Kuing Yamang

28/11/2011
OPINIÃO DE UM ECONOMISTA CHINÊS SOBRE O FUTURO DA EUROPA Kuing Yamang 1. A sociedade europeia está em vias de se auto-destruir. O seu modelo social é muito exigente em meios financeiros. Mas , ao mesmo tempo, os europeus não querem trabalhar. Só três coisas lhes interessam: lazer/entretenimento, ecologia e futebol na TV! Vivem, portanto, bem acima dos seus meios, porque é preciso pagar estes sonhos de miúdos... 2. Os seus industriais deslocam-se porque não estão disponíveis para suportar o custo de trabalho na Europa, os seus impostos e taxas para financiar a sua assistência generalizada. 3. Portanto endividam-se, vivem a crédito. Mas os seus filhos não poderão pagar a conta. 4. Os europeus destruíram, assim, a sua qualidade de vida empobrecendo.. Votam orçamentos sempre deficitários. Estão asfixiados pela dívida e não poderão honrá-la. 5. Mas, para além de se endividar, têm outro vício: os seus governos sangram os contribuintes. A Europa detém o recorde mundial da pressão fiscal. É um verdadeiro inferno fiscal para aqueles que criam riqueza. 6. Não compreenderam que não se produz riqueza dividindo e partilhando mas sim trabalhando. Porque quanto mais se reparte esta riqueza limitada menos há para cada um. Aqueles que produzem e criam empregos são punidos por impostos e taxas e aqueles que não trabalham são encorajados por ajudas. É uma inversão de valores. 7. Portanto o seu sistema é perverso e vai implodir por esgotamento e sufocação. A deslocação da sua capacidade produtiva provoca o abaixamento do seu nível de vida e o aumento do nível da China! 8. Dentro de uma ou duas gerações, nós (chineses) iremos ultrapassá-los. Eles tornar-se-ão os nossos pobres. Dar-lhes-emos sacos de arroz... 9. Existe um outro cancro na Europa: existem funcionários a mais, um emprego em cada cinco. Estes funcionários são sedentos de dinheiro público, são de uma grande ineficácia, querem trabalhar o menos possível e apesar das inúmeras vantagens e direitos sociais, estão muitas vezes em greve. Mas os decisores acham que vale mais um funcionário ineficaz do que um desempregado... 10. (Os europeus) vão direto a um muro e em alta velocidade...

Marco Tulio K. Ferreyro

26/11/2011
MENSAGEM DO ECONOMISTA MARCO TULIO KALIL FERREYRO A propósito do artigo ao lado - Elogio à irresponsabilidade - recebi do economista e amigo Marco Tulio Kalil Ferreyro, membro, como eu, do Grupo Pensar, a seguinte mensagem que enriquece e complementa o que escrevi, na perspectiva de um renomado profissional da área econômica: Caro Puggina, parabéns pelo texto altamente elucidativo no tocante às práticas governamentais européias baseadas nos gastos perdulários e autofágicos que produziram verdadeiros estados-leviatãs, para lá de inchados, irresponsáveis, e o que é pior - sem perspectivas, uma vez que a Europa, em regra, vive o chamado cenário de ônus demográfico. A maior parte da população encontra-se em idade inativa e vivencia na própria carne a ruína do wellfare state europeu que fora construído no período pós Segunda Guerra Mundial e que, parodiando a letra de música famosa do saudoso poeta Vinícius de Moraes, foi infinito enquanto durou. Aliás, querido Puggina, creio que o seu belo artigo, poderia ter um título ainda mais provocativo, sob a licença de Erasmo, Elogio à Loucura... Forte e Fraternal abraço, Marco Túlio

