A Física já teve seus dias de Cristo crucificado na mão da turba “progressista”. Depois foi a vez da Matemática levar uns sopapos por sua relação intrínseca com a lógica pura – e avessa, portanto, a qualquer princípio básico da esquerda. E agora, no mais novo capítulo deste esforço concentrado para retirar do currículo escolar qualquer coisa que permita aos jovens serem úteis aos demais cidadãos e tornarem-se produtivos no mercado de trabalho, o alvo está na testa do idioma anglo-saxão: organizadores de uma conferência em Boston declararam sua pretensão de fazer a língua de Shakespeare perder relevância no mundo acadêmico. O motivo? Preocupação com a ascensão de sentimentos nacionalistas e xenófobos, dizem.
Mais especificamente, a Society for Social Studies of Science (jura? achei que era o pessoal do clube de caça e tiro do Texas) estimulou os inscritos em seu encontro anual a elaborarem seus trabalhos de pesquisa em outras línguas que não o inglês. Segundo consta do comunicado, Estados Unidos e Inglaterra, grandes responsáveis por transformar o inglês em uma linguagem universal, são países que hoje adotam políticas que “enviam uma mensagem de isolamento e provincianismo, ameaçando a importância das diversidade humana”.
A piada pronta do evento: muito embora pretendam promover este tão bem intencionado (suposto) enriquecimento cultural, o comitê pede que as pesquisas entregues em outros idiomas venham acompanhadas de suas respectivas….versões em inglês! Ué?
Agora um pouco de vida real para adultos que não comem com talher de plástico: o inglês não foi imposto de cima para baixo como língua que deveria dominar o planeta, sob pena de multa e prisão dos descontentes. Foi a produção cultural, científica e industrial destes países que espalhou o idioma aos quatro ventos de forma totalmente espontânea. Músicas, filmes, obras literárias, descobertas em diversos campos de estudo, inovações tecnológicas: foram estes bens gerados, ofertados e trocados voluntariamente que levaram consigo a língua inglesa (no pacote) a todos os confins do mundo.
Se isso facilitou, dali em diante (especialmente a partir da segunda metade do século XX), a vida dos falantes nativos do inglês? Sem dúvida. Mérito deles – e sorte a nossa. O que o Esperanto fracassou miseravelmente em realizar, ingleses e americanos operacionalizaram (sem querer) como brinde para a humanidade: as fronteiras do conhecimento erguidas pelas diferenças linguísticas foram derrubadas pela comunicação universal oferecida pela língua inglesa.
Eis aí o cerne da questão: se hoje um grupo de empresários de Xangai reúne-se com sauditas para tratar de negócios, não se faz necessário nem que chineses arranhem no árabe nem que os sheiks arrisquem o mandarim; a língua inglesa presta-se a intermediar o negócio, eliminando custos na medida em que facilita o processo.
Se um turista Belga resolve visitar a Itália, o inglês pode perfeitamente proporcionar entendimento entre o turista e o povo local, dispensando a necessidade de contratar um tradutor ou de perder tempo e dinheiro antes da viagem aprendendo italiano – barateando o passeio em muito e ampliando o contato entre diferentes culturas.
Se um fugitivo dos campos de trabalhos forçados da Coréia do Norte ou da ilha de escravos dos irmãos Castro no Caribe pretende, tão logo se restabeleça dos percalços da fuga, contar sua história de sofrimento ao maior número possível de pessoas, basta publicar um livro em inglês – a partir dali, ele será rapidamente traduzido para todos os demais códigos linguísticos existentes.
Ou seja, não apenas esta adoção da língua inglesa como idioma mundial tornou diversos aspectos de nossas vidas mais eficientes e menos dispendiosos, mas também pôs todos os seres humanos para conversar. Abrir mão desta ferramenta seria, aí sim, condenar as nações e seus povos ao isolamento. Como se fala incoerência em inglês mesmo?
Nas palavras de Leonardo Glass, colaborador do Instituto Liberal:
há algumas décadas, o francês e (em menor extensão) o latim eram línguas universais, ou seja, a universalidade de uma língua não tem a ver com “pagar pau pra americano”. O crescimento do inglês como idioma universal se deve principalmente ao fato de que trata-se de uma língua mais simples de aprender e de falar do que os idiomas latinos (dentre eles o próprio francês e o latim).
