• Guilherme Fiuza, em O Globo
  • 24 Dezembro 2017

 

Luiz Inácio Soltinho da Silva vai enfim se ver com a Justiça. O maior e mais querido ladrão brasileiro será julgado em segunda instância ao raiar de 2018. Confirmada a sua condenação por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, será preso.

Absurdo. Todo mundo sabe que roubar o povo não é pecado se você é coitado profissional, e seus métodos são aprovados por cantores da MPB. Outro dia mesmo, Tiririca subiu à tribuna para fazer seu primeiro e último discurso como deputado — comovendo o Brasil ao declarar sua vergonha dos políticos corruptos e defender Lula. Certas formulações éticas só um palhaço é capaz de fazer.

Até o mosqueteiro Dartagnol Foratemer abandonou seu PowerPoint para catar voto em sarau de subcelebridade petista, que ninguém é de ferro. Aquela floresta de crimes palacianos montados por Lula e Dilma, que levou o país à maior crise de sua história, ficou para trás. A antiga Lava-Jato, que obrigava o jovem investigador a andar atrás dos incontáveis delinquentes do bando, dava um trabalhão — fora ser xingado todo dia de golpista, fascista, androide etc. pelos colegas mais cultos do Tiririca.

Foi só deixar Lula e sua gangue em paz para a histeria virar carinho, nos melhores endereços da Vieira Souto. É a Lava-Jato gourmet — mais prática e limpinha, que você leva para qualquer convescote que o companheiro Molon te chamar. Numa emergência, dá até para fazer justiça pelo Twitter. São as maravilhas da modernidade.

Se a Independência do Brasil foi proclamada no grito, a inocência do filho dele também pode ser. Foi assim que Lula apareceu semana passada na porta do Comperj para um comício em defesa da Petrobras, aquela que ele estuprou. Para quem não está ligando o nome à pessoa (se há algo inteiramente fora de moda é ligar nomes a pessoas, e a seus respectivos crimes), Comperj é o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, um dos centros da roubalheira petista descobertos pela operação Lava-Jato (na versão velha, que dava um trabalhão e era coisa de golpista).

A desinibição dessa alma honesta é mais do que compreensível. Se você estupra a Petrobras e continua sendo mimado por supostos expoentes da cultura nacional (e por boa parte da opinião pública), você é no mínimo um bom selvagem. Vai fundo, companheiro. Como diria Maluf, estupra mas não mata. E se por acaso matar, como você matou o futuro de pelo menos uma geração com seu assalto sem precedentes aos cofres públicos, pede desculpas pelo mau jeito, como você fez no mensalão, e vai em frente sem perder a ternura.

Como prender um homem desses? O Brasil não pode tolerar tal nível de perseguição contra esse mito da fofura selvagem, esse bibelô da esquerda imaginária, que rouba dos pobres para dar aos defensores dos pobres.

O que será da lenda progressista? E os shows heroicos em defesa dos movimentos revolucionários de aluguel? O que vão fazer da vida essas simpáticas almas penadas e seu desbunde de resultados? Logo agora, com os cafetões da bondade no auge, emplacando qualquer lixo que se pareça com defesa de minoria oprimida, vocês querem prender o papa da alta prostituição ideológica?

Não passarão! A revolta já foi marcada por José Dirceu — solto, podre de rico e sambando no pé — para o dia 24 de janeiro. O fabuloso caixa da revolução, montado ao longo de 13 anos com o suor do seu rosto, caro leitor, será derramado na já lendária resistência democrática da porrada. Os bravos candidatos ao Prêmio Joesley de Jornalismo divulgarão lindas imagens de pneus em chamas noticiando as “manifestações contra a prisão de um líder popular”. Mandela sumirá na poeira da História, Jesus Cristo talvez se mantenha numa nota de rodapé.

Enquanto isso, nas Minas Gerais do companheiro Fernando Pimentel, a Polícia Federal investiga o sumiço de alguns milhões de reais no Memorial da Anistia. Eles vão lutar contra a ditadura do século passado até o último centavo do contribuinte.

