Percival Puggina

03/07/2011
Twitter: percivalpuggina Quem quiser coerência absoluta, procure-a nas coisas irretocáveis, como a tabuada e o quadrado de Dürer. Não vá buscá-la na política. O debate político é, muitas vezes, caricatural. Trava-se num ambiente marcado pelo exagero. Ampliam-se os defeitos alheios e se sobreexaltam as virtudes próprias. Sofismas acontecem. Mas a vida não é uma caricatura. O sofisma, cedo ou tarde, transparece. E a realidade se manifesta como os olhos a registram. Para essa incoerência sistêmica impõem-se, portanto, limites. Quando transpostos, configuram-se condutas fraudulentas, concebidas para iludir o eleitor e induzi-lo ao erro, fazendo-o votar em ficções e eleger miragens. Lesa-se a democracia. Costumo dizer, muitas vezes sob espanto geral, que o eleitor não se engana, ele é enganado. É iludido por mentiras, promessas vãs, difamações e coisas que tais. Os partidos (de modo muito especial os partidos de massa, como são os da esquerda brasileira) contam com um caleidoscópio de estruturas de apoio. São, entre outros, corporações funcionais, grupos de interesse, movimentos sociais, sindicatos e grupos religiosos, que se somam às siglas do jogo partidário para obter o efeito psicossocial desejado. O simples estalar de dedos do comando aciona uma usina de artefatos publicitários, coloca na estrada ônibus repletos de militantes, carros de som, e se mobiliza aquilo que uns por desatenção e outros por má intenção chamam de o povo. Eis porque não há escândalo nacional, na última década, que mobilize o povo. O povo, o verdadeiro povo, está bem longe dali, trabalhando para ganhar a vida e, por vias indiretas, para pagar a conta que muito provavelmente surge quando certos dedos estalam e o povo é recrutado. Tenho visto muito disso. Em Porto Alegre, o sossego dos moradores da Praça da Matriz acaba quando o PT vai para a oposição. Prossigamos. Ninguém desconhece os vínculos que unem esse partido à maioria das corporações funcionais do Estado. Isso é próprio dos partidos de massa e não é próprio dos partidos de quadros (os dois grandes grupos em que a Ciência Política costuma tipificar as organizações partidárias). A longa noite de 28 de junho, quando o governo estadual chamou na chincha a base parlamentar, garantindo os votos necessários para aprovar o Pacotarso, lembrou-me a Noite dos punhais. Milhares de eleitores do governador, servidores públicos, pensionistas, precatoristas que fiavam, e todos os que confiavam no diálogo permanente com as categorias e na anunciada interlocução construtiva e privilegiada com o governo federal e seu cofre, foram vitimados por súbita e coletiva estocada entre as omoplatas. Ah, se lhes houvessem anunciado isso no ano passado! Ah, se as tricoteiras soubessem o que estava em gestação contra o pagamento de seus precatórios! A pergunta pode ser inquietante, desagradável, mas não é ofensiva: teriam votado como votaram? Esta outra indagação que proponho é uma exigência da razão e me conduz onde quero chegar com estas linhas: a democracia, legitimamente, pode servir também para isso? Na noite dos punhais, deputados sempre tão falantes, professorais e portadores de soluções generosas para todas as dificuldades do Estado quando na oposição, calaram-se num silêncio obsequioso, tumular, constrangido. Entendo tudo isso. É da natureza do sistema que adotamos. Eis por que falo tanto em reforma institucional. Não é horroroso um sistema que faz cafuné na incoerência absoluta? Quem sabe começa pelos servidores públicos, diante do que têm sob seus olhos, a compreensão social para esse gravíssimo problema institucional? ZERO HORA, 03/07/2011