O inglês é uma língua mais “primitiva” do ponto de vista da sintaxe, mas funciona muito bem para expressar ideias completas e sentimentos complexos. Não fosse assim, certamente outra língua tomaria o lugar dela.
Está mesmo difícil deste pessoal das “ciências sociais”(?) digerir o Brexit e engolir o resultado da última eleição americana. Qualquer oportunidade de bater em ingleses e americanos não pode, aparentemente, ser desperdiçada – ainda que ao preço de condenar a língua inglesa, o instrumento que permite a irmanação de cidadãos de toda a Terra, ao banimento.
Sejamos francos: aumentar o abismo intelectual entre as elites financeiras e as pessoas comuns é tudo que estes perseguidores da Física, da Matemática e do Inglês querem – enquanto as próximas iniciativas neste sentido estão sendo preparadas. Quanto mais imbeciliza-se uma população, mais fácil fica alegar que ela não reúne condições para decidir por si própria que rumos tomar, servindo como justificativa para manter poder econômico e decisório na mão de burocratas e seus apaniguados da iniciativa privada.
Os colombianos rejeitaram o famigerado “acordo de paz” com as FARC, o qual equivaleria a conceder anistia e garantir cotas no congresso nacional ao PCC? Cuánta ignorancia de este pueblo!
Os brasileiros em massa rejeitaram o desarmamento? Quanta ignorância deste povo!
Transformar o sistema previdenciário em fundos individuais? Mas o brasileiro médio é muito ignorante para poupar por si próprio.
E assim segue o ciclo: retira-se sucessivamente mais e mais importância de todas as matérias tradicionais do ensino clássico, a ponto de encher a grade curricular com aula de dança na boquinha da garrafa, oficina de lacração no Youtube, ideologia de gênero, e pronto: temos um estamento burocrático garantido e ampliado, na medida em que a mobilidade social característica do livre mercado resta deveras prejudicada pela idiotização dos indivíduos.
Até o Bolsonaro mostrou que manda bem no inglês. Fica a dica…
Rodrigo Janot, nos seus 10 últimos dias como Procurador-Geral e na última sessão como Presidente do Conselho Federal do Ministério Publico, confessou que fizera o anúncio de véspera não por coragem, mas por medo de errar. Ele se referia à revelação, descoberta pela Polícia Federal em gravações telefônicas, de que seu auxiliar, o procurador Marcelo Miller, já orientava a JBS nos acordos de leniência e delação premiada, mesmo antes de se retirar para trabalhar no escritório que negociou esses instrumentos. Com isso, confirmou a ilação de Temer, de que Marcelo Miller saíra da PGR para ganhar um dinheirão e costurar o acordo com a empresa dos irmãos Batista. Janot deve ter tido medo de ser acusado de omissão pela nova equipe da Procuradoria-Geral, que assume dia 18. Fica melhor ter coragem de revelar tudo agora, enquanto é o chefe.
Marcelo Miller teria cometido o crime de improbidade, e isso seria descoberto mais cedo ou mais tarde. E Janot o de omissão, se deixasse o cargo sem denunciar isso. Ou foi ingênuo e agiu de boa-fé, o que é pecado para quem tem que ser um cético guardião da lei. O anúncio de Janot preveniu o que iria aparecer mais tarde, na administração de Raquel Dodge. Acordos de leniência e de colaboração premiada viciados, pelo jeito. E homologados pelo relator Ministro Fachin. Deixou mal o relator. Imagino Temer, lá na China, depois de declarar que recebe tudo “com serenidade”, subindo para o quarto do hotel, fechando-se no banheiro e dando barrigadas de tanto rir.
Fico imaginando o prejuízo causado ao país por esse apressado acordo de delação, movido pelo desejo de atirar flechas enquanto houver bambu. Em maio, quando a economia se recuperava, sado-masoquistas chamaram o Joesley e os números do PIB desandaram, assim como a confiança dos investidores. Agora se recupera de novo, de modo mais firme, com a bolsa, a queda de juros, os valores ainda decimais do PIB, a recuperação do emprego e a atlética balança comercial, mesmo sob a ameaça de mais flechas. Mas a corda do arco de Janot ficou frouxa e dificilmente suas flechas terão força nesses derradeiros dias. Quem paga o prejuízo econômico e do emprego, por atrapalhar a recuperação? E daqui a pouco ainda saberemos a real história da mala de Rocha Loures: para que existiu?
