Percival Puggina

16/11/2014

Já vi concentrações maiores, inundadas por bandeiras vermelhas. Eram manifestações assustadoras! Nada era dito sobre o Brasil e muito era dito sobre a tomada do poder no Brasil. Festejavam vitórias no mesmo tom com que o MST comemora suas invasões. Algo fora tomado de alguém. A democracia dava mais um passo para trás e a revolução mais um passo a frente. E eram vistosas as manifestações.

 Foi curioso perceber que a eleição do dia 26 de outubro não proporcionou qualquer daquelas antigas explosões estelares e escarlates. Ao contrário, viu-se muita gente cabisbaixa, com expressão de criança que sujou as fraldas. Fez e sabe que fez. De algum modo, manifestavam o sentimento nacional, o sentimento de um país que precisa trocar as fraldas, um país que não pode continuar sendo governado por um governo que não controla os esfíncteres.

No início da tarde do último sábado, feriado de 15 de novembro, aniversário da Proclamação da República, um grupo de 5 mil pessoas se reuniu numa das esquinas do Parque Moinhos de Vento em Porto Alegre (vídeos aqui e aqui). Era um desses dias esplendorosos, em que o céu da capital gaúcha se engalana num azul de lápis de cor. Vi pais levando seus filhos em carrinhos de bebê. Vi uma senhora de 93 anos percorrer altiva e solene a longa caminhada de três horas até o Monumento do Expedicionário, no Parque Farroupilha.

Qual a força que me levou até lá, uniu-me a eles numa aderência eletrostática, que nos imantou e mobilizou a todos através da marcha? Não hesito em afirmar: foi um sentimento de bastança, de demasia. O partido que nos governa foi longe demais e a multidão regurgitava 12 anos de desaforos levados para casa. Quem estava ali eram pais e mães de família de verdade, trabalhadores que trabalham, empresários que fazem andar a roda dos negócios mas não se vendem, estudantes que estudam, pessoas de fé que rezam e pessoas sem fé que respeitam a religiosidade alheia, pensadores que pensam a liberdade, a democracia, os bons princípios e os mais elevados valores. "Ou ficar a Pátria livre ou morrer pelo Brasil" sussurrou-me alguém ao ouvido. E essas palavras acompanharam-me ao voltar para casa.

É preciso libertar a Pátria. Soltar as amarras em que vem sendo gradualmente envolta. Romper a teia conspiratória e apátrida que quer nos unir à "Pátria Grande" neocomunista, bolivariana, no mapa continental vermelho, sem fronteiras e virado do avesso, proposto pelo Foro de São Paulo. E, por fim, mas não por último, acabar com eleições que não merecem crédito, com o império da mentira, da enganação, da chantagem, da injúria, onde o juiz da partida é sócio do clube, onde se faz gol com a mão, três horas depois do segundo tempo. O Brasil do bem não suporta mais ser explorado, taxado, tributado, rotulado, dividido, roubado, enganado, e reagirá com os meios proporcionados pelo Estado de Direito e pela democracia.

É preciso dizer à imprensa infiltrada, submissa e omissa, à imprensa "empadinha", que combater o comunismo, ainda que disfarçado e com vergonha do próprio nome, não é fascismo (como acusavam embusteiramente os marxistas-leninistas ao levar seus opositores para o agasalho definitivo das covas rasas). Ao contrário, é indeclinável exigência moral, numa sociedade de homens livres, que conhecem História. E foi o que fizemos, da melhor forma que pudemos, numa tarde em que o céu de Porto Alegre exibia, orgulhoso, um céu azul de lápis cor.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

14/11/2014

Doravante, cada vez mais, você ouvirá falar de "Pátria Grande". A expressão é cunhada nas elucubrações do Foro de São Paulo. Designa a unidade geopolítica a ser construída através da exportação do comunismo cubano e venezuelano aos demais países da outrora chamada América Latina ou Ibero-América, em marcha para se tornar "Pátria Grande". Pátria grande uma pinoia!