Percival Puggina

01/07/2011
Twitter: @percivalpuggina O sujeito me parou na rua: Cadê os caras-pintadas? Cadê os caras-pintadas? A mão no meu peito parecia disposta a impedir qualquer possibilidade de que a pergunta ou o perguntador fossem driblados. Era preciso responder. Respondi: Você não está querendo sugerir que os caras-pintadas expressavam espontaneamente uma sentida revolta popular, está?. Ele me olhou surpreso: Como que não? Como que não?. Em sua indignação ele dizia tudo duas vezes. Acho que uma para si mesmo e outra para mim. Tentarei resumir o que falei àquele meu interlocutor. Ele não sabia que contingentes expressivos de caras-pintadas saíram às ruas para derrubar o Collor, não só porque ele forneceu motivos, mas, principalmente, porque faziam parte de uma grande corrente aparelhada pelo PT e seus parceiros, ou foram por ela levados a pintar o rosto. Há muitos anos, desde antes da nossa redemocratização, teve início um processo revolucionário, de ação gradual, mediante infiltração e ocupação de espaços para tomada do poder através da cultura. Não foi e não é um fenômeno apenas brasileiro ou latino-americano. Trata-se de algo que aconteceu e segue acontecendo em todo o Ocidente. O Foro de São Paulo organiza o trabalho na América Latina e no Caribe e o Brasil é um dos casos de sucesso. A revolução é cultural, mas o objetivo é político: a esquerda no poder, para ficar. A melhor maneira de mostrar o que aconteceu é adotar como ponto de partida não uma sequência cronológica de fatos, mas exibir a obra já feita, o produto acabado, porque não há consequência sem causa. Não há laranja sem que tenha havido laranjeira. Não há corrente sem que elos sejam criados e unidos. Não há hegemonia sem construção de hegemonia. Vamos, então, às laranjas. Recentemente, houve eleição para o sindicato dos professores do Rio Grande do Sul. Digladiaram-se três chapas, sendo duas encabeçadas por petistas. A eleição se travou no que deveria ser o pior período possível para essas duas chapas. O magistério estadual acabara de ver frustradas as expectativas de que o governo Tarso fosse atender as exigências que seu partido, em coro com as lideranças classistas, fazia aos que o antecederam no Piratini. Calote puro e simples. Não bastante isso, o PT estava, nesses mesmos dias, adicionalmente, elevando a alíquota de contribuição previdenciária de todos os servidores com vencimentos superiores a R$ 3,6 mil. Pois o pacote de maldades em nada afetou o alinhamento ideológico do magistério público. As duas chapas de esquerda perfizeram mais de 90% dos votos! Por quê? Porque para gente bem doutrinada o projeto político subordina tudo e todos. Com raras, raríssimas exceções, quando contemplamos, em visão de conjunto, a educação nacional, pública ou privada, leiga ou religiosa, em todos os níveis, a situação é a mesma. Através da Educação e seus agentes, já nas salas de aula do ensino fundamental, a hegemonia vai subindo os degraus do sistema, envolvendo professores e alunos. Não é por acaso que a UNE vem sendo comandada pelo PCdoB desde quando o Aldo Rebelo era adolescente. A porta de entrada dos cursos de pós-graduação raramente não inclui uma banca com o poder de filtrar as ideias que ganharão assento nas salas de aula. Daí para o domínio das carreiras de Estado, dos concursos públicos, e até mesmo de suas provas, não vai mais do que um passo de dedo. Assim, aos poucos, as teses da esquerda foram vestindo toga e chegaram aos tribunais. Primeiro, como vozes discordantes. Mais tarde, nas câmaras, os desembargadores comprometidos com a revolução pela cultura perdiam por 2 a 1. Depois, inverteram o placar. Aos poucos, passaram a controlar os Plenos. Chegaram aos tribunais superiores. Hoje dominam o STF. Mais laranjas da mesma laranjeira podem ser contempladas na mídia. Os textos que saem das redações, as pautas, os enfoques, as análises servem notavelmente à revolução através da cultura. Direita não presta, conservador é nome feio, as religiões são culpadas por todos os males, católicos são seres desprezíveis. Pouco importa que a posição editorial seja diferente quando a informação, o comentário, o tópico mais lido, a manchete que resume a matéria, o tom de voz do locutor experiente, a imagem selecionada para ir à tela, afirmam num outro viés. Na televisão, a hegemonia da Rede Globo facilitou o projeto, mormente no que se relaciona com o enfraquecimento da instituição familiar, a lassidão dos costumes, a agenda gay, a ridicularização da religião e dos valores ainda apreciados pela sociedade. Mesmo que escrutine os escaninhos da memória, não é de meu conhecimento instituição mais una do que a Igreja Católica, ao menos nos últimos cinco séculos. Pois esse baluarte foi rompido internamente por dissensos ideológicos promovidos pela mesmíssima revolução através da cultura. Não há o que os dois últimos pontífices tenham afirmado desde 1978 que seja capaz de afastar a CNBB, a maioria dos bispos, padres e seminaristas da herética Teologia da Libertação (TL). Nada nem ninguém prestou melhor serviço à hegemonia da esquerda do que a TL quando substituiu o pobre dos Evangelhos pelo excluído em nome do qual ela se proclama formulada. O pobre dos Evangelhos é objeto da caridade cristã, da virtude do amor ao próximo. O excluído da TL é parte ativa de um projeto revolucionário. Serviço feito. Eu poderia prosseguir, apontando obviedades como a hegemonia exercida sobre os sindicatos e suas centrais, os movimentos sociais, a Justiça do Trabalho, a maior parte dos conselhos profissionais e suas confederações, as associações de bairro, e por aí afora. Mas não creio que seja mais necessário. Já provei o que queria. Note-se: tudo isso foi feito antes de Lula chegar lá. Quando ele chegou, completou o serviço promovendo o encontro de todas essas estruturas - que o PT chama de sociedade civil organizada (por ele, claro) - com a brutal concentração de poderes que constitucionalmente convergem à pessoa do presidente e ao seu partido: chefia simultânea do Estado, do governo e da administração, das estatais e fundos de pensão; comando das principais fontes de financiamento interno (BB, BNDES, CEF), de 24% do PIB nacional, de poderosas e polpudas contas de publicidade capazes de excitar favoravelmente parcela expressiva da mídia; poderes para legislar por medida provisória, nomear ministros dos tribunais superiores, conceder e renovar concessões de emissoras de rádio e tevê, criar e distribuir cargos e favores. Se o partido do governo detém tal poder e, simultaneamente, controla tudo que está organizado na sociedade, de onde, raios, poderão surgir os caras-pintadas? Das piedosas senhoras idosas da hora do Ângelus? Do clube de mães da vila Caiu-do-céu? O que podem eventuais organizações não alinhadas, dispersas e desprovidas de qualquer poder, contra quem coloca quatro milhões de militantes numa Parada Gay? Nesse ponto, meu interlocutor já queria ir embora e era eu que o travava colocando a mão sobre seu peito. Mas ainda existe a oposição! Ainda existe a oposição!, bradou, por fim, em sua desesperada dose dupla de santa ira. Oposição? Não há oposição política no mundo capaz, neste momento, de sequer arranhar a teflon da máquina hegemônica petista. A blindagem não é do Palocci, da Erenice, do Lula ou do filho do Lula. O que está blindado é o projeto revolucionário, o projeto de poder. É de setores do próprio PT que surgem, eventualmente, problemas para o PT. E quando a oposição política mais forte leva o nome de dissidência, é porque está tudo dominado e o totalitarismo está instalado. Quod erat demonstrandum. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, arquiteto, empresário e escritor, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