Por falar em mala, a Polícia Federal descobriu num apartamento usado por Geddel Vieira Lima em Salvador, um depósito de dinheiro que parece a sala de banho do Tio Patinhas. Sete malas e seis caixas de papelão abarrotados com notas de cem e cinquenta reais que, segundo a polícia, vieram dos tempos em que Geddel fora vice-presidente da Caixa Econômica Federal. Com todas essas tristes surpresas diárias, fico comparando o Brasil com o enfermo Manuel Bandeira, em seu poema Pneumotórax”:
O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.
É o caso de perguntar: se não tivesse se sentido obrigado a levar a público a espantosa gravação, descoberta pela Polícia Federal, que expõe a conspirata de Joesley Batista para demolir os alicerces da República, livrando-se ao mesmo tempo dos muitos crimes que cometeu, teria Rodrigo Janot se decidido a apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF), no mesmíssimo dia, denúncia contra os dois ex-presidentes da República petistas? Com essa denúncia tão flagrantemente atrasada - pois se refere aos principais responsáveis pelos atos ilícitos que originaram as investigações da Operação Lava Jato - Rodrigo Janot provavelmente almeja deixar a cena pública sob a aura da coragem e da imparcialidade no desempenho de suas responsabilidades institucionais. Haverá quem compre essa versão. Mas nada evitará que essa triste figura venha a ser lembrada na história da República como a de um oportunista desastrado que não ficou conhecido pelo cuidado no manejo dos instrumentos legais a serviço de sua função de procurador-geral da República.
De qualquer modo, seja porque a falta de rigor jurídico na montagem de peças acusatórias é uma característica resultante das limitações profissionais de Janot, seja porque às vezes ele julgue ser capaz de calibrar os fatos para provocar sentenças de seu agrado, será necessário esperar a manifestação do STF sobre a denúncia contra a quadrilha de que Lula é o “grande idealizador”. Mas mesmo então não ficarão claras as razões, do ponto de vista exclusivamente jurídico, que levaram o procurador-geral da República a apresentar a peça acusatória contra Lula et caterva no exato momento em que a grande expectativa nos círculos políticos e na opinião pública girava em torno da desesperada defesa que fazia de si mesmo e de seus atos, depois de conhecida a última inconfidência do açougueiro de Anápolis.
A denúncia contra Lula e seus correligionários é a quarta a ser apresentada pela PGR ao STF tratando de “quadrilhas” montadas por políticos para assaltar os cofres públicos. As outras três investigam os políticos do PP, do PMDB do Senado e do PMDB da Câmara. A demora na apresentação da denúncia contra a “quadrilha” petista é estranha porque, como o próprio Rodrigo Janot reconhece, esse grupo criminoso atua desde que o PT chegou ao poder: “Lula foi o grande idealizador da constituição da presente organização criminosa”, diz a denúncia, “na medida em que negociou diretamente com empresas privadas o recebimento de valores para viabilizar sua campanha eleitoral à Presidência da República em 2002 mediante o compromisso de usar a máquina pública, caso eleito (como o foi), em favor dos interesses privados deste grupo de empresários. Durante sua gestão, não apenas cumpriu com os compromissos assumidos junto a estes, como atuou, diretamente e por intermédio de Palocci, para que novas negociações ilícitas fossem entabuladas como forma de gerar mais arrecadação de propina”.
A gravidade dos fatos denunciados pela PGR a respeito de Lula e seus comparsas só pode surpreender a quem não conhece ou prefere esquecer o julgamento do mensalão, que culminou em dezembro 2012, quando a presidente já era Dilma Rousseff, com a condenação dos “guerreiros do povo brasileiro”, a então cúpula petista, por crimes como lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, peculato e gestão fraudulenta. Esse escândalo foi então considerado “o maior da história” no gênero. Tratava-se apenas do início do assalto aos cofres públicos sob o comando do PT no governo, que se ampliou com o chamado petrolão e resultou na Operação Lava Jato.
Essa é a primeira denúncia de Janot atingindo Lula, numa ação penal que tramita no STF porque um dos réus, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), tem direito a foro privilegiado. Na primeira instância, no caso do triplex no Guarujá, Lula foi julgado e condenado 20 meses após a apresentação da denúncia. Mas só agora chega ao STF a acusação de que Lula chefia uma quadrilha. Até a terça-feira passada, Rodrigo Janot não teve pressa. A sangria desatada ocorreu quando o procurador-geral, objeto da incontinência verbal de Joesley Batista, de pedra virou vidraça.
