Augusto Nunes

16/04/2011
ENTREVISTA COLETIVA DE DILMA NA CHINA No excelente texto abaixo transcrito, Augusto Nunes introduz os comentários que Celso Arnaldo Araújo teceu sobre a entrevista de Dilma Rousseff aos jornalistas brasileiros após a entrevista com o primeiro ministro chinês. Diz Augusto Nunes: O DILMÊS É MAIS COMPLICADO DO QUE O CHINÊS ?Essa resposta eu não respondo?, diz Dilma Rousseff no fim do vídeo que registra os principais momentos da entrevista coletiva concedida em Pequim. ?Responder respostas? nem o padrinho Lula consegue. O problema é que a afilhada não consegue responder também a perguntas, como constata o jornalista Celso Arnaldo Araújo em mais uma análise antológica do palavrório presidencial. Em grande forma, o implacável caçador de cretinices capturou, além de Dilma, a escolta formada por uma trinca de quinta categoria: Aloízio Mercadante, Fernando Pimentel e Edison Lobão. Sozinha, a entrevistada é capaz de deixar pálido de espanto qualquer jornalista. Consultando uma papelada e ouvindo cochichos, ela consegue piorar espetacularmente. O vídeo de 5 minutos adverte: o dilmês é mais complicado que o chinês. (http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=QkSvCvQ7h3I)

Agência Estado

11/04/2011
TARSO GENRO - NUNCA VI ALGUÉM MATAR POR TER USADO MACONHA E eu pergunto: quando foi que alguém chamou a maconha de erva assassina? Que tremenda tolice!Eis, abaixo, o que o governador gaúcho falou a respeito disso, segundo matéria da Agência Estado. *** Segundo Tarso, uma eventual liberalidade da sociedade com o tema dependeria também de estudos dos efeitos de cada droga. Eu acho que, por exemplo, as pessoas terem tolerância com a cannabis sativa é diferente do que com a heroína. A maconha, muitos especialistas dizem que faz menos mal que o cigarro. É o que dizem. Eu nunca vi alguém matar por ter fumado um cigarro de maconha, comentou o governador. Eu acho que tem que fazer uma distinção científica sobre o que é comprometedor efetivamente da saúde e da sanidade mental, para trabalhar essa questão de maneira equilibrada. Eu vejo dessa forma, não tenho nenhum preconceito. Durante seus comentários, Tarso também reconheceu que sua geração teve desejo de consumir droga. Na minha época, a gente não fumava maconha não por não ter vontade, mas porque as condições de segurança em que a gente vivia, na clandestinidade, adicionavam mais uma questão de insegurança que é a maconha, apenas por isso, narrou. Mas dizem que é muito saboroso.

