Percival Puggina

18/02/2012
Volta e meia, repassando arquivos de antigos textos, deparo-me com cartas que recebi e guardei. Há entre elas mensagens de religiosos atacando-me como a um renegado. Afirmavam que a fé cristã me obrigaria a apoiar as tropelias do MST. Sustentavam que a própria racionalidade me imporia estar ao lado do progresso e do desenvolvimento social e econômico que adviriam dos assentamentos e da limitação da propriedade da terra. Esta última, a limitação das propriedades em um número máximo de módulos rurais, foi tentada na Constituinte, pretendida, depois, como objeto de plebiscito, e incluída, por fim, como pauta da Campanha da Fraternidade de 2010. Virou mero abaixo assinado e não conseguiu 500 mil assinaturas malgrado mobilização feita em todo o país. Ou seja, a luminosa ideia empolgou apenas um em cada 200 eleitores brasileiros. Mesmo assim, claro, o elenco dos promotores festejou o resultado como uma unanimidade nacional, porque cem por cento dos signatários foram totalmente favoráveis ao projeto. Há que reconhecer como memoráveis as energias que atuaram durante décadas contra o desenvolvimento rural e contra o agronegócio! E porque foram memoráveis não podem mergulhar nas sombras do esquecimento as hordas que investiam contra os projetos florestais, a metódica destruição de lavouras experimentais e o vandalismo contra máquinas agrícolas. Como olvidar a fúria dos ataques à biotecnologia e aos produtos transgênicos, avanços tecnológicos que nos levaram aos sucessivos recordes de produtividade e produção festejados, agora, pelos governos petistas? Em que prateleira perdida foi parar a história de que ninguém come soja (tolice que desconhece o processo de transformação de proteína vegetal em proteína animal)? Cadê a paparicação internacional ao MST, que tanto lhe rendia em dadivosos auxílios de nebulosas ONGs estrangeiras? Que fim levou o delírio de uma agricultura próspera através da política de assentamentos defendida e imposta pelo PT e seus aliados? Bilhões de reais foram para o ralo de aventuras agrárias mal concebidas e pessimamente executadas, das quais pouco se fala porque qualquer murmúrio a respeito seria o relatório de seu fracasso. Não importa, dirão os recalcitrantes. Como sempre, os fracassos da esquerda não ganham notoriedade porque, no fundo a ideia era boa. Não deu certo por causa dos mal intencionados que a ela se opunham. O sociólogo Dr. Zander Navarro, especialista internacionalmente reconhecido em desenvolvimento rural, numa entrevista concedida à Folha em 2007, apontou o óbvio: se fosse apenas algo determinado pela agenda presidencial, a reforma agrária já estaria fora das ações do governo. E o que então restava provinha da inércia inerente a tal bandeira junto a setores sociais incapazes de perceber que o mundo rural brasileiro mudou radicalmente nos últimos 30 anos. E prosseguiu: O Brasil não tem mais razões, de nenhuma ordem, para mobilizar consideráveis recursos para promover uma ampla redistribuição de terras. Passamos a ser um país predominantemente urbano e insistir na existência de uma questão agrária brasileira é uma miopia de quem tem os pés no passado remoto. As demandas sociais apropriadas à população rural mais pobre são outras (...). O esvaziamento do MST por perda de militância mostra que o país se urbaniza cada vez mais, como qualquer nação desenvolvida ou emergente. O sonho dos assentamentos é um anacronismo de quem quer reproduzir, em pleno século 21, o modelo que fez prosperar os imigrantes alemães e italianos no século 19, articulando, esse modelo, a uma simplória ideologia coletivista que, durante longos anos, salpicaram de água benta. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Agência Estado