Percival Puggina

25/11/2011
Recentemente, a Globo News apresentou um programa especial com o objetivo de mostrar - ouvindo especialistas escolhidos a dedo - que a democracia está em risco na Europa devido à adoção dos ajustes fiscais reclamados para a concessão de novos empréstimos aos países endividados. A tese era praticamente a mesma do PT quando na oposição: Não se paga dívida com o sangue do povo, Fora FMI!, etc. e tal. Para entender o contexto é preciso saber que os países da Zona do Euro se comprometem com manter a dívida pública abaixo dos 60% do próprio PIB e que alguns países ultrapassaram, em muito, esse limite. Como gastam, sistematicamente, mais do que arrecadam, não podem pagar o que devem e ainda precisam de novos financiamentos. Pois a tese do programa era de que diante de tal quadro, um ente desprovido de qualquer sentido de generosidade, chamado mercado - capitalista, prepotente e autoritário - exigia a adoção de ajustes rigorosos, que os cidadãos, obviamente, rejeitam. Resultado: governos legítimos estariam caindo sob pressão do mercado, dando origem a um novo totalitarismo sobreposto aos interesses sociais dos povos. Um verdadeiro elogio à irresponsabilidade. Tudo se passava, na perspectiva dos entrevistados, como se o generoso gasto público com a concessão de aposentadorias precoces, pensões vitalícias às filhas dos servidores falecidos, empreguismo exagerado e corrupção devesse ser mantido pela poupança estrangeira, sem limite de prazo, de montante, nem garantia de devolução. Num malabarismo retórico, a irresponsabilidade fiscal do setor público, a má política dos governos, a demagogia dos benefícios sem fonte de receita definida, se convertiam, na disciplinada telinha que tudo aceita, em atributos essenciais à democracia. Ora, a Grécia mantém gastos militares, em relação a seu PIB, três vezes maiores do que qualquer outro país da região (deve ser por causa da Guerra do Peloponeso...). Pagava 15 salários aos trabalhadores do país. Estima-se que conviva com uma evasão fiscal da ordem de 30%. Nós, brasileiros, nos consideramos endividados e sentimos a restrição da capacidade de investimento do poder público em função do peso da dívida, notadamente da dívida interna, que já passa dos R$ 2 trilhões. Esse número representa um pouco menos de 60% do PIB previsto para 2011. Pois a dívida grega chegou a algo como 120% do PIB, o país continua precisando de mais e mais financiamento para atender compromissos tão imperiosos quanto o pagamento de seus servidores, e a pressão para que ocorram cortes no gasto público foi julgada e condenada como antidemocrática. É obvio que as medidas de arrocho não teriam respaldo popular, não seriam aprovadas no plebiscito grego, encontrariam rejeição popular na Itália e não será diferente na Espanha. A situação não é incomum. Governos perdulários criam dois problemas gravíssimos. Primeiro geram dívidas que se tornam impagáveis. Depois distribuem benefícios que são fáceis de conceder e muito difíceis de restringir. Eis por que certos temas não podem ser objeto de consulta popular. Quanto mais a sociedade se torna hedonística, menos os indivíduos cogitam de sacrificar um bem imediato em vista do próprio bem futuro. Por isso fica mais penoso poupar, estudar muito, trabalhar com afinco. Se é assim com os indivíduos, mais grave ainda será quando consideramos a situação deles como cidadãos perante o Estado e o bem comum. É um quase absurdo imaginá-los optando por ônus e restrições. Esse é o momento de a chefia de Estado tornar visível seu valor institucional e político. Tal figura, que lamentavelmente não temos no Brasil porque a fundimos na pessoa do chefe de governo, cumpriu na Grécia e na Itália o seu papel, cuidando da formação de novos governos comprometidos com as medidas necessárias para superar a crise. E isso é democracia. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