Percival Puggina

09/04/2011
Zero Hora da última segunda-feira trouxe matéria sobre o que se passa aos domingos, na capital gaúcha, em certo trecho da rua Lima e Silva. Os episódios descritos são rotineiros e antigos. Se o desrespeito à lei não tropeça no rigor daqueles que a devem fazer cumprir, quem se estatela é a ordem pública. Quando os pais chutam o balde de suas responsabilidades, quando tantos religiosos evidenciam maior interesse pela questão fundiária e pela camada de ozônio do que pela salvação das almas, quando escolas e universidades confessionais acolhem professores que atacam a religião da instituição e seus valores, quando a impunidade começa em nome da proteção da infância e da adolescência e termina em prescrição para os marmanjos de gravata, quando a dignidade da pessoa humana é aviltada aos padrões da matilha, a sexualidade é desumanizada e os avoados do BBB são reverenciados como heróis nacionais, facilmente emerge aquilo que se retratou na reportagem de ZH. Deve haver quem, após muito promover o relativismo moral e a libertinagem, tendo debochado de tudo que tem valor e contribuído para a deformação das consciências, considere cumprido ali seu papel e se regozije ante o triunfo da matéria sobre o espírito, essa ficção dos crentes. Imagem e semelhança de Deus? Família? Virtude? Valores? Respeito? Honra? Que papo mais furado! Somos apenas repolhos evoluídos ou macacos que regrediram. Essa epifania da libertinagem fornece lições a outras realidades. A vida civilizada reprova moralmente a promiscuidade e a conduta de quem se concede o direito de exercitar, em nome da liberdade e da não discriminação, a espetacularização de suas fantasias, a propaganda de sua conduta sexual ou a exibição de suas inclinações. Quem assim procede, quer seja heterossexual ou homossexual, transgride os padrões exigíveis na vida social. Sexo pede, no mínimo, responsabilidade e intimidade. Dar vazão à libido em público, é desrespeito aos demais. Ninguém deve ser obrigado a trancafiar portas e janelas para não presenciar o desregramento alheio. Perseguição oficial aos homossexuais é conduta típica dos totalitarismos e está imposta, ainda hoje, nos países comunistas e fundamentalistas. Já nas sociedades livres, a discriminação é coisa própria de quem perdeu o sentido de respeito e convívio civilizado. Reprove-se, então, o preconceito. E se reconheça como valioso o esforço de muitos em superar as discriminações de que, obviamente, são alvo. Mas isso deve ser feito com seriedade. Não é aceitável que, em nome da não discriminação, se autorizem e financiem com recursos públicos paradas gays nas quais se encenam comportamentos que, com justo motivo, levariam ao xilindró qualquer casal que os exercitasse num banco de praça. É a mesma falsa lógica dos esbulhos à propriedade - se um invade, a polícia algema; se muitos invadem vira manifestação popular... Educação sexual não pode ser apenas instrução sobre fisiologia, segurança e saúde, mas, principalmente, formação para a responsabilidade e para o amor. Eis por que o PLC-122 (o projeto de lei que trata da homofobia) contém demasias. Uma coisa é promover campanhas de esclarecimento sobre os males da discriminação e impor sanções a determinadas condutas comuns hoje em dia. Outra bem diferente é retirar dos pais o direito de orientar moralmente seus filhos e de buscar escolas e Igrejas em consonância com os valores que desejam lhes transmitir. Não se pode dar ao Estado tamanho poder de intervenção na vida social. ZERO HORA, 10/04/2011

