Percival Puggina

17/12/2011
Mentem, sobretudo, impune/mente. Não mentem tristes. Alegremente mentem. Mentem tão nacional/mente que acham que mentindo história afora, vão enganar a morte eterna/mente. (Do poema A implosão da mentira, de Affonso Romano de SantAnna, escrito em 1980) Para a jornalista Ann Landers, a verdade é nua, ao passo que a mentira é sempre bem vestida. Com efeito, a mentira é vestida para seduzir e induzir ao erro. Há um problema grave na vida social, portanto, quando a mentira se vulgariza, ganha status de direito e passa a ser tolerada como conduta normal. Na minha infância, a mentira determinava repreensões severas e era sancionada no catálogo das penas. Mas o sermão acabava sendo ainda mais contundente do que a punição. Hoje, a mentira pode ser pública, pode ser publicada, pode aparecer nas manchetes. Pouco importa. Ela é acolhida entre as artes e ofícios da vida social. Poderia estar falando de futebol e das mãos do atleta, espalmadas e erguidas, significando Nem toquei nele! quando joga o adversário para fora do campo com um pontapé que todos viram. Essa é uma das mais correntes e curiosas expressões da mentira. Mentira gestual, silenciosa. Mas não é sobre futebol que escrevo, embora o retângulo gramado, que nos desperta tantas paixões, seja palco de algumas mentiras cabeludas contadas ao país. É sobre política. A conheci como espaço onde, não raro, uma mesma verdade comportava diferentes interpretações, visões incompletas, em versões iluminadas pelas lanternas das distintas ideologias. Parte da tarefa dos agentes políticos consistia em tornar mais convincente sua peculiar perspectiva perante o juízo soberano do eleitorado. Tolerava-se, dentro de certos limites, uma certa diferença entre a conduta de quem chegava ao governo e o discurso que fizera na oposição. Nesse caso, as fronteiras do juízo moral precisavam ser um pouco flexíveis em função do que houvesse dentro dos armários da realidade, como parte oculta da verdade não destapada durante a dialética da campanha eleitoral. As coisas foram mudando. Mente-se industrial e impunemente, como descreve o poema acima. Mente-se com insistência, corroborando o dito popular de que é mais fácil crer numa mentira repetida muitas vezes do que numa verdade desconhecida ou pouco proferida. Julgo ser isso que o poeta chamou de mentir história afora. Uma coisa é o que assumimos, individualmente, como verdadeiro; outra é a mentira. Uma coisa é o ajuste fino entre o discurso e a ação, imposto pela realidade; outra é a incoerência absoluta. E tem mais: uma coisa é estar no jogo democrático sendo democrata; outra é usar a democracia contra a democracia. A mentira, a incoerência e os falsos democratas, que querem calar o contraditório, fraudam o processo dentro do qual se desenrola a soberania popular e alteram o resultado do jogo político assim como o atleta que simula pênalti não sofrido frauda o resultado da partida. A política brasileira teria muito a ganhar se nos tornássemos moralmente mais exigentes em relação aos desdobramentos do debate político. O dinheiro na gaveta ou alhures não é a única forma de corrupção que precisa ser combatida. É bom que a avaliemos com a gravidade que tem. Mas sem perder de vista que há outras. A democracia também é corrompida pela mentira, pela incoerência e pelos não democratas que dela se valem para cobrar direitos que não franqueariam se deles pudessem dispor. ZERO HORA, 18/12/2011