12/02/2012
ENQUANTO D. JOSÉ BENEDITO BATE PESADO, CNBB TERGIVERSA Agência Estado Aqui o bispo: O bispo de Assis (SP), d. José Benedito Simão, presidente da Comissão pela Vida da regional Sul 1 (Estado de São Paulo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse ontem ao Grupo Estado que a nova ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, é uma pessoa infeliz, mal-amada e irresponsável, que adotou uma postura contra o povo e em favor da morte ao defender o aborto em declarações dadas à imprensa. Informada, a ministra não quis comentar as críticas feitas pelo bispo. Recebo com muita indignação as palavras da nova ministra, cuja pasta tem uma grande responsabilidade em favor da vida da mulher, afirmou d. José - para quem a ministra abriu polêmica que pode criar um confronto entre Igreja e governo. O bispo também disse que vai seguir de perto os pronunciamentos da ministra. Vamos acompanhar seu trabalho. Se os discursos forem nessa mesma linha (de defesa do aborto), vamos tomar algumas medidas de protesto, que podem ser panfletos ou manifesto público, acrescentou D. José. Aqui o a CNBB: A CNBB informou, segundo sua assessoria de imprensa, que o fato de a nova ministra ser favorável ao aborto é uma questão pessoal e não a posição oficial do governo. Por isso, de acordo com o secretário-geral da entidade, d. Leonardo Steiner, que é também bispo auxiliar da Arquidiocese de Brasília, não se justificaria uma declaração da CNBB... (As reticências são minhas)

Agência Estado

12/02/2012
ENQUANTO D. JOSÉ BENEDITO BATE PESADO, CNBB TERGIVERSA Agência Estado Aqui o bispo: O bispo de Assis (SP), D. José Benedito Simão, presidente da Comissão pela Vida da regional Sul 1 (Estado de São Paulo) da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), disse ontem ao Grupo Estado que a nova ministra da Secretaria de Política para as Mulheres, Eleonora Menicucci, é uma pessoa infeliz, mal-amada e irresponsável, que adotou uma postura contra o povo e em favor da morte ao defender o aborto em declarações dadas à imprensa. Informada, a ministra não quis comentar as críticas feitas pelo bispo. Recebo com muita indignação as palavras da nova ministra, cuja pasta tem uma grande responsabilidade em favor da vida da mulher, afirmou d. José - para quem a ministra abriu polêmica que pode criar um confronto entre Igreja e governo. O bispo também disse que vai seguir de perto os pronunciamentos da ministra. Vamos acompanhar seu trabalho. Se os discursos forem nessa mesma linha (de defesa do aborto), vamos tomar algumas medidas de protesto, que podem ser panfletos ou manifesto público, acrescentou d. José. Aqui o a CNBB: A CNBB informou, segundo sua assessoria de imprensa, que o fato de a nova ministra ser favorável ao aborto é uma questão pessoal e não a posição oficial do governo. Por isso, de acordo com o secretário-geral da entidade, d. Leonardo Steiner, que é também bispo auxiliar da Arquidiocese de Brasília, não se justificaria uma declaração da CNBB... (as reticências são minhas)

