NOTA DO EDITOR: Terceiro da série de três textos sobre ideologia de gênero. Os dois anteriores “Ideologia de gênero: o que é, de onde vem, e por que você deve se preocupar com ela” e “Educação feminista e desfiminização feminina”
Neste artigo, último da série sobre a ideologia de gênero, vou falar sobre os meninos. Mais precisamente, sobre o modo como as suas disposições naturais vêm sendo depreciadas pela cultura feminista que domina a cena educacional contemporânea. No artigo anterior, mostrei que as meninas são educadas para a auto vitimização e a desfeminilização, e crescem com a falsa percepção de que os homens são inimigos potenciais. Os meninos, por sua vez, são levados a acreditar que aquilo que neles é mais espontâneo e específico, ou seja, a sua masculinidade, é nociva ao mundo e, principalmente, às mulheres.
As mensagens feministas dirigidas aos meninos devem ser entendidas como parte de um projeto político e ideológico mais amplo, cujos fundamentos, objetivos e métodos já foram dissecados por autoras como Christina Hoff Sommers, no livro “The War Against Boys” (2000) e Suzanne Venker, em “War on Men” (2013). Embora descrevendo o fenômeno a partir dos dados relativos à sociedade americana, essas análises descortinaram as bases do programa de ataque à masculinidade que está em curso em praticamente todos os países ocidentais. Vou me concentrar aqui no modo como esse programa é posto em prática na educação das crianças, começando por esclarecer quais são as disposições infantis que estou chamando de “masculinas” e que o projeto feminista tanto se esforça por neutralizar.
Sabemos que, durante a vida intra-uterina, o cérebro dos meninos é banhado por uma quantidade muito maior de testosterona do que o das meninas, e que isso determina, em ampla medida, a forma masculina de estar no mundo. Não é difícil perceber, por exemplo, que, em média, os meninos desenvolvem a coordenação ampla antes das meninas, ao passo que estas se antecipam no desenvolvimento da linguagem e da coordenação fina. E que, desde a mais tenra idade, a maioria dos meninos manifestam mais interesse imediato por objetos do que por pessoas, preferem brinquedos que possuem barulho e movimento, e mostram-se ávidos por brincadeiras que envolvam exploração, confronto corporal e dispêndio explosivo de energia.
A maior propensão dos meninos a recorrer à violência física para resolver conflitos também faz parte desse pacote. Quem os educa tem, portanto, diante de si, a importante tarefa de ajudá-los a mitigar e canalizar o seu potencial agressivo para formas de ação civilizadas e socialmente produtivas. Esse esforço de culturalização das disposições naturais masculinas é absolutamente necessário e jamais houve sociedade que deixasse de realizá-lo. Mas o que vem acontecendo no Ocidente contemporâneo é algo sem precedentes. Temos reprimido, em nossos meninos, todo tipo de comportamento que manifeste vigor combativo e espírito abertamente competitivo, sufocando assim traços essenciais de sua masculinidade. Em suma, os meninos estão sendo impedidos de ser meninos plenamente. E, quando resistem, seu modo de ser é problematizado, estigmatizado. Em muitos casos, chega a ser tratado como algo patológico.
É verdade que não se pode culpar a “ideologia de gênero” por absolutamente tudo. Alguns fatores sociológicos também contribuem para esse cerco à masculinidade. Um deles é a intensificação do padrão de vida urbano. A residência em apartamentos, a impossibilidade de brincar na rua ou em quintais, em contato íntimo com a natureza, assim como o fato das crianças precisarem estar sob a vigilância constante de um adulto, tudo isso restringe as suas possibilidades de experimentar situações não premeditadas de aventura, competição e confronto. A oportunidade de se movimentar amplamente ficou restrita à prática de esportes em clubes e academias, ou seja, a eventos de curta duração, atividades rotinizadas e supervisionadas diretamente por professores e instrutores, sem uma liberdade real. Em muitos casos, porém, nem isso é concedido aos meninos. Uma boa parte das crianças vive a triste realidade do sedentarismo absoluto. Durante o tempo em que não estão na escola, ficam paralisadas diante das telas dos aparelhos eletrônicos, assistindo por horas a fio às aventuras de personagens virtuais que lutam, correm e se arriscam. Tudo o que lhes resta é o exercício vicário da masculinidade.