Percival Puggina

09/04/2011
Os comunistas brasileiros são renitentes. Foram os últimos a chorar quando Stalin morreu. O facínora russo estava paradinho dentro do caixão havia vários dias, entre archotes e com algodão nas narinas, como descreveria Nelson Rodrigues, e os comunistas brasileiros ainda não acreditavam que as notícias de sua morte expressassem um fato real. Menos ainda, uma realidade espiritual. Para eles, Stalin era um símbolo, uma instituição, uma entidade, espécie de messias, filho de um sapateiro e de uma lavadeira, nascido em Gori numa noite em que o luminoso céu da Geórgia fora riscado por uma estrela vermelha. Em 1989, quando caiu o Muro, alguns renitentes me acusaram de acreditar em boatos por ter comentado sobre as estátuas de Lênin que estavam sendo derrubadas no Leste Europeu, coisa que a revista Manchete estampara em fotos de meia página. Jogar ao chão estátuas do líder da Revolução de 1917 era mais do que um sacrilégio. Era uma impossibilidade material, tipo arremessar montanhas ao mar. Como católico, chego a invejar o tamanho dessa confiança. Veja, por exemplo, leitor, a mística expressão de fé incondicional contida na carta que D. Paulo Evaristo Arns mandou a seu queridíssimo Fidel em 6 de janeiro de 1989, por ocasião dos 30 anos da revolução cubana. Lá pelas tantas, o paparicado e purpurino cardeal arcebispo de São Paulo lascou assim: A fé cristã descobre, nas conquistas da Revolução, os sinais do Reino de Deus, que se manifesta em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor. E mais adiante: Tenho-o presente diariamente em minhas orações, e peço ao Pai que lhe conceda sempre a graça de conduzir os destinos de sua pátria. Grandes defensores da democracia D. Paulo Evaristo e seus admiradores! Note-se que no mês anterior, em dezembro de 1988, uma delegação de bispos alemães havia estado em Cuba. Em matéria sobre a visita, publicada na revista 30 Giorni de jan/89, eles contaram que a Igreja cubana não tinha acesso à Educação, que todos os religiosos estrangeiros haviam sido expulsos, que o contingente de sacerdotes e religiosos reduzira-se a 15% do que já fora, que quem se proclamasse cristão ficara excluído da possibilidade de ascensão funcional e que, como consequência, apenas 1% dos cubanos frequentava a igreja. D. Paulo escreveu a Fidel em cima de tal fato. E foi acalentar no sono dos que são capazes de arder todo e qualquer bem na fogueira dessa ideologia malsã, a irresponsabilidade do que escrevera. Referia-se, então, ao mesmo regime que, vinte anos depois, como prova de benevolência, ainda liberta às pencas dissidentes políticos! Alguns bispos cubanos, felizmente, responderam a D. Paulo. A longa carta que lhe mandaram, entre outras coisas, relata esta grande novidade: Cuba sofre, já há trinta anos, uma cruel e repressiva ditadura militar, num estado policial que viola, constante e institucionalmente os direitos fundamentais da pessoa humana. Ao fim da dissertação, os três bispos que a assinam concluem: Deus queira que seu país nunca tenha que passar pela trágica experiência que nós estamos atravessando. Esse deve ter sido o trecho que mais desagradou D. Paulo, subtraindo-lhe, por instantes, o melífluo sorriso que adorna de falsidade suas manifestações. Afinal, reproduzir no Brasil a experiência cubana era tudo que ele mais desejava. Oh, raios! Como é que os bispos cubanos lhe esfregavam no rosto o fato de estarem rezando contra seus mais caros anseios pastorais? É provável que o leitor esteja duvidando. Não é razoável. Nada disso pode ser verdade. Um cardeal católico não poderia dirigir tal louvação a uma ditadura que tanto perseguia a Igreja e que já durava 30 anos. Pois é tudo exato e veraz, letra por letra, meu caro. Tenho em mãos cópia das correspondências, que à época li nos jornais. As duas foram transcritas na imprensa brasileira e a de D. Paulo foi reproduzida em espanhol no Granma, com grande destaque. Aliás, eu mesmo escrevi para o Correio do Povo, em 26 de janeiro de 1989, um artigo intitulado A epístola de Paulo, (o Evaristo), tecendo ironias sobre a falta de juízo do cardeal paulista, cujos olhos, ao reverso do apóstolo dos gentios, cada vez mais se revestiam de escamas. E acrescentei que a mesma carta a Fidel poderia ter sido enviada em circular, por D. Paulo, para os governos da Alemanha Oriental, Bulgária, Polônia, Hungria, Albânia e tantos outros. Afortunadamente vivíamos, então, os primeiros dias do ano da Graça (poderíamos dizer, sem exagero, o ano da Grande Graça) de 1989, quando começariam a desabar os regimes do Leste Europeu. Contados vinte e dois anos sobre aqueles episódios, seguiram para a Espanha, dia 7 deste mês de abril de 2011, mais 37 prisioneiros de consciência do regime cubano! Totalizam-se, assim, 126 libertações negociadas pelo Vaticano. O total remanescente nas masmorras, contudo, permanece desconhecido das organizações de Direitos Humanos e da opinião pública mundial. Duas perguntas se recusam ao silêncio: 1ª) se todos esses prisioneiros podiam ser libertados, por que estavam presos? e 2ª) se estavam presos porque era assim que deviam estar, em vista do bom Direito e da boa Justiça, por que foram libertados? A brutal malignidade do regime que D. Paulo reverencia e que tantos brasileiros cultuam evidencia-se muito mais nessas duas perguntas do que nas improváveis respostas que a elas sejam dadas. Não lhes falta, sequer, o despudor de apresentar o regime cubano como símbolo da autodeterminação, apesar de ser conduzido a grades de ferro pela determinação unipessoal de um tirano que aplaudiu o massacre da Tchecoslováquia pelas tropas russas e que interveio militarmente, com soldados de seu povo, em revoluções comunistas pelo mundo afora. Esse tirano que D. Paulo, Lula, Dilma, Zé Dirceu, Frei Betto, Chico Buarque e muitos outros veneram montou uma ordem social tão esquizofrênica e tão canalha que produziu este resultado sem igual na história do operariado mundial: quando, no ano passado, foi anunciada a demissão de uma quinta parte da força de trabalho cubana, mediante pagamento de um mês de salário por cada dez anos de atividade, a Central dos Trabalhadores de Cuba aplaudiu a providência! E eles continuam crendo. Continuam sonhando com jogar montanhas ao mar. E gostando do que veem em Cuba. São óbvias as tendências sádicas e a falta de caráter de quem louva e apoia um regime assim. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

