inocentes foram vítimas de duas emboscadas, uma pelos infiltrados e outra pelo STF e estão sendo oprimidas em seu bem maior – a liberdade”.
Imputar a pacatos cidadãos sentados em cadeiras de praia diante de quarteis um criativo portfólio de condutas criminosas, encarcerá-los e assim mantê-los, não é uma forma civilizada de tornar respeitáveis as instituições da República.
É mais do que necessária a CPI do dia 8 de janeiro! Enquanto a oposição “golpista” a quer, o governo “institucionalista”, de modo incomum, rejeita a iniciativa de início proposta por alguns de seus próprios congressistas.
Percival Puggina
Não transcreverei a fala do ministro Lewandowski, acessível em dezenas de matérias disponíveis a quem der uma rápida googlada.
Vou me deter num elemento particular dessa fala, quando o ministro aponta para o que chama crise da democracia representativa, liberal-burguesa, a democracia dos partidos (...)”. E seguiu pregando por uma “sociedade justa, igualitária e fraterna”, afirmando a necessidade de que todos tenham “um norte, de valores e princípios, uma visão de mundo, uma ideologia”.
O ministro estava entre os seus. Companheiro entre companheiros; a elite da esquerda rural e seus apoiadores em instituições do Estado; gente do campo, mas do lado de dentro da cerca; representantes da esquerda chiquérrima dos advogados do grupo Prerrogativas (“Prerrô” para os íntimos). Com alguns já debati pessoalmente e conheço bem o estrago que essa “visão de mundo” e essa ideologia produz no nervo óptico das pessoas.
Só como frase insidiosa de discurso alguém pode associar a ideia de “sociedade justa” com a de “sociedade igualitária”, sendo elas tão antagônicas. Uma sociedade igualitária, além de não existir em parte alguma, nem em qualquer em momento da história, não pode ser justa porque os seres humanos, a exemplo de qualquer ente do mundo natural, não são iguais. Igualá-los por força de uma ordem social imposta, não é de boa justiça e aqueles que porventura têm poder para impô-la reservam para si os benefícios das desigualdades, sendo, assim, os primeiros a “desigualitarizá-la”. Isso sim, a história ensina.
Do que li, chamou-me a atenção a não ter encontrado nos registros da fala do ministro qualquer referência à Liberdade, logo a ela, filha do Direito Natural, mãe da democracia e avó dos bons Estados de Direito.
Percival Puggina
Leio na Agência Brasil
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarca na próxima quinta-feira (9) para os Estados Unidos onde, no dia seguinte, irá encontrar o presidente norte-americano, Joe Biden, em Washington. A pauta dos dois países terá três temas centrais: democracia, direitos humanos e meio ambiente. Durante encontro, na Casa Branca, os presidentes discutirão ainda como os dois países podem continuar trabalhando juntos para promover a inclusão e os valores democráticos na região e no mundo.
Ao falar, nesta terça-feira (7), sobre os preparativos da viagem do presidente, o secretário das Américas do Itamaraty, embaixador Michel Arslanian Neto, lembrou que Lula conversou recentemente com Biden, por telefone, em duas oportunidades. A primeira, quando foi declarado vencedor das eleições presidenciais, e a segunda, no dia 9 de janeiro, um dia após os ataques terroristas às sedes dos três Poderes da República brasileira.
“Os dois países estão experimentando desafios semelhantes, uma preocupação comum com o tema da radicalização, violência política com o tema do uso das redes para a difusão de desinformação e discurso de ódio. Então, com as duas principais democracias do mundo se reunindo seu mais alto nível, será uma oportunidade ímpar para que enviem uma mensagem de forte apoio a processos políticos, sem recursos a extremismos à violência e com o uso adequado das redes sociais”, destacou o embaixador.
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Lula viaja cercado da elite de seu ministério! Além da patroa Janja e do chanceler Mauro Vieira, vão com ele: Fernando Haddad, o primeiro ministro da Economia que não entende lhufas desse riscado; Marina Silva, a ministra do meio ambiente que apresentou o Brasil em Davos como uma gigantesca Libéria, com 130 milhões de famintos; e a ministra irmã de Marielle Franco, que cuida da igualdade racial e de quem, por enquanto, ninguém ainda aprendeu o nome de batismo.
Como se vê, uma agenda trepidante, bem ao gosto dos dois mandatários.
Por que digo que algo vai piorar? Por três motivos. Primeiro, porque a experiência tem mostrado isso; cada vez que o governo abre sua sacola de guardados com propostas esquerdistas do século passado, as expectativas pioram e o mercado se ressente. Segundo, porque as ideias de Biden e Lula sobre mudanças climáticas e Amazônia levam em maior conta as perspectivas internacionais que os interesses brasileiros. Terceiro, porque o conceito de igualdade racial desse governo não prescinde da construção da animosidade e do conflito, como bem mostra a recepção a Janaina Paschoal na USP.
Por fim, segundo o embaixador brasileiro, o discurso de ódio estará na pauta. Nesse caso, será preciso manter Lula calado porque é só o que transparece quando ele fala.