Infelizmente, o golpe de Janot com Fachin e os açougueiros biônicos falhou, e a gangue não pôde voltar a ordenhar o Tesouro Nacional. Mas dinheiro não é problema. Só a provisão para os advogados milionários das dezenas de réus da quadrilha — mais o laranjal regado pelo BNDES por mais de década — daria para tapar boa parte do rombo da Previdência. Se há um Brasil onde ninguém sofrerá por causa de aposentadoria, é o do Partido dos Trabalhadores que não trabalham.

O problema é que o resto do país está melhorando após a descupinização do Estado, com a menor taxa de juros em 30 anos, inflação em queda e PIB em recuperação. Isso é grave. Se continuar assim, o que os simpáticos palhaços da lenda irão recitar em suas turnês folclóricas? Abaixo Papai Noel? Fora Tender?

Lula está fazendo a sua parte, semeando com o talento de sempre o mau agouro e o ressentimento numa campanha presidencial fictícia. Ele inclusive anunciou que vai regular a comunicação. Faz muito bem. Carcereiro não gosta de papo furado.

 

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  • Alexandre Garcia
  • 24 Dezembro 2017

 

NOTA: Este artigo do amigo Alexandre Garcia foi publicado há dois anos, mas preserva atualidade num tema de interesse vital para a nação.

Recém o casal com uma filhinha de colo havia entrado na garagem e um bando de jovens e adolescentes invadiu a casa de arma na mão. Quando um deles pegou o bebê como refém, a mãe reagiu e o bandido atirou. O pai tentou proteger a família foi baleado na cabeça. Era um sargento PM. Os oito foram presos - e apreendidos - há poucos dias, aqui na capital. Todos tinham passagens por delegacias e alguns já eram condenados por latrocínio, mas cumpriam pena na rua, assaltando de novo. Quase no mesmo dia, em Ilhéus, uma menina de 11 anos matou uma mulher de 26 a golpes de canivete, por ciúmes. Não pode sequer ter registro de ocorrência na delegacia do menor, porque nessa idade está completamente isenta em relação à lei. O canivete estava escondido na calcinha da menina que, pela lei, não pode ser chamada de assassina.

Em Brasília, também na semana passada, um lutador de jiu-jitsu faixa roxa foi condenado pela morte a pancada de um bebê de um ano e quatro meses. Pegou 22 anos e oito meses, mas como já está há um ano preso, deve sair em três anos, na tal progressão de pena. As leis brasileiras favorecem até os monstros. No Rio, a promotoria pediu “medida socioeducativa” para o infrator de 16 anos que esfaqueou e matou um médico na Lagoa Rodrigo de Freitas para roubar uma bicicleta. Ele já tinha cinco outras passagens por assaltos. Quando fizer 18 anos estará livre como um passarinho e com a ficha criminal pura como o coração de uma donzela. No Brasil, 70% dos autores de crimes são condenados que estão nas ruas. Tal como os mensaleiros que cumprem pena em prisão domiciliar ou “semi-aberto”.

Favores da lei, como regime semi-aberto ou aberto ou prestação de serviços eram para quem tivesse sido condenado até quatro anos. Mas os legisladores no Congresso Nacional, em nosso nome, duplicaram o prazo para oito anos. Por isso, virou festa. A certeza de não ser punido é que estimula o crime. As facilidades das penas do mensalão não desestimularam nem assustaram os integrantes do petrolão. O desarmamento da população encoraja assaltantes a entrarem nas casas, certos de que a vovó não vai lhes receber com uma espingarda de cano duplo espalha-chumbo, como acontece nos Estados Unidos.

Há poucos dias, um grupo de gaúchos, representando 42 entidades e trazendo mais de 100 mil assinaturas, foi ao Congresso levar aos representantes do povo a urgente demanda de mudar as leis que beneficiam os criminosos. Só pedem que as leis sejam convertidas em protetoras das vítimas e desencorajadoras do crime - e não o contrário, como são hoje. Os legisladores - pasmem! - ficaram surpresos com a demanda. As palavras de ordem do grupo Brasil sem Grades são fortes: “A sociedade está atrás das grades - mude esta realidade!”. E, mostrando uma vítima de assalto no caixão.
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FONTE: http://www.sonoticias.com.br/coluna/ditadura-de-criminosos
 

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  • José Casado, O Globo
  • 23 Dezembro 2017

 

PT vê campanha sem Lula, intervém nos diretórios, planeja questionar legalidade da disputa, contestar a legitimidade do eleito e confrontar a ‘alternativa fascista’ nas ruas.