19/11/2011
Leia a citação a seguir apesar dos erros primários: Historicamente a Universidade em todo mundo se assume como um espécie de territorio livre em que caberia desde a mais inusitada teoria sobre qualquer dimensão do real a experimentação de vivências que iriam desde o consumo de maconha ao sexo casual. Essa frase não é de uma redação do ENEM. Foi produzida por um doutor em Educação pela USP, professor da UFMT (o resto do artigo, em defesa dos invasores da USP, é ainda pior). Tendo lido e ouvido ideias parecidas também por aqui, é sobre isso que escrevo. Não há geração que não tenha manifestado inconformidade em relação à que a antecedeu e vice-versa. A contrariedade de certos filósofos gregos ante o comportamento dos discípulos se repete na experiência de praticamente todos os pais e filhos, mestres e alunos. Exceções são exatamente isso - exceções. É desnecessário, portanto, desenvolver uma pedagogia para suscitar a rebeldia dos rebeldes, seja elevando-a à categoria das coisas sagradas, seja transformando-a em parâmetro de discernimento, seja para destinar ao lixo orgânico as judiciosas ponderações da maturidade, ou seja, ainda, para instalar no ambiente acadêmico um hardcore da libertinagem. Não há necessidade. De hábito, o jovem passa aí por conta própria. Aliás, eles raramente morrem por enfermidades do corpo, mas vitimados por sua onisciência e rebeldia. Qual pai, qual mãe ainda não ouviu de um filho a frase Eu sei o que é bom para mim? ao lhe proporcionar conselhos nascidos do amor e da experiência de vida? O jovem sabe o que é bom para ele, mas é a própria juventude que facilmente o ilude a respeito da natureza do bem. Ali onde está o que ele considera bom não vive necessariamente o bem dele. E esta ilusão é apenas uma das muitas e frequentes evidências dos riscos inerentes à imaturidade. Há suficientes dramas, em número e porte, para dispensar a ridícula louvação aos jovens rebeldes promovida por coroas irresponsáveis (combinação explosiva!), sob motivações ideológicas e afinidades políticas. E só por causa delas. Nos debates sobre a invasão da reitoria da USP, foi possível perceber o quanto essa combinação explosiva gostaria de exercer autoridade no ambiente acadêmico. Entre professor e aluno, dizem uns e outros, não haveria saber maior (olha o desatino teórico!). Não duvido de que, em breve, os alunos estejam querendo salário para participar dessa exaustiva produção comunitária do saber. Em virtude dessa pretendida equivalência das respectivas funções, creem que a eleição do reitor deveria dar o mesmo peso aos votos de alunos e professores. Todo poder aos sovietes! Todo poder ao jovem e suas minorias organizadas! Esquecem-se os moços rebeldes e os coroas irresponsáveis que o conceito de Estado Democrático de Direito, no qual o querer não faz poder, abriga um binômio jurídico-político. O simples desejo contrariado de um grupo pirracento não viabiliza o qualificativo democrático a qualquer reação do coletivo. Há um democratismo muito ao gosto da esquerda, que adora tirar decisões em assembleias manipuladas. Então, assim como nem toda deliberação de um grupo é necessariamente democrática, nem toda ação por ele conduzida é tolerável no Estado de Direito. É fato sabido que, no Brasil, se um indivíduo invade é agressor e vai se explicar com o delegado; se vários invadem tem-se um movimento social ao qual tudo é permitido. Os estudantes contavam com isso e se deram mal. ZERO HORA, 20/11/2011

Percival Puggina

18/11/2011
?Como fiscalizar as ONGs? Houve problemas, ninguém nega. E quem tiver cometido erro tem que pagar?. Quando Aldo Rebelo, escolhido para substituir Orlando Silva no Ministério dos Esportes, fez essa declaração, ficou claro, no conjunto da entrevista que concedeu, que responsabilizar as ONGs foi um modo de livrar a cara do camarada antecessor. Eu entendi a manifestação como exercício de um dever de solidariedade. A culpa era só dessas organizações e da dificuldade de as fiscalizar. Foi na mesma linha que entendi o novo ministro quando, em outras entrevistas, disse que não pretendia prosseguir com tal prática. Ele não mais se valeria de instituições que não tinha como fiscalizar e passaria a destinar os recursos da pasta para estados e municípios. Passado menos de um mês, fica-se sabendo que Aldo Rebelo cancelou convênios com 50 ONGs. Mas se era possível cancelar assim, por que, raios, esses convênios existiam? Por outro lado, deduz-se que das organizações que mantinham convênio com o ministério, malgrado a decisão de trabalhar com nenhuma, remanesceram 250 (!) em atuação (segundo o noticiário, cerca de três centenas de ONGs operavam nos programas de esporte do governo). Aliás, quando fiquei sabendo desse número, para todos surpreendente, pus-me a indagar o seguinte: se em torno do PCdoB, um partido pequenininho, numa pasta também periférica, orbitavam três centenas de ONGs, quantas não agiriam no complexo universo comandando pelo PT e PMDB, os dois gigantes do governo federal? Pois é. A resposta, colhida na mídia, chega a quase uma dezena de milhar. É toda uma rede, financeira e politicamente subordinada, envolvendo um contingente humano que pode alcançar um milhão de pessoas se considerarmos todos os dirigentes, servidores assalariados e voluntários. Trata-se de uma nova máquina que se agrega ao gigantismo do poder central, estatal, e que tantas vezes - sabe-se agora - está incorporada aos vetores da corrupção por ele polarizada. Com enorme surpresa já ouvi de alguém: Eu tenho uma ONG. E com surpresa ainda maior, já li, várias vezes: Fulano de tal, dono de uma rede de ONGs.... Que tal? Donos de ONGs? Só podia dar no que deu. Entende-se, então, o motivo pelo qual a CPI das ONGs, nascida em 2006, morreu de inanição, quatro anos mais tarde, sob total desinteresse da maioria governista. Na nota oficial em que fez o necrológico da finada CPI, a Associação Brasileira de ONGs (http://www.abong.org.br/noticias.php?id=2576) fala em criminalização dos movimentos sociais e em setores conservadores. Quem conhece o idioma da esquerda sabe que tal vocabulário não deixa dúvidas quanto à devoção filial dessa instituição a padrinhos bem conhecidos, com acesso à grana dos esfolados contribuintes. Ressalve-se que organizações dessa natureza compõem uma estrutura admirável se usadas para o bem. Mas como são terríveis, sob o ponto de vista moral e institucional, se convertidas em tentáculos do poder político! Nos negócios em que então se envolvem elas não ofendem apenas as leis penais. Elas atacam a própria democracia. Muito tenho escrito, aliás, contra a centralização em nosso país. Ela se dá ao arrepio da forma federativa, que aponta para uma direção, enquanto a prática política, fiscal, legislativa e administrativa age no sentido inverso. A isso se acrescenta agora, nestes anos de decadência moral das instituições, a vasta e multiforme rede de ONGs dependente dos favores e das vistas grossas de seus financiadores governamentais, conjugadas com subterrâneos canais de retorno das verbas recebidas. A existência de uma rede não implica, necessariamente, descentralização. No caso, ocorre o contrário disso, seja pela dependência financeira que cria, seja pelas verbas que refluem, mediante artifícios contábeis, para os dutos da corrupção política. A presidente Dilma, energicamente, no final do mês passado, determinou uma paralisação de 30 dias em todas as transferências de recursos para que um pente fino fosse passado no emaranhado cabelo dessas ONGs com dono, com jatinho e prodigalidades semelhantes. Já se foram dois terços desse prazo. Eu, ao menos, estou contando. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