Exceto nas cabeças petistas (assista vídeos de Lula e Rui Falcão aqui), o Brasil nada tem a ver com essas pequenas nações que outrora integraram a Coroa espanhola. Se elas sonham com deitar à sombra da economia brasileira, se creem que continuarão, vida afora, contando com as prodigalidades proporcionadas pelo governo petista em seus sonhos de hegemonia continental, podem armar suas redes noutras varandas. Tivemos origem diversa, cursamos rumos diferentes na História e os dias do PT estão contados. Julgo oportuna esta advertência porque, do jeito que a coisa vai, em breve haverá cubanos, bolivianos, salvadorenhos e nicaraguenses fazendo projetos com os recursos do pré-sal... Vamos parar com isso! E vamos parar já.

Um dos elementos da identidade brasileira cuja construção inspira justificado sentimento de orgulho é a unidade do território e da língua comum. Ao longo dos séculos, essa não foi uma conquista fácil. Não nos faltaram invasores nem traidores. Não nos faltaram divisionistas e, em muitos momentos, não nos faltaram motivos para a divisão. A América Espanhola, seja como território, seja pelo vulto dos recursos populacionais, seja pelos minerais preciosos disponíveis para o custeio do povoamento, andou melhor e ensejou mais rápida prosperidade ao projeto da Coroa espanhola. Portugal, a seu turno, era carente de recursos humanos e materiais e o Brasil nunca lhe foi fonte de abundantes riquezas. Povoar defender um país continental, guardar a extensa Costa Atlântica, muito acessível à cobiça de ingleses, franceses, holandeses, envolveu gastos elevadíssimos. No entanto, enquanto o Brasil permaneceu unido, eles se dividiram e pagam a conta da divisão. Agora os bolivarianos querem "Pátria Grande". E conosco...

Quando, no início do século 19, Napoleão invadiu a Península Ibérica, a Coroa portuguesa percebeu que deveria mudar-se para o Estado do Brasil. O Brasil era, desde sempre, Província e Estado de Portugal como qualquer outro Estado lusitano. O ineditismo caracterizado pela transferência da Coroa para América foi motivo de surpresa em Portugal e de alegria no Brasil. Cogitaram do mesmo, mas não levaram a cabo suas intenções, os reis de Espanha, Carlos IV e Maria Luísa. Essa hesitação e demora, ensejou a invasão francesa e a designação de José Bonaparte para o trono espanhol. Nesse momento rompeu-se o laço com a matriz ibérica e com os Bourbons, desencadeou-se uma sucessão de fracionamentos e surgiram muitas novas nações, governadas por caudilhos e déspotas locais. Já o Brasil, com D. João, D. Pedro I e D. Pedro II, manteve-se uno, seja nas guerras da Independência, seja nas da República.

Essa história e nossa identidade não são patrimônio de desmiolados que deveriam estar declamando noutra freguesia seus projetos de Napoleão de hospício.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

11/11/2014

 

 Na véspera do dia em que se celebravam os 25 anos da queda do Muro de Berlim, um grupo de cidadãos marchou pela Avenida Borges de Medeiros, em Porto Alegre, rumo às obras do Memorial Luiz Carlos Prestes onde realizaram breve protesto. Denunciavam um paradoxo. E bota paradoxo nisso! Enquanto o mundo livre e civilizado rememora o fim do Muro, maior evidência do fracasso do comunismo, em Porto Alegre ultimam-se as obras de um Memorial que permanentemente exaltará tal regime através do personagem que, com maior ênfase, simboliza a luta suja por sua implantação no Brasil.

O Memorial é um projeto do arquiteto Oscar Niemayer, o milionário mais festejado pelos marxistas-leninistas. Sua construção e instalação foi proposta à cidade de Porto Alegre em 1998 pelo petista Raul Pont, então prefeito da Capital, em projeto que enviou ao legislativo municipal, obtendo inimaginável aprovação pelo voto majoritário dos edis.