Outro fator importante que concorre para esse processo é a dinâmica própria da escola. Por seu caráter universalista e homogeneizante, a escola moderna não pode permitir a expressão plena das individualidades dos alunos, e precisa mantê-los quietos pelo maior período de tempo possível. Além disso, com o fenômeno da judicialização crescente das relações sociais, as escolas têm se tornado alvo potencial de processos por parte dos pais, o que leva os gestores a tentar reduzir o risco de acidentes a zero, aprofundando o controle sobre a corporalidade exuberante dos meninos. Eles não podem brincar de luta, envolver-se em competições espontâneas e, em muitos casos, não são nem mesmo autorizados a correr no recreio. Devem ficar sentados por horas a fio, mimetizando a duras penas o comportamento das meninas, que, embora mais conversadeiras, são, em geral, mais maduras e capazes de se manter quietas e concentradas quando necessário. Por serem mais empáticas, elas também têm mais facilidade para desenvolver relações de cumplicidade com os professores.
Além de não possuírem meios para dar expressão às suas necessidades de movimento, ação e competição, os meninos ainda recebem poucos estímulos imaginativos na escola. Os professores são, em sua maioria, mulheres, e os currículos escolares têm se distanciado cada vez mais da sensibilidade masculina típica. Pensemos, por exemplo, na nova onda de desenvolver nos alunos “competências socioemocionais”. Não é preciso ser PHD em desenvolvimento infantil para saber que esse tipo de conteúdo será, já de saída, muito mais atraente para as meninas, as quais têm mais facilidade e desenvoltura para falar de seus próprios sentimentos, e gostam de fazê-lo. Não obstante, a matéria é introduzida como se atendesse a uma necessidade geral e irrestrita, e sem nenhuma consideração relativa às diferenças entre os sexos. É claro que isso não ocorre por desconhecimento ou descaso. O objetivo é exatamente o de transformar a sensibilidade dos meninos, da mesma forma como acontece com a seleção da literatura a ser trabalhada em sala de aula. Onde estão as histórias de batalhas, aventuras e heroísmo que tanto encantam a imaginação masculina? Foram substituídas por narrativas politicamente corretas e eivadas de ideologia de gênero.
Em condições normais, esses dois fatores de cerco à masculinidade – a vida urbana e a dinâmica escolar – poderiam ser relativamente contornados pela adoção de estratégias de compensação e adaptação por parte da família e da própria escola. Porém, as chances de se encontrar caminhos alternativos que beneficiem os meninos têm sido limitadas pela interferência de um terceiro fator, que é dentre todos o mais perverso, justamente por impedir o ajuste dos outros dois. Refiro-me à influência nefasta do discurso feminista que apresenta o modo de ser masculino como potencialmente “tóxico”, como algo de que os homens precisam se livrar, para o bem das mulheres e para o seu próprio bem. Nesse ponto, já não estamos mais falando de um constrangimento à masculinidade criado por circunstâncias históricas e sociológicas, e sim de um juízo de valor ideológico e politicamente interessado.
O discurso da “masculinidade tóxica” já se embrenhou em todos os níveis da atividade educacional, impregnando a visão de mundo de boa parte das famílias e de quase todos os gestores e agentes escolares. Em seu nome, os meninos têm sido submetidos a um processo de desvirilização de amplas consequências individuais e sociais. Um exemplo é a redução significativa de suas chances de sucesso escolar. Ao exercer tamanha pressão sobre a masculinidade, a educação atual coloca os meninos em notória desvantagem acadêmica em relação às meninas. Eles são os campeões nos índices de suspensão, expulsão e reprovação. Entre a população menos favorecida economicamente, essa situação tem resultados cruéis. Diminui as chances de mobilidade social e, em casos de maior vulnerabilidade, pode levar à marginalização e à exclusão social.
