Percival Puggina

30/04/2011
Relatei em Pombas e Gaviões o caso da mocinha da novela que, advertida pela mãe sobre o erro que iria cometer, contestou-a: Ora, mãe, deixa eu errar porque errando se aprende. O pior do episódio não foi o descaramento da guria, mas o vácuo cerebral da mãe, que emudeceu ante tão sábia manifestação de experiência juvenil. Errando se aprende!... Ora, só aprende com os próprios erros quem, ausentes outras formas de aprendizagem, busca os caminhos certos aberto ao bem e à verdade. Jamais será esse o caso dos que, tendo recebido a orientação correta, andam na direção oposta porque o erro é o objetivo buscado (como, sem qualquer constrangimento, aquela adolescente de novela expressou à tolinha da mamãe de novela). E daí? E daí o Brasil, país de novela, ralou os fundilhos no despenhadeiro da inflação. A cada mês, a moeda perdia metade de seu valor. Nosso dinheiro mudava de nome como terrorista. Os zeros desprendiam-se das cédulas como contas de um colar que se desfia. De quem era a culpa, aos olhos do país de novela? Denunciada pelos maus governantes e pelos maus políticos a culpa era de quem mandava o rapaz do supermercado, na quietude das madrugadas, etiquetar as mercadorias com preços maiores. Ali operava, no mais comum dos sensos, o ignóbil senhor da inflação! A mesma repulsa social era externada em relação ao conjunto do empresariado urbano e rural, aos donos dos postos de combustível, das empresas de transporte, e por aí vai. Contra os senhores da inflação congelavam-se preços e os fiscais de Sarney iam ao campo contar boi no pasto. Enquanto isso, o verdadeiro vilão, o descontrolado gasto público, obrigava a máquina de imprimir dinheiro a ralar engrenagens dia e noite. Eis que, surpresa geral: o Plano Real, promovendo equilíbrio e superávit fiscal, acabou com aquela rotina. De estalo, o empresariado brasileiro, dos supermercadistas aos agentes funerários, contida a inflação, pararam com as remarcações. Aprendemos algo com tão amarga experiência? Aprendemos do erro? Lhufas! O povo brasileiro continua crendo que o governo deve ser o patrocinador geral da nação e de suas corporações, deve proporcionar todas as demagogias e responder afirmativamente aos mais descabidos interesses. Governo austero está condenado a fragorosas derrotas eleitorais. De nada valeram as contínuas advertências dos técnicos mais responsáveis no sentido de que Lula, sacando contra o futuro, estava gerando pesada conta para quem viesse depois de seu messianismo, de seu delirante anseio de aprovação e de sua síndrome de Napoleão. Dilma foi escolhida para um duplo papel. Sacerdotisa e vítima do sacrifício que se avizinhava. A inflação está aí. O excessivo gasto público, os PAC da vida, a Copa, os Jogos Olímpicos, a generosa distribuição de dinheiro público e a institucionalização da corrupção (que impõe descaradas barreiras aos próprios órgãos de fiscalização!) são incompatíveis com a estabilidade monetária. Aprendemos algo com tais erros? Lhufas! Pois eis que a inflação furou a banda para cima, o dólar furou a banda para baixo, os juros alegram os banqueiros e já estamos ouvindo os xingamentos aos produtores, aos comerciantes, aos empresários, às tarifas. Os culpados voltam a ser eles. Não sua santidade o presidente Lula. Não a mãe do PAC, a gestora sem igual, que se manteve fiel até o fim às estripulias promovidas com o dinheiro público para construir o mito lulista e a vitória petista. Agora, bem, agora nos deparamos com as inevitáveis consequências. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

27/04/2011
twitter: @percivalpuggina Tenho muitos leitores esquerdistas. Por vezes me enviam pérolas como foi a dica para acessar a série - O dia que durou 21 anos - apresentada pela TV Brasil, a tal TV do Lula, como era chamada ao tempo de sua criação. São três vídeos de uma desfaçatez indescritível. O texto é do jornalista Flávio Tavares. Os documentos são de arquivos norte-americanos. Nos créditos, exibem-se logotipos do próprio governo, entre eles o colorido Brasil país de todos e de diversas empresas estatais. Ou seja, o pacote foi pago com recursos públicos. Antes de irmos ao que interessa, acho importante reafirmar minha posição pessoal sobre o movimento de 1964. Ele fez um bem ao Brasil na medida em que evitou o maior dos males. Mas errou feio, depois, ao ocupar o poder por duas décadas inteiras e ao conviver com a prática da tortura, abrindo uma janela