As coisas teriam terminado por aí. O prefeito teria atendido seus amigos da foice e do martelo e destinado o terreno para o projeto. A Câmara teria feito mais uma de suas tradicionais trapalhadas. O terreno viraria estacionamento ou depósito de lixo. E assim foi, de fato, por muito tempo. Até quê? Até que a Federação Gaúcha de Futebol, interessada em construir seu edifício-sede, estendeu olhar cobiçoso para aquele privilegiadíssimo local.

Pintou negócio. De onde menos se poderia imaginar, apareceu dinheiro para que se completasse a ofensa ao caráter democrático do povo de Porto Alegre. Assim: a) o terreno seria dividido ao meio; b) a Federação ficaria com uma das metades do que não lhe pertencia; e c) em retribuição, entregaria à cidade, pronta e acabada, a fatídica obra. "Não, muito obrigado!", diríamos, por certo, eu e o leitor destas linhas. Afinal, não faltam obras mais urgentes e necessárias à nossa população. Mas nossa Câmara, liderada pelo empenho dos vereadores da bancada do futebol disse o contrário. E nos brindou com essa histórica ridicularia.

Nem virando a cidade pelo avesso se congregariam em Porto Alegre, felizmente, adeptos do comunismo em número suficiente para reunir os meios necessários à construção do Memorial. No balcão das negociações da FGF com a bancada do futebol, ele saiu de graça. Bem como costumam ser as coisas comunistas - tudo, sempre, com o dinheiro dos outros. Então, sob o egrégio patrocínio dos pagantes de ingresso para jogos de futebol e dos cidadãos de Porto Alegre, o comunismo, varrido a grito do Leste Europeu, ganhará um vexatório memorial em Porto Alegre. Será nossa homenagem a um mau brasileiro, traidor de sua pátria, agente soviético no Brasil, responsável direto e indireto pela morte de muitos brasileiros.

Tais mortes deveriam estar elencadas no prontuário de Prestes! Sua Coluna, tão famosa quanto inútil, foi um delírio do líder que lhe deu o nome. Arregimentados morriam de doenças e de fraqueza. Enquanto se deslocou pelos famosos 25 mil km, fugindo dos combates contra as forças oficiais, deixou um rastro de torpezas e destruição (1). Após sua conversão à foice e ao martelo, aliou-se ao profissionalismo assassino do Partido Comunista da URSS e, nessa condição associou-se aos autores de repetidos genocídios. Também caem na sua conta os mortos da Intentona Comunista de 1935.

Lamentável, também, foi o tom das matérias que divulgaram o gesto democrático, cívico e ordeiro da pequena marcha pela avenida Borges de Medeiros até as obras do Memorial no dia 8. Habitualmente, o esquerdismo descerebrado que se alojou nas redações de certos veículos procura desqualificar como fascista todo e qualquer repúdio ao comunismo. Foi o que, ora explícita, ora veladamente, fizeram neste caso. Tais notas são redigidas como se ser anticomunista fosse fascismo e não fosse uma imposição moral incidente sobre todo cidadão que conheça História! Aliás, essa mesma História ensina que, ao longo do século passado, os comunistas, sem qualquer constrangimento, eliminaram dezenas de milhões de seus próprios conterrâneos civis, sob idêntica alegação! Eram ditos fascistas e destinados às fossas coletivas todos que se opunham à malignidade do totalitarismo vermelho, que se auto condenou com o famigerado Muro, cujo fim foi celebrado, no domingo passado, para irritação de certos redatores.

