Percival Puggina

16/06/2012
Eu sei, o conceito de cultura é mais abrangente que bolsa de mulher. Dentro dele há de tudo e quase tudo que não há, também cabe. Então tratemos de nos entender: 1º) por falta de outra palavra, cultura designa, aqui, o bem colhido por quem busca prazer e elevação do espírito no conhecimento e na Arte; e 2º) quando me refiro às vertentes do conhecimento estou falando, principalmente, de Filosofia, Política, Direito, História e Religião. As vertentes da Arte são muitas e proporcionam lazer e prazer. Embora os indivíduos recolham da cultura expressivos benefícios pessoais, mesmo quando individualmente construída ela é socialmente proveitosa. Tanto os que a produzem quanto os que a buscam são essenciais ao progresso das civilizações. Agora, leitor, dê uma olhada em seu entorno. Será impossível não perceber o quanto isso que escrevi vai na contramão do que se vê disponibilizado como se fosse bem cultural ao consumo da população. Felizmente, suponho que por uma questão de pudor, para que não se confunda uma coisa com a outra, música virou som. E, com exceções, sumiram os dois. Ficou o barulho. Pode a música, a boa música, sumir? Pode. A boa música pode. E os livros? Sumirão também? Intuo que vem aí uma geração para a qual livros ? em papel ou virtuais - serão objetos de um tempo remoto, coisas da casa do vovô e da vovó. Ainda são vendidos, é verdade, mas não se pode dizer que por muito tempo, nem que parte significativa das vendas atuais expresse muito gosto pela Literatura (exceto se ampliarmos o conceito para abrigar obras de auto-ajuda, vampirismo, histórias sobre animais domésticos e assemelhadas). Filosofia? Dá uma canseira danada. História? Consulte o governo. Ou ele escolhe os livros ou nomeia uma comissão para contar, tim-tim por tim-tim, toda a verdade. De Política não se quer ouvir falar. Na comunicação de massa pela tevê, o que há 20 anos era visto como baixaria e causa de escândalo hoje se afigura como clássico, recatado e requintado. Resumindo, o padrão cultural do brasileiro despenca num escorregador recoberto pela mais sebosa vulgaridade. Não vou me aprofundar nisso para não ficar deprimido. Certas correntes antropológicas promovem verdadeiro terrapleno cultural. Não existe cultura melhor nem pior, superior ou inferior. Tudo é cultura e tudo é apreciável como símbolo de ideias e comportamentos coletivos. No entanto, a civilização continuará produzindo seres humanos que, em ambiente adequado, valorizarão o bem e o belo, o saber e a verdade. Com a sociedade se massificando cada vez mais e mantidas as hegemonias que se instalam no mundo da Educação e da Política, a elite cultural brasileira definhará em importância. Os espaços de decisão serão tomados por aqueles que estabelecerem mais proveitosa interlocução com a massa crescentemente ignara, presa fácil na malha da mediocridade a seu alcance, da mentira bem contada e da promessa sedutora. Precisaríamos muito de um renascimento cultural. Mas como produzi-lo? Onde quer que olhe, não vejo sinais disso. Quase tudo que leio expressa grosseiro menosprezo pela virtude, pelas coisas do espírito e pela elevação da mente humana aos níveis de competência que lhe foram disponibilizados pelo Criador. Sei, sei, só escrevo estas coisas horrorosas, escandalosas, porque sou um conservador, palavra que a novilíngua marxista conseguiu transformar em xingamento. É categoria que, no Brasil, se desdenha. E, neste caso, diferentemente do conhecido aforismo, quem desdenha não quer comparar. Eu escrevi com-pa-rar. Zero Hora, 17/06/2012

Percival Puggina

16/06/2012
CATÁLOGO DE APOSTASIAS E HERESIAS Entre 7 e 11 de outubro deste ano deverá ocorrer em Novo Hamburgo (e, por enquanto, precisamente na universidade jesuíta da Unisinos), um tal ?Congresso Continental de Teologia: Aos 50 anos do Vaticano II e 40 anos da Teologia Latino-americana e Caribenha? . Entre os participantes, se incluem inimigos frontais da Igreja, do papado e de Roma. Alegra-me saber que há trinta anos venho combatendo tal subteologia, dita latino-americana e caribenha, e recolhendo, graças a isso, verdadeira congregação de inimigos, entre maliciosos e inocentes, úteis e inúteis. Vale a pena ler a matéria no site Fratres in unum, aqui: http://bit.ly/M9oKiy. Por que será que um evento desses, continental, escolhe o Rio Grande do Sul e a Unisinos para sediar-se?