Percival Puggina

12/02/2012
Não foi uma boa ideia essa de cruzar a carga tributária de um grupo de países com o respectivo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) e meter o Brasil no meio. O indicador resultante desse cruzamento funciona como um termômetro para mostrar em que proporção os tributos pagos pela sociedade servem para a melhoria das condições de vida das pessoas. Medida pelo IDH, essa condição se expressa em expectativa de vida ao nascer, indicadores de escolaridade e PIB per capita (IDH). Conclui-se que nosso país, com uma carga tributária de 35% do PIB e IDH de 0,718, fica em 30º lugar no grupo de trinta analisados, atrás, inclusive, do Uruguai e da Argentina. Os contribuintes não precisávamos saber disso, não é mesmo? Claro que aparecerão países em situação ainda pior, quando fizerem uma lista completa, porque sempre dá para estragar um pouco mais, mas não será problema nosso. O nosso problema é aqui, onde, segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, somente a majoração da carga ocorrida nos últimos dez anos subtraiu da sociedade R$ 1,85 trilhão adicionais. Nosso problema é aqui, onde, nos primeiros 20 dias de 2012, já haviam sido recolhidos R$ 100 bilhões aos cofres federais, estaduais e municipais! Pagar muito imposto e ter escasso retorno social pode indicar ineficiência, ou incompetência, ou corrupção. Mas, cá entre nós, é tudo isso junto e mais alguma coisa. Recentemente, os jornais nos informaram que, a despeito das denúncias que rechearam os noticiários sobre o governo federal nos últimos meses, a modalidade de gasto público com dispensa de licitação foi a que mais cresceu no ano passado (97% a mais do que em 2007 e 45% do total!). Eis aí uma pequena trilha das muitas por onde se desencaminha o dinheiro do povo quando sai das nossas carteiras e vai para os erários. Em fins de janeiro, a morte do secretário de Recursos Humanos do Ministério do Planejamento, durante um infarto, quando já batia à porta do terceiro hospital, causou irritação no Planalto. Infelizmente, o Planalto só se irrita quando morre alguém da equipe. Se reagisse assim cada vez que isso acontece com os cidadãos comuns, acabaria resolvendo o problema. Ou consumindo caminhões-tanque de sal de fruta, porque, como todo mundo sabe, fila de espera é uma das causa mortis mais frequentes no Brasil. E vai continuar assim porque na nossa escala de prioridades faz muito sentido termos estádios de luxo e hospitais indigentes. Ou concedermos para a construção de estádios benefícios fiscais negados à construção de hospitais. Por outro lado, a falta de constrangimento com que certos setores se valem das prerrogativas que lhes são concedidas também prejudica as melhores prioridades da ação do Estado. Simplesmente irritante, nesse sentido, a notícia de que a magistratura federal volta a receber auxílio-alimentação. Exigiram o subsídio em substituição ao modo anterior de remuneração porque compunha um valor único, na grande maioria dos casos superior, englobando o valor dos antigos penduricalhos. E agora voltam aos penduricalhos, que, uma vez obtidos, autorizam postular o direito aos atrasados desde 2004. Atrasados somos nós, os contribuintes dessa festa, os mantenedores compulsórios e indefesos da gastança. Atrasados porque pagamos e não bufamos. Pagamos e não nos interessamos por exigir as reformas institucionais em cuja ausência e permanente postergação, se mantém aberto o bufê para banquete dos que se regalam à sombra e sob o manto do poder, distante do qual poucos se conformam em viver. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões

Percival Puggina

11/02/2012
A adoção de cotas raciais para ingresso na universidade pública suscita polêmicas. A UFRGS, alinhada com a lei federal, favorece os alunos oriundos de escolas públicas e, adicionalmente, os de escolas públicas que se declarem negros. Foi o que decidiu seu Conselho Universitário, cujos membros agiram convictos de haver servido à nobre causa da Justiça. Será mesmo? Não será essa uma forma de fazer justiça a uns às custas da injustiça praticada contra outros? O altruísmo é virtuoso porque implica renúncia voluntária ao próprio bem em favor do alheio. Mas não o é quando praticado com o bem ou com o direito de terceiros. Incontestável: os alunos com bom desempenho, que perdem vagas para alunos com desempenho inferior, por força das cotas, são vítimas de injustiça que lhes é imposta. Não são eles os responsáveis pelas mazelas sociais do país. O que está dito acima é simples fato. Não é argumento. Aliás, para argumentar contra o sistema, tampouco preciso desse disparate que é acolher entre os beneficiados das cotas alunos oriundos de alguns dos mais seletos e prestigiados estabelecimentos de ensino público do Estado: Colégio Militar, Colégio Tiradentes e Colégio de Aplicação. Dispenso, igualmente, o fato de a condição racial ser autodeclaratória e nem sempre veraz. Descarto, também, a substituição por cotas sociais, mesmo que estas sejam mais abrangentes e menos preconceituosas. Dispenso-me, por fim, de lembrar aos idosos esquecidos e aos jovens que, há meio século, as mulheres estavam em casa, dedicadas às prendas domésticas. Sem cotas, sem privilégios, com muita perseverança, ao longo dos anos, abriram as portas das universidades e hoje são majoritárias nos cursos mais seletos e nas principais carreiras de Estado. A injustiça tem que ser combatida onde inicia em vez de ser disfarçada onde se torna visível. Se o ensino público compromete o desenvolvimento intelectual de centenas de milhares de estudantes do ensino fundamental e médio, ano após ano, de que vale a UFRGS admitir nos seus cursos apenas algumas dezenas de alunos cotistas? Aliás, recente matéria de ZH mostrou que o grau de reprovação destes é quatro vezes maior do que o dos demais. Há uma usina da injustiça operando na Educação. Sem a desmontar, mediante investimentos pesados nos seus recursos humanos, materiais e tecnológicos, tudo mais será pouco relevante. Não é o vestibular que está errado. Errado está o ensino público de nível fundamental e médio. Injusta, quase criminosamente injusta, é a gratuidade do ensino superior para quem possa pagar por ele. Bilhões de reais que poderiam favorecer o ensino fundamental e médio são perdidos nessa desnecessária gratuidade! Injusto de doer é que o custeio dessa regalia provenha de impostos pagos por todos nós. Inclusive pelos mais pobres dentre os pobres. Inclusive pelo trabalhador cujo filho não passa na universidade pública nem pode custear a particular. Mas esse modelo perverso conta com as unhas e os dentes da esquerda em sua defesa. Até os analfabetos sabem (não é preciso ir às universidades perguntar) que a reprodução da injustiça, no que concerne à Educação, se dá na base do sistema. As raízes grossas da iniquidade não estão na porta de entrada da faculdade e independem da cor da pele do vestibulando. Elas estão nos parcos recursos destinados à escola pública, no professor mal pago e desestimulado, bem como nas demagogias, corporativismos e ideologizações em que tudo, absolutamente tudo, se enreda neste país. Zero Hora, 12/02/2012

Percival Puggina

03/02/2012
O que vou contar aconteceu numa cidade do interior. Por uma questão de prudência que os leitores certamente entenderão e desculparão, será preciso omitir detalhes e nomes dos personagens. Havia nessa cidade uma importante empresa que respondia por muitos empregos e tinha peso significativo na vida da comunidade. Era uma organização antiga, que atuava em diversos segmentos, sob o comando centralizado e pessoal do diretor-presidente. Certa feita (para mim, relato sem certa feita situa-se fora do tempo), chegou ao município uma senhora, com formação na área de economia, especialidade bem incomum naquelas bandas onde passou a lecionar e a escrever artigos com análises das características, potencialidades e gargalos do desenvolvimento local. Com o tempo, tornou-se consultora requisitada, trabalhou para a prefeitura, e foi conquistando a confiança da comunidade malgrado certas reticências que circundavam e envolviam o seu passado. Quando o peso dos anos (peso dos anos é outra expressão boa e verdadeira) começou a incidir sobre o diretor-presidente da organização, ele se lembrou da economista e resolveu convidá-la para assumir uma função gerencial a ser exercida em conjunto com ele. Antevia-se uma mudança na estrutura da empresa e uma profissionalização de sua gestão. O arranjo funcionou durante vários anos, ao longo dos quais a gerente foi ampliando seu raio de ação e seu poder, passando, na prática, a dirigir tudo com mão de ferro. Ficou conhecida, no âmbito interno e externo, como pessoa dura no trato, inflexível, exigente, detalhista e centralizadora. Tudo passava por ela que, infatigável, parecia nascida para aquelas minuciosas tarefas. Diplomacia e política não eram peças de seu cardápio. Pão, pão e queijo, queijo. A empresa, num mercado pouco competitivo, ia bastante bem, com desempenho positivo sob o impulso de ventos favoráveis da economia. Assim, quando o diretor-presidente decidiu se afastar em definitivo, resultou consensual que caberia a ela assumir oficialmente o posto. Poucos meses mais tarde, surgiram boatos. Havia algo errado. De início era apenas um zum-zum interno. Mas o zum-zum chegou às ruas, e rapidamente atingiu aquele lugar onde não poderia entrar sem causar comoção: o café da cidade. Dali para o jornal local era só meia quadra. E o diretor do periódico não era do tipo que sentasse em cima das matérias. Aliás, é assim mesmo que as coisas funcionam. O problema vai para a rua e quando retorna das ruas, em letra de forma, já é encrenca grossa. Resultado: começaram as investigações, as auditorias e o que se ficou sabendo estarreceu a todos. Havia muito tempo a empresa vinha sendo rapinada internamente. Roubava-se no almoxarifado, na tesouraria, no setor de compras, no comercial, na manutenção, no pessoal. Onde quer que mexessem, apareciam falcatruas dos encarregados. Naquele santuário da comunicação social - o café da cidade - as pessoas mais esclarecidas se perguntavam: como pode alguém ter adquirido fama de boa gestora enquanto a organização que dirigia com mão de ferro vivia esse completo descontrole? Só os tolos não se davam conta disso. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões

Percival Puggina

28/01/2012
Inevitável. A sensação da semana foi a presença do italiano Cesare Battisti em Porto Alegre. Tudo estava preparado para uma palestra de José Graziano, como evento do Fórum Social Temático, quando - surpresa geral! - o italiano, com cabelo de jogador argentino e vestindo camisa vermelha, apareceu pisando firme no tapete do Palácio Piratini. A bem da verdade, diga-se que o tapete já estava lá. Não foi desenrolado para o receber. Mas celebridade é celebridade, holofotes e microfones foram atrás e Graziano ficou às escuras com suas teses. Battisti dominou o noticiário estadual nas 24 horas subsequentes. Alinho-me entre os que ficaram perplexos com as imagens do governador do Rio Grande do Sul cumprimentando efusivamente o italiano e acolhendo-o sorridente, entre abraço, apertos de mão e um caloroso Bem-vindo ao Rio Grande do Sul!, como se pode ver e ouvir aqui, em short link: http://bit.ly/ACiXwt. Embora considere o episódio constrangedor para nosso Estado, não quero discutir seu significado simbólico, conforme, aliás, foi percebido por muitas manifestações de leitores na edição de quinta-feira de Zero Hora e no programa Polêmica, da Rádio Gaúcha, na manhã do mesmo dia. O militante do Proletários Armados pelo Comunismo, tendo ganho a liberdade, estava autorizado a circular livremente pelo país, vir a Porto Alegre e entrar no Palácio, mas, cá entre nós, nada justifica aquela acolhida afável. Há antecedentes. Durante o anterior governo petista, um representante das FARC, Hernán Ramirez, foi recebido em audiência no Palácio Piratini. Nunca se soube do que tratou com Olívio Dutra. Articula-se nas FARC um naipe completo dos maiores flagelos da humanidade: comunismo, guerrilha, terrorismo, tráfico de armas e de drogas pesadas. Das pragas modernas só ficam de fora a bomba atômica, o câncer e o funk. O resto todo é operado por essa organização que, por afinidade ideológica, ganhou audiência no governo petista em 1999. Nos primeiros eventos do FSM em Porto Alegre, entre Josés Bovés e assemelhados, por aqui foram recebidas representações do IRA, do ETA, do governo cubano e outros apologistas da violência. Os estandes instalados junto aos locais de encontro só se disponibilizam adereços com ícones revolucionários e literatura marxista da pior qualidade. Até hoje não consegui saber se existe em Porto Alegre algo que a transforme em Jerusalém dessas romarias anuais, ou se isso acontece apenas porque aqui o contribuinte paga boa parte da conta. A questão de fundo, no Caso Battisti é a natureza dos crimes. Políticos ou não políticos, os crimes? Se políticos, ele ficaria no Brasil, se não políticos, seria mandado para a Itália. O STF decidiu que os crimes não foram políticos e recomendou a extradição, mas atribuiu a providência ao arbítrio do presidente da República. Este seguiu a orientação do então ministro Tarso Genro e optou pela concessão do refúgio. Em certas correntes ideológicas, até mesmo crimes de sangue, se cometidos a serviço da causa, ganham proteção, indulgência e tratamento privilegiado. Isso é inaceitável! Não foram políticos todos os criminosos mais letais, todos os genocidas que a humanidade conheceu? Não são dessa natureza os crimes mais hediondos da história? Ademais, uma coisa é alguém obter refúgio por estar submetido a injustificada perseguição política. Outra, bem diferente, é tratar o criminoso comum com maior severidade do que o criminoso político. Como sociedade, será um desperdício se nada aprendermos com esse lamentável episódio. ZERO HORA, 29/01/2012