para que a esquerda radical passasse a ser identificada com temas que sempre lhe causaram alergias: democracia, liberdade de expressão e direitos humanos. Ponto e novo parágrafo. Vamos aos vídeos. Eles foram produzidos para mostrar que os Estados Unidos estiveram, desde suas preliminares, e por longos anos, atentos e colaborativos em relação ao regime militar brasileiro, que só se estabeleceu para proteger os interesses norte-americanos e evitar as reformas de base. Estas reformas seriam sábios e perfeitos instrumentos com os quais o talentoso João Goulart iria promover a ascensão social dos trabalhadores brasileiros. Então a coisa fica assim: a partir de 1963, quando o plebiscito revogou o parlamentarismo e fez retornar os poderes de governo a Jango, teve início repugnante conspiração. A ela se juntaram a Casa Branca (Kennedy e Johnson), o Departamento de Estado, as Forças Armadas dos EUA, a CIA, a Igreja, o Exército, a Marinha e a Aeronáutica do Brasil, o empresariado nacional urbano e rural, as empresas multinacionais sediadas no Brasil e a grande mídia da época. Nessa avassaladora convergência, em união de seus corações graníticos e malignas mentes, mobilizaram eles fantásticas energias para fazer com que ... nossos pobres continuassem pobres! Assista os vídeos (é só procurar na rede pelo título O dia que durou 21 anos) e comprove por si mesmo. Está ali, com som e imagem, a seguinte mensagem: dado que seria difícil mobilizar a opinião pública em torno da proposta de manter os pobres na pobreza, buscou-se legitimar o movimento contra as reformas de base criando a paranoia do comunismo. Para essa fantasmagórica tarefa, realizada em poucos meses, partindo do zero e sem qualquer suporte nos fatos nacionais e internacionais, mobilizaram-se pesados recursos financeiros e propagandísticos. Em outras palavras ainda, segundo os tais vídeos da TV Brasil, a bipolaridade que marcou os longos anos da Guerra Fria não existiu no Brasil a não ser como trabalho de propaganda das mal-intencionadas forças golpistas. A URSS que estendia suas malhas, a ferro e fogo, na África, na Ásia, na América Central, no Caribe e na América do Sul, mediante movimentos guerrilheiros e forças de ocupação, ignorava solenemente as terrinhas descobertas por Cabral no século 16. Se já ouvira falar no Brasil, não prestara atenção. Aqui só agiam os gananciosos ianques, difundindo a paranoia de um comunismo que nos desprezava e nos afastava de seu interesse como quem tira do caminho uma casca seca de laranja... Escolha, leitor, o que lhe parece mais acintoso. Esse suposto desinteresse soviético pelo Brasil em tempos de Guerra Fria? A coragem de afirmar uma bobagem dessas? Ou, a tolerância dos órgãos de fiscalização da República com o uso de recursos públicos para produzir tamanha mistificação? Com que facilidade, num modelo institucional como o nosso, se usa o que é do Estado para promover a ideologia do governo! ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

23/04/2011
Barra-me na rua conhecido anarquista. Viste a Bélgica? Está há um ano sem governo, provando a inutilidade dessa instituição. Quando é que vamos aprender, Puggina?. Pensei em sugerir a ele muita calma, mas ponderei que a calma não costuma integrar o arsenal psicológico dos radicais. Apelei, então, para as palavras mais sábias de meu repertório, aprendidas do amigo José Antônio Celia: Não é bem assim, meu caro. Essa frase, para quem ainda não foi advertido sobre seu extraordinário potencial retórico, é como aquelas poções dos ambulantes medievais. Serve para tudo. De um lado é compatível com quaisquer refutações moderadas que se faça. De outro, raramente admite contestação plena. A Bélgica não está sem governo porque o queira, mas porque os partidos não conseguem compor um. O rei se inquieta e até os estudantes saem às ruas para protestar. Os jovens belgas querem governo e, se meu amigo anarquista deseja extrair uma lição daqueles fatos, tome essa entre as mais significativas. Comendo suas batatas fritas, tão notáveis, encorpadas e saborosas que se constituem em símbolo nacional, a moçada exige, nas ruas, governo e governabilidade. Os belgas conseguem atravessar esses meses todos sem governo porque lá, como em qualquer país racionalmente organizado, existe clara separação entre o Estado, o governo e a administração. O funcionamento regular da administração, profissional e apartidária, mantém ativos os serviços públicos. É essa