Percival Puggina

16/12/2011
A Lei da Palmada é produto do politicamente correto, que tem por objetivo submeter liberdade e consenso às rédeas de dissensos minoritários. E é mais uma intromissão do Estado na vida privada. Bastaria isso para determinar sua rejeição. Mas ela passou na Câmara dos Deputados e segue a toque de caixa para o Senado. A pedagogia do politicamente correto está produzindo alunos que batem nos professores, mas está convencida de que falta um pouco mais do mesmo. Vale dizer, ainda menos disciplina para ainda mais porrada e bullying. Tudo isso é certo e sabido. Mas o que não se diz é que a Lei da Palmada é irmã da Lei do Desarmamento, do PNDH-3, do vestibular do ENEM, da Lei de Quotas Raciais, do perfil que deram ao STF, da Lei da Homofobia, do marco regulatório da imprensa e por aí vai. Ou seja, não se diz, ou pouco se diz, que há uma ideologia soprando essa praga sobre as famílias brasileiras assim como o vento espalha fungos nas lavouras. É a ideologia do totalitarismo, que implica um Estado com o monopólio da força e com amplas funções modeladoras em relação às instituições da sociedade, entre elas a instituição familiar (quando deveriam ser estas a orientar e domar o Estado!). Recentemente, em programa de tevê, uma pedagoga integrante do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente pregava: O Estado tem o dever de educar a sociedade para novos padrões de conduta. Ela estava convencida, por essa ideologia maldita, que é obrigação do Estado comandar o leitor destas linhas não apenas sobre coisas como declarar sua renda ou se comportar no trânsito, mas sobre como educar seus filhos. O melhor castigo, dizia um psicólogo que aplaudia a aprovação da lei na Câmara dos Deputados, é substituir uma atividade prazerosa da criança por outra menos prazerosa. Punição, como tal, nunca papai. Nunca mamãe. E depois, bem feito: aguentem os malfeitos que virão. Os corretos limites do uso da força já estão dados tanto no Código Civil (perdem o pátrio poder os pais que castigarem imoderadamente os filhos), no Código Penal (punições para casos graves de violência contra crianças e adolescentes) e no ECA (idem). Não era necessária qualquer legislação especial. A estratégia adotada para aprovação da lei na Câmara consistiu em levar o debate como se houvesse dois blocos: os contra a palmada e os a favor da palmada. Haverá alguém a favor da palmada? Alguém é a favor da quimioterapia? No entanto, há situações concretas no ambiente familiar que se resolvem com a simples possibilidade da aplicação de uma palmada. Transformá-la em tema de lei federal, objeto de delação, é completa demasia que nasce, forçosamente, de uma visão totalitária de Estado. Não hesito em afirmar que prejudiciais, mesmo, ao desenvolvimento saudável das crianças são outras coisas muito frequentes na sociedade. A saber: 1) a educação permissiva, que não estabelece limites e franqueia acesso aos vícios socialmente tolerados e não tolerados; 2) a indiferença dos pais em relação ao que fazem os filhos e ao seu preparo para a aventura de viver; e 3) a violência verbal, que faz decair o mútuo respeito e a autoridade paterna. A afirmação de que a palmada introduz a violência na instituição familiar é cristalinamente falsa. A violência entra em casa pela janela, pela porta da rua, pela antena da tevê, pelo bar da esquina e pelo beco onde se aloja o traficante. Ante elas, a eventual palmadinha educativa é o que de fato significa: sinal de amor que educa. Ao contrário do que pensam a deputada Maria do Rosário e seus colegas que aprovaram o projeto, essa lei não coibirá a violência contra as crianças. Se os três instrumentos já existentes (Código Civil, Código Penal e ECA) não conseguiram coibir os maus tratos dentro de casa, não contiveram os pais abusadores e violentos, não será uma lei que proíbe a palmada aplicada pelos pais amorosos e responsáveis que vai produzir isso. O que ela fará é ensinar às crianças (até porque prevê aulas de esclarecimento nas escolas) que é o Estado quem manda naquele pedaço que elas chamam de minha casa, meu barraco, meu apê, minha família. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

12/12/2011
E-MAIL QUE ENVIEI AOS SENADORES MEMBROS DA CDH Subject: SOBRE O PLS 50/2011 ANENCEFALIA E ABORTO Date: Sun, 11 Dec 2011 14:13:06 -0200 Senhor Senador Senhora Senadora Os passarinhos que ciscam a grama do Senado sabem que o STF passou a legislar. É o legítimo caso em que o poder subiu às cabeças. O caminho da roça dessa perversão institucional é proceder uma leitura de preceitos constitucionais restritivos segundo a Constituição. Ou seja: a CF diz que não pode, os constituintes não quiseram autorizar, mas lendo corretamente o espírito da norma o STF deduz que pode... Tenho convicção firme contra o projeto em epígrafe. Mas, infelizmente, não basta obter o assentimento da maioria dos plenários legislativos. Hoje, no Brasil, torna-se necessário aguardar o entendimento do STF porque - valha-Deus! - só ali, nesta esquálida democracia brasileira, é que essas questões polêmicas são decididas num quorum mínimo e ao avesso da representação popular expressa no Congresso Nacional. Sejam vigilantes, por favor, em relação ao que vem acontecendo. Percival Puggina