Percival Puggina

16/06/2012
Entre 7 e 11 de outubro deste ano deverá ocorrer em Novo Hamburgo (e, por enquanto, precisamente na universidade jesuíta da Unisinos), um tal ?Congresso Continental de Teologia: Aos 50 anos do Vaticano II e 40 anos da Teologia Latino-americana e Caribenha? . Entre os participantes, se incluem inimigos frontais da Igreja, do papado e de Roma. Alegra-me saber que há trinta anos venho combatendo tal subteologia, dita latino-americana e caribenha, e recolhendo, graças a isso, verdadeira congregação de inimigos, entre maliciosos e inocentes, úteis e inúteis. Vale a pena ler a matéria no site Fratres in unum, aqui: http://bit.ly/M9oKiy. Por que será que um evento desses, continental, escolhe o Rio Grande do Sul e a Unisinos para sediar-se?

Percival Puggina

15/06/2012
DEPOIS DO SEQUESTRO, VALDÍVIA QUER VOLTAR PARA O CHILE Pois é. E nós, que somos brasileiros, quando teremos de volta um Brasil com segurança, onde a cadeia seja o destino certo dos bandidos e onde as penas sejam cumpridas? Estamos todos fartos da indulgência para com a criminalidade! É assustador que essa indulgência seja nítida nos três poderes de Estado, mantidos com os recursos das vítimas reais ou potenciais dos bandidos. Estamos todos fartos do discurso politicamente correto segundo o qual isto que estou afirmando aqui é postura vingativa e desumana. Desumano é circularem pelas ruas bandidos de colarinho puído com extensa ficha criminal e criminosos públicos de colarinho branco. Quem não sabe - como afirmou um amigo meu, dias atrás - que o julgamento do mensalão ou acaba em pizza ou em cestas básicas? Valdívia tem o Chile para voltar. E nós, quando daremos um jeito no Brasil?

Percival Puggina

14/06/2012
Estive fora do Brasil. Em matéria de corrupção, foi um período sabático. Ao longo de três semanas, percorri duas dezenas de cidades francesas, coincidentemente na reta final da campanha para as eleições parlamentares. Eleição distrital pura. Em cada distrito pelo qual passei, nunca mais do que meia dúzia de participantes em disputa. Pequenos cartazes, de idêntico tamanho, um para cada candidato e um ao lado do outro, fixados em espaços públicos predeterminados, compuseram toda a campanha de rua que pude perceber por onde passei. O resto foram debates na tevê, em horário noturno. Campanha baratíssima, portanto. Bastou-me voltar ontem ao Brasil para me deparar com um novo absurdo proporcionado pela CPMI criada para esclarecer os escândalos em que está envolvido o senhor Carlinhos Cachoeira. A base governista da comissão decidiu não convocar o ex-diretor do Dnit, Luiz Antônio Pagot. E fez o mesmo em relação ao ex-proprietário da Delta Construções, Fernando Cavendish. Como se vê, a CPMI começa a se tornar uma infâmia maior do que o escândalo sob sua investigação. Entendamos bem o conteúdo da decisão. E baixemos logo a tampa para evitar os maus odores. A CPMI, cujo pivô recebe assistência jurídica do ex-ministro da Justiça do governo Lula, o Dr. Márcio Thomaz Bastos, vem convocando depoentes que entram mudos e saem calados. Muitos parecem aprendizes do estadista de Garanhuns. Nada sabem, nada viram e não estavam por perto quando aconteceu. O próprio advogado do Carlinhos Cachoeira será intimado pelo Ministério Público a esclarecer como recebe honorários calculados em R$ 15 milhões de uma pessoa que, fora do mundo do crime, não tem renda para contratar um estagiário. É legítimo receber valores nesse montante, oriundos de atividade ilegal ou criminosa? Dinheiro sujo, ao entrar na contabilidade do escritório de um advogado, se torna dinheiro limpo? As operações que realizam esse fim não são denominadas de lavagem de dinheiro? O escritório do ex-ministro da Justiça considera a indagação um abuso e um retrocesso nas garantias constitucionais. E nada mais diz. Pois bem, o ex-diretor do Dnit se ofereceu para depor! Avisa que tem muito para contar. Diante desse oferecimento, que faz a base do governo numa CPMI em flagrantes dificuldades para ouvir depoentes que deponham? Se recusa a convocá-lo. Esse cara vem aqui para falar? De jeito nenhum! Só queremos convocar quem nada tenha a dizer. Aqui ninguém fala!. Então convoca o Cavendish!, deve ter ponderado a oposição. Também não. Sem essa de ouvir o ex-dono da principal contratante do PAC, que se teria vangloriado de comprar quem quisesse no país. Sabem quem, a maioria dos membros da CPMI decidiu convocar? A mulher do Carlinhos Cachoeira. Verdade. Parece que na semana que vem chamarão a dona do instituto de beleza que ela frequenta. Depois o veterinário da pet shop onde o totó da família é levado para rotinas de banho, pelo e bigode. E, mais adiante a Mônica, o Cebolinha e o Cascão, aquele sujo. Nada como algo assim para a gente se sentir, de novo, pisando solo pátrio. ______________ * Percival Puggina (67) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