01/04/2011
Não é a conduta do governo que causa estranheza. O governo segue a lógica do lobo, cujas razões nunca incluem o ponto de vista do cordeiro. Quando convém aos lobos, as águas do rio sobem encostas. Não há novidade nisso. O mundo é assim desde que pela primeira vez, num grupo humano primitivo, certo grandalhão decidiu que mandaria no pedaço. Surpreendente é que numa sociedade civilizada, em pleno século 21, tantos setores da mídia reproduzam para seus clientes - nós, os cordeiros - a retórica brutamontes do lobo. O governo Dilma anunciou, com semitons de generosidade, que a tabela do Imposto de Renda seria corrigida em 4,5%, representando, esse gesto de benevolência, renúncia fiscal de R$ 1,6 bilhão no atual exercício. O Google registra cerca de 20 mil reproduções dessa informação. E daí?, perguntará o leitor. E daí que estamos perante exemplo típico do que descrevi no parágrafo anterior. Que renúncia fiscal ocorre quando o governo corrige (inclusive em percentual inferior ao da inflação medida) a tabela do IR? A quase totalidade dos trabalhadores e aposentados do país, uma vez ao ano, tem reposto seu poder de compra mediante reajuste de salário ou provento em percentual mais ou menos equivalente ao da inflação ocorrida. Sobre o que recebe, paga imposto de renda. Se a tabela do tributo não é reajustada em conformidade com a inflação, o que ocorre pode ser definido de duas maneiras distintas. Numa, o governo está tributando a inflação pois obriga o trabalhador a pagar mais imposto pelo mesmo poder de compra. Noutra, ele está, por via indireta, ou seja, por omissão, elevando a alíquota. Portanto, falar em renúncia fiscal é um desaforo oficial. Vamos expor isso de outra forma. Suponha, leitor, que dona Dilma suba nos tamancos e proclame que acabou, para sempre, a renúncia fiscal. Não haverá mais qualquer reajuste na tabela do IR das pessoas físicas. Sabe qual a consequência? Ao cabo de 15 anos, admitindo-se uma inflação de 4,5% a.a., o governo terá tomado, por essa via tributária - é a aritmética que o prova - metade do poder de compra que a sociedade detinha no primeiro ano de aplicação da norma. Havendo inflação, congelar a tabela do IR é tão esbulho quanto congelar salários. A alcatéia, contudo, não se satisfaz com meros artifícios retóricos. Sofismas não engordam o caixa. Então, anuncia o governo - e os complacentes reproduzem ipsis literis - que, para compensar a tal renúncia fiscal, a alíquota do IOF incidente sobre compras feitas no exterior será aumentada. Pronto! Acabou a generosidade. A alcatéia dá de mão na tesoura. Lobo do século 21 não come cordeiros. É mau negócio. Acaba com o rebanho. Mais lucrativo é tosquiá-lo periodicamente. E retorna-se ao sofisma: os brasileiros estão gastando muito no exterior. De fato, do jeito que a coisa vai, gastaremos, neste ano, algo como US$15 bilhões fora do país. Na perspectiva do lobo, o brasileiro, esse perdulário, não pensa no bem da pátria. Em vez de gerar empregos aqui dentro, vai gerar empregos lá fora. O sofisma entra pela janela e chuta a razão pela porta. Até as pedras sabem que os brasileiros estão gastando no exterior porque está mais barato gastar lá do que aqui. Simples como isso, porque nossa moeda ficou excessivamente valorizada frente ao dólar. Aliás, as compras de viagem fora do país são parcela pequena na coluna das nossas despesas externas. Sobre o prejuízo maior, perguntem à indústria nacional. Perguntem aos exportadores de manufaturados. Muito mais do que os uísques e perfumes comprados em Rivera, ou as bugigangas de Miami, são as massivas importações de manufaturados feitas pelo mercado brasileiro que afetam negativamente nossa balança comercial e danificam o mercado de trabalho do país. O consumidor não sofisma. Não vive de discurso. O consumidor faz as contas e sabe que se tornou vantajoso fazer turismo no exterior. É mais barato lá do que aqui. E não por culpa dele, consumidor. Digam-lhe os lobos o que disserem. Se o governo não controla seus próprios gastos e precisa buscar dinheiro no mercado, elevando juros, atraindo dólares e derrubando a cotação dessa moeda, é ele e não a sociedade que está causando prejuízo grave às contas e à economia nacional. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