(1) NARLOCH, Leandro. Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil . Editora Leya, 2009.
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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

09/11/2014

Na recente campanha presidencial, o lado em que 51 milhões de brasileiros se arregimentaram foi apresentado por Lula como síntese de todas as perversões e maldades. Dando continuidade a isso, na última terça-feira, o Diretório Nacional do PT divulgou uma Resolução que reduz a pó a busca de entendimento sugerida pela presidente no dia 6. A referida Resolução diz como deve ser a luta pela hegemonia, que é a supremacia do pensamento partidário sobre a sociedade. Para viabilizar isso, o partido insiste na sua reforma política, na imposição do controle social da mídia (agora com o nome bem bolivariano de "Lei da Mídia Democrática"), e na retomada da criação dos conselhos populares recentemente barrados pela Câmara dos Deputados. Assim é o petismo.

 Sob vários aspectos, o documento é uma resoluta declaração de guerra. Lá pelas tantas diz assim, referindo-se à campanha recém finda: "A oposição, encabeçada por Aécio Neves, além de representar o retrocesso neoliberal, incorreu nas piores práticas políticas: o machismo, o racismo, o preconceito, o ódio, a intolerância, a nostalgia da ditadura militar". Não importa que nada disso tenha acontecido. É da mera afirmação que os resultados são colhidos. Também assim é o petismo. E, mais adiante: "A oposição, ressentida, insiste na divisão do país".

Claro que a nação resulta dividida! É uma divisão feia, fruto de retórica maligna, como a do vociferante Lula e como a que explodiu na Resolução mencionada acima. No entanto, se a divisão entre grupos sociais é indesejável, a divisão para o jogo político se faz necessária. A superação dos conflitos fantasiosos produzidos pelo marketing da tal hegemonia exige que se estruture e consolide o antipetismo. Havendo o petismo, o antipetismo torna-se uma imposição da racionalidade política. As redes sociais servem à construção de uma oposição, mas não dispensam a oposição parlamentar, com representatividade, mandato, tribuna e voto. Por isso, a defesa da democracia clama por unidade suprapartidária oposicionista, compondo, nos parlamentos, frentes que restabeleçam o democrático e indispensável papel da oposição.

O fracionamento dos partidos pelo poder de compra do governo da República precisa ser vencido por uma força política organizada e coesa que expresse o que metade dos brasileiros manifestou com seus votos e prossegue reafirmando em sua mobilização nas redes sociais e nas ruas. Que haja, enfim, governo e oposição atuantes no país. E que nunca mais tenhamos que votar num sistema no qual poucos ainda insistem em confiar cegamente.

ZERO HORA, 9 de novembro de 2012
 

Percival Puggina

07/11/2014

 


 Raras vezes se ouviu semelhantes confissões. Confessaram em dueto, Lula e Dilma. "Eles não sabem o que somos capazes de fazer!" proclamou ele, enfático. "Nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição!" admitiu ela, faceira.

E assim foi. Nunca se viu tanta baixaria. Nunca a verdade foi tão chicoteada pela mentira. Nunca se disse tanta estupidez, porque a estupidez, de algum modo, renderia votos. Desde as eleições que sucederam o Plano Cruzado, em 1986, não se praticava no Brasil um estelionato eleitoral de tais proporções. Todas as providências, todas as urgentes providências demandadas pela péssima situação econômica e pelas deficitárias contas públicas agravaram-se por terem sido postergadas para depois das eleições. Ainda se discutem as urnas e já os preços administrados pelo governo começam a subir. A realidade nacional não podia chegar ao conhecimento do povo. Menos ainda na hora de o povo deliberar sobre quem estava mais capacitado para enfrentar a realidade.

Em todo o país, os militantes e agentes petistas exploravam a ignorância alheia advertindo que se Dilma não vencesse a eleição o Bolsa Família deixaria de existir. E isso era repetido milhões de vezes, com a face lenhosa de quem mantém acirrada inimizade com os fatos. Aécio Neves já havia apresentado e aprovado na CCJ do Senado projeto de lei que torna o Bolsa Família programa de Estado. Algo que o PT não fez, exatamente para não prejudicar sua chantagem política contra os miseráveis do país.