Percival Puggina

28/01/2012
É possível, com algum esforço, criar uma palavra e atribuir-lhe um significado universalmente conhecido. Mas é quase impossível mudar o significado de uma palavra suprimindo ou alterando seu conteúdo simbólico consolidado. Fará muita bobagem na política quem não souber isso ou, ao menos, não o intuir. Exemplifiquemos. Você dificilmente participará de uma missa, ouvirá um sermão ou lerá um documento da CNBB sem que se depare com a palavra excluído. Ela estará ali, para a mensagem, assim como a farinha de trigo está para a hóstia. Procure essa palavra nos quatro evangelhos e veja quantas vezes é mencionada. Já fez isso? Pois é. Nenhuma. Quando alguém, astuciosamente, substituiu a palavra pobre (esta sim, 25 vezes referida nos evangelhos) por excluído, infiltrou um conteúdo ideológico na mensagem cristã. E quem não estiver prevenido receberá doses frequentes de veneno marxista em substituição ao verdadeiro ensinamento de Jesus, um ensinamento de amor ao próximo, de caridade, de zelo fraterno e de rejeição à idolatria da riqueza. Não há nos evangelhos qualquer esboço de luta de classes. Não há uma gota sequer de ódio aos ricos, mas severas advertências a quem apenas se ocupa com acumular bens onde eles são consumidos pela ferrugem e pelas traças. Já a noção de exclusão implica a simétrica noção de inclusão e de ambas se deduz que o excluído é sujeito passivo da ação de exclusão que sobre ele exerce o sujeito ativo incluído. Vai uma bandeirinha vermelha aí? O ensino cristão sobre os bens materiais não significa, em absoluto, nem poderia significar, uma proposta de organização da economia sem direito de propriedade, sem iniciativa privada, sem produção, sem negócios, sem remuneração e sem lucro. Num mundo com bilhões de habitantes essa seria a receita da miséria e da inanição. Vamos em frente. Atente, leitor, para a palavra capitalismo. Volta e meia ela é usada para definir um sistema vantajoso, oposto ou em contraposição ao socialismo como sistema econômico. Ora, a carga simbólica da palavra capitalismo é tão negativa, malgrado se refira a um modelo comprovadamente superior ao socialismo, que até parece ter sido concebida por seus adversários, não é mesmo? E, de fato, foi! Esse vocábulo entrou nos dicionários na segunda metade do século 19, levada pelos textos de socialistas e anarquistas, a partir de Marx, Proudhon e outros. Portanto, usar como bandeira, proposta ideológica ou plataforma de organização da ordem econômica uma palavra com essa carga negativa, cunhada pelos próprios adversários da tese que expressa, é uma burrice com fome de pasto. Em tudo semelhante a de quem usa ingenuamente a palavra excluído em seus atos penitenciais, sem perceber o erro que está cometendo. Reze pelos pobres e aja em favor deles, meu irmão. Mas não caia nas redes da Teologia da Libertação! Veja o que escreveu o Papa João Paulo II, no nº 42 de sua extraordinária encíclica Centésimo Ano (1991): Voltando agora à questão inicial, pode-se porventura dizer que, após a falência do comunismo, o sistema social vencedor é o capitalismo e que para ele se devem encaminhar os esforços dos Países que procuram reconstruir as suas economias e a sua sociedade? É, porventura, este o modelo que se deve propor aos Países do Terceiro Mundo, que procuram a estrada do verdadeiro progresso econômico e civil? A resposta apresenta-se obviamente complexa. Se por capitalismo se indica um sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada e da consequente responsabilidade pelos meios de produção, da livre criatividade humana no setor da economia, a resposta é certamente positiva, embora talvez fosse mais apropriado falar de economia de empresa, ou de economia de mercado, ou simplesmente de economia livre. Ele veio de um país comunista e sabia das coisas. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Miriam Leitão