O Partido dos Trabalhadores definiu sua estratégia para a campanha presidencial de 2018: “Eleição sem Lula é fraude”. Com essas cinco palavras o PT traduz sua expectativa sobre a virtual interdição do ex-presidente, numa eventual condenação em segunda instância por corrupção e lavagem de dinheiro. O julgamento da apelação de Lula contra a sentença do juiz Sergio Moro está marcado para 24 de janeiro, em Porto Alegre.

No último fim de semana, em São Paulo, dirigentes do PT traçaram um projeto para 2018 baseado na ratificação da condenação.

A premissa do plano é a construção da imagem de Lula na campanha como vítima de um sistema judicial manipulado pela “elite” para “impedir o povo de elegê-lo mais uma vez”, descrevem documentos internos.

Refém de Lula, o partido resolveu:
a) questionar a legalidade da disputa sem a eventual participação do ex-presidente;
b) contestar a legitimidade do presidente escolhido numa eleição sem o candidato petista;
c) estimular o “voto de protesto” em candidato indicado por Lula, seu principal cabo eleitoral.

Ontem, o PT anunciou uma virtual intervenção nos 26 diretórios estaduais e do Distrito Federal. O comunicado foi cristalino: “Fica desde já estabelecido que toda e qualquer definição de candidaturas e política de aliança nos estados terá que ser submetida antecipadamente à Comissão Executiva Nacional.”

Apostando num cenário eleitoral convulsionado, o alto-comando petista julga conveniente se preparar para a “crescente agressividade”, como define. Sob estímulo do ex-capitão de Lula, José Dirceu, recolhido em Brasília depois de condenado à prisão no mensalão e na Lava-Jato, abriu-se espaço até para formulações sobre confronto à “alternativa fascista” nas ruas.

Antes da reunião em São Paulo, Dirceu evocou o estilo retórico do movimento estudantil dos anos 60: “A hora é de ação não de palavras, transformar a fúria e revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate.” O PT vai realizar um “dia de revolta” em Porto Alegre.

Para a campanha, a radicalização teria como protagonistas grupos de “reação”, discretamente organizados. A iniciativa avança sob uma justificativa partidária oficial: a de que a eleição, sem Lula, “poderá resultar em rebeldia popular” e “desobediência civil”.

O plano dos generais petistas guarda alguma coerência com a necessidade de manter alinhados os grupos que fracionam o PT, o PCdoB e o PSOL, e os pragmáticos PDT e PSB.

Sob esse arco-íris encontra-se parte substantiva dos 34% do eleitorado que indica intenção de votar em Lula — principalmente, como reação aos que se mantêm no outro extremo, com Jair Bolsonaro, com 19% da preferência, segundo o Datafolha. As mesmas pesquisas indicam média de 40% de rejeição a Lula há 12 meses seguidos.

Entre o ex-metalúrgico e o ex-paraquedista prevalece a maioria de 47% de eleitores insatisfeita e em busca de alternativa. Sua fragmentação pode levar a uma situação semelhante à do Rio, como tem repetido o ex-ministro Nelson Jobim aos clientes do banco BTG Pactual. Em 2016, Marcelo Crivella, ex-senador do PRB e ex-bispo da Igreja Universal, venceu Marcelo Freixo, do PSOL, apoiado por uma frente autodenominada de esquerda.


Leia mais: https://oglobo.globo.com/opiniao/o-plano-dos-refens-de-lula-22208397#ixzz525C6IPFf

 

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  • Maria Lucia Victor Barbosa
  • 22 Dezembro 2017



Dia destes ouvi muito ao longe, ecoando num sonho assombrado por reminiscências da infância, o cantar de um galo. Contraste com o urbano de asfalto e prédios, de trânsito e violência, aquela sonoridade foi acalanto que momentaneamente amorteceu os impactos da vida sofridos entre uma esperança e outra.

