Quando decidi renovar meu velho blog, dando a ele o formato atual em www.puggina.org, escolhi duas frases para aparecerem intermitentemente na “testa” do site: “O bom liberal sabe que há princípios e valores que se devem conservar” e “O bom conservador deve ser um defensor das liberdades”.
Creio nisso e me vejo, como católico, identificado com as duas vertentes. A liberdade é um dom esplêndido, que Deus respeita como atributo de suas criaturas muito mais do que elas mesmas costumam respeitar. E as responsabilidades que obviamente advêm da liberdade recaem sobre os indivíduos, sobre as pessoas concretas e não sobre grupos sociais, coletivos ou sistemas como alguns querem fazer crer.
É aí que entram os valores que balizam as condutas individuais e, por extensão, a ordem social e os códigos. É socialmente importante saber conservar o que deve ser conservado e mudar o que deve ser mudado. O bom conservador rejeita a revolução, a ruptura da ordem, a substituição da política pela violência, reconhece o valor da tradição e aprecia a liberdade como espaço para realização digna dos indivíduos e dos povos.
Não é por outro motivo que o movimento revolucionário e os que com ele colaboram atacam vigorosamente uns e outros. Liberais e conservadores são identificados, corretamente, como os adversários a serem vencidos. Essa batalha se trava no mundo da cultura. Gramsci descobriu isso e fez escola. Seus discípulos brasileiros, ditos intelectuais orgânicos, em poucas décadas tomaram o sistema de ensino das mãos dos educadores cristãos, inclusive na maior parte das instituições confessionais.
Nos anos setenta, incorporaram-se a essa tarefa inúmeros novelistas, diretores e produtores de programas de televisão em canal aberto. Tratei deles em meu artigo anterior “Acabou! Acabou! ”
http://www.puggina.org/artigo/puggina/acabou-acabou/3234). Enquanto o comunismo era propagandeado como expressão sublime da bondade humana (!), coube àqueles profissionais a tarefa de destruir os valores da sociedade, em ação de lago espectro. Assim, foram zombando do bem, exaltando o mal, pregando a libertinagem e depreciando tudo que merecesse respeito. Foi um longo e bem sucedido processo de destruição moral do qual a corrupção que hoje reprovamos é mero subproduto. A população de patifes, canalhas e sociopatas aumentou em proporções vertiginosas.
Houve um relaxamento até mesmo entre as consciências bem formadas. Gravíssima a omissão de quantos a isso deveriam resistir, nas famílias, nas escolas, nas igrejas e nas instituições! Devemos reconhecer, então: há muito mais culpados entre os omissos do que entre os efetivos agentes do processo de destruição dos valores. As liberdades recuaram simultaneamente porque esse era o objetivo final do projeto de dominação cultural: estabelecer a hegemonia política, com o Estado avançando sobre as autonomias dos indivíduos, das famílias e da sociedade e das liberdades econômicas. Foi assim que assistimos, durante décadas, sucessivas derrotas dos conservadores e dos liberais, tão numerosos quanto acomodados.
Felizmente, a cada dia que passa, cresce o número de brasileiros conscientes das causas da desgraça que acometeu a sociedade brasileira. São as pesquisas que o indicam com clareza. Foi tamanha a lambança, tão generalizada a degradação moral, tão impertinentes os abusos do Estado, a cascavel, enfim, tanto agitou seu chocalho que acabou despertando as consciências de sua letargia. A nação dá claros sinais de estar refletindo sobre o que fez de si mesma.
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* Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar.