18/11/2011
POBRES ALUNOS Percival Puggina O governador Tarso Genro e seu partido muito fizeram por merecer uma greve do magistério: o piso da categoria é ideia dele e seus parceiros no governo passado cobravam esse piso como mera questão de prioridades. No entanto, também é verdade que o Cpers dá continuidade à obra de esquerdização da categoria iniciada pelo PT. O sindicato é comandado, há anos, pela Democracia Socialista (corrente mais à esquerda no PT), agora em coligação com o PSOL e o PSTU. E o professorado gaúcho se alinha com esse pessoal como ovelhinhas de presépio. Na última eleição, Rejane de Oliveira foi reeleita presidente já no primeiro turno, com 54% dos votos. A segunda chapa mais votada teve apoio de 37% (e também era do PT) e a terceira (que não era de esquerda) fez apenas 9%. Conclusão: pobres alunos!

Percival Puggina

15/11/2011
SÓ PARA NÃO PASSAR BATIDO Percival Puggina Depois do Mensalão, por um passe de mágica, todo o ônus político da corrupção foi parar no colo do Congresso Nacional. A mídia comprada deitava e rolava em cima do Congresso. Contavam diárias, passagens, viagens ao Exterior. Tudo mixaria. Eu sempre disse que a grande corrupção não estava ali. Só podia estar onde morava a grana grossa, o Orçamento da União, as canetas pesadas, as poltronas de espaldares mais altos e o poder mais paparicado. É o que está se confirmando neste ano de 2011.