Percebi, então, com a nitidez que só os olhos do espírito possuem, que o canto do galo é evocação de algum momento do passado. Vem envolto em brumas do amanhecer para anunciar o dia, onde nunca sabemos o que sucederá. Tem uma intimidade esse som com quintais cheios de ciscares, de romãs pendendo de galhos para oferecer sua beleza rubra e apetitosa, de jabuticabeiras que serpenteiam em troncos retorcidos os negrores adocicados de suas uvas tropicais!

De novo cantou o galo em lonjuras que minhas sensações alcançaram. No sol que se elevava do horizonte aquela melodia combinou com uma expectativa alegre, um desabrochar de esperança desenhada nos labirintos do existir. Reconforto. Aconchego. Rede balançando. Risos perdidos no tempo das travessuras. Renascimento. Era isso que vinha marulhando pelo vento da aurora. Uma ternura estridente se expandia naquele ondear sonoro. Um chamamento para o mundo acordar. O galo, pensei, é o arauto da existência.

Nesta véspera de Natal, onde o verdadeiro conteúdo da comemoração se esvai, veio-me também, numa associação de ideias a Missa do Galo. Qual bispo teria batizado desse modo a missa, que no passado era celebrada à meia-noite com a solenidade de um ritual falado em latim? Naquele tempo que nem tão longe está, as mulheres cobriam a cabeça com véus rendados, o que as tornava bonitas e vaporosas para combinar com os mistérios do ritual. As casadas usavam mantilhas pretas, e as solteiras, brancas. Era um sinal de respeito ao local sagrado. Em algumas catedrais a música que vinha do órgão com toda a pompa do instrumento, intercalava-se com a angelical melodia dos corais que subia aos céus em espirais para louvar a Deus.

Depois da Missa do Galo, a ceia, a sobremesa da esplendorosa torta de frutas, o abrir dos presentes, a confraternização familiar. No presépio, o nascimento do Menino Jesus finalmente colocado na manjedoura entre Maria e José, em meio aos pastores e aos bichinhos de massa que olhavam espantados a estrela de papel dourado equilibrada por sobre a gruta.

Não se fazem mais Missas do Galo como as da minha meninice. Parece que agora sequer se chamam assim. Também não sei se são celebradas à meia-noite, porque há pressa para a ceia ou para a ida a algum baile. É cada vez mais difícil distinguir Natal de Réveillon, o que indica que o aniversariante anda esquecido. Portanto, prevalece uma festa profana sobre o ritual natalino, modificando-se a tradição para nela incorporar elementos de show. Desse modo, a liturgia alterada não favorece a introspecção que coloca o homem diante da divindade para com ela conversar.

Pois, bem, nesse Natal há algo estranho, como se perdida estivesse não só certo tipo de celebração como comportamentos e valores havidos nos confins de minha vida. Nem sequer sinto no ar aquele clima inconfundível, que envolvia as pessoas através de elos de solidariedade para tornar as atitudes mais amenas. Para falar a verdade, até Papai Noel está ficando cansativo. Há um em cada esquina, em cada loja, tentando vender.

Estes pensamentos são muito meus, e podem não ser compartilhados com quem lê neste instante estas linhas. Talvez, possam ter uma explicação. Errada sou eu que não sei mais brincar, pois é sabido que Natal é, definitivamente, uma festa de crianças. Não consigo ouvir os sinos que sempre me encantaram. Não capto a magia da Noite Feliz. Não estou vendo os milhares de pequenas lâmpadas chinesas que enfeitam prédios e casas. Não escuto as músicas natalinas. Só de memória consigo cantarolar: “Papai Noel, vê se você tem a felicidade para me dar”. Em vão busco, à meia-noite, a Missa do Galo que não existe mais.

Depois de muito esforço, de vagar por entre recordações e nostalgias, concluo que há um lugar seguro onde posso sempre encontrar o Natal. Basta seguir a estrela e olhar para a manjedoura. Ele está lá. Para que mais?

Então, pensei: não posso trair o Natal. Tenho sempre que reinventá-lo com as possibilidades da fé e com a beleza da esperança, porque o Natal está dentro da gente e não fora.

• Maria Lucia Victor Barbosa é escritora.