Numa eleição acirrada, apenas esse diabo solto já seria suficiente para alterar o resultado do pleito. Mas houve muito mais! Qualquer prefeita, candidata a reeleição, que fizesse dez por cento do que foi feito na campanha de Dilma teria seu nome retirado das urnas por decisão da Justiça Eleitoral. Imagine uma prefeita cujos garis fossem incumbidos de entregar seus "santinhos" de porta em porta! Imaginem o que faria a Justiça contra uma prefeita, lá do interior, cujos CCs se pusessem ao telefone ameaçando os moradores de determinado bairro de que as obras em execução seriam suspensas se a chefe não fosse reeleita!

Já não falo nas muitas mentiras e acusações vis que arrastaram para esta campanha o qualificativo de "a mais suja da história da República". Estas, as mentiras, revelam o fundo da alma de quem as propaga. Atenho-me, antes, ao que todos viram, assistiram e souberam. Numa eleição em que a diferença de votos ficou em dois pontos percentuais, bastaria que um desses abusos e ilegalidades não fosse cometido para que o resultado final se invertesse. Mas se entende. Quem olha a situação nacional e o esforço do petismo em impor sua hegemonia (intenção reiterada na recentíssima Resolução do Diretório Nacional do PT), sabe que o partido governante não poderia perder as eleições. Este pleito presidencial de 2014 foi disputado sob condição especialíssima: havia nele um partido que simplesmente não saberia viver sem tudo que já tem como coisa sua no patrimônio da União.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

02/11/2014

 

Todo dia recebo mensagens de petistas. Muitas procedem de gente boa, que tenta justificar moralmente seu voto em Dilma sob a alegação de que "corruptos por corruptos eu fico com os que, na minha opinião, estão conduzindo melhor o país".

Tal frase é produto de duas informações falsas. Segundo ela, a) os números do governo petista seriam favoráveis quando comparados com os do governo tucano; b) se o governo petista foi uma infindável sucessão de escândalos, com o alto comando do partido mudando-se para a Papuda, também no governo FHC houve corrupção, "como todo mundo sabe". Sabe? Veremos.

1) Os números favoráveis do governo petista

É sempre difícil e impreciso comparar situações sociais, políticas e econômicas em épocas e circunstâncias diversas. Mesmo assim, julgo importante lembrar que os anos de Lula foram mágicos para o Tesouro Nacional e para as contas públicas. Naquele período, o mercado chinês foi às compras com uma voracidade inexcedível em qualquer momento da história. Centenas de milhões de chineses passaram a demandar grandes quantidades de quase tudo que o mundo podia oferecer. Nossas commodities alcançaram preços antes impensáveis.

No governo Itamar Franco, o Brasil precisou vencer uma inflação de 80% ao mês e reverter, com severo ajuste fiscal, a má fama brasileira no mercado mundial. O governo Lula surfou na onda chinesa. O estouro dos mercados mundiais de 2008 encontrou o Brasil bem protegido por um ortopédico colchão de divisas, levando a gestão petista a julgar desnecessário adequar-se. Enquanto outros países faziam como a formiga da fábula de Esopo, o PT, deslumbrado pelo que considerava êxitos seus, brincava de cigarra. Por isso, os 12 anos petistas resultaram desastrosos política, moral, econômica e financeiramente.

O PT gosta de comparar certos dados de 2014 com os de 2002 (último ano do governo tucano). Omite, porém, o fato de que nos meses que precederam a vitória e a posse de Lula, o medo tomou conta dos mercados. A bolsa caiu, o dólar disparou e os preços subiram como precaução ante o que aconteceria se o PT, ao assumir, fizesse o que, irresponsavelmente, exigia de seu antecessor. Tal comparação, portanto, alcança requintes de desonestidade: é o PT cobrando de seu opositor o mal que ele próprio causou por ter feito uma oposição perversa e moralmente desonesta.