10/06/2012
?O comunismo acabou?, dizem. Os defensores da coligação do PP com o PCdoB alegam que ?o comunismo acabou? e que opor-se a ele é ?ranço ideológico?. Quero lembrar que em dezembro do ano passado, quando morreu o ditador comunista da Coréia do Norte, Kim Jong-il, o PCdoB, em nota oficial assinada pelo presidente nacional Renato Rabelo e pelo secretário de relações internacionais do partido, Ricardo Abreu Alemão, lamentou com ?profundo pesar? a morte do carniceiro coreano. Dois meses mais tarde, as comemorações dos 90 anos do PCdoB foram marcadas em programas de rádio e tevê com eloqüentes homenagens ao espião e traidor da pátria Luís Carlos Prestes (quem quiser saber mais sobre o caráter desse senhor informe-se sobre a morte de Elvira Cupelo). Por outro lado, a pergunta sobre se o comunismo acabou, de modo que afirmar em contrário seja, mesmo, ?ranço ideológico?, deve ser feita, por exemplo, ao deputado Raul Carrion, à ex-deputada Jussara Cony, bem como a dirigentes e militantes comunistas de outros partidos com análoga matriz doutrinária. E se lhe disserem que numa administração municipal não há muito espaço para ideologia, procure lembrar-se qual a corrente ideológica e a que vertente pertencem os militantes que, em Porto Alegre, nas últimas décadas, se abraçam a qualquer macega ou charco, do Cais Mauá ao Estaleiro Só, para impedir o progresso da cidade, ou se envolvem em quaisquer invasões de bens públicos ou privados.

Percival Puggina

08/06/2012
O Partido Progressista de Porto Alegre decidirá, no próximo dia 11, qual o candidato que apoiará na eleição de outubro para a prefeitura da Capital. Sou convencional, mas estou em viagem e não terei retornado até aquela data. Embora minha posição já tenha sido expressa dentro e fora do partido antes de viajar, considero oportuno reafirmá-la e formalizá-la quando se aproxima a data da importante decisão. A lista de coisas inadmissíveis, em política, é extensa. E coligações como a pretendida com o PCdoB fazem parte dessa lista. Um partido político pode renunciar a muitas coisas. Pode renunciar a cargos, a projetos de poder, a candidaturas. Pode, até, renunciar ao próprio nome como o PP fez ao deixar de ser PDS. Mas não pode renunciar ao conjunto de seus princípios, nem unir-se com quem tem princípios que lhe sejam totalmente opostos. Aliás, foi a unidade nos dois conjuntos ? no das coisas que o partido defende e no das coisas que rejeita - que permitiu ao grupo partidário continuar unido e sendo quem sempre foi, malgrado as mudanças de nome. A identidade sempre foi sólida no plano essencial das convicções. Há duas administrações consecutivas o PP vem participando, de modo continuado, do governo municipal de Porto Alegre. Nos últimos anos, exerceu a liderança na Câmara de Vereadores. Essa tarefa foi confiada ao admirável homem público que é o vereador João Dib. Unir-se agora à oposição não é algo que se faça sem insuportável constrangimento! Já vi outros partidos agindo assim e sempre considerei deplorável tal prática. Definitivamente, não nos imagino fazendo a mesma coisa. Não, essas práticas do lulismo ainda não nos seduziram! Estou convencido de que venceremos as eleições com uma coligação já testada, em torno do prefeito José Fortunatti. Mas, ainda que não fosse assim, se o caminho para uma vitória em outubro fosse uma coligação pelo lado oposto, com o PCdoB, essa seria uma vitória que eu preferiria não ter. Um partido é algo que se demora a fazer. Mas se desmancha facilmente com casuísmos, cisões internas e renúncias a valores irrenunciáveis. Iniciada a campanha, os eleitores porto-alegrenses logo compreenderão quem sabe a que vem. E quem vem ao que não sabe, porque, até hoje, só atravancou o desenvolvimento da cidade, estimulou invasões de bens públicos e particulares, agindo contra a ordem e contra o progresso. Não me seduzem demonstrações de afeto nascidas do interesse eleitoral. Tampouco me mobilizam os anúncios de reciprocidade. Passo, agradeço e desconfio. Logo ali, em 2014, haverá decisões tomadas vários andares acima deste em que hoje estamos. Haverá outros atores, outros projetos de poder, outros interesses e novas circunstâncias. Aqueles que hoje nos pedem apoio têm todo o direito de fazê-lo. Mas não nos tomem por ingênuos. Muito sucesso aos candidatos a vereador, ao prefeito Fortunati. Todo o respeito ao meu partido. Todo o respeito ao partido, como eu o conheci. Com os valores que há quase 20 anos venho me dedicando a difundir. Que Deus inspire a decisão dos convencionais para que ela não nos comprometa com aqueles que O rejeitam. Percival Puggina (Autorizada a reprodução)