29/06/2011
Twitter: percivalpuggina Vinte e quatro horas depois de o governo brasileiro anunciar a intenção de rever o prazo para liberação dos documentos classificados como sigilosos, o relator da ONU contra a tortura, Juan Mendez, conclamou o Ministério Público e os juízes brasileiros a abrir processo contra torturadores, para revelar o que de fato ocorreu durante os governos militares e para que toda a sociedade brasileira saiba do seu passado. Foi vapt-vupt. Saiu uma decisão que desagradou a esquerda aqui e imediatamente emergiu uma reação forânea, um toque de clarim, para arregimentar as forças internas. Quem disse que as iniciativas da esquerda fluem espontaneamente, de incontidos anseios populares? Transparência é como respeito. É bom e eu gosto. Já acabar com o extraordinário instrumento da anistia é coisa bem diferente e em nada contribuirá para a maturidade política da sociedade brasileira. Foi exatamente como decorrência da anistia que essa maturidade começou a somar aniversários. Sua extinção restauraria o ambiente político anterior ao pacto que a estabeleceu. Entendamo-nos. Tortura é prática de seres degenerados, que repugna toda consciência bem formada. No entanto, a utilização de funcionários sádicos, pervertidos, para extrair informação nos processos investigatórios era comum em nosso país (e em inúmeros outros) ao longo de séculos. Não foi uma invenção do regime militar vigente entre 1964 e 1985. Para constrangimento nacional, persiste ainda hoje, como tantas vezes vem a público e como em muitas outras não vem a público. Tanto isso é verdade que somente em 1988 a tortura foi constitucionalmente expulsa do ordenamento brasileiro - não haverá tortura, tratamento desumano ou degradante - dando origem a uma lei que a definiu como crime - pela primeira vez! - em 1997. No entanto, insistentes campanhas promovidas pela esquerda em busca da canonização de seus terroristas e guerrilheiros convenceram a sociedade de que a tortura foi uma invenção dos militares contra os combatentes da democracia naqueles tristes anos loucos. Nem uma coisa nem outra. Nem foi ela uma invenção militar, nem eram beatos os que pegaram em armas contra o regime. Queriam derrubar um regime autoritário para implantar um outro muito pior, totalitário. É impossível diagnosticar na luta armada contra o regime militar a justiça da causa e a inexistência de outra alternativa que a sã doutrina jurídica exige para legitimar esse tipo de ação armada. De jeito nenhum! Guerrilheiros e terroristas, ávidos por democracia, nos anos 70, treinados em Havana, Moscou e Pequim? Fala sério. Ofende todos os torturados de ontem e de hoje, o foco meramente político e revanchista da esquerda brasileira em relação à tortura e ao que aconteceu naquele período. Tal preocupação com direitos humanos não é merecedora de respeito. Dado que a anistia foi para valer, fica a questão do conhecimento dos fatos. Eles jamais virão à tona através de uma Comissão da Verdade interessada apenas em meia verdade. Muito melhor seria abrir os arquivos e dar livre acesso a pesquisadores, historiadores e profissionais qualificados. Não haveria um relatório da verdade (provavelmente o mais mentiroso dos textos que viriam a ser produzidos) mas um conjunto de obras que enriqueceriam, desde várias perspectivas, o conhecimento dos fatos ocorridos naquele período. Ademais, isso seria preferível ao sigilo graças ao qual não há, hoje, um único livro didático sobre a história recente do Brasil que não torça e retorça os fatos segundo a perspectiva política da esquerda. Abram-se, então, os arquivos. Eu gostaria muito de ver expostos e conhecidos os torturadores, os assaltantes de banco, os sequestradores, os terroristas. Mas não nos iludamos com que esse seja um anseio do povo. Não é. O povo, o homem da rua, tem curiosidades bem mais triviais. Ele quer respostas que lhe são sonegadas por essa mesma esquerda tão preocupada com história e com transparência. Ele quer informações sobre como aquele japonês pagava as contas do Lula. Quer informações sobre o Mensalão. Quer saber no que deram as investigações sobre o caseiro Francenildo e sobre assunto que derrubou a ex-ministra Erenice Guerra. Quer saber por que o governo exige sigilo sobre os custos das obras da Copa. Ou, também recente: por que e do que blindaram Palocci? Isso o povo quer saber. Mas não lhe contam porque é imperioso que o povo esqueça. Que esqueça até de perguntar. *Publicado, originalmente, no Diário do Comércio de São Paulo, edição do domingo, 26/06/2011 ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, arquiteto, empresário e escritor, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