Percival Puggina

10/12/2011
Está em discussão na Câmara de Vereadores de Porto Alegre um projeto de lei que pretende mudar o nome da Avenida Castelo Branco para Avenida da Legalidade. A vereadora do PSOL que teve a iniciativa do projeto alega que Castelo Branco foi o primeiro presidente do regime militar, um ditador segundo ela, e que a homenagem, portanto, não se justifica. A primeira contestação salta aos olhos de qualquer analfabeto. Como ficam, perante esse critério, tantas ruas, praças e avenidas com o nome de Getúlio Vargas (para não mencionar Floriano Peixoto, Julio de Castilhos, Borges de Medeiros e tantos outros)? Getúlio implantou uma ditadura duríssima entre 1937 e 1945. A vereadora contrapôs aos que lhe apresentavam esse argumento, que Getúlio, antes de ser ditador, havia sido eleito... Impressionante desconhecimento de história! Getúlio Vargas disputou a eleição presidencial de 1930 contra o paulista Julio Prestes e perdeu por uma diferença de 300 mil votos, numa eleição com 1,8 milhão de votantes. As alegações de fraudes surgiram de parte a parte e parecem bem prováveis diante do fato de que nosso conterrâneo fez 100% dos votos do Rio Grande do Sul! Aliás, João Neves da Fontoura, logo após o pleito, afirmou, em um dos muitos prenúncios da revolução que se seguiria: Com esses homens e essas leis essa foi a última eleição presidencial no Brasil. Portanto, Getúlio assumiu a presidência em 1930 conduzido por um levante armado que depôs o presidente Washington Luís e impediu a posse do recentemente eleito Júlio Prestes. Foi como chefe de um Governo Provisório que exerceu o poder até 1934, revogadas por decreto as garantias da Constituição de 1891. Em 1934, ante as insistentes pressões legalistas que já haviam eclodido em São Paulo em 1932, convocou uma Constituinte. Foi essa Constituinte que, por via indireta, o elegeu para um novo mandato com início em 1934 (Castelo, aliás, também foi eleito pelo Congresso). Quando se aproximava o fim desse segundo período, Vargas instaurou o Estado Novo, tornando-se ditador até ser deposto em 1945. Portanto, ele só chegou ao poder pelo voto popular na eleição presidencial de 1950. Não surpreende a incoerência da vereadora nem seu desconhecimento da recente história republicana. Para determinadas ideologias, a história funciona como um armário de utilidades, uma despensa onde se apanha o que for necessário para cozinhar segundo as receitas do momento. Reprovar a ditadura de Vargas não serve porque o são-borjense foi mitificado no imaginário nacional. O afastamento entre a deposição de Getúlio e a posse de Castelo foi de apenas vinte anos. E nós estamos a meio século dos fatos de 1964! Contudo, embora as circunstâncias nacionais e internacionais de cada época estejam devidamente disponíveis nas prateleiras da história, não há, para a esquerda hegemônica conveniência política em ir buscá-las. Por quê? Porque existem correntes políticas que precisam do conflito, do antagonismo. Quanto maior aquele e mais exarcebado este, melhor. Não se trata de andar na direção de qualquer êxito político porque o sucesso da política é a superação do conflito. Aliás, a política não existe para promover confrontos, mas para superá-los. E incontáveis vezes, na história dos povos, ela dá solução a traumas e disputas que o Direito não consegue resolver. Foi o caso das tantas anistias ocorridas ao longo da nossa história. Foi o caso, inclusive, desta última, constitucionalizada, que as mesmas correntes ideológicas de hoje querem revogar por muitos modos. Entre eles, pela substituição de nomes de logradouros públicos. Em quaisquer de suas expressões, andam além da margem de qualquer êxito político, no bom sentido dessa palavra. São, isto sim, sintomas de uma nostalgia enfermiça em relação àquele terrível ambiente político, geopolítico e ideológico que instauraram, em escala mundial, durante o século passado. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Percival Puggina