José Carlos Aleluia

01/04/2011
CARTA ABERTA AO REITOR DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA PROF.JOÃO GABRIEL SILVA, MAGNÍFICO REITOR DA UNIVERSIDADE DE COIMBRA (José Carlos Aleluia é professor universitário, Membro da Comissão Executiva do Democratas e Presidente da Fundação Liberdade e Cidadania) Na condição de professor universitário venho perante Vossa Excelência manifestar a minha perplexidade ? e porque não dizê-lo?, indignação, diante da concessão do título de doutor honoris causa, pela instituição que ora Vossa Excelência representa, ao ex-Presidente da República do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. Tomando como referência o significado que tem, para nós brasileiros, a Universidade de Coimbra, entendo que a iniciativa destoa aberta e completamente de toda a sua tradição. Aprendemos que as personalidades que lideraram o processo da Independência e que assumiram os destinos do novo país ?a começar do Patriarca, José Bonifácio? formaram seu espírito na Universidade de Coimbra. Aplaudimos com entusiasmo a concessão daquele título a ilustres representantes da contemporânea cultura brasileira, a exemplo do saudoso Miguel Reale. Em eventuais excursões a Portugal, todo membro da comunidade acadêmica brasileira sente-se no dever de conhecer a instituição que consideramos parte integrante de nossa história. A concessão do mencionado título contraria frontalmente toda a idéia que nos fizemos da Universidade de Coimbra pelo fato, sobejamente conhecido, de que o ex-Presidente sempre se vangloriou de não haver freqüentado qualquer curso. Insistentemente, perante a nossa juventude, buscou inculcar a noção de que o sucesso pessoal independe de qualquer esforço no sentido de aprimorar o conhecimento. E, sobretudo, por uma administração desastrosa em matéria educacional. No plano estritamente político, notabilizou-se por institucionalizar a corrupção, alegando inclusive tratar-se de fenômeno arraigado, que não lhe competia combater. Esteja certo de que, com esse passo temerário, de um só golpe, a Universidade de Coimbra deu-nos uma clara demonstração de não ter qualquer compromisso com o respeito à memória que seus antecessores souberam construir. José Carlos Aleluia