separação, então, que torna possível conviver com hiatos de governabilidade, vale dizer, sem expressão das ideias políticas majoritárias na condução dos rumos nacionais. Por outro lado, a função governo, em países que fazem a conveniente distinção acima mencionada, é sempre enxuta, modesta nas suas proporções e econômica nos seus custos. Neles, quando muda o governo, substituem-se umas poucas centenas de servidores e em nada fica afetada a administração. Já no Brasil, são dezenas de milhares de cargos e fontes de receita em torno dos quais se engalfinham as lideranças políticas que chegam ao pote do poder. Compor governo, na Bélgica, pode ser um problema. No Brasil, país onde o povo, em vez de domar os poderes à sua justa medida ajoelha-se ante seus favores, governar é um regabofe. Se meu amigo anarquista quer outra lição dos fatos belgas, tome também esse entre os mais significativos. O Reino da Bélgica é uma composição federal de regiões com diferentes origens, cujo hino nacional tem versão em três idiomas, holandês, francês e alemão. Nasceu como nação independente há menos de dois séculos, numa das revoluções europeias de 1830, pela vontade dos cidadãos de Bruxelas. Não havendo quem os defendesse, foram às ruas lutar por independência. Conta-se que quando Sylvain Van de Weyer retornou para Bruxelas, juntando-se à população, uniu-se ao comando um republicano, de perfil autoritário, chamado Louis de Potter. Inquirido por um auxiliar sobre onde deveria instalar, no Palácio Real, aquele novo membro do governo provisório, Van de Weyer, que era um liberal, indagou se havia alojamento vago no segundo andar. Diante da resposta afirmativa, determinou: Coloque-o lá. Não existem ditadores de segundo piso. A realidade brasileira é tão diferente! Aqui o autoritarismo se instala onde quer que haja um gabinete, uma caneta e uma sala de espera. Querer apropriar entre nós, de modo permanente, a atual e provisória situação belga, é um despropósito. Precisamos ter menos governo e mais sociedade, precisamos ter mais município e menos Brasília. Comecemos por aí, então, quem sabe estudando a experiência belga e de tantos outros países com elevado grau de desenvolvimento político, econômico, social e cultural. Aprendamos o bê-á-bá da cultura política, da conduta reta, do interesse público, da austeridade e da organização de um Estado na justa medida, alinhado com as demandas da modernidade. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

21/04/2011
Tempos atrás havia um programa de tevê, desses dominicais, em auditório, no qual uma pessoa, previamente escolhida para aquela extraordinária oportunidade, era convidada a fazer, às cegas, uma série de escolhas. No desenvolvimento do programa, sem o saber, ela ia trocando, ou não, uma casa por um pé de couve, um pé de couve por uma geladeira, uma geladeira por cem mil reais e assim sucessivamente. Quem assistisse o programa torcia pela infeliz que, na maior parte das vezes, ia fazendo péssimos negócios sem o saber. Maus negócios nos atingem o âmago do ser. É por isso que muitas profissões valem-se desse sentimento para promover a atividade a que se dedicam. Não faça nada errado, consulte um advogado (hoje em dia, diante de sentenças esquisitas que andam por aí, é melhor consultar direto o juiz, mas esse é outro artigo). Construa certo, contrate um arquiteto. Há todo um marketing mobilizando as energias do interesse próprio e o natural anseio de não cairmos em esparrelas que nos prejudiquem. Nada há de errado em querer fazer bons negócios. Milhões deles são selados todo dia, mundo afora e, na sua quase totalidade, são bons porque correspondem à conveniência das partes. Aliás, é assim, sobre bons negócios, que se move a roda da economia, ao passo que as sub-primes da vida, os esbanjamento dos recursos, as trocas desvantajosas e coisas que as valham, atolam a prosperidade social no barro das espertezas, dos equívocos, das ganâncias desmedidas e dos bem medidos prejuízos. Ao longo de nossa vida vamos fazendo, também, negócios de outro tipo. Assim, por exemplo, trocamos ou não horas de lazer por horas de estudo. Horas de trabalho por remuneração desse trabalho. O uso mais prazeroso do nosso dinheiro por plano de saúde e aposentadoria. Certos prazeres da liberdade por amor e estabilidade conjugal e familiar. Exercícios físicos e alimentação menos atraente por saúde e longevidade. E assim por diante, vida afora. Quando fazemos opções