Percival Puggina

        Segundo informou O Globo em 20 de julho deste ano, um milhão de pessoas foram submetidas a alguma forma de coerção e tiveram seus celulares tomados. Será que algum desses criminosos foi preso e acabou dormindo na Papuda? 

Claro que não! Afinal, esse é um crime de “menor gravidade”, é um “roubinho” como dizem os protetores de bandidos. Suponho que nunca passaram por essa experiência sinistra e nunca pensaram nas consequências da subtração desse bem na vida de tanta gente.

Aprendi, nos primeiros anos de escola, que o corpo humano se dividia em cabeça, tronco e membros. Passadas sete décadas de modernidade, podemos afirmar, conscientemente, que nosso corpo tem cabeça, tronco, membros e ... celular. Esse aparelhinho é parte de nosso corpo, é nossa memória portátil e nosso principal meio de comunicação, tem a lista de nossos amigos, nossa agenda, nossas lembranças, dados pessoais e vida financeira.

Para milhões de pessoas, passam por ele os meios de ganhar o pão de cada dia e sua supressão constitui uma tragédia pessoal. Causar tal tormento a outra pessoa, mediante coerção, para com o fruto do roubo comprar um “baseado” ou uma cervejinha, é motivo mais do que suficiente à aplicação de severa sanção. Não é “roubinho”, mas roubo com agravante, em vista do valor de uso do bem subtraído, muito superior ao preço de aquisição.

8Uma vez que criar tipo penal por analogia já não é mais novidade, sugiro que o roubo de telefone celular, entendido como parte do corpo do proprietário, seja qualificado como roubo com mutilação da vítima...

  • 15 Dezembro 2023

 

Percival Puggina

Leio no Diário do Poder

         O novo presidente da Argentina, Javier Milei, começou seu governo cumprindo o compromisso de usar a “motosserra” que virou símbolo da sua campanha, e extinguiu metade dos 18 ministérios existentes no desastrado governo do antecessor Alberto Fernández.

Após o corte, cujo objetivo é reduzir os gastos públicos, o governo Milei será composto apenas pelos ministério do Comércio Internacional e Culto, Defesa, Economia, Infraestrutura, Interior, Justiça, Relações Exteriores, Saúde e Capital Humano e Segurança.

O decreto reduzindo seu ministério à metade foi o primeiro que Milei assinou tão logo começou a trabalhar em seu gabinete na Casa Rosada, sede do governo argentino.

Em seu discurso oficial de posse, ele prometeu que não haverá retorno aos tempos que levaram a Argentina ao caos econômico.

“Não há retorno”, avisou. “Hoje encerramos décadas de fracasso e disputas sem sentido. Hoje começa uma nova era na Argentina, era de paz e prosperidade, de conhecimento e desenvolvimento, de liberdade e progresso”.

Comento

Não conheço a Constituição argentina, mas fico pensando se Bolsonaro tivesse iniciado seu governo com o mesmo ânimo saudável – é importante que se diga – com que Milei inicia seu ataque ao Estado casca grossa e intervencionista.

O que fariam os príncipes da República? O que diriam os signatários do manifesto da USP? Como reagiriam os que puxam os cordéis no STF e qual teria sido a reação do TSE argentino durante a campanha eleitoral? A motosserra seria tolerada ou vista como uma incitação ao desmatamento?

Num dos meus primeiros artigos quando, em 1985, comecei a escrever sobre política expressou um delírio distópico. Nele, o Estado era uma disputada vaca leiteira e eu sonhava com que alguém desse um nó nas tetas dessa vaca que dissipava e malbaratava os bens gerados pela sociedade.

Por isso, olho com imensa simpatia para o ânimo de Milei, esperando que ele perdure e que os incomodados percebam o quanto são necessárias as medidas que serão tomadas.

  • 11 Dezembro 2023

 

 

Percival Puggina

           O jornalista Cláudio Humberto, em sua coluna de 28/11 no Diário do Poder, chama atenção para uma curiosidade. O ministro da Justiça, Flávio Dino, que quer ser ministro do STF após indicação de Lula, recusou incríveis 97 convites para depor nas duas Casas do Congresso Nacional. Isso é um recorde de acintes ao Legislativo cujos gabinetes o ministro passa a percorrer “humildemente” pedindo votos para que sua indicação seja aceita na CCJ do Senado e seu depoimento aprovado pelo plenário no ritual da sabatina.

Lula sabe que tem no bloco de esquerda a parcela mais fiel de sua base parlamentar. O restante de seus votos vem do Centrão, que se move pelo tilintar das “moedas” representadas por liberação de emendas parlamentares e cargos. É natural que, com esse grupo, as relações sejam estritamente comerciais, embora o rótulo aposto às mercadorias diga tratar-se de política.

Como os votos governistas são contados e cobrados, é com essa “elite” senatorial que Flávio Dino mais irá sociabilizar, dizendo que estará sempre disponível para atender os senhores senadores...

  • 30 Novembro 2023

 

Percival Puggina

          Depois de ouvir os presidentes de três destacadíssimas instituições universitárias norte-americanas (Harvard, Pensilvânia e Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), o Congresso dos Estados Unidos resolveu abrir investigação. Afinal, durante audiência em que as manifestações de antissemitismo foram tratadas de modo severo no Capitólio, as representações das universidades relativizaram o fato numa alarmante proporção.

Anteontem, num encontro casual com um amigo judeu no supermercado, ouvi dele que quando soube das manifestações estudantis nos EUA tratando de genocídio, ele pensou serem protestos contra o ataque de Israel ao Hamas em Gaza. Só mais tarde ficou sabendo que eram movimentos a favor de um genocídio de judeus.

