Percival Puggina

28/10/2011
NO ANO DA GRAÇA DE 2014 Percival Puggina Quem já passou pela porta que dá acesso às salas de embarque doméstico do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sabe do que estou falando. A partir dali, tudo se torna impreciso. Esfumam-se os compromissos, dissolvem-se as agendas, o futuro se faz incerto e a paciência é testada além das fronteiras da civilidade. Aquele lugar me faz lembrar a sentença que Dante Alighieri esculpiu nos umbrais do Inferno: Abandonai toda esperança, vós que entrais. Dia desses tocou-me estar naquele corredor. Meu voo deveria sair às 8 horas, mas somente consegui embarcar lá pelas duas da tarde, após várias mudanças de sala de espera (parece impossível, ali, coincidirem número de voo e portão de embarque). Enquanto uma funcionária de empresa aérea corria de sala em sala chamando passageiros na base do grito, comentei com um vizinho de banco o caos reinante. Respondeu-me ele: Até a Copa de 2014 tudo estará solucionado. Horas depois, já embarcado, aquelas palavras ainda repercutiam em minha mente. Até a Copa. Quando a Copa começar. Em 2014. Por enquanto vamos assim, mas em 2014... Percebi que esse mesmo ano integra o horizonte de quase todas as promessas eleitorais feitas nos Estados em 2010. Os principais temas suscitados na campanha sucessória do ano passado, temas candentes dos discursos oposicionistas que levaram ao poder tantos governantes, já em janeiro foram imediatamente catapultados para aquele ano, para o ano da Copa, para o término dos atuais mandatos - o Ano da Graça de 2014. Anote aí: 2014 vai ser tudo de bom...

Érico Valduga

25/10/2011
DE ONDE SAIRÁ O DINHEIRO DO METRÔ Érico Valduga, em Periscópio Noves fora a propaganda, os números apontam que a parte da União é menor do que a soma dos recursos locais no investimento de R$ 2.488 bilhões Há quatro dias, em texto assinado no Jornal do Comércio, a deputada Manuela D?Ávila (PCdoB) referiu que o governo federal, aquele que embolsa 63% do bolo tributário total do país, e transformou a federação brasileira em ficção, é o ?grande financiador? do metrô de Porto Alegre. Ela está errada, mas erra acompanhada de um bocado de gente do chão farroupilha, induzido a assim pensar pela propaganda oficial, que, no caso, teve grande colaboração da imprensa provinciana na recente visita ?histórica? de Dona Dilma Rousseff ao Estado. A presidente da República anunciou, então, o investimento federal de R$ 1 bilhão na obra, a fundo perdido, mesmo montante que, horas antes de aqui chegar, anunciara para o metrô de Curit iba. A quantia deve ser semelhante à destinada aos trens de Salvador e Recife, e certamente inferior à de Brasília. Os valores do empreendimento e a origem do dinheiro foram informados pelo governador Tarso Genro ao mesmo jornal na semana anterior. O projeto da linha Rua da Praia-Fiergs está orçado, em princípio (isto é Brasil), em R$ 2.488 bilhões, o equivalente a 7% do Orçamento estadual do corrente ano. O total será custeado desta forma: o bilhão federal, R$ 600 milhões da Prefeitura da Capital, R$ 300 milhões do Governo do Estado, R$ 265 milhões de isenções fiscais municipais e estaduais e R$ 323 milhões de financiamentos a prováveis parceiros privados. O desembolso começa no próximo ano e será concluído em 2016, na melhor das hipóteses. Não há um patrocinador de relevo, ainda que o Município possa destacar-se na comparaç 27;o de seus recursos com os das outras duas esferas de governo.