Os fatos divergem do que o PT gosta de proclamar: o Brasil deve muito ao governo de FHC. Agora, sob a gestão petista, apresenta um desempenho muito inferior ao dos países de seu entorno, que foram mais prudentes nas suas contas. O Brasil de Lula e Dilma malbaratou os ganhos herdados e se reencontra, agora, com os velhos males da inflação e da recessão. Ao fim e ao cabo, a gestão petista foi melhor? Melhor em quê?

2) O alvará de boa conduta passado pelo PT ao PSDB

Pela cartilha petista, escândalo no território inimigo era e continua sendo coisa que ou existe ou se fabrica. Onde houvesse o mais tênue fio de fumaça da suspeita o partido era o primeiro a chegar, com um tonel de gasolina. Apontava o dedo acusador com a suposta autoridade moral de quem jamais contou dinheiro mal havido. Foi assim que o partido, sem muito esforço, diga-se, destruiu moralmente os governos Collor e Sarney. Foi assim que o partido avançou contra o governo FHC, requerendo mais de duas dezenas de CPIs, sempre com apoio da mesma mídia que o PT hoje execra. As investidas foram tantas, tão contínuas e violentas que o prestígio do ex-presidente despencou dos elevados índices a que chegara nos pleitos que venceu. Quanto de verdade havia naquelas acusações? Não pergunte isso ao PT. Sabe por quê? Porque o PT concedeu ao PSDB um atestado de boa conduta.

Com efeito, em 2003, com a posse de Lula, os petistas não mais dependiam das CPIs para investigar coisa alguma. Passavam a dispor de todos os meios para isso. Ministério da Justiça, Controladoria-Geral da União, ABIN, Polícia Federal, Receita Federal, eram apenas alguns dentre os muitos instrumentos disponíveis. Sem esquecer, ainda, gavetas e arquivos de todos os ministérios, repartições e empresas estatais do país. Entretanto, surpresa! Empossado Lula, a inquisição petista deve ter embarcado em Alcântara rumo a algum asteróide distante. Nada foi investigado! O outrora refinado faro não capta mau cheiro sequer quando vem da sola do próprio sapato. Seus sherloques, seus produtores de dossiês, seus assassinos de reputações, que antes pareciam saber de tudo que acontecia na República, foram acometidos de um alheamento, de um autismo em que não apenas ninguém está a par do que acontece na sala ao lado, mas é a própria mão direita a primeira a desconhecer o que a esquerda faz. Sobre essa duplicidade de conduta nada se fala, nada se escreve. Quando não há explicação moralmente aceitável é preferível deixar o dito pelo não dito. E Lula maneja com perfeição a prolongada retórica do silêncio. Se, na oposição, acusavam sem evidências, cometeram crimes de injúria e difamação. Se, no governo, dispunham de meios para investigar e não o fizeram, cometeram crime de prevaricação.

Já cansei de escrever sobre isso. E só colho silêncio como resposta. É um silêncio que comprova a tese: o melhor atestado de boa conduta do PSDB é passado pelo PT. O resto é conversa fiada. Não, não sou tucano. Nem idiota.

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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

30/10/2014

Escreverei sobre fato novo, valendo-me de notícias velhas. Não faz um ano, nem dois, nem três, que os meios de comunicação e as redes sociais vêm divulgando análises técnicas independentes, estudos elaborados em universidades, opiniões de juristas, alarmantes experiências feitas por hackers e insistentes alertas de que o sistema de votação utilizado no Brasil é vulnerável e de que a transmissão de dados via internet também não proporciona segurança. É insistentemente dito que essas deficiências fazem com que o sistema usado em nosso país seja refugado por muitos outros. Salta aos olhos mais desatentos que um sistema de votação que não permite recontagem tem um gravíssimo e imperdoável pecado original.