erradas, selamos maus negócios e ficamos com incontornável dano. Pois bem, o que vale para os planos material e moral, vale igualmente para o espiritual. Também nele fazemos opções que podem redundar em bons ou em maus negócios. E o dia de hoje talvez nos forneça o melhor exemplo do que estou afirmando. Estamos no domingo de Páscoa, no domingo da Ressurreição do Senhor para os cristãos e para a tradição do Ocidente, onde é a maior festa religiosa. São Paulo dizia: Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa fé. Na Ressurreição metemos o pé no estribo para a vida eterna. É nela que vencemos o aguilhão da morte. E eu não convivo de modo saudável com a ideia de que a morte, ao fim e ao cabo, seja a grande e definitiva vitoriosa sobre tudo e sobre todos. Faz um péssimo negócio, portanto, quem troca por coisas perecíveis os preciosos tesouros da fé - a Páscoa por chocolate, Cristo por um coelho, o Natal por um iPad e o menino Jesus por um Papai Noel de shopping. Tudo isso é muito pitoresco e atraente, mas passa longe da essência da celebração, do mesmo modo que os balões e os brigadeiros estão na festa, mas não são a festa. Quem faz esse tipo de negócio fica como o sujeito do programa de auditório, afundado em inconscientes transações. Feliz Páscoa, então! ZERO HORA, 24/04/2011

Percival Puggina

21/04/2011
O leitor destas linhas, se não for gaúcho, talvez não tenha sido informado sobre a usina de piadas que a base governista na Assembléia Legislativa estadual proporcionou ao aprovar o projeto de lei que torna obrigatória, nestas bandas, a tradução de palavras estrangeiras para o idioma pátrio sempre que houver, em português, termo equivalente. De modo inesgotável, a usina de piadas vem espalhando gargalhadas assim como a central nuclear de Fukushima espalha radioatividade. Ao cabo de uma semana de gozações, a batata foi esquentar as mãos do governador Tarso Genro (você sabe, cada povo tem o governo etc. e tal). Indagado sobre sua posição a respeito da relevante peça legislativa - O senhor vai sancionar ou não? - Tarso usou a caneta como vara de salto e foi equilibrar-se em cima do muro, dizendo ser necessário avaliar o projeto sob o ponto de vista da constitucionalidade e da exequibilidade. Mas estocou a oposição, que está criticando o projeto: Só uma visão muito caipira para achar que a gente não pode propor uma lei para defender o nosso idioma como elemento de identidade nacional. Coincidentemente, caipira (palavra do idioma guaianá), significa colonizador, ou seja, é um termo indígena para designar os que aqui chegaram falando ... português. Mas deixa tudo isso para lá. O tema me impõe duas pautas e ambas são sérias. A primeira se refere a alegada defesa do idioma nacional. Ora vai atrás! O autor do projeto é um comunista (até que mudem o nome do partido, todo filiado ao PCdoB é comunista assumido e histórico, certo?) e toda a esquerda (gaúcha, pelo menos) é anglofóbica. Existe muito mais antiamericanismo por trás desse projeto do que sincero desejo de defender o idioma. Fosse como alegam, deveriam estar mais preocupados com o analfabetismo funcional dos estudantes brasileiros, do que com o fato de eles entenderem perfeitamente o que é hardware e software. Fossem os defensores do projeto esclarecidos além da alfabetização básica saberiam que, no mundo inteiro, os filósofos precisam de certo vocabulário alemão, os juristas de latim e grego, os tecnólogos de inglês, os chefs de francês, os músicos de italiano, os humoristas de economês e politiquês e assim por diante, independentemente de haver ou não palavra equivalente nos respectivos idiomas. Existem estrangeirismos da moda, que passam; palavras boas que ficam e palavras indispensáveis que se incorporam à linguagem universal. Esclareço ainda, por conhecer as partes envolvidas, que o projeto não tem raízes xenófobas. Ele é, como afirmei antes, essencialmente anglofóbico. Creiam-me: quando aparecem por aqui representantes das FARC, dos tupamaros, do Partido Comunista Cubano, ligeirinho eles estão arranhando seu portunhol para agradar os visitantes e cantando soy latino americano. E se aparecer um chavista na volta, vão logo se declarando bolivarianos. A segunda pauta se refere ao projeto em si. Comete o autor o grave equívoco, que se explica pelo viés totalitário do comunismo, de pretender transformar sua vontade em lei. Impor a própria opinião aos que dela discordam. Não se alegue que a maioria legislativa é suficiente para legitimar tamanha desfaçatez. O verdadeiro democrata - e isso vale para todos os parlamentares, em todos os níveis - reconhece os limites da ação legislativa. Por isso, quando legisla, o faz mediante normas que não transponham espaços legítimos da liberdade alheia. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Do Portal Terra