Érico Valduga

24/10/2011
O OVO DA SERPENTE Érico Valduga, em Periscópio Tarso Genro fala em substituir instituições, mas quem asilou no país o assassino Cesare Battisti, contrariando o Conare e a lei dos Estrangeiros? Disse o governador Tarso Genro, na abertura do congresso do Ministério Público contra a corrupção, quinta-feira, em Porto Alegre, que ?criou-se um jornalismo de denúncia? no país, que ?usa a corrupção como argumento para dizer que as instituições não funcionam e tentar substituí-las?. Talvez ele tenha um fundo de razão na afirmação, o que não significa que seja verdadeira, pois algo muito parecido aconteceu no Rio Grande do Sul quando dirigia o Ministério da Justiça e o subordinado Departamento de Polícia Federal, nos três anos que antecederam a eleição de 2010. É ocioso, prezados leitores, recordar os numerosos episódios de imputações vazias de crimes que vocês conhecem, mas cabe le mbrar um deles, por paradigmático, que foi a investigação policial e a denúncia circense de seis promotores públicos federais no caso ajuizado em Santa Maria contra adversários políticos do petismo. Aí não era ?jornalismo de denúncia?. Quando lhe convém, e ao petismo cevado na corrupção desde o Mensalão, o advogado que governa o Estado esquece que a imprensa não produz fatos delituosos contra as instituições, e muito menos tenta que as instituições sejam substituídas. Tudo o que tem sido publicado, para espanto da sociedade, se origina de investigações policiais e de órgãos fiscalizadores do próprio governo. Os meios de comunicação não inventam nada que não tenha acontecido, pois trabalham com fatos. Quanto a tentar substituir as instituições, é acusação grave, que o governador nã o detalhou (fez como a imprensa que ele diz existir) pelo simples fato de que não se pode detalhar o que não existe. Mas está coberto pela liberdade de expressão, que lhe permite até criar teses estranhas, na pretensão de bloquear a publicação de denúncias de malfeitorias na União, as quais já derrubaram cinco ministros e ameaçam, agora, o governador petista do Distrito Federal, José Roberto Arruda. Ele acaba de ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República.

Percival Puggina

24/10/2011
Lembro de um tempo em que, para retirar dinheiro da conta bancária era preciso comparecer à agência e apresentar no balcão de atendimento um cheque no valor a ser sacado. O funcionário ia até uma caixinha (mais ou menos como é ainda hoje nos nossos retrógrados cartórios de registros de títulos e documentos) e conferia a assinatura. Depois, ia até outra caixinha e anotava na ficha pessoal do correntista o valor do cheque que seria pago no caixa, mais ou menos por ordem de chegada. Se não era bem assim era algo muito parecido. Hoje, vai-se muito menos às agências bancárias. Não há por que fazê-lo, graças aos débitos em conta, aos caixas eletrônicos, aos cartões de crédito e às operações seguras através da internet. Tentei descobrir o reflexo desses avanços tecnológicos nos quadros de pessoal do sistema bancário nacional. Não encontrei algo atualizado, mas identifiquei que o grande impacto ocorreu nos anos 90 e implicou em cerca de 400 mil postos de trabalho fechados, equivalendo a cerca de 50% do total do setor. Até aí nada de mais. Se a preservação de métodos atrasados e dispendiosos para garantir empregos fosse coisa boa, a regressão a métodos ainda mais superados e onerosos seria ainda melhor. Voltaríamos ao artesanato e à agricultura de subsistência. A um passo da pedra lascada e do tacape. O combate às modernas tecnologias é das coisas mais retrógradas e vãs que se possa conceber. Mas há alguns probleminhas que estão a exigir reflexão da sociedade sobre o nosso sistema bancário. Todos os admiráveis avanços tecnológicos dos bancos brasileiros se refletiram em custos para os correntistas e em aumento dos lucros das instituições para percentuais sem comparação nos quadros internacionais. E sem qualquer repercussão nos padrões sociais dos funcionários remanescentes. Isso está errado e não aconteceria se o sistema financeiro nacional não contasse, em suas prerrogativas, com o elevado patrocínio do Estado brasileiro. Não basta fiscalizar o sistema para que ele se mantenha sadio. É preciso controlar sua ganância para proteção dos consumidores dos serviços bancários. E para benefício dos funcionários. Sei, sei porque conheço, o nível de estresse a que as demandas de produtividade levam os bancários, não raro constrangidos, para além de suas atividades rotineiras, a atingirem metas em corretagem de seguros, vendas de serviços e de aplicações das instituições. Não sou contra indicadores de eficiência, gestão por metas e aumentos de produtividade. Mas o que acontece no sistema bancário ultrapassa todas as medidas quando confrontado, por outro lado, com indicadores de respeito à pessoa humana. Não saciados com os juros cobrados, os bancos ainda se regalam com as escandalosas taxas que aplicam aos serviços. Recentemente circulou na rede um texto assemelhando a conduta dessas instituições a uma padaria que, sobre o preço do pão que fornecesse, ainda fizesse o cliente pagar pela existência da padaria, pela abertura das portas, pelo acesso ao pão, pelo embrulho do pão e por aí afora. A recente greve dos bancários, prolongada por mais de mês, foi um ato de desrespeito dos banqueiros para com seus funcionários e clientes. A indispensabilidade dos serviços que prestam é privilégio desse ramo de atividade, mas não é motivo para as explorações que promovem ao longo de sua cadeia produtiva. Zero Hora, 23/10/2011