Mais recentemente, após recusas em submeter o sistema a auditorias independentes, chegam às redes sociais notícias de urnas não zeradas no início da votação e de disparidade entre os resultados médios das seções com identificação digital e as seções com identificação documental em situações análogas. E por aí vai. É possível que o clima de desconfiança se nutra, também, de informações falsas. Mas as informações falsas só transitam graças à desconfiança propiciada, de um lado, pela inconfiabilidade do sistema e, de outro, pelas eloquentes insinuações de Dilma e de Lula sobre o que seriam capazes de fazer para vencer.

Não se trata de uma desprezível e deselegante inconformidade com a derrota. Eu não me prestaria para esse papel. Trata-se de algo grave, a cobrar posicionamento dos cidadãos que se sentem civicamente responsáveis. Instala-se, no país uma pesada suspeita sobre a higidez e a invulnerabilidade do sistema, conduzindo à incertezas sobre a legitimidade dos mandatos saídos das urnas dos dias 5 e 26 de outubro.

Sei que dar satisfação a torto e a direito sobre os porquês de suas escolhas e decisões, ou sanar inquietações cívicas, não são tarefas que se contem entre as atribuições jurisdicionais mais urgentes e relevantes do Tribunal Superior Eleitoral. Mas neste caso não é exatamente assim. O que milhões e milhões de brasileiros, nestes dias, estão expressando como podem nas redes sociais não se soluciona com um dar de ombros das autoridades. Não silencia ante a voz do trono. Não some por decreto. Não cabe em nenhuma gaveta. Não se enterra nos desvãos do tempo. Nas democracias (muitas delas proibiram o uso desse modelo), a confiabilidade do sistema eleitoral é tema de elevadíssimo interesse público, questão altamente sensível, sobre a qual não pode haver dúvidas. E, menos ainda, inúmeras, imensas e reiteradas dúvidas.
Muito já foi escrito sobre o quanto era politicamente impróprio confiar a presidência da Corte que conduziria este pleito a um ex-funcionário do partido governista. Agora, surpreende o silêncio do TSE sobre aquilo que mais se fala no país: as suspeitas sobre a eleição por ele presidida. Já surpreendia antes, quando os cidadãos se angustiavam e não passava dia sem que alguma informação circulasse, potencializando as incertezas. E surpreende ainda mais agora, quando denúncias e inconformidades surgem dos pontos mais variados do território nacional.

Para bem da democracia, da respeitabilidade das instituições e da legitimidade dos mandatos, que tudo seja auditado e investigado. E que estas sejam as últimas eleições feitas segundo esse método de votação e transmissão de dados. Afinal, ao longo dos anos, quase uma centena de países vieram conhecer o modelo brasileiro. Nenhum o adota.
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* Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

27/10/2014

Eram 20 horas do dia 26 quando os números da eleição presidencial me caíram diante dos olhos, saídos do éter e cercados das mesmas inconfiabilidades que caracterizam as pesquisas de intenção de voto. Mas desta vez eram números para valer. Dilma e o PT ganharam mais quatro anos para destruir o Brasil e o caráter da população brasileira.

 Vieram-me à mente as palavras de Mateus 11, 21-22.

“Ai de ti, Corazim e ai de ti, Betsaida! Porque, se os milagres que fiz nas vossas ruas tivessem sido praticados em Tiro e Sidom, há muito que o seu povo se teria arrependido com vergonha e humildade. Verdadeiramente, Tiro e Sidom estarão melhor do que vocês no dia do juízo!”

 Elas são bem adequadas ao momento. Qualquer outro povo que tivesse, desde 2005, quando estourou o primeiro escândalo do governo Lula, conhecido o que o Brasil conheceu, sabido do que o Brasil ficou sabendo, contemplado o futuro que o Brasil contempla, sido fatiado em alas e conflitos como o Brasil foi, andado nas companhias com que o Brasil andou, feito os negócios que no Brasil se fizeram, perdido tudo que no Brasil se jogou fora, teria enxotado seu governo a votos na primeira oportunidade. O Brasil já perdeu a terceira. Se o que acontece nas nossas ruas ocorresse em país sério, seu povo se teria arrependido com vergonha e humildade. Ainda não chegou para nós o dia em que o Brasil tomará juízo.