20/04/2011
VENDA DE ARMAS LEGAIS CAI 90% E OS HOMICÍDIOS AUMENTAM Do Portal Terra O comércio legal de armas de fogo no Brasil sofreu uma redução de 90% (noventa por cento) entre os anos 2000 e 2010, com o fechamento das lojas especializadas na mesma proporção. Das 2,4 mil lojas existentes em 2002, sobravam, em 2008, apenas 280. Estes são os dados revelados em matéria veiculada hoje pelo portal de notícias Terra, reunindo informações de diversas pesquisas promovidas pelo governo, setores acadêmicos e ONGs. A informação é esclarecedora para o entendimento da relação entre a venda de armas de fogo e os índices sociais de violência. No mesmo período em que a venda de armas apresenta uma descendente que já alcança uma redução de 90%, os homicídios continuam crescendo no Brasil, conforme aponta o ?Mapa da Violência 2011?, divulgado pelo Ministério da Justiça no último mês de fevereiro. De acordo com os dados desse estudo, no ano 2000 foram mortas no país 45.630 pessoas, número que, em 2008 (último pesquisado), alcançou a espantosa marca de 50.113 mortos. Qual a conclusão? O óbvio que já não se consegue esconder: a redução do comércio legal de armas de fogo é completamente ineficaz para a redução dos índices de homicídio. Em verdade, se alguma relação se pode estabelecer entre tais critérios, é exatamente a oposta, ou seja, a de que quanto menos armas são vendidas legalmente, mais homicídios ocorrem. O combate ao comércio legal de armas, tão aclamado por entidades antiarmas e ?entendidos? no assunto, além do próprio Governo, mostra-se, mais uma vez, diretriz de segurança pública completamente equivocada, marcada por pura e infundada ideologia desarmamentista, de resultados comprovadamente inexistentes na redução de homicídios. Os números, os verdadeiros números, são os maiores inimigos dos mitos. Neste caso, mais um vai ruindo diante dos dados que não mais se podem omitir. São fatos... e contra fatos, não há argumentos.

PAULO WAINBERG

18/04/2011
QUEREM PROIBIR O E-MAIL Paulo Wainberg, escritor http://paulowainberg.wordpress.com Li no jornal: O Deputado Federal Aldo Rabello, líder do novíssimo Partido Comunista, está fazendo um projeto de lei para proibir o uso, por escrito, de palavras estrangeiras no Brasil. Idéia magistral, como é que não pensei nisso antes? Como é que outros deputados e senadores não pensaram nisso antes, neste País? Há quinhentos e onze anos o Brasil vem incorporando essas horrorosas palavras em inglês, francês, alemão, japonês, italiano, causando gravíssimos danos à função social da língua portuguesa e ninguém fez nada! Como se sabe, a língua pátria é condição necessária para a formação de uma nação. Entretanto, ao longo dos séculos, invasores de língua querem retirar nossa identidade, introduzindo solertemente suas estrangeiras palavras em nossos textos, abalando de forma radical o nosso nacionalismo que, finalmente, graças aos ideais comunistas do ínclito deputado, será doravante salvo. Imaginem a alegria que sentiremos nós, brasileiros, quando formos proibidos de escrever Internet, substituindo o terrível termo pelo brasileiríssimo Entre a Rede. O Twitter será eliminado, pois não há palavra para ele, em português. E-mail? Minha querida, recebeste a correspondência eletrônica que te enviei ontem? Você nunca mais manejará um mouse e terá, para todo o sempre, um camundongo em sua mão. O locutor não gritará o horrendo gol, que será substituído por... por ?a esfera ingressou na área posterior às traves e o travessão?. Sua casa não terá mais ladrilhos e sim pequenos pedacinhos de pedra colorida. E isto que estou simplificando, há situações muito mais complexas que o nacionalismo deve proteger à todo o custo, quando se trata de defender a língua mãe. Ai de quem se atrever a digitar marqueting no trabalho de conclusão de concurso. Um bom e verdadeiro brasileiro substituirá a palavra alienígena por algo bem mais simples, como ?a estrutura de divulgação, interação, empatia e divulgação das atividades mercadológicas visando dar conhecimento de produtos e atividades específicas ou gerais?. Se um