 

 

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  • Ana Paula Henkel
  • 22 Dezembro 2017

 

Os números da economia americana no último ano são impressionantes. A taxa de desemprego é a mais baixa em 17 anos e as bolsas batem recordes quase toda semana. Uma importante reforma tributária será finalizada esta semana e o crescimento dos já positivos índices econômicos pode ser ainda maior. Mas desde que Donald Trump foi eleito presidente dos EUA em 2016, o que mais se lê na imprensa é uma palavra só: Rússia.

Os Democratas juram por todos os santos que houve interferência da turma de Putin na eleição americana. Como e quando houve essa interferência são detalhes que ainda não foram descobertos, mesmo depois de um ano de investigações e de mais de 7 milhões de dólares gastos. Mas ainda há esperança para o partido de Hillary que, diante de um possível impeachment do bufão laranja, a esposa de Bill Clinton assuma a presidência.

Hillary Clinton, a esposa que acobertou vários casos de assédio sexual do marido ao longo dos anos, e a política queridinha das atrizes de Hollywood engajadas contra predadores sexuais, perdeu uma eleição histórica em 2016. Numa disputa que parecia ganha – algumas pesquisas davam 92% de chances de vitória para a democrata – Hillary teve uma derrota humilhante diante de um adversário polêmico, nada carismático e falastrão.

Mas o 7×1 do partido Democrata em 2016 (perderam a presidência, o Senado e a Câmara na pior derrota em 80 anos) não surpreendeu apenas o eleitorado da mulher de Bill. Mais de um ano depois do fatídico vexame eleitoral do partido de Barack Obama, impressionantes fatos começam a aparecer sobre o envolvimento do FBI com Hillary Clinton. Não veremos muitos detalhes dessa história na imprensa fã de Obama (no we can’t), mas você pode dar um Google em FBI/Robert Muller/Peter Strzok para entender a dobradinha FBI/Clinton. Enjoy! Para matar sua curiosidade, aqui o aperitivo: o FBI antes das eleições presidenciais de 2016 trabalhou para que Hillary vencesse a todo custo, blindando a ex-Secretária de Estado dos EUA das pesadas investigações sobre o famoso caso dos emails, além de alimentar a fogueira Rússia/Trump. Há companheiros ianques também, companheiros.

Pode ser que nós brasileiros estejamos acostumados com esses conluios e camaradagens, mas por aqui todos os dias vejo mais e mais americanos perplexos com a vergonhosa atuação do FBI, a mitológica polícia federal americana, na gestão do inacreditável James Comey. Está cada vez mais claro que havia uma orientação política para atenuar os crimes de Hillary Clinton enquanto se fazia investigações de araque para desgastar politicamente Donald Trump. Pense o que quiser de ambos, esta não é a função de uma instituição basilar da América como o FBI.

Um dos meus melhores amigos, um americano tão obamista que poderia até ser jornalista, está revoltadíssimo: “Detesto Trump, mas nada justifica o que foi feito com o FBI. É inaceitável um partido, qualquer um, estar acima de uma instituição que o país confiava de olhos fechados”. Assim como os milionários mimados da NFL ofenderam profundamente o povo americano com seu desrespeito explícito aos símbolos nacionais, o aparelhamento desta instituição para fins político-eleitorais tão explícitos é igualmente inaceitável para eles. Numa pesquisa recente de Harvard, 54% dos americanos disseram que há conflito de interesses no caso e que o FBI deve ser investigado. É hora de vigiar o vigilante.

Nós sabemos bem como a máquina pública pode ser usada para fins políticos bem particulares. Acabo de ler que o Ministério Público do Rio de Janeiro abriu investigação contra Bernardinho, meu ex-técnico, economista, homem sério e um patrimônio nacional. Se a acusação não causar revolta e incredulidade em você, leia novamente: campanha eleitoral antecipada por entrevistas e postagens em redes sociais que exaltam suas realizações e o que pensa sobre política e economia.

A coisa é tão surreal que esta é a primeira representação do tipo relacionada às eleições de 2018 pela PRE/RJ. A primeira! Parece que no balneário do PSOL a patrulha companheira marca homem a homem e está pronta para um ponto de bloqueio. Só de comentar o caso, vão dizer que esta coluna faz campanha antecipada também. Melhor fazer comício com a turma da MPB pra ficar livre da marcação.