24/06/2011
twitter@percivalpuggina Quando a CNBB, organização que congrega o episcopado brasileiro, ergue sua voz para defender a família, a vida humana desde a concepção, a educação religiosa, a preservação das tradições cristãs da sociedade (aí incluídos o respeito ao descanso dominical, feriados e símbolos religiosos), eu me ponho a pensar... De qual lado do espectro político vem chumbo grosso contra tudo isso? Qual ou quais os partidos mais avessos a essas posições essenciais à missão da Igreja? O mais mal informado dos leitores não hesitará um segundo antes de cravar a resposta certa às duas perguntas. Dez para todo mundo. Impõe-se, no entanto, um outro par de indagações. Com quais partidos e instituições o leitor considera a CNBB mais estreitamente identificada? A qual lado do quadrante ideológico pertencem tais órgãos e movimentos? Novamente, dez para todo mundo. Se a nota do leitor é dez, o conceito da CNBB perante tamanha contradição há de andar um pouco abaixo disso. Com efeito, não parece sensato nem compatível com a missão eclesial o apoio da organização àqueles que mais atacam os valores cristãos. Perante tal disparate, é possível que o leitor comece a repensar as respostas anteriores. Será que respondi certo antes? Terei sido induzido ao erro?. Isso nos leva a propor a prova dos nove para verificação do raciocínio que estou desenvolvendo: quantas vezes, nos últimos anos, o leitor encontrou na imprensa alguma crítica desses partidos e/ou organizações à CNBB? Vamos lá. Pense bem. Puxe pela memória. Nada? Veja que temos como objeto da busca organizações que não poupam adversários! Pois é, se marcou nenhuma, o leitor cravou, de novo, a resposta certa e óbvia. Nunca aconteceu isso, apesar de esses segmentos jamais serem condescendentes com quem se atravesse no caminho de suas propostas ou projetos. A coisa fica ainda mais grave porque os mesmos setores vivem clamando que o Estado é laico, que a moral cristã não pode pretender espaço nas normas que incidem sobre a vida social, que os símbolos religiosos têm que ser retirados dos lugares públicos, que o Papa é um retrógrado e que a Igreja é um dos males da humanidade. Mas contra a CNBB, nem um pio! O nome disso é parceria. É companheirismo. E torna inevitável a constatação: a imagem da CNBB está associada a uma corrente política avessa à sua missão. Essa não é uma questão pequena, nem recente, nem vazia de sentido moral. Bem ao contrário. Para a CNBB, desde os anos 70 do século passado, a convergência ideológica supera em significado e importância a divergência moral e religiosa. Antes que alguém saia com o clássico - Isso é o que você diz!, vale lembrar que em fins de dezembro do ano passado, falando aos bispos brasileiros do Sul III e IV, quando com ele estiveram em visita ad limina, Bento XVI os advertiu para ?o perigo que comporta a assunção acrítica, feita por alguns teólogos, de teses e metodologias provenientes do marxismo, cujas sequelas mais ou menos visíveis, feitas de rebelião, divisão, dissenso, ofensa e anarquia fazem-se sentir ainda, criando, nas vossas comunidades diocesanas, grande sofrimento e grave perda de forças vivas?. Não sou só eu quem diz. A CNBB está ao lado dessas correntes. A elas convergem suas pastorais sociais. Com elas se alinham os desvios doutrinários propostos pela Teologia da Libertação. Com elas andam a CPT, as CEBs, o CIMI, as CFs, bem como muitos de seus documentos e estudos. Com elas a CNBB se engaja em promoções nacionais, como foi a campanha pelo calote da dívida externa, e pela limitação, em 20 módulos, da extensão das propriedades rurais. Procede, enfim, como o Chapeuzinho Vermelho que levasse o Lobo Mau pela mão até a casa da vovozinha. * Artigo publicado originalmente na Revista Voto, edição de junho de 2011 ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