escritor como eu descrever a despedida de seu personagem francês com um ?au revoir?, será imediatamente preso! E não tomarei mais seu tempo com exemplos. Passo a identificar a motivação que levou o parlamentar à conceber um absurdo tamanho. A primeira coisa que me ocorre é que ele não tem mais nada para pensar. Absolutamente nada. E solidário com seus pares parlamentares, que também não pensam em nada além de negócios rendosos, resolveu ocupar-lhes a mente. Imagino nossas Casas Legislativas lotadas, em sessões solenes e intermináveis, onde nossas excelências debaterão a matéria à exaustão, estudando, vernáculo a vernáculo, o que pode e o que não pode ser escrito neste país. Pense nos puristas parlamentares, exultantes com o debate, revelando seu extraordinário pensamento, as linhas de raciocínio, os apartes pro bono (acabo de me arriscar, escrevendo em latim), os a favor, os contra, um espetáculo brasileiro de democracia, não importa que a corrupção corra solta e que mais de sete mil pessoas trabalhem para oitenta senadores, ganhando o salário pagos por nós, que odiamos palavras estrangeiras escritas por incultos professores, artistas, jornalistas, poetas, escritores, filósofos e outros entreguistas que assolam a Nação. Perceba a grandeza do projeto! Outro motivo que pode ter levado o velho Aldo à conceber a coisa pode ser a arteriosclerose, palavra que nem sei se brasileira é. Imaginando-se, por confusão mental, estar sob a influência (ou domínio) do Império Romano e percebendo que o Latim virou latim vulgar, aquele falado nos países conquistados, misturados com as línguas pátrias, entrou em crise de nervos. Esquecendo-se de que o Português deriva do latim vulgar, quer o nobre que preservemos, como se fôssemos uma raça, a pureza absoluta, abolindo da nossa escrita tudo aquilo que não for contemplado na língua de Virgilio. ?Mensalão?, por exemplo, é permitido? Você, garota, jamais seja fashion. Arrisca-se aos piores rigores da lei. Enfim! Um País como o nosso, sem problemas, onde as instituições funcionam como um relógio suíço, a honestidade é absoluta, escândalos não existem, crimes não são cometidos, a segurança é perfeita, as estradas são ótimas, a educação é a melhor do mundo, a Saúde Pública é maravilhosa, o sistema político é exemplar, o problema social não existe e a riqueza é distribuída com absoluta justiça, tem mesmo é que se preocupar com palavras estrangeiras. Eu, olhando aqui debaixo, já estou me preparando para nunca mais escrever non sense. Corro o risco de ser condenado a não sei quantos anos de prisão.

Percival Puggina

16/04/2011
Há pouco, o sino de uma igreja distante ecoou doze lúgubres badaladas, dando por encerrado o dia. Cai sobre a cidade um silêncio quase campeiro. Silêncio que faz milagres. Até os surdos ouvem o ruído da mais bem lubrificada dobradiça. Um pequeno objeto que caia faz rugir o travesseiro. Sim, sim, foi exatamente o que você ouviu. Alguma coisa caiu no chão e precipitar-se ao chão por conta própria não faz parte da natureza das coisas. Na escuridão da casa, no desprotegido abandono do leito, conheço a sensação que esse ruído causa, leitor. É bem assim: primeiro um calafrio se insere sob o pijama e percorre a coluna vertebral em velocidade vertiginosa imantando os cabelos da nuca, que se erguem em apavorada prontidão; imediatamente após, uma verdade alarmante se instala no seu cérebro: você é o homem da casa. Suas possibilidades são poucas. Pode, por exemplo, seguir a receita do Sarney, do Renan Calheiros e do governo federal. O governo federal, apenas para lembrá-lo, é aquela instituição que faz estatísticas de criminalidade. Conta armas, mortos, feridos e prejudicados. Atribui a mortandade de brasileiros à arma trancafiada na gaveta do cidadão de bem. Por fim, olha-se no espelho o governo, estufa o peito e proclama que a promoção de nossa segurança, em igualdade de condições com quem nos agride, deve ser monopólio dele, governo. Sua cidadania lhe impõe então, leitor, o dever de pegar o telefone e chamar a polícia. Fique tranquilo. Em questão de segundos sua casa será palco de uma verdadeira operação de salvamento. Não duvide: haverá PMs enfiando-se sob as portas e subindo paredes como lagartixas. O visitante noturno desejará ter nascido astronauta. Não, nem pense em pegar sua arma. Deixe-a onde está. Milhões, assim como você, cansaram da peregrinação que lhes impuseram para que pudessem ter e conservar armas legalmente