Felizmente, metade da nação já despertou. A disputa começou muito mais desigual. Ao longo dos últimos meses, porém, o petismo, sem meias nem peias, que se julga dono do Brasil, foi produzindo o mais incômodo de seus resultados: o antipetismo consciente, crescente e comunicante, que se irá organizar porque exatamente aqui, onde o PT julga que tudo termina, é onde tudo começa. O que era disperso ganhará coesão.

Já que o PT preferiu dividir, dividido está. E o que foi dividido saberá unir-se. Em dois anos haverá novas eleições e, desta vez, os antipetistas sabemos quem esteve e quem está com quem. Isso o PT e o Congresso Nacional ficaram sabendo: metade do Brasil é antipetista. E todo parlamentar que não for assumidamente antipetista vá cantar na sua freguesia porque terá metade da nação contra si.

• Arquiteto, empresário, escritor, membro da Academia Rio-Grandense de Letras, autor de “Crônicas contra o Totalitarismo”, “Cuba, a tragédia da utopia” e “Pombas e Gaviões”.
 

Percival Puggina

26/10/2014

 

 Dentro de poucas horas saberemos o que foi fecundado no ventre das urnas e qual o aprendizado nacional a partir da experiência acumulada nestes últimos anos. Aguardo com ansiedade cívica a abertura da porta da maternidade para as notícias do início da noite. Afinal, não nos faltam escândalos, más notícias, nem nuvens negras no horizonte.
Como parlamentarista, sou contrário a esse sistema de eleições que, ingenuamente, entrega tanto poder a uma só pessoa e seu partido. Contemplo o futuro com expectativas que vão além do resultado das eleições. Já temos definidos os parlamentos federais e estaduais. Os partidos políticos e suas bancadas não podem continuar, por ação e omissão, fazendo tanto mal ao Brasil. Não me representam! Mas há muitos parlamentares que sim, o fazem. Portanto, em vez de tudo esperar de uma pessoa só (quem quer que venha a presidir a República) eu prefiro confiar nos melhores deputados que saíram das urnas do dia 6.
Sei que eles existem. Não são tantos quanto conviria, nem tão poucos que nada possam fazer. Sei que quase todos ouviram de seus eleitores esta interrogação: “O que poderás fazer lá, sozinho no meio das feras?”. Essa pergunta trata de um problema real e é inevitável que esteja repercutindo fortemente na consciência de cada um deles. É para essas figuras públicas, para os melhores homens e mulheres de nossos parlamentos, que se dirigem, neste momento cívico, minha preocupação, a acalentada sugestão que aqui exponho, e minhas orações.
Não me conformo com saber que os bons sejam, inexoravelmente, sobrepujados pelos maus. Não precisa ser assim! O que eu estou sugerindo é que, entre tantas vigorosas frentes parlamentares já existentes nas Assembleias Legislativas e no Congresso Nacional, se articulem e passem a operar frentes parlamentares integradas por membros de diversas bancadas, unidas pelos ideários liberais e conservadores, movidas por reta intenção, dedicadas ao desenvolvimento econômico e social do país, com sólida adesão aos melhores princípios e aos mais elevados valores.
Que frentes parlamentares podem existir e operar de modo suprapartidário, a experiência já demonstrou com fartura de bem sucedidos exemplos. Pois que os bons, que os melhores, façam a sua e ponham-na a funcionar. E vamos ver quem pode mais! Vamos ver quem vai conquistar o respeito da população. Muito bem pode ser realizado e muitos males podem ser impedidos, contanto que os bons se organizem como força política indispensável à própria respeitabilidade de cada um, à honorabilidade do Brasil e ao bem de todos na pátria comum.