08/12/2011
NOTA PUBLICADA NA SEÇÃO SOBRE ZH (08/12/2011) Na edição de ZH de ontem fui atingido por uma saraivada de maledicências motivadas pelo meu artigo do último domingo. Nesse texto, em pleno exercício do direito de opinião, eu defendi a Anistia e combati a criação da tal Comissão da Verdade. Desconheço o acusador, cujo compromisso totalitário se expressa desde as primeiras linhas, nas quais comunica que pretendeu impor à ZH o dever de censurar-me. Não satisfeito esse intento, voltou-se para uma estratégia bem conhecida: atacou-me pessoalmente de modo torpe. Sem, em momento algum, contestar meus argumentos, atribuiu-me intenções, posições e compromissos que nunca tive, frases que não escrevi, tudo muito de acordo com o receituário stalinista. Ignora o autor que em fins de 1964, mesmo sem ser de esquerda, por coerência com meus princípios e por me opor às arbitrariedades que ocorriam na Universidade, fui fichado no DOPS. Mas se dá o direito de fazer minha biografia... Como confiar numa Comissão da Verdade com defensores desse calibre? Percival Puggina

Percival Puggina

07/12/2011
ATAQUE STALINISTA Em texto publicado na ZH de hoje, dia 07/12, um tal de Marino Boeira, que leu meu artigo de domingo ... E não comunicou o novo endereço, decidiu atacar-me pessoalmente. Depois de expressar seu desejo, totalitário como era de se esperar, de que o jornal me censure, atribuiu-me ideias que não tenho, posições que nunca assumi, investiu contra o que não escrevi. Enfim, uma conduta mal intencionada, torpe, típica de stalinista. Estou no aguardo de saber como procederá o jornal. Se vai me franquear um espaço durante a semana para responder ou se aguardarei a edição dominical do dia 18. Percival Puggina

Percival Puggina

03/12/2011
Desconfio até do nome. Comissão da Verdade? Que coisa mais incompatível com um governo recheado de mentirosos públicos. Desde quando, senhores, a verdade se tornou instrumento da política? Talvez não exista nessa atividade algo tão seviciado e tão fracionado em metades e quartas partes. Eleitoralmente, a mentira funciona muito melhor do que a verdade. A ideia de formar uma comissão de sete pessoas (essa conta só pode ser ato falho) designadas por uma oitava diretamente interessada nos rumos do trabalho contraria elementares princípios metodológicos. Ademais, se para escolher seus ministros, supostamente um colegiado sobre o qual incidem exigências superiores, a presidente andou na escuridão, quem lhe entregará uma boa lanterna para designar essa versão tupiniquim dos sete sábios da Grécia? Pois é. Mas o Congresso Nacional julgou tudo muito bem pensado e aprovou sem pestanejar, com os votos do governo e muitos - valha-nos Deus! - da oposição. De fato, a racionalidade foi embora e não comunicou o novo endereço. Não estou dizendo que seja desnecessário ou inconveniente esclarecer a situação de mortos e desaparecidos. Há famílias interessadas em tais respostas e é justo buscá-las. Mas essa questão, profundamente humana, é apenas marginal nas motivações. O que queriam mesmo, desde que se tornaram hegemônicos, era acabar com a anistia e levar a julgamento seus inimigos de então. Como o STF não deixou, criaram o próprio tribunal e, cautelosamente, reservaram a seus crimes solene indulgência plenária: Nós fora! Lutávamos pela democracia!. Haverá quem acredite? Não só não eram democratas como escarneciam de quem fosse. Por outro lado, as lições de pensadores como Aristóteles, Tomás de Aquino e Francisco de Vitória sobre o direito de resistência à tirania em nada os socorrem. Faltava-lhes condição essencial de legitimidade, representada pela luta por uma causa nobre. A causa deles, financiados e treinados pelo comunismo internacional, não tinha nobreza alguma. Mundo afora, produzia vítimas aos milhões. Era radicalmente totalitária. O povo, por isso, jamais os apoiou. É preciso ter perdido o senso de realidade para afirmar diferente. Moviam-se pelo mesmo ódio que inspirava Che Guevara, guerrilheiro modelo, quando discorria sobre o ódio como fator de luta para transformar o militante em fria máquina de matar. O mesmo que ensinava Marighella, o venerado camarada, em seu manualzinho do guerrilheiro urbano. A anistia, com seus efeitos jurídicos e políticos, seguiu um princípio ético e político superior - o princípio do perdão. E lhes franqueou o poder. Mas quem assume o ódio como categoria do seu ser político não consegue operar sem ele. A comissão é filha desse sentimento. Longe de mim, que fique claro, proteger torturadores de direita ou guerrilheiros e terroristas de esquerda. Suas maldades os credenciam a cantos bem quentes do inferno. O objetivo dessa comissão, já bem verbalizado, é um acerto unilateral de contas. Não reconheceriam a verdade nem se trombassem com ela, nua e crua, numa tarde ensolarada. Mas a definirão em reunião caseira, tomando chimarrão. Estabelecerão um tribunal de exceção. Arbitrariamente e à margem do ordenamento jurídico, submeterão pessoas a linchamento moral (pena de exposição pública, sem julgamento formal nem direito de defesa). O que fará o Poder Judiciário ante uma zorra dessas? Para concluir. Merece pouco crédito o apreço por direitos humanos de quem, periodicamente, vai a Cuba soluçar nostalgias no cangote de Fidel Castro. Aliás, se em vez de brasileiros fossem cubanos e criassem, por lá, uma comissão da verdade, iriam investigar sabem o quê? Os crimes de Fulgêncio Batista... ZERO HORA, 04 de dezembro de 2011