Daniele Talita Ribeiro - 06/06/2015 15:41:30
Devemos estar cientes de que já transbordou o cálice da falta de compromisso com os valores morais desse país transformando a velha sociedade brasileira em uma sociedade de pessoas alienadas, desapegadas aos valores culturais, morais e éticos que direcionam o caminho para o bem em comum tratados atualmente como uma luta democrática que tenta resgatar os direitos das classes sociais e esquecendo que esses valores antes são valores humanos que devem estar enraizados em nós mesmos como ser modificador, atuante nos bons costumes e acima de tudo respeitador dos direitos humanos. Sentimo-nos vítimas do sistema, tão apegados ao sofrimento que nos custa mudar. Somos o exemplo de que sim, é possível alterar um processo político ao longo de uns poucos anos, tornando-o histórico. Imagino se pudéssemos alterar o processo educacional nesse país com mentes brilhantes e inovadoras, que identificam soluções precisas para o problema, salvaríamos parte do futuro... a outra parte seria salva através de uma revolução feita com homens e armas!Joilson Gouveia - 05/06/2015 19:35:57
Aceite meus singelo, sinceros , fraternos e solidários parabéns, sobretudo pelas suas lúcidas, inteligentes, coerente e procedentes ilações! Precisamos de muito mais textos esclarecedores, francos, verdadeiros e contudentes como os teus textos! Forta amplexo! Ah! Ao meu modo de ser, ver e escrever, também faço parte dessa hercúlea luta, visite-nos, a saber: http://gouveiacel.blogspot.com.br/ Abr JGLuiz Neto - 05/06/2015 16:46:35
Os comunas odeiam os princípios cristãos porque não há como conviver com aquilo que lhe é oposto. Eles detestam o livre arbítrio, quando ele não lhe favorecem; eles não amam o próximo, a não ser que o próximo comparti-lhe a sua farsa; Sua religião é o marxismo, sua oração baseia-se na mentira; seu objetivo é a propagação do ódio; seus seguidores, uns idiotas.Paulo Jr - 05/06/2015 09:21:21
Me encaixo como luva no raciocínio, não por ter sido um pregador das leviandades, mas por me agitar sem o saber por incomodos mentais que não sabia verbalizar e nem mesmo compreender. E agora aparecem cristalinos com as orientações que recebo dos conhecimentos liberais e conservadores. Gostaria de propor ao senhor, ou a quem tiver melhor dominio do assunto, um texto sobre os interesses hegemônicos no meio futebolístico. Sugiro isso por enxergar no estimulo ao fanatismo uma das estratégia de acobertamento para as rotinas de destruição moral de uma nação. Grande abraço e fique com Deus.carlos pacheco - 04/06/2015 22:11:45
Caro amigo Puggina, brilhante a análise que fazes. Faco votos de que também tenhas acertado quanto a reação da sociedade. Um forte abraçoGenaro Faria - 04/06/2015 16:22:13
De fato houve muita omissão. A sociedade parecia entorpecida e esteve apática por muito tempo. Em grande parte porque alienada da política, quase sempre confundida com a politicagem. Mas eu não entendo que as pessoas tenham abandonado a fé e os valores éticos por vontade própria. E seus textos, sempre oportunos e corretamente políticos, sempre apelaram para esses valores aos quais aludi. O que houve mesmo, assim penso eu, foi que as pessoas perderam as referências que tinham na igreja católica, nas escolas, nas artes e na intelectualidade - a alta cultura - que há algumas décadas estão sendo dominadas pelo marxismo que hoje se projeta na política. Faço este comentário para me pôr de acordo com sua metáfora. Sim, o filho pródigo descobriu que comia com os porcos e resolveu voltar para a casa paterna, a família. Mas descobriu, também, que ele foi miseravelmente enganado. Então, não é o arrependimento que marca a sua redenção, mas o ressentimento contra os impostores que o ludibriaram. Veja: https://www.youtube.com/watch?v=D8wh6Yl9ha4Ana - 04/06/2015 16:18:36
Parabéns pelo texto. Uma leitura certeira do que aconteceu e está acontecendo com as consciências do país.Ismael Façanha - 04/06/2015 15:48:07
Vivemos imersos numa crise desagregadora de valores civilizacionais; mas a consciência do Bem e do Mal é inata entre os Homens, que, feitos à imagem e semelhança do seu Criador, sempre acabam retornando para o correto agir.Odilon Rocha - 04/06/2015 15:07:38
EXTRAORDINÁRIO !! SÓ O SENHOR MESMO. ABRAÇO