24/06/2011
Twitter: @percivalpuggina Era de se imaginar que maconheiros, traficantes, falsos progressistas, defensores do relativismo moral, partidários da tolerância com o intolerável, turma do politicamente correto, bem como seus assemelhados na esfera política onde todos gravitam, se encantassem com as mais recentes decisões do Supremo. Afinal, o Brasil está ficando como eles querem e o STF levando os descontentes a entender quem é que manda no pedaço. Viva! A decisão sobre a reserva Raposa Serra do Sol foi um sucesso cívico: conseguiu lançar indígenas e colonos na miséria. Viva! No Brasil já se pode jogar embriões humanos no vaso e puxar a descarga. Viva! Battisti só não terá cidadania brasileira se não quiser, que qualificações não lhe faltam. Viva! Quando a Constituição Federal fala em homem e mulher enuncia apenas um estereótipo, um clichê em desuso, para representar qualquer tipo de encaixe. Viva! A marcha pela maconha é uma festa da cidadania patropi. E deve virar feriado nacional. Li e reli as atribuições constitucionais do STF. Em nenhum lugar lhe foi outorgada a função de precursoria, de vanguarda social, incumbido de levar a nação, pelo nariz e a contragosto, para onde apontam os narizes e os gostos de seus membros. Já não falo em substituir-se ao Congresso Nacional que esse está nem aí para o que acontece, contanto que não faltem cargos e emendas necessárias à preservação dos mandatos. Raríssimas vozes se ouvem, ali, apontando os devidos limites às vontades da Corte. Mas o que está acontecendo eram favas contadas. A partir de Fernando Henrique Cardoso, por 16 anos consecutivos, as indicações para o STF são buscadas no mesmo nicho. Embora a esquerda goste de dizer que FHC era neoliberal, o fato é que ele e Lula pertencem à mesma extração esquerdista, com diferenças apenas no nível intelectual. FHC é um Lula de salão nobre, com doutorado, ao passo que Lula é um FHC de piquete grevista e curso primário. Lula defende a cachaça e FHC, no melhor estilo da esquerda dos anos 60, de Woodstock, da contracultura, oitentão modernoso que é, defende a maconha. Aparta-os a política, não as ideias. Os indicados por ambos formam 80% do Supremo e não faz muita diferença o fato de que Lula tenha escolhido boa parte dos seus no partido e no partidão. As cabeças são parecidas. As disputas que por vezes se esboçam entre eles são, essencialmente, de beleza. Temas para espelho mágico. De nada vale, então, aguardar o futuro porque o futuro não nos reserva algo melhor. Os ministros mais antigos e mais próximos da compulsória são os dois Mello - o Celso e o Marco Aurélio. Estão piorando com a idade e com a vaidade. Gravitam no mesmo círculo filosófico dos demais. E só saem, respectivamente, em 2015 e 2018. Viram no que deu, este país ficar votando compulsivamente na esquerda? A mesma sociedade, majoritariamente conservadora, cristã, consciente da importância dos valores tradicionais, ao votar na esquerda por motivos menores, é obrigada a assistir suas posições maiores - religiosas, filosóficas e morais - serem desrespeitadas e ridicularizadas nos votos e nas decisões dos ministros do Supremo. ______________ * Percival Puggina (66) é titular do blog www.puggina.org, arquiteto, empresário e escritor, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Autor desconhecido