Autor desconhecido

14/10/2011
DIÁLOGO ENTRE DOIS FETOS GÊMEOS Autor desconhecido No ventre de uma mulher grávida estavam dois bebês. O primeiro pergunta ao outro: - Você acredita na vida após o nascimento? - Certamente. Algo tem de haver após o nascimento. Talvez estejamos aqui principalmente porque nós precisamos nos preparar para o que seremos mais tarde. - Bobagem, não há vida após o nascimento. Como verdadeiramente seria essa vida? - Eu não sei exatamente, mas certamente haverá mais luz do que aqui. Talvez caminhemos com nossos próprios pés e comeremos com a boca. - Isso é um absurdo! Caminhar é impossível. E comer com a boca? É totalmente ridículo! O cordão umbilical nos alimenta. Eu digo somente uma coisa: A vida após o nascimento está excluída ? o cordão umbilical é muito curto. - Na verdade, certamente há algo. Talvez seja apenas um pouco diferente do que estamos habituados a ter aqui. - Mas ninguém nunca voltou de lá, depois do nascimento. O parto apenas encerra a vida. E afinal de contas, a vida é nada mais do que a angústia prolongada na escuridão. - Bem, eu não sei exatamente como será depois do nascimento, mas com certeza veremos a mamãe e ela cuidará de nós. - Mamãe? Você acredita na mamãe? E onde ela supostamente está? - Onde? Em tudo à nossa volta! Nela e através dela nós vivemos. Sem ela tudo isso não existiria. - Eu não acredito! Eu nunca vi nenhuma mamãe, por isso é claro que não existe nenhuma. - Bem, mas às vezes quando estamos em silêncio, você pode ouvi-la cantando, ou sente como ela afaga nosso mundo. Saiba, eu penso que só então a vida real nos espera e agora apenas estamos nos preparando para ela?