Onde estavam os impolutos procuradores quando Lula, nosso flautista de Hamelin, tocava sua marcha fúnebre na UERJ no últimO dia 8? É segredo para alguém que ele está percorrendo o Brasil em campanha? Verdade seja dita, os dois líderes das pesquisas eleitorais no momento, Lula e Bolsonaro, são exatamente os dois que estão fazendo comícios quase diariamente pelo Brasil. Coincidência? Mas crime eleitoral é o post do Facebook do Bernardinho. Seria cômico se não fosse trágico um sinal destes tempos sombrios em que instituições são usadas escancaradamente para fins nada republicanos.

Enquanto pipocam manchetes pelos veículos de comunicação (mas podem chamar de caravana do Lula pelo Brasil) com apenas aspas do líder do partido que afundou o país em 13 anos, os textos esquecem de mencionar que o candidato que roda o Brasil já em campanha (TSE não curtiu essa frase) é réu em seis ações na justiça e já foi condenado em uma por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Um mal entendido, claro. Lula e seus advogados alegam que não há provas contra o ex-presidente e reclamam da rapidez da justiça, que marcou para 24 de janeiro de 2018 o julgamento em segunda instância no TRF-4. Lula é inocente mas não tem pressa em provar isso. Não se pode nem enrolar a justiça em paz mais neste país.

Como não queremos perturbar a caravana da alma mais honesta, será que podemos voltar a falar então das bombásticas declarações de Palocci, braço direito de Lula durante 30 anos, Mônica Moura, João Santana e de como fomos assaltados via empreiteiras para alimentar um projeto de poder? Sem querer incomodar, podemos mostrar José Dirceu livre, leve, solto e sambando em festas (e na nossa cara)? Já podemos voltar a falar da atuação de Rodrigo Janot, o ex-chefão da PGR (e rapaz dos olhos do PT criado com o meu e o seu dinheiro via BNDES)? Podemos voltar a mencionar o engavetamento da investigação sobre Pasadena ano passado até o finado acordo de delação premiada (ênfase no “premiada”) com Joesley Batista? Marcelo Miller, lembram? Quem está investigando o investigador?

Se o FBI teve seus dias de república das bananas ao tentar interferir nas eleições para beneficiar a poderosa máquina dos Clinton, ao menos há uma reação popular às revelações, apimentadas agora com a descoberta de que Robert Mueller, escolhido para investigar Trump de forma “independente”, montou uma equipe politicamente tão anti-Trump que até democratas começam a reconhecer sua inadequação ao cargo. Mais uma vez, o aparelhamento do Estado tenta interferir no país com uma agenda político-partidária inaceitável.

Uma das frases mais repetidas na campanha presidencial do ano passado aqui na América foi “drenar o pântano”, uma referência direta ao Estado dentro do Estado, à burocracia governamental e seus satélites que deveriam ter como missão servir o cidadão mas que, com o tempo, torna-se um monstro com vida própria, incontrolável e que um dia pode devorar o próprio país. De novo, uma realidade que sequer precisa ser explicada para um brasileiro, mas que está tirando o sono dos americanos que estão prestando atenção.

O maior desafio político das democracias atuais é, sem dúvida, parar de rodear o pântano e ignorar seus jacarés acreditando que eles só estão interessados em sapos e peixes. Crocodilos estão neste planeta há pelo menos 200 milhões de anos e não dão o menor sinal de que estão indo embora. A burocracia estatal tem a mesma capacidade de sobrevivência e uma boca ainda maior. Como ensinou Churchill, o apaziguador é aquele que alimenta o crocodilo na esperança de ser comido por último.

A excelência no esporte, como sempre aplicou Bernardinho na sua vitoriosa carreira (calma PRE/RJ, isso não é campanha, é fato), vem muito do foco e da disciplina em executar insistentemente uma ação correta mil vezes. A excelência no esporte não vem de imediatismos e soluções rápidas para problemas complexos. O Brasil está imerso num pântano há mais de 13 anos e não 13 meses como muitos querem colorir. Se quisermos sonhar com a excelência e um possível progresso para nosso país temos que primeiro nos livrar dos crocodilos do PT.