Leonardo Faccioni

30/03/2011
NA UCS, UM PALCO PARA OS GENOCIDAS (Extraído de um texto produzido por aluno da UCS sobre o I Congresso Internacional de Direito e Marxismo, em realização naquela universidade caxiense com suporte financeiro da CEF) Num evento nascido para, como de praxe, criticar tudo isso que está aí a título de capitalismo (um termo eclético o suficiente para abranger tudo o que houver sob a triangulação Geisel - Pinochet - Mercantilismo setecentista, plus a democracia, à qual chamam burguesa), não se pode deixar de indagar a origem do dinheiro. No melhor espírito neofascista que caracteriza a república sindicalista, os organizadores garantiram portas abertas ao receber patrocínio de empresa estatal - aquela mesma que, tão amiga do proletariado, estupra sigilos bancários de caseiros inimigos dO Partido, que é O Povo - assegurando, assim, uma boa penca de participantes internacionais. Que tão repulsivo congresso se dê em instituição privada, fundada - dentre outros - pela Igreja Católica e instalada em região das mais aburguesadas e prósperas do subcontinente não deixa de ser sinal dos tempos, de uma mentalidade que vai muito além daqueles bárbaros selvagens que, apontava Ortega y Gasset, criam-se a leite com pêra para, esnobes e megalômanos, crescer e destruir suas próprias civilizações, imaginando - e aí estamos com Hayek, um Nobel - guardarem mais informação e conhecimento em suas cabecinhas ditatoriais do que nas construções autônomas e livres de todo o resto da humanidade.

Érico Valduga

28/03/2011
ESTA NÃO É A JUSTIÇA QUE PRECISAMOS Érico Valduga em Periscópio Data vênia, esta não é a Justiça que precisamos. Pode haver exemplo mais claro da impunidade que protege os corruptos do que a prescrição do crime? Nosso legado, prezados leitores, é a hipocrisia Que país estamos legando para os nossos descendentes, no qual os ladrões do dinheiro público, com nome e sobrenome, escapam de punição por causa das prescrições dos códigos processuais? É o caso de 22 dos 38 réus do Mensalão por formação de quadrilha, crime que prescreverá em agosto próximo, segundo informou a matéria do repórter Felipe Recondo publicada na edição de ontem do Estadão, reproduzida neste site e por Periscópio. Aliás, o jornalista informou que o episódio foi o maior escândalo da ?era Lula?. Está enganado: trata-se do maior escândalo desde a proclamação da República no Brasil, e caminha para a impunidade que, tornada regra pela Justiça inepta e lenta, é a principal responsável pela posição do nosso país como um dos líderes de todos os rankings da corrupção no mundo. O que é pior, se algo ainda pode ser pior, é que diversos processados já foram como que reabilitados por seus partidos e pela sociedade brasileira (no caso, quem cala, consente) antes da decisão judicial. Milhões de reais dos cidadãos, atendidos em média por serviços de saúde e educação de quinta categoria, por alegada falta de recursos nos cofres públicos, foram comprovadamente desviados para bolsos privados. E nós não nos espantamos, tanto que o tema recebe tratamento marginal nos meios de comunicação. Não nos espantamos mais, ao ponto de um ex-presidente da República, o mesmo que afirmou desconhecer a roubalheira verificada em seu primeiro mandato, declarar que a sua principal missão, a partir de janeiro de 2011, seria m ostrar que o Mensalão ?é uma farsa?. Farsa? O deputado federal João Paulo Cunha (PT-SP), que foi obrigado a renunciar à presidência da Câmara dos Deputados, confessou ? confessou, sim, depois de tentar mentir ? que a sua mulher recebeu R$ 150 mil em dinheiro vivo, quantia proveniente do operador da impressionante maracutaia, Marcos Valério. Fazia parte da quadrilha e por isto é réu. Mas, a provar que a cultura da impunidade lavra nas instituições, em meio à cumplicidade cínica de eleitos e eleitores, ele acaba de ser escolhido pelo seu partido para a presidência da comissão permanente mais importante da Casa de cuja direção foi apeado, a de Constituição e Justiça, nada menos. Isto é farsa.