havidas. Recusaram-se a ser achacados por mais e mais taxas, a correr atrás de renovações de licenças e a tirar negativas que vencem antes de saírem da impressora da repartição. Você não imagina o bode que vai dar se pegar aquela arma. Parta para outra. Repasse mentalmente tudo que aprendeu nos filmes de Bruce Lee, Van Damme e Chuck Norris. Afinal, se até o Steven Seagal, gordo como está, é capaz de surrar meia dúzia com uma mão nas costas, você muito provavelmente conseguirá dar um bom corretivo no invasor antes que ele tenha tempo de dizer Fui. Por pura coincidência eu estava em Brasília e assisti a sessão no dia em que Sarney propôs o tal plebiscito para rever a decisão tomada no referendum do desarmamento promovido em 2005. Renan Calheiros fez um infindável discurso de apoio, entrecortado por dezenas de apartes favoráveis à iniciativa. Tive vontade de implorar: Fala sério, Renan!. As únicas vozes discordantes foram as de Álvaro Dias e Roberto Requião. Se a impressão que colhi nos tapetes azuis do Senado se confirmar na Câmara dos Deputados, o plebiscito sai. Um mentecapto faz uma chacina no Realengo e a nação vai às urnas. Como se vê, não nos faltam oportunistas cercados de privilégios. Aqueles senhores todos têm posse e porte de armas, seguranças e veículos blindados. Nós pagamos por tudo. E agora querem nos mandar a fabulosa conta de um plebiscito que desejaria nos desarmar até dos dentes. Desde então tenho ouvido muita gente defender a proibição total da venda de armas portando sob o braço, neste país da tese pronta, o discurso segundo o qual, num assalto, a chance de sofrer lesão física é muito maior entre os que reagem do que entre os que não reagem. Não tenho dúvidas quanto a isso, porque na grande maioria dos casos a reação é estabanada e o fator surpresa corre a favor do assaltante. Em situações assim, evite mesmo reagir. Mas existem muitas outras em que as circunstâncias facultam à vítima essa vantagem, seja preparando-se ela para surpreender o agressor, seja espantando-o com um tiro de advertência. Só alguém muito ingênuo não percebe a quem convém a condição totalmente indefesa da população civil ordeira. No campo, serve aos invasores; nas cidades aos bandidos; e na vida social e política a quem controlar o armamento. Dê uma olhada na cena desse debate. Veja quem se mobiliza para impedir a legítima defesa dos cidadãos. E saiba: a ingenuidade nunca foi atributo deles. Quanta mistificação e oportunismo na ideia do plebiscito! Nos quartéis, todos andam armados e não ocorrem crimes. Nos presídios, praticamente não existem armas de fogo e a violência campeia. Não vou cobrar royalties por esta verdade cristalina: o crime organizado, o PCC, o Comando Vermelho, o governo federal e o governo gaúcho estão afinadinhos nessa campanha. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

16/04/2011
Eu sei, eu sei. A maior parte das pessoas tem adoração pelo nosso ex. Mas os primeiros dias do mês de janeiro, a mim, forneceram uma agradabilíssima sensação de alívio. Recuperei o hábito de assistir noticiários de televisão graças à certeza de não ser golpeado pelos pavoneios e jactâncias presidenciais. Livrei os tímpanos dos discursos messiânicos que me davam a impressão de viver ao lado de um megafone, desses de porta de fábrica, assumido pela mesma voz rouquenha. Mil vezes o silêncio da nova presidente, metida em seu gabinete, tratando dos assuntos do país e, ao que se percebe, procurando corrigir as demasias que acenderam incontáveis lâmpadas de advertência nos painéis de controle dos analistas da economia nacional. Quis entrar no tema das perspectivas que vislumbro ao novo governo falando de comunicação porque ela, a comunicação, certamente marca a mais visível diferença entre as personalidades de Lula e Dilma. E não hesito em afirmar: subimos alguns degraus na escada da seriedade com que devem ser tratados os assuntos de Estado. A nova presidente, menos destra no manejo dos auditórios, com muito menor carisma e sem vocação para as parlapatices de palanque, já deixou bem claro que está dedicada às exigências e atribulações inerentes ao posto. Não a imagino como frequentadora assídua de estrados de madeira, desfilando de um lado para outro, arrancando risos e aplausos da patuleia. Já escrevi muito sobre a importância do realismo na política. Ser realista não significa submissão absoluta à realidade como quer que ela se apresente, nem equivale a conceder