Percival Puggina
Nos dias que se seguiram ao fracasso do submarino Titan em sua tentativa de visitar os destroços do Titanic ouvi muitos comentários depreciativos aos que nela se aventuraram.
Foi impossível não perceber na maior parte dessas opiniões um sentimento de desapreço, talvez involuntariamente associado ao uso impróprio da riqueza que poderia estar canalizada a causas sociais mais nobres ou a investimentos produtivos.
De minha parte, quando me falaram da experiência e do sumiço do pequeno submarino lembrei-me imediatamente da figura mitológica de Ícaro tentando deixar Creta voando e de todos os que morreram nos ares e nos mares descortinando, com sua curiosidade e coragem, novos horizontes para a civilização.
A humanidade é devedora dos corajosos e foi assim me senti em relação aos embarcados naquela funesta expedição. Antes de Gil Eanes atravessar o Cabo do Medo (Cabo Bojador) em 1434 muitas expedições portuguesas ali foram tragadas ensejando o mito dos monstros marinhos. Antes dos ônibus espaciais (construídos para viagens de ida e volta) Challenger em 1986 e Columbia em 2003 explodirem com sete tripulantes embarcados em cada um deles, quantos pilotos ficaram no Atlântico em arriscados voos com pequenos monomotores?
É possível que um dia alguém consiga fazer o que tentaram os passageiros e tripulantes do Titan. Por isso, enquadro a experiência mal sucedida no arquivo da grande aventura humana no planeta.