Décio Antônio Damin

02/12/2011
EDUCAÇÃO, A NOSSA EXPERIÊNCIA Décio Antônio Damin Será que, em pouco tempo, tanto mudou? O amadurecimento cerebral das crianças e jovens de hoje será tão diferente do nosso que enfrentamos o ?primário?, o ?ginásio? e o ?científico? ou o ?clássico? na segunda metade do século XX? Será que a escola hoje tem que ser, para os alunos, alguma coisa que lembre um parque de diversões, para só assim eles concordarem em continuar a freqüentá-la? Nestes últimos anos, com a ?experiência? dos novos educadores e pesquisadores, o nível da educação só tem feito piorar. As razões, por óbvio, são múltiplas, mas a perda de objetivos claros é uma das fundamentais junto com a desvalorização dos professores. Estudava-se Latim, Português, Francês e Inglês. Por acaso alguém acha que estas matérias não eram e não são importantes para uma abertura intelectual e cosmopolita dos nossos pensamentos? Tínhamos matérias como Desenho Artístico e Geométrico, Música, Trabalhos Manuais que ajudavam a desenvolver a coordenação e o senso estético. Freqüentávamos as aulas com seriedade e objetivos, sabendo que este era o caminho para o desenvolvimento pessoal e coletivo. Sabíamos, desde cedo, o que queríamos ser quando adultos e corríamos atrás de nossos sonhos! Nem todos conseguiam obter um diploma universitário, mas seguramente o número de analfabetos funcionais era menor. As ?professoras?, maioria absoluta nas etapas iniciais, eram quase como mães no trato com os alunos que as adoravam e respeitavam como a imagem do conhecimento e das virtudes que perseguiam. Lembro-me até hoje da Diretora do Grupo Escolar Carlos Gomes, Dna. Irene Fava que, em Garibaldi, tinha alta projeção social, era respeitada, acatada e ouvida. Na Escola Normal Oswaldo Cruz em Passo Fundo e no Colégio Estadual Júlio de Castilhos, eu poderia citar, quase um por um, os professores de todas as matérias. Ele era o ?Colégio Padrão do Estado? e nele estudaram inúmeros alunos que viriam a se destacar em todas as profissões. Todas eram escolas públicas, consideradas as melhores e freqüentadas por todas as classes sociais. O que está errado hoje é o exemplo dado a todos e em particular aos jovens: A ascensão social parece mais fácil por meios alternativos ou imediatos do que aquela conquistada com suor nos bancos escolares. O aluno que foge da aula para jogar bola parece que merece um elogio em lugar de uma reprimenda. O sonho de muitos é um filho cantor, artista ou jogador de futebol! Alguns acham que com um computador para cada aluno isto vai mudar. Triste, pois utópica, expectativa! ?Profissionalizar? os estudantes do ensino médio ou acrescentar matérias discutíveis ao currículo, comprimindo as essenciais, é injustificável e um erro muito grave! (*) Médico

