• Percival Puggina
  • 28/10/2011
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NO ANO DA GRAÇA DE 2014

NO ANO DA GRAÇA DE 2014 Percival Puggina Quem já passou pela porta que dá acesso às salas de embarque doméstico do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, sabe do que estou falando. A partir dali, tudo se torna impreciso. Esfumam-se os compromissos, dissolvem-se as agendas, o futuro se faz incerto e a paciência é testada além das fronteiras da civilidade. Aquele lugar me faz lembrar a sentença que Dante Alighieri esculpiu nos umbrais do Inferno: Abandonai toda esperança, vós que entrais. Dia desses tocou-me estar naquele corredor. Meu voo deveria sair às 8 horas, mas somente consegui embarcar lá pelas duas da tarde, após várias mudanças de sala de espera (parece impossível, ali, coincidirem número de voo e portão de embarque). Enquanto uma funcionária de empresa aérea corria de sala em sala chamando passageiros na base do grito, comentei com um vizinho de banco o caos reinante. Respondeu-me ele: Até a Copa de 2014 tudo estará solucionado. Horas depois, já embarcado, aquelas palavras ainda repercutiam em minha mente. Até a Copa. Quando a Copa começar. Em 2014. Por enquanto vamos assim, mas em 2014... Percebi que esse mesmo ano integra o horizonte de quase todas as promessas eleitorais feitas nos Estados em 2010. Os principais temas suscitados na campanha sucessória do ano passado, temas candentes dos discursos oposicionistas que levaram ao poder tantos governantes, já em janeiro foram imediatamente catapultados para aquele ano, para o ano da Copa, para o término dos atuais mandatos - o Ano da Graça de 2014. Anote aí: 2014 vai ser tudo de bom...