Percival Puggina

27/03/2011
As Campanhas da Fraternidade perderam a capacidade de me surpreender. Há alguns anos ainda me arrancavam uns oh!, uns puxa-vida!, uns mas-que-coisa!. Agora, nem isso. Já é previsível. Silenciam as baterias das escolas de samba e a campanha da CNBB entra na avenida para incinerar a espiritualidade quaresmal. Todo ano muda o tema. Mas o samba-enredo vai na mesma batida: ao sul do Equador só existe um pecado. E uma classe de pecador. Os europeus que vinham para o Brasil no século 16, distantes de seus códigos originais, naquela nudez tropical onde só a natureza era virgem, botavam prá quebrar. Vem daí a frase tão sedutora aos embarcados nas aventuras ultramarinas: não existe pecado ao sul do Equador. Pois a cada quaresma, o comando da CNBB recicla a frase. É como se nestas bandas só existisse o pecado da produção, do mercado, do consumo e do lucro. Em tudo mais têm os fiéis indulgência plena, contanto que militem na guerra santa contra um desenvolvimento social e econômico que passe pela economia de empresa. Para os puxadores do samba do atraso, ou nos arrependemos do lucro, ou arderemos no inferno. Ou saímos definitivamente desse lupanar chamado mercado, ou sufocamos em sulfeto de hidrogênio (aquele composto malcheiroso, normalmente associado à presença do maligno). De lambuja, neste ano, somos orientados para o neopaganismo do Leonardo Boff: o hino da CF-2011 canta a mãe terra e declara que o planeta é a mais bela criatura de Deus! Surpreso, leitor? Eu não. Falando em sulfeto, li, desde a curva do cabo até a ponta do rabo, o texto-base desta Campanha da Fraternidade. Não proponho a ninguém a mesma penitência. Suas 32 mil palavras enchem 63 páginas. Metade delas introduz no confessionário cristão pautas tão penitenciais quanto clorofluorcarbonetos, metano, dióxido de carbono, ozônio, potencial hidrogeniônico, hexafluoreto de enxofre e dióxido de enxofre (só pode ser no meio desse enxofre todo que o diabo se esconde). Tal conteúdo, que ninguém precisa ser assessor da CNBB, católico ou bispo da Teologia da Libertação para baixar da internet e passar por sabichão, chega ao texto com os objetivos fundamentais acima. Lembrando-os: pau na economia de empresa, pau no mercado, pau no consumo. Nesta quaresma, a classe dos judas a serem malhados ganhou mais um membro. Há outros pecadores públicos abaixo do Equador. São os produtores de commodities agrícolas. Gente perversa, que cultiva grande quantidade de coisas tão descabidas como trigo, soja, arroz, algodão e cana. Atenção! Há muito, muito mesmo, a corrigir no uso que fazemos dos recursos naturais. Tampouco estou negando a necessidade do zelo ambiental, nem desconsiderando o fato de que devemos manter em relação à natureza um senhorio responsável, na condição de zeladores prudentes de um patrimônio precioso que devemos legar às gerações futuras. Mas considero necessário dizer que, em essência, são os paradigmas civilizacionais do Ocidente, tão condenados no nº 61 do documento, que, bem ou mal, permitiram ao planeta acolher mais cinco bilhões de habitantes no último século. Tese oposta leva ao que faz o texto-base quando aconselha, no nº 51, que os sistemas de produção, para manter mais gente no campo, deveriam ser antieconômicos e os alimentos deveriam custar mais caro! Terminei a leitura da peça com a convicção de que ninguém representa melhor o espírito desta quaresma do que os fanáticos do Greenpeace. Até quando os bons bispos vão tolerar essa situação? ZERO HORA, 27/03/2011