Percival Puggina

14/10/2011
É preciso reconhecer. A mitificação de Lula no nível que alcançou só poderia ocorrer mediante o invulgar conjunto de circunstâncias que alia características pessoais do líder; notáveis estratégias de poder e de comunicação social; circunstâncias internacionais favoráveis à economia brasileira; manutenção, durante boa parte de seu governo, das políticas de responsabilidade fiscal iniciadas com Itamar Franco; dotação de significativos recursos para o programa Bolsa Família; simpatia internacional ao perfil do operário no poder cuidando dos pobres. E por aí vai. Oitenta e tantos por cento de aprovação no mercado interno, a condição de celebridade internacional e a louvação da mídia mundial compõem um irresistível quadro de mitificação que colocam Lula num altar onde só se pode depositar flores. Critique quem quiser no país, mas não faça isso com Lula. Pega muito mal e retira de você credibilidade para qualquer outra coisa que pretenda dizer. É inútil mostrar que o governo petista se encaminha para fechar uma década com o país ostentando os piores indicadores, seja entre os membros do BRIC, seja entre nossos vizinhos da América Ibérica: a economia que menos cresce, a maior taxa de juros, a menor taxa de investimento, a maior inflação e a maior carga tributária. E as funções essenciais do governo (Educação, Saúde, Segurança e Infraestrutura) numa precariedade que ninguém, em sã consciência, deixará de reconhecer. São afirmações inúteis. Tudo se passa como se, depois de oito anos no poder, Lula nada tivesse a ver com isso. A ele, apenas créditos. No entanto, há débitos pesados na conta do lulismo instilado ao país. Em artigos anteriores, tenho afirmado que a política exige senso de realidade, que os bons estadistas são pessoas realistas, são pessoas afastadas de utopias e devaneios e interessadas em respostas corretas para duas interrogações essenciais: qual é o problema? qual é a solução? Nesse sentido, reconheça-se, ao romper com os delírios esquerdistas do PT, Lula conseguiu acertos e afastou-se de muitos erros. Mas na política, o realismo de Lula tornou-se cínico, desprovido de restrições de ordem moral. Abrigou à sombra do poder as piores figuras da política nacional. Não apenas as acolheu. Foi buscá-las para compor a base do governo. Entregou-lhes poder, cargos, fatias do orçamento e poderosas empresas estatais. Teve olhos cegos e ouvidos moucos para as patifarias que proliferaram do topo à base da pirâmide do governo. Seu partido, quando na oposição, brandia indignações morais, pedia CPI para carrocinha de cachorro quente e levantava suspeições sobre a honra de quem se interpusesse no seu caminho. No poder, foi o que se viu, o que ainda hoje se vê, e o quanto já veio à superfície nos primeiros meses da presidente Dilma, sob silêncio conivente das instrumentalizadas organizações sociais cuja boca foi emudecida por cargos e recursos públicos. A corrupção, casada em união estável e comunhão de bens com a impunidade, alcançou níveis sem precedentes. Estudo da Fiesp adverte para o fato de que ela consome algo entre 1,4% a 2,3% do PIB e custa cerca de R$ 69 bilhões nas contas da gatunagem fechadas a cada réveillon. A nação chegou ao fastio e à náusea dos escândalos de cada dia. Há uma indignação silenciosa. Ensaiam-se mobilizações de repulsa à corrupção. Mas elas são escassas, pequenas e de utilidade duvidosa. Por quê? Porque a corrupção pode ter filiais até na mais miserável prefeitura do país, mas a matriz está onde está a grana grossa, no poder central da República, para onde convergem todos os cargos, todas as canetas pesadas, todas as decisões financeiras, todos os contratos realmente significativos. E 23% do PIB nacional. O resto é resto. Mas não há como apontar o dedo nessa direção sem atingir em cheio o peito de quem, durante oito anos, desempenhou a mesma função de seus antecessores. E a estes, Lula, seu partido e fieis seguidores, sistematicamente, responsabilizavam por toda desonestidade existente no país. Quem quer que sentasse para governar, logo vinha o Fora Collor, o Fora Sarney, o Fora FHC. Alguém sabe me dizer por que, de repente, a corrupção não tem nome próprio nem governo definido? Eu sei. O lulismo amordaçou a moralidade nacional. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Érico Valduga