22/06/2011
THATCHER TINHA RAZÃO Autor desconhecido Sabe quantos países com governo socialista restam agora em toda a União Europeia? Apenas 3: Grécia, Portugal e Espanha. Os 3 estão endividados até o pescoço. Porquê será? A esquerda não diz que o socialismo é a solução para o mundo? Como bem disse Margaret Thatcher quando 1ª Ministra: O socialismo dura até acabar o dinheiro dos outros. DIÁLOGO ENTRE COLBERT E MAZARINO Colbert: - Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço... Mazarino: - Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem! Colbert: - Ah, sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criámos todos os impostos imagináveis? Mazarino: - Criam-se outros. Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino: - Sim, é impossível. Colbert: - E, então, os ricos? Mazarino: - Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert: - Então, como havemos de fazer? Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!

Diálogos de Estado

20/06/2011
Diálogo entre Colbert e Mazarino durante o reinado de Luís XIV, extraído de Diálogos de Estado. Jean Baptiste Colbert - ministro de estado de Luis XIV (Reims, 29 de Agosto de 1619 - Paris, 06 de Setembro de 1683). Jules Mazarino - nascido na Itália, foi cardeal e primeiro ministro da França (Pescina, 14 de julho de 1602 - 9 de março de 1661). Colbert: - Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível. Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar, quando já se está endividado até ao pescoço... Mazarino: - Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão. Mas o Estado... o Estado, esse é diferente! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem! Colbert: - Ah, sim? O Senhor acha isso mesmo? Contudo, precisamos de dinheiro. E como é que havemos de o obter se já criamos todos os impostos imagináveis? Mazarino: - Criam-se outros. Colbert: - Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres. Mazarino: - Sim, é impossível. Colbert: - E, então, os ricos? Mazarino: - Os ricos também não. Eles não gastariam mais. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres. Colbert: - Então, como havemos de fazer? Mazarino: - Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos, mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável!

