• Dagoberto Lima Godoy
  • 18/01/2024
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Inteligência Artificial – as lições da Internet

 

Dagoberto Lima Godoy

         Há muita gente entusiasmada com a Inteligência Artificial. E não é para menos, tão fabulosas são as inovações que dela se esperam. Entretanto, a verdade é que o impacto dela em nossas vidas ainda não está bem delineado. Possivelmente estamos revivendo a reviravolta que experimentamos com a Internet, quando mudou tudo: como trabalhamos ou nos divertimos; como passamos o tempo livre com a família ou os amigos; o quê e como compramos; e até (não tenham dúvida) como nós pensamos.

A Internet ampliou e democratizou o acesso à informação, mas também nos trouxe o assédio virtual, aumentou a pornografia infantil, gerou crises de saúde mental e, com seus algoritmos viciantes e publicidade predatória, colocou enorme poder nas mãos daqueles que querem dominar o mundo, sejam grandes conglomerados empresariais, sejam governos autoritários ou projetos de hegemonia mundial. Esses subprodutos maléficos só ficaram claros quando a rede passou a ser usada por grande número de pessoas e à medida que surgiram aplicativos tão abrangentes como os que alimentam as mídias sociais.

Acontece que a ainda incipiente IA, como vem sendo oferecida pela ChatGPT e tecnologias similares, tem a sua base alimentadora na Internet, tendendo assim a herdar e multiplicar o seu lado negativo.  Então, ao lado das perspectivas animadoras que ela com certeza oferece, a IA carrega o risco de consequências preocupantes, dentre os quais algumas já se vão revelando. A propagação de preconceitos é uma delas, uma vez que a técnica de aprendizagem por reforço (machine learning) utiliza feedback humano e bases de dados sintéticas, tendendo a reproduzir conceitos perversos.  Ademais, a facilidade de gerar textos e imagens falsos reforça a já atual onda de desinformação e grandes modelos linguísticos poderão ser (ou já estão sendo) usados para propaganda, colocando riscos para eleições limpas.

Outras preocupações estão no impacto da IA sobre os empregos -- especialmente aqueles que envolvem a criação de conteúdo, gerando a necessidade de novas competências – e a preservação dos direitos autorais (haja a vista a crise entre artistas e roteiristas e a indústria cinematográfica), bem como os custos humanos e ambientais do desenvolvimento da tecnologia, incluindo possíveis más condições de trabalho e alto consumo de energia.

Tantas questões pressionam os governos, que se movimentam para administrar as mudanças ensaiando novas regulamentações (como a Lei da IA da União Europeia que exige a utilização de marcas d’água e rotulagem clara no conteúdo gerado pela IA). Mas, os apelos por salvaguardas e regulamentações resultam em novas preocupações, eis que, por um lado, estimulam mais intervencionismo estatal e, por outro, representam obstáculos ao desenvolvimento de uma tecnologia que, afinal, todos esperamos que será superavitária no balanço entre vantagens e desvantagens ao desenvolvimento humano.

Como ocorre, desde a Criação, tudo que existe ou surge no universo traz consigo potencial para o bem e para o mal, mas é melhor que a opção para o melhor fique sempre com as pessoas, individualmente, pois para isso lhes foi concedido o livre arbítrio.

*         O autor é engenheiro civil, mestre em Direito, empresário e escritor.