27/01/2012
VENDER MELHOR Míriam Leitão - O Globo (...) Em 2001, o café estava sendo vendido a US$ 964 a tonelada; no ano passado, foi a US$ 4.463. Esse é um dos poucos produtos da nossa pauta cuja previsão é de nova alta este ano, para US$ 4.600. A soja, que no ano passado chegou a US$ 495, era vendida a US$ 173 em 2001. Em dez anos houve um aumento de 186%. Açúcar saiu de US$ 197 a tonelada para US$ 573, e este ano o preço previsto é de US$ 530. Carne bovina saiu de US$ 2.006 para US$ 5.077 em dez anos, e este ano a previsão é ficar em US$ 5.000. Minério de ferro deu um salto de US$ 18 para os US$ 126 do ano passado. O Brasil foi muito beneficiado pelo boom de commodities. Isso produziu um salto impressionante nas receitas com esses produtos. De café, o Brasil tinha receita de exportação de US$ 1,2 bilhão e foi para US$ 8 bi. Soja saiu de US$ 2,7 bilhões para 16,3 bi entre 2001 e 2011. Para 2012, a previsão da AEB é que não chega a US$ 14 bilhões. De açúcar e açúcar refinado, o Brasil vendeu US$ 2,2 bilhões em 2001, e US$ 5,8 bi no ano passado. No minério de ferro, deu um salto fenomenal, de US$ 2,9 bilhões, em 2001, para US$ 41,8 bi, no ano passado, 14 vezes mais. Em 2012, a previsão é de US$ 332,6 bilhões de exportações totais. Nesse período, houve aumento da quantidade exportada também, porque a demanda cresceu, mas o preço subiu mais rapidamente. Quando se comparam com os outros países se vê que o Brasil mal saiu do lugar. ? As exportações brasileiras foram 1,4% das exportações mundiais no ano passado, o mesmo número de 1985. O Brasil é o 22º do mundo em exportação. Alguma coisa está muito errada com o comércio exterior, porque o Brasil mudou muito de 1985 até agora ? afirma Winston Fritsch. O histórico do ranking mundial montado pela AEB registra que o Brasil em 1970 era o 20º lugar. Depois, caiu vários pontos nessa classificação e em 2000 era o 28º. Em 2012, voltará ao lugar em que estava em 1970. A Índia era o 30º e em 2012 será o 16º. A maior parte da exportação da Índia é de produtos industrializados. A China era o 29º e agora é o primeiro. A Coreia em 1970 era o 49º e agora é o sexto maior exportador mundial. Em resumo, os preços dos produtos que o Brasil exporta deram saltos; o volume vendido aumentou, mas o país continua vendendo relativamente a mesma coisa. Vários países mesmo sem as vantagens de grandes produtores de matérias-primas e alimentos tiveram desempenho melhor do que o do Brasil.(...) Agora, concluo eu: o que, raios, o PT fez para que isso acontecesse?