alforria aos piores intuitos. Ser realista é operar no mundo dos fatos muito mais do que no mundo das ideias, é lidar com relações de causa e efeito, é atuar sobre os problemas com os pés no chão, com os números na ponta da língua e do lápis, tendo na cabeça ideias aplicáveis à realidade. Esse realismo se opõe ao idealismo daqueles que, instalados no mundo da lua de suas reflexões, mandam os fatos às favas e tratam de impor o que pensam independentemente das vítimas que tombem pelo caminho. Enquanto todos os totalitarismos nasceram desta última vertente, não se conhece na história, pelo viés oposto, um único estadista de fato que não tenha sido, de fato, um realista. Lula vinha de uma militância esquerdista que exigia milagres de quem estivesse no exercício do poder. Combatia quaisquer proposições que eles apresentassem e cobrava-lhes soluções arrancadas da mera vontade política. Parecia um idealista, no sentido filosófico da palavra. No entanto, quando chegou ao poder - surprise! -, Lula se revelou, essencialmente, um realista. Mas o realismo do ex-presidente foi um realismo que não se ensina aos próprios filhos, que ultrapassa irremovíveis barreiras morais e que se abraça a Mephisto se isso for estrategicamente proveitoso. O pacto Ribbentrop-Molotov e o governo do marechal Pétain na República de Vichy talvez sejam os melhores exemplos históricos de um tipo de abraço que a chamada Era Lula reproduziu com desconfortável frequência, tanto na política interna quanto na política externa. Há números que escancaram isso. De um lado, o realismo do presidente ao manter políticas que combateu duramente quando na oposição (tempo em que era dado a bravatas, como ele mesmo as definiu), somado a um consistente conjunto de talentos e a um cenário externo favorável, lhe conferiu consagradora aprovação por 87% da opinião pública. De outro, a cotação dos políticos nacionais bateu a oito centímetros do fundo do poço: 92% de rejeição! Na mesma escala, na mesma batida, na mesma medida em que subia o prestígio do ator principal, decrescia o do resto do elenco! Ora, como entender que não haja relação de causa e efeito entre uma coisa e outra na mesma peça? Ou seja, entre a cotação do grande líder da política nacional ao longo da última década e a dos políticos ao cabo de seu período? Será que aquilo nada tem a ver com isto? Perceber relações expostas a um palmo do nariz parece-me essencial ao realismo e à sabedoria que lhe é inerente. Lula foi o comandante da política nacional. Foi o cara, o polo de uma convergência de partidos e de um conjunto de práticas que operou, manteve e não agiu para mudar. Enquanto tocava seu mandato, o prestígio do Congresso Nacional se liquefazia numa sopa de interesses cujos ingredientes eram cozinhados naquele centro de poder e decisão sobre a administração, o governo e o Estado instalado no Palácio do Planalto. E a indispensável reforma das instituições, mais uma vez, não avançou uma polegada. Dilma é tão diferente de Lula que dela só se pode esperar uma gestão em outro tom. Lula teve Dilma, mas Dilma não terá Lula. Depois de oito anos sob a batuta de um self-promoter estamos sob a presidência de uma pessoa sem qualquer vocação para os arroubos publicitários. Ele subiu como um foguete na plataforma de Alcântara, malgrado os péssimos níveis dos três fundamentos de qualquer índice de desenvolvimento humano: educação, saúde e segurança. Ninguém neste país aplaude qualquer dos três. Mas todos aplaudem quem os comandou por quase uma década! Cabe à nova presidente, nesta largada de governo, adotar medidas duras, destinadas a corrigir as consequências e pagar as contas do ufanismo lulista. A ordem, sensata e coerente com a realidade, já foi energicamente emitida na primeira reunião ministerial: cortar gastos! Mas cortar gastos custa caro. É um paradoxo: cortar gastos causa desgastes. Dá prejuízo. Desgastes políticos geram furos no casco, determinam abandonos do barco. É tarefa complicada recuperar os trânsfugas quando sobem as águas, aumentam os ônus e rareiam os bônus. E convenhamos, a base do governo está muito mal acostumada. Não antevejo Dilma disputando essas partidas com os mesmos truques usados por Lula. Era muito fácil a vida com tais malabarismos e sob o manto da popularidade do ex-presidente. Teremos políticos adequados aos novos tempos e às novas realidades? ______________ * Texto publicado na edição de abril da revista da Fundação Milton Campos