A diferença entre o que se pode imaginar e o que está acontecendo de fato é abismal. Quem pensa tratar-se de uma crise no âmbito da cultura ocidental está subestimando o problema. Num processo que faz lembrar o que aconteceu no mundo inteiro durante a pandemia, todas as vertentes da nossa cultura foram inoculadas com venenos específicos que lhe atacaram o cerne: a Educação, as Igrejas, especialmente a católica, os meios de comunicação, a estética, as instituições políticas, o Direito, a Justiça e o inteiro pacote das Ciências Sociais.

Isso não se resolve com chá de camomila. Não é nem parecido com o que se estabeleceu entre o Hamas palestino e Israel. O que vimos acontecer em todo o Ocidente é de muito maior gravidade. Disseminar o terror e acossar judeus mundo afora é traço de união dos velhos totalitarismos, que no passo seguinte vão atrás dos homossexuais, dos religiosos, dos diferentes e dos divergentes.

Os eventos em curso na América do Norte – Estados Unidos e Canadá – mostram que estamos, no Brasil, atrasados em relação ao ritmo dos acontecimentos de lá. É lá que operam os laboratórios de envenenamento cultural cujas fórmulas nossos “intelectuais de esquerda” traduzem pelo Google Transator. Essas mesmas pessoas, amanhã ou depois, em quaisquer circunstâncias, estarão nos púlpitos, nos palanques e nos microfones, gritando contra “discurso de ódio” (hate speech) e fake news quando alguém desmascara as mazelas de seus intelectos. Cada vez mais nitidamente se percebem os sintomas de uma guerra espiritual. Oremos!

  

 

 

 

 

 

 

  • 29 Novembro 2023

 

Percival Puggina

         A ministra Cármen Lúcia, do STF e vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, participou do Programa de Convidados Internacionais organizado pela Justiça Eleitoral da Argentina. Quais terão sido suas observações? Qual sua avaliação sobre o que assistiu? Parece que nenhum jornalista lhe fez essa pergunta.

O tema não interessa aos “grandes veículos” de comunicação. Jornalistas que trabalham nessas empresas sabem que a única opinião que conta alguma coisa para o aparelho institucional é a opinião que eles mesmos publicam, sempre desqualificando e desprezando quem pensa diferente. Mesma conduta, aliás, do próprio aparelho institucional neste péssimo arremedo de democracia instalado no Brasil. Por que iria essa imprensa levantar um assunto que quem manda quer morto e sepultado?

Dura realidade: no Brasil, o eleitor tem dia certo para opinar. Nesse dia, sua opinião é contada. Depois, não conta mais.

Nosso jornalismo, então, prefere ignorar que para dezenas de milhões de brasileiros, o sistema eleitoral argentino se revelou superior ao nosso. Houve liberdade aos candidatos, às campanhas e às redes sociais. A política foi tratada como tal e os eleitores como cidadãos, não como alunos da escolhinha dos professores togados.

Mesmo levando em conta que o Brasil tem quatro vezes mais eleitores do que lá, os votos argentinos foram contados com surpreendente rapidez e duas horas depois do encerramento da votação, o candidato Massa reconheceu a vitória de Milei.

A desconsiderada opinião de tantos eleitores brasileiros avalia, também, a contagem de votos impressos ou de impressoras acopladas às urnas como sistemas superiores ao adotado aqui. Penso, mesmo, que, com eleição nesse tipo, mais prudência e menos arrogância, o 8 de janeiro seria um dia de praça ensolarada e vazia.

  • 24 Novembro 2023

 

Percival Puggina

         No rumoroso destaque concedido à senhora amazonense que acabou recebendo o apelido de “Dama do tráfico”, chama a atenção o que se vai conhecendo sobre suas relações em dois ministérios. Aí temos um assunto de relevo político.

Tão logo foi desenhado o perfil de dona Lu Farias, conhecido o fato de ser ela esposa de um líder da segunda maior facção criminosa do país, o Comando Vermelho, a mídia companheira tratou de protegê-la negando veracidade às acusações que surgiam. O objeto a resguardar pelo jornalismo de cooptação, contudo, era o governo da República. Afinal, ela viajara por conta do Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania e, nos últimos três meses, mantivera dois contatos pessoais dois diretores do Ministério da Justiça. Deve haver muito deputado que não pode contar essa experiência.

É exatamente esse o ponto que interessa à cidadania. A referida senhora, falando sobre si mesma, afirmou não ser “faccionada”. Confesso ter sido a primeira vez que vi tal palavra, que certamente faz parte do vocabulário referente à essa atividade. Mesmo na hipótese de que o Ministério Público se tenha equivocado inteiramente ao atribuir a ela um pacote de condutas graves, sua condição de esposa do criminoso “faccionado” conhecido como Tio Patinhas deveria inibir-lhe o acesso a atividades de aconselhamento junto a Conselhos do Estado. Segundo a Polícia Civil do Amazonas, a ONG que ela preside e da qual detém a representatividade é financiada pelo Comando Vermelho.

Quem está em função de governo, ou de Estado, ou de administração, precisa saber quem é a pessoa que entra em seu local de trabalho. Mais ainda, quem convida para participar de uma reunião. Mais ainda quando manda passagens. Isso precisa ser averiguado. E o Governo de Amazonas deve tratar de conhecer quem inclui nos seus conselhos...

A serviço do bom humor deve observar que algumas das imagens que vi me deram a impressão de que dona Lu Farias quis fotografar-se em má companhia...

  • 19 Novembro 2023