Do ponto de vista individual, abafar a expressão da sensibilidade natural dos meninos e impedir que ela se desenvolva em formas socialmente legítimas e valorizadas, significa despersonalizá-los e restringir as suas perspectivas de vida. Do ponto de vista coletivo, significa deixar de prepará-los para assumir as suas responsabilidades futuras como cidadãos e pais de família. Em muitas ocasiões cruciais, e para certas atividades específicas permanentes, uma comunidade precisa contar com a energia viril, do mesmo modo como uma família precisa contar com um homem que seja capaz de assumir riscos e obrigações pesadas para provê-la e protegê-la. É nas situações de calamidade, nos eventos de emergência, e no enfrentamento das ameaças externas, que nos damos conta do quanto a força física, a intrepidez e a objetividade masculinas são predicados imprescindíveis e admiráveis. Como escreveu C. Hoff Sommers, no livro já citado: “A história nos ensina que a masculinidade sem moralidade pode ser letal. Mas quando a masculinidade é imbuída de moralidade, ela se torna poderosa e construtiva, e uma dádiva para as mulheres (grifo meu).”
Mas os promotores da “ideologia de gênero” não estão preocupados com nada disso. O que nós percebemos como um problema sério, para eles é o corolário de um projeto que foi laboriosamente posto em prática ao longo de cinco décadas e cujos efeitos começam a se tornar mais visíveis agora. O cenário que temos hoje diante de nossos olhos – meninos pressionados em sua masculinidade, meninas confusas em relação à sua feminilidade – vem sendo idealizado, planejado e executado desde o início da segunda onda feminista nos anos 60, quando as universidades, as escolas e os meios de comunicação começaram a ser ocupados por agentes dedicados à pauta da desconstrução.
Em suma, o projeto de desvirilização dos meninos é a outra face do projeto de desfeminilização das meninas. As meninas são convencidas de que a sua feminilidade as transforma em vítimas dos homens. Ressentidas, elas se desfeminilizam para competir com eles. Os meninos são convencidos de que a sua masculinidade os torna algozes das mulheres. Culpados pela dor que alegadamente lhes causariam, eles se desvirilizam para tentar agradá-las. E, desse modo, chega-se mais perto da desestruturação da família heterossexual monogâmica, por meio do ataque a um de seus principais fundamentos, a complementariedade entre os sexos.
* Publicado originalmente em https://infanciabemcuidada.com/
** Mestre e doutora em Antropologia, ex-professora universitária e pesquisadora acadêmica. Atualmente é proprietária e diretora de uma escola de educação infantil. Editora do blog Infância Bem Cuidada
NOTA: Este texto é de 2002 e a mesma roda segue girando para 2018
Neste país há três e não mais de três correntes políticas organizadas: o socialismo fabiano que nos governa, o socialismo marxista e o velho nacional-esquerdismo janguista.
O socialismo fabiano distingue-se do marxista porque forma quadros de elite para influenciar as coisas desde cima em vez de organizar movimentos de massa. Seu momento de glória veio com a administração keynesiana de Roosevelt, que, a pretexto de salvar o capitalismo, estrangulou a liberdade de mercado e criou uma burocracia estatal infestada de comunistas, só sendo salva do desastre pela eclosão da guerra. O think tank mundial do fabianismo é a London School of Economics, parteira da “terceira via”, uma proposta da década de 20, periodicamente requentada quando o socialismo revolucionário entra em crise e é preciso passar o trabalho pesado, temporariamente, para a mão direita da esquerda.