• Publicado originalmente no Estadão.
 

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  • Editorial Estadão
  • 22 Dezembro 2017

 

Se tivesse um mínimo de pudor, Lula da Silva já teria há muito tempo se retirado da vida pública. Sendo, indubitavelmente, o maior responsável pela violenta crise moral, política e econômica que atinge o País desde a chegada do PT ao poder, em 2003, o chefão petista deveria ter ele próprio abreviado o sofrimento ao qual vem submetendo os brasileiros todo esse tempo, renunciando à pretensão de se tornar novamente presidente da República. Seria um alívio para o País, pois restituiria racionalidade ao debate das grandes questões nacionais, hoje submetidas à incessante mistificação lulopetista.

Mas Lula jamais trairia sua natureza nem revelaria agora uma grandeza que nunca teve, razão pela qual ele está, como sempre, em plena campanha à Presidência. E o mais espantoso é que, mesmo tendo feito tudo o que fez, ele aparece como favorito nas pesquisas eleitorais. Ou seja, uma parte considerável do eleitorado parece não se importar com o fato de Lula e seu partido terem protagonizado o mensalão, o petrolão e a destruição da economia do País; ao contrário, aceita como verdadeiro o discurso mendaz do demiurgo petista segundo o qual o Brasil era uma maravilha no tempo em que o PT estava no poder.

Por conta disso, muitos apostam que o anunciado julgamento do petista pelo Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, no dia 24 de janeiro, em Porto Alegre, será o grande evento capaz de livrar a sociedade brasileira do pesadelo lulopetista. E esse clima de confronto interessa muito aos petistas. O ex-ministro José Dirceu, condenado a mais de 30 anos de prisão por corrupção e que aguarda julgamento de recurso em liberdade vigiada, convocou a tigrada: “A hora é de ação, não de palavras. De transformar a fúria, a revolta, a indignação e mesmo o ódio em energia, para a luta e o combate. Todos a Porto Alegre no dia 24, o dia da revolta”.

É inacreditável que o País dependa da decisão de três juízes, sobre um caso de corrupção envolvendo um apartamento no Guarujá, para que Lula, enfim, seja alijado de uma eleição da qual ele não tem condições morais de participar. Essa situação expõe claramente o quanto ainda falta para que se possa dizer que o País amadureceu de fato. Em nações com democracias sólidas e educação cívica razoável, Lula e seus associados já estariam no ostracismo, não necessariamente como desdobramento de alguma ação judicial, e sim como consequência da repulsa do eleitorado.

Afinal, foi sob sua influência direta que se construiu uma ampla rede de corrupção no Congresso, à base de pagamentos mensais a deputados, para favorecer seu governo; foi durante sua Presidência que a principal empresa estatal do País, a Petrobrás, começou a ser destroçada pelo PT e outros partidos integrantes da quadrilha; foi em seu governo que o Brasil, ignorando os interesses nacionais, fechou-se a acordos comerciais com as maiores potências do planeta, preferindo fazer negócios com países periféricos e populistas, alinhados ideologicamente ao PT; e foi de Lula a ideia de colocar na cadeira presidencial a neófita brizolista Dilma Rousseff, cujo nome provoca calafrios em todos os milhões de brasileiros que sofreram as consequências de suas desastrosas decisões econômicas.

Por esse conjunto da obra, portanto, nenhum eleitor deveria sequer cogitar a hipótese de votar novamente em Lula. Mas ele não só tem muitos eleitores, como lidera as pesquisas e, o que é pior, conduz os debates para onde quer. No momento, por exemplo, Lula está em intensa campanha para desmoralizar as reformas defendidas pelo governo de Michel Temer, ajudando a mobilizar uma parte significativa da opinião pública contra essas urgentes medidas. Lula sabe que as reformas são fundamentais, mas responsabilidade, afinal, nunca foi seu forte.

Infelizmente, como se vê, o Brasil ainda não conseguiu superar Lula. E talvez não tenha conseguido porque o petista representa o País do assistencialismo populista, das regalias às corporações e do capitalismo sem risco. Ou seja, um País em que uma parte considerável de seu povo e de sua elite sonha em prosperar sem fazer força.

 

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