09/10/2011
SEGURANÇA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES TEM MAIS HOMENS QUE O PATRULHAMENTO DAS FRONTEIRAS DO PAÍS Érico Valduga, em Periscópio 1.211 vigilantes e seguranças para proteger cinco cortes, ante 900 a mil policiais na fiscalização de 15.7 mil quilômetros de divisas com 10 países A mais alta esfera do Poder Judiciário, representada por cinco tribunais superiores, tem em Brasília mais seguranças e vigilantes que a Polícia Federal consegue manter nas fronteiras do país. Nos 15,7 mil quilômetros limítrofes, a PF tenta combater a passagem de armas e drogas, além de frear o contrabando, com um grupo que varia entre 900 e mil agentes. Nos tribunais, um batalhão de 1.211 vigilantes e seguranças cumpre uma missão bem menos engenhosa: garantir a proteção de 93 ministros e o controle do entra-e-sai nos prédios do Supremo Tribunal Federal (STF), do Superior Tribunal de Justiça (STJ), do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e do Superior Tribunal Militar (STM). São 13,2 guardas para cada um dos brasil eiros que alcançaram o topo da pirâmide da magistratura. Quadro avesso ao do Fórum de São Gonçalo, onde trabalhava a juíza Patrícia Aciolly, executada com 21 tiros sem que ao menos um guarda estivesse ao seu lado. Número que supera até mesmo a tropa de 969 vigilantes contratados para cuidar do cofre do Tesouro: as nove diretorias e a sede do Banco Central na capital federal. A elite do Judiciário ainda conta com um batalhão de 386 recepcionistas, 287 motoristas e 271 copeiros e garçons. Há também casos peculiares, como os 14 lavadores de carros do STJ e o grupo de cinco contratados para limpar as áreas envidraçadas do TST. Em quase 100% dos casos, são contratos de terceirização firmados com empresas especializadas em destinar pessoal à administração pública no Distrito Federal. Grupos que acumulam lucros para cada funcionário cedido. E, de acordo com um alto servidor do Judiciário, servem de catapulta para que parentes de servidores ou amigos de operadores do Direito abocanhem uma vaga junto ao poder. (Por Roberto Maltchik, O Globo, 9-10-2011)

Percival Puggina

08/10/2011
Nunca, nem em sonhos, despreze qualquer bandeira esquisita desenrolada e exibida como politicamente correta. Ela pode parecer frango congelado, coisa sem pé nem cabeça, mas atenção: não importa o tempo que leve nem os meios requeridos, cedo ou tarde, haverá militantes em número suficiente para mobilizar ingênuos e a bandeira vai em frente. Ou vai pela via do Congresso, ou pela do Judiciário, ou pelo aparelhamento de movimentos e conselhos criados e controlados pelos que a conceberam. E, quando nada disso funciona, sempre há alguma instituição internacional bem alinhada com os projetos de poder onde ela será cravada. A lista de antecedentes é imensa! Sem esgotá-la, lembro alguns. Durante anos, por exemplo, tentaram criar a tal Comissão da Verdade, cujos redatores sagrados definirão o que é verdadeiro e o que é falso em quatro décadas da nossa história. Algo tão ridículo quanto parece. Mas cresceu e já deu cria. Começam a pipocar filhotes da comissão em todo o país. Trazer as uniões homossexuais para o Direito de Família demorou um pouco mais. Mas os ministros do STF saíram do armário, substituiram-se ao Congresso, legislaram e pronto. Reduzir o embrião humano à condição de coisa dispensável pelo ralo da pia foi mais rápido, pela mesma trilha. Embrião não faz passeata. Como se vê, a coisa vem de longe e está apenas começando. Foi assim com os exageros do ECA, com a lei de quotas raciais, com as políticas de gênero, com as manipulações ideológicas dos concursos públicos e do ENEM, com os escandalosos livros didáticos do MEC, com o fim do ensino religioso. E anote aí: cedo ou tarde, como feto não vota, também estará aprovado o Estatuto que disciplinará sua extração em vida, aos pedaços. Não será diferente com o controle da imprensa. Lula assumiu a presidência em 2003 e já em 2004 o Ministério da Cultura apareceu com o projeto de lei dos audiovisuais, nascido do ?diálogo com alguns segmentos sociais?. Foi a primeira tentativa de impor esse controle. E a primeira inútil rejeição, porque é só uma questão de tempo e de achar o jeito. O recente Congresso da legenda que manda no país deixou bem claro o quanto é intolerável a opinião de quem se lhe opõe. Ao mencionar a corrupção, o partido proclamou que a combaterá sem esvaziar a política ou demonizar os partidos, sem transferir, acriticamente, para setores da mídia que se erigem em juízes da moralidade cívica, uma responsabilidade que é pública, a ser compartilhada por todos os cidadãos. Os ?setores da mídia? não perdem por esperar. Agora foi a vez da feminista que Dilma pôs na Secretaria Especial de Política para Mulheres. Do alto de suas tamancas de ministra, dona Iriny Lopes denunciou ao Conar o anúncio da Hope estrelado por Gisele Bündchen. Na opinião daquela autoridade federal, a peça reforça ?o estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual e ignora os grandes avanços alcançados para desconstruir práticas e pensamentos sexistas?. Estamos diante do mesmo tema - o desejo de controlar tudo. Até o pensamento! O totalitarismo é assim mesmo, voraz. Intolerável uma mulher enfeitar-se para seduzir o marido! Fosse para algum sexo casual, estaria tudo bem. Fosse para uma mulher, melhor ainda, Gisele ganharia medalha de honra das políticas de gênero. Mas no Brasil do politicamente correto, enfeitar-se para o marido virou dominação machista. Pára com isso, Gisele! Bota um camisolão comprido, de florezinhas. Roxas. Dona Iriny e o governo federal agradecem. ZERO HORA, 09 de outubro de 2011 .