Percival Puggina

01/12/2011
Volto ao tema dos insidiosos tentáculos que vêm envolvendo e submetendo a sociedade brasileira a um bem estruturado projeto de poder. Não me alinho entre os que atribuem a esse projeto um viés ideológico uniforme, do tipo comunista, neo ou paleo. Há disso, também, mas o fator de coesão é um projeto de poder para assegurar hegemonia ao Partido dos Trabalhadores. Todos os outros interesses, teses e respectivas correntes se submetem a essa diretriz essencial. O desentendimento, meramente retórico e artificioso, entre o governo e o partido em relação ao controle da mídia deve ser analisado nesse contexto. Ambos querem a mesma coisa, mas o governo não pode, nesse particular, expressar sintonia com o partido sem perder apoios. Então, disputam-se palavras. Mas é briga de polegar com indicador. Quando necessário trabalham em pinça. O indisfarçado desejo de controlar a imprensa ganhou expressão pública, pela primeira vez, em 2004, com o anteprojeto de criação da Ancinav (Agência Nacional do Cinema e do Audiovisual), que incluía entre as atribuições desse novo ente estatal dispor sobre a responsabilidade editorial e as atividades de seleção e direção de programação das TVs. Embora os petistas afirmem que essa redação foi, posteriormente, alterada, ela só foi alterada porque gerou imediata repulsa. Diante da rebelião, enquanto sacudiam seus rabos de crocodilo, os proponentes da tese lacrimejaram pela incompreensão diante de um mero rascunho que sugeria problemas de interpretação. Ah, bom! E nunca mais sossegaram. Desde o episódio do mensalão (aquele boato, segundo a autorizada definição de Delúbio Soares) o PT vem exibindo sucessivos cartões amarelos para os órgãos de imprensa que ousam criticar o governo ou, mais imperdoável do que tudo, fazer jornalismo investigativo e apontar falcatruas que passam batidas sob os olhos, narizes e ouvidos do governo. O documento final do 4º Congresso do PT, realizado no início de setembro, tratou de repelir o que denominou manobras da mídia conservadora e da oposição para promover uma espécie de criminalização generalizada da conduta da base de sustentação do governo. Ou seja, a criminalização do espaço governamental só era algo aceitável quando o PT estava na oposição e assim procedia em relação a qualquer um que sentasse na cadeira que eles tinham, desde sempre, reservado a Lula e aos seus. E note-se: para enxovalhar a honra alheia, o PT sempre contou com ampla cobertura dessa mesma mídia de que eles, hoje, cobram silêncio e conivência. Embora o referido documento, atendendo apelos do governo, tenha moderado a linguagem em relação à mídia ainda não domesticada, o partido não se deu por achado. Apenas dois meses depois, agorinha mesmo, na semana passada, em São Paulo, realizou um seminário para tratar da democratização dos meios de comunicação, ou, no eufemismo equivalente, tratar do controle social da mídia. José Dirceu, estrela do evento, alma sem jaça da frente ética petista, assim expressou seu desgosto: Os proprietários de veículos de comunicação são contra o PT. Eles fazem campanha noite e dia contra a gente. Reitero, o PT valeu-se muito bem dessa mesma mídia quando estava fora do poder. Os veículos que hoje estão na alça de mira do partido eram lidos nas tribunas, exibidos ante as câmeras de tevê e reproduzidos nos microfones das emissoras de rádio. Por quê? Porque veiculavam denúncias que serviam muito bem às suas intenções. A boa mídia não é lambe-botas dos governos. A democracia não precisa daquilo que José Dirceu, nesse mesmo seminário, disse sentir falta - Um jornal que seja a favor do nosso governo. A democracia passa muito bem sem isso, principalmente num país onde as instituições foram concebidas para não fazer o que delas se deveria esperar. Mas a insistência com que o PT bate nessa tecla deve servir de advertência. Não tenho registro de que qualquer bandeira petista tenha sido abandonada por encontrar resistências. De algum modo, o partido sempre consegue o que quer e não será agora, quando o poder lhe está servido em bandeja de prata e guardanapo de linho branco, que o PT vai jogar a toalha em tema tão relevante à operação de seus tentáculos. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.