Percival Puggina

02/06/2012
Se eu compreendi direito, temos duas versões totalmente divergentes sobre a trombada ocorrida na esquina da vida onde recentemente se cruzaram Lula, Nelson Jobim e Gilmar Mendes. Numa das versões, o ministro do STF foi insistentemente pressionado e, por fim, ouviu uma insinuação que entendeu e contestou como se chantagem fosse. Noutra, foi um encontro cordial, em que o trio abordou ?questões genéricas, institucionais?. Quase como se estivessem jogando conversa fora. Existem coisas inverossímeis. Claro que verossimilhança e seu antônimo não servem para firmar convicções absolutas, mas ajudam a gente a não fazer papel de bobo. Perante afirmações de difícil comprovação, podemos apelar para esse critério. Assim, por exemplo, se alguém disser que São Francisco de Assis acumulou uma fortuna em esmolas e a enterrou em algum ponto da Úmbria, a gente pode rejeitar a afirmação como falsa. Ela não seria coerente com a história de vida de uma pessoa que levou seu desapego aos bens materiais ao ponto de retirar-se da abonada casa paterna sem ter sequer um bolso para colocar as mãos. Não, não. O Poverello morreu poverello como uma andorinha. Todavia, se nos disserem que Mark Zuckerberg, o mal falado criador do Facebook, atropelou alguém no mundo dos negócios, podemos admitir o fato como provável porque há vários relatos nesse sentido. Assim também, se for atribuída a Carlinhos Cachoeira alguma operação empresarial irregular, a coerência entre a acusação e a imagem pública do cidadão será útil para formar opinião a respeito do episódio em si. Pelo viés oposto, quando lemos que Demóstenes Torres tinha ?liaisons dangereuses? com o mundo do crime, foi necessário que se exibissem muitas evidências para criar um convencimento a respeito porque se tratava de algo incompatível com quanto dele até então se sabia. A notícia do encontro entre Lula e o ministro Gilmar Mendes, no escritório do ex-presidente do STF, nos coloca perante uma dessas situações. É inverossímil que os três ali estivessem apenas para tratar de generalidades. Vale lembrar, adicionalmente, que Lula, ao deixar a presidência, informou que dedicaria parte de seu tempo a provar que o mensalão não existiu. Ora, o referido processo, depois de longa jornada através dos anos e das linhas e entrelinhas dos códigos, está em vias de desabar muito peso pesado da política nacional sobre o colo dos onze do STF. Para quem queria provar que o mensalão não existiu, uma absolvição no Supremo (ou um adiamento para as calendas da impunidade geral) seria tudo de bom. Por outro lado, ninguém pode acusar o ex-presidente de excesso de escrúpulos no jogo do poder. Que o diga a ciranda de ministros a que restou constrangida a presidente Dilma. Tampouco se atribuirá a Lula qualquer devoção à sacralidade das instituições ou reverência às melhores regras do jogo político. Eis porque, quando a notícia da reunião se tornou pública, ouvi negativas à versão de Gilmar Mendes, mas não vi uma única boca aberta em forma de ?o? expressando incredulidade: ?Quem? O Lula? Não! Ele jamais seria capaz de uma coisa dessas!?. É aí que entra, novamente, a questão da verossimilhança. Ela não faz prova. Ela não condena. Sobre ela incide, sempre, poderosa dúvida razoável a serviço dos advogados de defesa. Mas o passado conta. E nem toda história ou biografia ganha o privilégio de uma comissão encarregada de a reescrever ao gosto da freguesia. Pelo menos é o que se espera. ZERO HORA, 03 de junho de 2012

