• Percival Puggina
  • 10/10/2010
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MAS E QUE TAL, AS PESQUISAS?

Quero pedir desculpas a todos que, nos últimos meses, me enviaram textos, análises e denúncias sobre erros e manipulações das pesquisas de intenção de voto para presidente da República. Tão logo identificava o tema - as pesquisas estão erradas, ou enganam - eu excluía esses e-mails sem me dar o trabalho de ler. Aquelas avaliações, do tipo estão inflando os votos de Dilma, me pareciam coisa de quem estivesse fora da casinha, surtando. Ora se os grandes institutos de pesquisa, todos juntos, errariam tanto e em tais proporções! Pesquisas erram, sabemos todos. Mas as suspeitas levantadas naquelas mensagens soavam inverossímeis. Embora lamentando a informação, a simples ideia de que Dilma não fosse vencer no primeiro turno me parecia um disparate ante a evidência cotidiana, expressa em números, desde várias fontes, nas páginas dos jornais. Ainda que a central única dos pesquisadores desejasse dar uma mãozinha à candidata do Lula não precisaria exagerar ao ponto de, na semana da eleição, apontar-lhe vantagens à base de dois por um sobre seu principal adversário. Não, não. Era mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que a Dilma entrar no dia 4 de outubro sem a faixa presidencial embaixo do travesseiro. Quanto a isso, talvez pela primeira vez na vida Lula, Dilma, eu, e a maioria da opinião pública estávamos de pleno acordo. Portanto, mil perdões pelos e-mails que não li e pelo artigo que escrevi dizendo que as favas estavam contadas no pleito presidencial. Bato no peito e confesso: eu acreditei nas pesquisas de intenção de voto. Julguei que elas, separadamente e em conjunto, não fariam o que fizeram. Convenci-me de que dois por um era capote e de que margem de erro era, necessariamente, erro marginal, coisa insignificante diante da avassaladora vantagem da candidata do presidente Lula. Assim, as pesquisas turbinaram quem corria na frente; desanimaram quem vinha atrás; predeterminaram quais votos seria úteis e quais seriam inúteis; orientaram as apostas dos investidores financeiros e prejudicaram, também nisso, a equidade da disputa. Foi tal sua influência que chegaram ao cúmulo, diante da consagração eleitoral que desenhavam para Dilma, de retirar o presidente Lula daquela sua habitual modéstia e entregar-se a bravatas que não são do seu feitio... Alguém poderá alegar que me contradigo. Se as pesquisas influenciaram tanto, porque não produziram o resultado que sinalizavam? Por que Dilma não venceu conforme previsto? A resposta é simples. Tendo iniciado sua campanha contabilizando um único eleitor, Dilma foi erguida aos píncaros do reconhecimento político puxada, numa mão por esse único eleitor, o próprio Lula, e noutra pelas pesquisas que a apontavam como virtual vencedora. A altura a que chegou corresponde à resultante dessas duas forças que se compuseram para impulsioná-la. Enfim, o que presenciamos nesta eleição presidencial não pareceu ser apenas errinho metodológico. Foi algo que influenciou o resultado. A leniência nacional e institucional para com a divulgação das pesquisas de intenção de voto, de cuja inexatidão e obscuros equívocos, pleito após pleito, não se cobra um ovo, é contraditória com a clareza do processo eleitoral e com a própria fiscalização exercida em relação a todos os demais atores da cena política. Elas estão a exigir um regramento. Zero Hora, 10/10/2010