Percival Puggina

07/10/2011
UM POUCO DE HUMOR Extraído do blog do Noblat EM TROCA DO NOBEL DE LITERATURA, SARNEY ACEITA PARAR DE ESCREVER Antes de receber o Nobel, Sarney teve de provar que não guardava nenhuma caneta nas mangas. Movidos pelo medo e pela angústia, a Academia Sueca decidiu conceder a José Sarney o Nobel de literatura com a condição de que ele nunca mais escreva uma linha. ?Nem hai-kai, versinho, redondilha, conto de uma página, receita de cozinha, bilhete para a empregada, nada, nada?, explicou, aliviado, Hans-Törben Mägnussen, presidente do comitê de seleção da láurea. Ao saber que o prêmio fora dado ao poeta sueco Tomas Tranströmer, Sarney soltou uma nota dizendo que começaria a escrever, ainda hoje à noite, a sequencia de Marimbondos de Fogo, e que não descansaria enquanto a obra não fosse traduzida para o sueco. A notícia caiu feito uma bomba na Suécia. Em Estocolmo, carros foram incendiados, lojas saqueadas e um grupo de cidadãos destemperados se reuniu diante do Palácio Real para pedir a cabeça da Rainha Sílvia. A polícia começava a restabelecer a ordem pública, quando a gráfica do Senado exibiu, na TV Brasil, o primeiro exemplar de Brejal dos Guajás com sinais diacríticos visivelmente escandinavos. Imediatamente, a tropa de choque sueca juntou-se aos manifestantes. Ao ser informado que o livro em breve chegaria às livrarias de seu país, o poeta Transrömer anunciou, da sacada de sua casa, que devolvia o prêmio e abandoava a carreira de escritor para se dedicar à escultura em sabonetes. À beira de uma crise institucional sem precedentes, o governo sueco acionou o seu embaixador em Brasília e negociou o acordo com Sarney. O PMDB ainda conseguiu emplacar dois deputados na Câmara Alta de Estocolmo, e Michel Temer ganhou o título de Conde de Uppsala.