José Antônio Giusti Tavares

21/05/2012
?Deus primeiro enlouquece aquele a quem quer punir?. Ao longo do tempo esta passagem de Sófocles passou a designar as conseqüências desastrosas da insensatez, a qual, por sua vez, procede em regra da combinação entre vaidade, ambição e ignorância. Este artigo ocupa-se da aliança regional, no Rio Grande do Sul, entre o Partido Progressista e o Partido Comunista do Brasil: um engenhoso achado por meio do qual duas representantes legislativas, Ana Amélia Lemos, Senadora pelo PP/RS, e Manuela d?Ávila, Deputada Federal pelo PCdoB, pretendem simplesmente envolver, em estrito benefício de suas carreiras eleitorais pessoais, as lideranças, os militantes e os eleitores de seus respectivos partidos. Aparentemente não foi difícil à Senadora persuadir os representantes do PP na Assembléia Legislativa do Estado a apoiarem a idéia. Empenha-se, agora, em convencer os edis da capital. Trata-se de um pacto no qual uma parte, a senadora, deve cumprir a sua obrigação primeiro, apoiando a eleição da deputada ao governo municipal de Porto Alegre, na expectativa de que a outra, a deputada, cumpra a sua no futuro, apoiar a eleição da senadora ao governo do Estado: ou seja, daquele tipo particular de pacto para cuja fragilidade já alertara Thomas Hobbes no século XVII. Mas essa é a questão bem menor. O Partido Progressista possui sólidos vínculos de integração política, constituídos a rigor desde o regime constitucional de 1946 e pelo PSD, com o eleitorado e com as lideranças representativas das diferentes regiões do Rio Grande do Sul. Tem identidade e consistência bem definidas quanto a valores e a propósitos políticos, que lhe permitiram permanecer incólume frente à expansão avassaladora do malufismo, que invadiu os demais estados do país entre o fim do regime militar e os primeiros anos da Nova República. Talvez apenas na perspectiva do tempo se possa medir a magnitude da ameaça que o devaneio e a futilidade trazem para o Partido Progressista e para o Rio Grande do Sul: a insólita negociação, que faria escândalo ao coronelismo da Primeira República, trai e envergonha figuras públicas respeitáveis, condenando-as mesmo à indignação silenciosa. A senadora afirmou que o acordo obedecia a uma atitude pragmática e que, nele, a única dificuldade consistia em um nome. O PCdoB não é apenas um nome: seus veículos de difusão ideológica afirmam que, ao contrário do que supõem os reacionários e os idiotas, o comunismo não desapareceu com o Muro de Berlim ou com a desintegração do Império Soviético. Os comunistas têm razão. O comunismo não é apenas um nome e não há qualquer dúvida ou ambigüidade possível: só há um comunismo moderno, o marxismo-leninismo. Por outro lado, o simbolismo possui um papel fundamental na política, e os comunistas empregam-no com grande inteligência. O propósito que um macro ou micro partido comunista busca não consiste, em um primeiro momento, em fazer leis ou lograr o controle do governo, mas simplesmente em ser acolhido pela política constitucional, participando das instituições por cima, silenciosamente, e minando-as por baixo, pelo ruído popular. Mas não se tenha dúvida: deixando-se assimilar no primeiro momento pela política constitucional, no segundo empenha-se em assimilá-la e sujeitá-la inteiramente. A senadora definiu também a sua atitude como pragmática. Na política européia e norte-americana o termo se emprega com propriedade e rigor. Contudo, no Brasil, converteu-se, há longo tempo e ainda hoje, na designação que se auto-atribuem, com muita freqüência, detentores de mandato público, legislativo ou executivo, para mascarar o tráfico de recursos públicos, com os eleitores e entre si, na busca pessoal de ganhos privados, que o mau uso do mandato representativo lamentavelmente permite. Trata-se da política de clientela, para cujos efeitos perversos têm alertado há longo tempo os estudos clássicos sobre a política brasileira: desintegra a identidade partidária, sem a qual não há democracia representativa, e dizima ou pelo menos torna inefetivas e inócuas as oposições, sem as quais a liberdade constitucional desaparece. Se o Brasil deseja uma democracia constitucional e representativa, necessita de pluralismo partidário real, com pelo menos um sério partido liberal, um sério partido social-democrata e um sério partido conservador. Não necessita de qualquer partido comunista, macro ou micro, de verdade ou de brinquedo. * Cientista Político.