HAVANA, Cuba. De acordo com a psicologia das massas, emocional, infantil e até perversa, qualquer coisa poderá acontecer. Mas mesmo assim, esperamos que seja o melhor. Com ele como político à frente do governo de seu país sabe-se que nem com suas pálidas reformas teremos o que devemos ter.
Quando seu irmão o designou ao posto, Raul lançou um apelo urgente aos generais para aumentar a eficiência e a produtividade da economia e, finalmente, resolver os problemas urgentes das pessoas. Eles não conseguiram. Leite, carne e muitas, muitas, muitas coisas ainda estão ausentes. Desde os primórdios do triunfo revolucionário, Cuba arrastava tantos erros cometidos por Fidel Castro que as diretrizes da política econômica e social de Raul falharam. Leis que ainda existem, destruíram o país produzindo vadios e ladrões.
O general do Exército nunca quis reconhecer que Karl Marx, muito menos o admirado Stalin, previu que os cânceres do socialismo eram e são muito mais sérios que os de qualquer outro regime. Sob o seu novo mandato, reduziram a alimentação e outras produções intensificadas; o autoritarismo, a burocracia, a repressão política, o mercado negro, os salários humilhantes, o desprezo pelo Estado continuaram. Essas razões demonstram a ineficácia do chamado "socialismo do século XXI".
Não há dúvida de que depois de Raul, como depois de Gorbachev em Moscou, Havana e no resto do país melhorarão. Nem a URSS nem a Cuba têm sido um exemplo do "ideal comunista". Nem quando, aqui e ali, empregaram mecanismos urgentes de capitalismo. Menos ainda quando, com "um forte poder central", Raúl conseguiu retirar o país do caos econômico que recebeu como herança familiar em 31 de julho de 2006, quando seu irmão lhe confiou provisoriamente a presidência do país e o tornou definitivo devido ao seu mau estado saúde.
Certamente, ele se perguntou muitas vezes por que Fidel não transferiu o poder muito antes, para que pudesse alcançar, dada a sua fama como pessoa organizada, a tarefa difícil de corrigir a desordem que o Invicto havia formado na ilha cubana. Mas alguma vez, esteve ele no poder a tempo de alterar o saco sem fundo da perda de valores éticos e morais da sociedade cubana, para curar as feridas profundas que a economia sofreu, por causa das inúmeras guerras secretas que o magno irmão enfrentou mundo afora?
Depois de Raúl, você poderá ver a insatisfação popular que ele não quis reconhecer através de sua mídia. Depois de Raúl, permanecerão em casa os generais octogenários que não conseguiram elevar o progresso científico técnico da produção, apesar dos relatórios da imprensa, durante suas visitas forçadas, durante as quais dificilmente conseguem caminhar com um ritmo constante.
Serão outros que, depois de Raúl, poderão abrir a antiga caixa de Pandora, onde veremos a esperança no fundo da arca.
Traduzido por Percival Puggina
HAVANA, Cuba. De acordo com a psicologia das massas, emocional, infantil e até perversa, qualquer coisa poderá acontecer. Mas mesmo assim, esperamos que seja o melhor. Com ele como político à frente do governo de seu país sabe-se que nem com suas pálidas reformas teremos o que devemos ter.
Quando seu irmão o designou ao posto, Raul lançou um apelo urgente aos generais para aumentar a eficiência e a produtividade da economia e, finalmente, resolver os problemas urgentes das pessoas. Eles não conseguiram. Leite, carne e muitas, muitas, muitas coisas ainda estão ausentes. Desde os primórdios do triunfo revolucionário, Cuba arrastava tantos erros cometidos por Fidel Castro que as diretrizes da política econômica e social de Raul falharam. Leis que ainda existem, destruíram o país produzindo vadios e ladrões.
O general do Exército nunca quis reconhecer que Karl Marx, muito menos o admirado Stalin, previu que os cânceres do socialismo eram e são muito mais sérios que os de qualquer outro regime. Sob o seu novo mandato, reduziram a alimentação e outras produções intensificadas; o autoritarismo, a burocracia, a repressão política, o mercado negro, os salários humilhantes, o desprezo pelo Estado continuaram. Essas razões demonstram a ineficácia do chamado "socialismo do século XXI".