Percival Puggina

18/06/2011
Twitter:@percivalpuggina Pronto, descobriram tudo. Não adiantou disfarçar. Já há até artigos de jornal comentando que alguns brasileiros reacionários tentaram derrubar o governo a golpes de gramática. Puxa vida, estava tudo tão articuladinho! Íamos detonar o ministro da Educação com uma mesóclise, o Palocci com um numeral multiplicativo (mas esse já foi), e a presidente, jóia da coroa do nosso golpismo, seria removida por uma corrente. De orações. De orações coordenadas assindéticas, claro. Toda nossa trama tinha como argumento e cenário as críticas que fazíamos ao livro didático ?Por uma vida melhor?, patrocinado pelo MEC para o EJA. Esse o disfarce, mas o objetivo, mesmo, era derrubar o governo. Até parece que estou ironizando, mas não estou. Apenas amplio um pouco as acusações formuladas por intelectuais alinhados com o governo ? intelectuais orgânicos, para dizer como Gramsci ? aos que reprovaram aquele livro didático. Nossas motivações seriam apenas políticas. Nenhuma boa intenção, nenhuma apreciação razoável sobre a função do idioma para o desenvolvimento individual e social nos poderia ser creditada. As críticas que fazíamos verteriam de uma oposição conservadora, cujas sórdidas motivações não se detinham sequer ante algo tão hermético e acadêmico quanto o ensino de língua portuguesa ? propriedade deles e ante cujas cercas eletrificadas seríamos meros aventureiros e intrusos. Certo, certíssimo, acima de qualquer dúvida ou contestação, estaria o sábio Haddad, sob cujo comando, convenhamos, o MEC se especializou em jogar dinheiro fora e em promover trapalhadas. Mesmo assim, ouriçaram-se os governistas. Era preciso socorrer o ministro. Esgotaram o estoque de sofismas. Como de hábito, levaram palavras ao pelourinho para delas extrair sentidos que, por outros meios, se recusariam a admitir. Entende-se. Não é com pouco esforço que se consegue transformar o certo em errado, o errado em certo, e atribuir satânicas motivações aos que discordam. Você sabe como é. Quando a esquerda governa, toda crítica é recebida como uma punhalada. E mesmo essa oposiçãozinha aí, com diagnóstico de morte cerebral, é vista como uma falange de hunos que atacam por todos os flancos e modos, dignos ou indignos. Até parece que a esquerda, quando fora do governo, se caracteriza pela moderação e pela fidalguia, não é mesmo? Foi instrutivo lê-los. Fiquei sabendo, por exemplo, que essa história de idioma bem falado e bem escrito, no ambiente escolar, é coisa de pessoas pernósticas, viúvas do Rui Barbosa, tão enlutadas quanto a mulher dele, dona Maria Augusta Viana Bandeira. Fiquei sabendo que o direito de falar e escrever com correção por bons motivos é privilégio da esquerda. Cá do meu lado pernóstico da cerca fiquei pensando se os intelectuais de esquerda teriam alguma credibilidade se não manejassem razoavelmente bem o idioma. Mas consideram que o ensino correto no ambiente escolar afronta as crianças provindas de famílias incultas! Não é engraçado? Eles, socialistas, querem socializar a ignorância. Os conservadores, os não esquerdistas, malvados que são, querem uma educação pública de qualidade para todos. Durante muito tempo acreditei que certas correntes políticas buscassem, mediante meios distintos, os mesmos fins bons. Custei a perceber que os meios são distintos porque os fins são essencialmente diferentes. Foram os fatos da vida, bem mais do que as palavras, que me ensinaram isso. Duvido. Duvido e faço pouco, como se dizia antigamente, de que esses mestres e pedagogos sigam, para educar os próprios filhos, as diretrizes que aplicam aos filhos dos outros. ZERO HORA, 19/06/2011

Percival Puggina

18/06/2011
UM PAÍS ONDE AS LEIS SÃO RESPEITADAS Percival Puggina Um país onde as leis são respeitadas, e por isso mesmo sério, não é aquele no qual o estuprador e o assassino vão para a cadeia. Nem se destaca por sua seriedade um país onde o crime de sequestro seja rigorosamente punido. No mundo inteiro isso é assim e não faz favor algum quem age contra crimes dessa natureza. Você sabe quando um país pode ser considerado sério? Quando a lei determina que se use cinto de segurança e as pessoas usam o cinto de segurança. E quando o policiamento age e aplica a multa em quem não usa. Se é proibido pisar na grama, não se pisa na grama. Há uma anedota a esse respeito, contando o caso de um sujeito, visitando certo país europeu, que viu uma placa sobre a grama da praça, com estes dizeres: proibido pisar na grama, multa 20 euros. Passados alguns dias, a placa tinha sido trocada por outra dizendo: proibido pisar na grama, multa 10 euros. O turista foi falar com o guarda para saber a razão da redução do valor da multa e o guarda lhe informou que por vinte euros ninguém estava pisando na grama. É uma piada, mas a verdade é que num país sério, não é o valor da multa que convence as pessoas a não proceder de determinadas maneiras mas é a disposição para cumprir a lei. No Brasil, caminhamos na direção oposta.