Percival Puggina

11/11/2011
Quando leio sobre a violência dos assaltos praticados hoje em dia, fico com saudade do tempo dos trombadinhas. Era uma época tranquila, em que o gatuno esbarrava na vítima, tomava-lhe algo e saía correndo. Tinha medo, e por isso fugia. Era um infeliz constrangido. Hoje, o ladrão ofende e maltrata. Anda armado e aperta o gatilho sem que nem porquê. Sente-se como grande senhor da selva urbana onde impõe sua própria lei. O medo fica por conta apenas da vítima. É a vítima que corre para longe. Se puder. O que foi que mudou? O que fez o trombadinha transformar-se nesse monstro urbano? Foi a droga. A droga converteu as necessidades sob cujo impulso agia o trombadinha em insaciável demanda por dinheiro para as urgências do vício. Estendeu suas malhas sobre a sociedade, multiplicou a dependência e o exército do crime urbano. Gerou recursos para aquisição de armas letais. Organizou as redes criminosas do tráfico e corrompeu setores do Estado (não apenas na área de segurança pública). Por isso, tenho saudade do tempo dos trombadinhas. A maconha - nunca esqueça que foi com ela, com a maconha, que tudo começou - abriu a porta desse cofre de perversões e perversidades. Primeiro gerando o hábito social, em seguida o vício, e, depois, desfiando a longa sequência das drogas cada vez mais pesadas que invadiram o mercado com seu poder de destruição. Outro dia, participando do programa Conexão Band, da rádio Bandeirantes de Porto Alegre, eu disse que a invasão da reitoria da USP tinha sito mais uma evidência dos males causados pela maconha. Imediatamente, um ouvinte protestou dizendo que a erva não leva alguém a agir daquela maneira. Obriguei-me, então, a explicar algo que me parecera óbvio: a sequência de fatos que levara à invasão havia iniciado com a detenção, pela Polícia Militar, de alguns estudantes que curtiam seus baseados no estacionamento da universidade. Ora, se uma ocorrência policial comum dava causa suficiente aos atos que se seguiram, apenas por envolver maconha, era óbvio que ela, independentemente dos efeitos psicotrópicos, se faz perigosa, também, sob o ponto de vista social. A desproporção na relação de causa e efeito - a detenção de alguns maconheiros e a violência que se seguiu - era apenas mais uma amostra desses tantos males. E, aquele fato em si, um dos muitos episódios diários que têm curso em toda parte exibindo a terrível face social da droga. Ouvir - não raro de autoridades - um discurso de tolerância em relação à maconha, ou, o que talvez seja ainda pior, perceber que se difunde por repetição a ideia de que maconha não faz mal algum, é profundamente perturbador para quem tem informação verdadeira e objetiva sobre o assunto. Pergunte a profissionais da área de saúde que lidam com dependência química. Ouça peritos a respeito dos efeitos da maconha sobre a atividade cerebral. Indague a pais, mães e professores sobre o impacto que o uso dessa droga determina na capacidade intelectiva, na concentração, na disciplina e na vida escolar dos jovens. A maconha pode não estar na reta final de muitas tragédias existenciais, mas está no início de boa parte delas. E os enlouquecidos vândalos da reitoria da USP talvez não estivessem sob direto efeito dos seus baseados, mas agiram tendo-os como causa da violência que empregaram. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Lidio Feix

06/11/2011
UMA CARTA MUITO INTERESSANTE Caro Puggina. Apreciei muito ambos os textos, mas gostaria de oferecer um ponto para pensar quanto ao motivo da perseguição comunista ao pensamento cristão. Um fato que muitos não se dão conta é o motivo pelo qual o Império Romano perseguia os cristãos: o motivo era muito mais político do que propriamente religioso. É fácil de entender: Os romanos eram um povo guerreiro que necessitava de constante expansão territorial pela via militar para continuar arrecadando cada vez mais impostos para custear seus gastos cada vez maiores. A expansão territorial ia agregando cada vez mais povos diferentes e que (obviamente) não comungavam dos mesmos interesses dos romanos. Isso gerava uma massa dentro das suas fronteiras potencialmente perigosa para a segurança nacional, na medida em que em qualquer das permanentes guerras em que os romanos estavam sempre envolvidos, poderiam ter que enfrentar forças internas colocadas às costas das suas legiões. O remédio para isso foi criar uma obrigação de lealdade ao imperador, usando o poder coercitivo das crendices e superstições: cada homem e mulher dentro das fronteiras do Império deveria, ao menos uma vez por ano, entrar num templo pagão e jurar lealdade ao imperador deificado, queimando incenso e prostrando-se diante da sua estátua. Isto foi um problema para os cristãos, que não se curvavam em adoração diante de ninguém mais do que do Deus Vivo. Não prestando juramento de lealdade ao imperador, os cristãos eram vistos como ameaça potencial, e por isso obrigados a jurar lealdade pela força. Quem resistia era lançado na arena para diversão e exemplo aos demais. Assim, a perseguição dos romanos aos cristãos era de fundo muito mais político do que religioso. Com o comunismo aconteceu algo semelhante. Criado e parido na onda do Evolucionismo por ateus militantes e intransigentes, o comunismo se forjou dentro da idéia darwinista de sobrevivência do mais forte. Com o propósito de ser um movimento político revolucionário e salvador da Sociedade, tinham suas próprias idéias de salvação e assumiram, assim, características messiânicas (no sentido de assumirem a responsabilidade da salvação do mundo). Dentro da ótica evolucionista de ver tudo pelo ângulo da sobrevivência do mais forte, do mais apto, passaram a ver o Cristianismo (que é messiânico por excelência desde a origem) como uma ameaça à sua própria sobrevivência como movimento. A partir daí, o Cristianismo (e todos os demais movimentos ou instituições com características semelhantes) passaram a ser perseguidos como um adversário a ser eliminado. Assim, a força motivadora da perseguição comunista também foi muito mais por um propósito de orientação político-filosófico do que qualquer outra coisa. Pensa na lógica disso... Abraço forte, e boa semana. LIDIO FEIX