Não há dúvida de que depois de Raul, como depois de Gorbachev em Moscou, Havana e no resto do país melhorarão. Nem a URSS nem a Cuba têm sido um exemplo do "ideal comunista". Nem quando, aqui e ali, empregaram mecanismos urgentes de capitalismo. Menos ainda quando, com "um forte poder central", Raúl conseguiu retirar o país do caos econômico que recebeu como herança familiar em 31 de julho de 2006, quando seu irmão lhe confiou provisoriamente a presidência do país e o tornou definitivo devido ao seu mau estado saúde.
Certamente, ele se perguntou muitas vezes por que Fidel não transferiu o poder muito antes, para que pudesse alcançar, dada a sua fama como pessoa organizada, a tarefa difícil de corrigir a desordem que o Invicto havia formado na ilha cubana. Mas alguma vez, esteve ele no poder a tempo de alterar o saco sem fundo da perda de valores éticos e morais da sociedade cubana, para curar as feridas profundas que a economia sofreu, por causa das inúmeras guerras secretas que o magno irmão enfrentou mundo afora?
Depois de Raúl, você poderá ver a insatisfação popular que ele não quis reconhecer através de sua mídia. Depois de Raúl, permanecerão em casa os generais octogenários que não conseguiram elevar o progresso científico técnico da produção, apesar dos relatórios da imprensa, durante suas visitas forçadas, durante as quais dificilmente conseguem caminhar com um ritmo constante.
Serão outros que, depois de Raúl, poderão abrir a antiga caixa de Pandora, onde veremos a esperança no fundo da arca.
Traduzido por Percival Puggina
O dia da Pátria, é dia de cultivarmos a virtude do patriotismo, dever e amor para com o nosso país, incluído no quarto Mandamento da Lei de Deus. Jesus, nosso divino modelo, amava tanto sua pátria, que chorou sobre sua capital, Jerusalém, ao prever os castigos que sobre ela viriam, consequência da sua infidelidade aos dons de Deus. É tempo oportuno, pois, para refletirmos sobre a nação, na qual vivemos e da qual esperamos o nosso bem comum. Será que também não devemos chorar sobre nossa pátria amada, ao vermos, na política, tanta corrupção, falta de honestidade, ética, honradez, com total desprezo das virtudes humanas e cristãs, dos pequenos e dos grandes? E, como se diz, o povo tem o governo que merece, não será sobre o povo brasileiro que devemos chorar?
“Estamos perdidos há muito tempo... O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada. Os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido. Não há instituição que não seja escarnecida. Ninguém se respeita... Ninguém crê na honestidade dos homens públicos... A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente. O Estado é considerado na sua ação fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo. A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte, o país está perdido! Algum opositor do atual governo? Não!”(Eça de Queirós, ano 1871).
Segundo Aristóteles, “o homem é por natureza um animal político, destinado a viver em sociedade” (Política, I, 1,9). Política vem do grego pólis, que significa cidade. E, continua Aristóteles, “toda a cidade é evidentemente uma associação, e toda a associação só se forma para algum bem, dado que os homens, sejam eles quais forem, tudo fazem para o fim do que lhes parece ser bom”. E Santo Tomás de Aquino cunhou o termo bem comum, ou bem público, que é o bem de toda a sociedade, dando-o como finalidade do Estado.
“A comunidade política existe... em vista do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e dele deriva o seu direito natural e próprio. O bem comum compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (Gaudium et Spes, 74). Daí se conclui que a cidade – o Estado - exige um governo que a dirija para o bem comum. Não se pode separar a política da direção para o bem comum. Procurar o bem próprio na política é um contrassenso.
Como cristãos, nós sabemos que a base da moral e da ética é a lei de Deus, natural e positiva, traduzida na conduta pelo que se chama o santo temor de Deus ou a consciência reta e timorata. Uma vez perdido o santo temor de Deus, perde-se a retidão da consciência, que passa a ser regida pelas paixões. Uma vez abandonados os valores morais e os limites éticos, a sociedade fica ao sabor das paixões desordenadas do egoísmo, da ambição e da cobiça.
* Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
* http://domfernandorifan.blogspot.com.br/