No poder, os fabianos dão uma maquiada na economia capitalista enquanto fomentam por canais aparentemente neutros a disseminação de idéias socialistas, promovem a intromissão da burocracia em todos os setores da vida (não necessariamente os econômicos) e subsidiam a recuperação do socialismo revolucionário. Quando este está de novo pronto para a briga, eles saem de cena envergando o rótulo de “direitistas”, que lhes permitirá um eventual retorno ao poder como salvadores da pátria se os capitalistas voltarem a achar que precisam deles para deter a ascensão do marxismo revolucionário. Então novamente eles fingirão salvar a pátria enquanto salvam, por baixo do pano, o socialismo.
Desde seus fundadores, Sidney e Beatrice Webb, o fabianismo nunca passou de um instrumento auxiliar da revolução marxista, incumbido de ganhar respeitabilidade nos círculos burgueses para destruir o capitalismo desde dentro. Os conservadores ingleses diziam isso e eram ridicularizados pela mídia, mas a abertura dos Arquivos de Moscou provou que o mais famoso livro do casal não foi escrito pelo marido nem pela esposa, mas veio pronto do governo soviético.
A articulação dos dois socialismos era chamada por Stalin de “estratégia das tesouras”: consiste em fazer com que a ala aparentemente inofensiva do movimento apareça como única alternativa à revolução marxista, ocupando o espaço da direita de modo que esta, picotada entre duas lâminas, acabe por desaparecer. A oposição tradicional de direita e esquerda é então substituída pela divisão interna da esquerda, de modo que a completa homogeneinização socialista da opinião pública é obtida sem nenhuma ruptura aparente da normalidade. A discussão da esquerda com a própria esquerda, sendo a única que resta, torna-se um simulacro verossímil da competição democrática e é exibida como prova de que tudo está na mais perfeita ordem.
No governo, nossos fabianos seguiram sua receita de praxe: administraram o capitalismo como se fossem capitalistas, ao mesmo tempo que espalhavam a doutrinação marxista nas escolas, demoliam as Forças Armadas, instituíam novas regras de moralidade pública inspiradas no marxismo cultural da Escola de Frankfurt, neutralizavam por meio da difamação midiática as lideranças direitistas, criavam um aparato de repressão fiscal destinado a colocar praticamente fora da lei a atividade capitalista e, last not least, subsidiavam com dinheiro público o crescimento do MST, a maior organização revolucionária que já existiu na América Latina.
Em suma: fingiam cuidar da saúde do capitalismo enquanto destruíam suas bases políticas, ideológicas, culturais, morais, administrativas e militares, deixando o leito preparado para o advento do socialismo. Fizeram tudo isso sob o aplauso de uma classe capitalista idiota, incapaz de enxergar no capitalismo nada além da sua superfície econômica e ignorante de tudo o que é preciso para sustentá-la. Agora podem ir para casa, seguros de ter um lugar ao sol no socialismo, se ele vier amanhã, assim como no capitalismo, se ele durar mais um pouco.
Se o socialismo marxista tinha sua encarnação oficial no Estado soviético, enquanto o fabianismo era o braço “light” da estratégia stalinista, o nacional-esquerdismo que brotou na década de 30 também foi substancialmente uma invenção de Stalin. A grande especialidade de “tio Josef” era justamente o problema das nacionalidades, ao qual ele dedicou um livro que se tornou clássico. Foi ele que criou a estratégia de fomentar ambições nacionalistas, quando podia usá-las contra as potências ocidentais, ou freá-las, quando se opunham ao “internacionalismo proletário”. É verdade que falhou em aplicá-la com os nazistas, que se voltaram contra a URSS, mas obteve sucesso nas nações atrasadas, onde xenófobos de todos os naipes -- getulistas, nasseristas, peronistas, africanistas e aiatolás variados -- acabaram se integrando nas tropas da revolução mundial, varrendo suas divergências ideológicas para baixo do tapete e transmitindo uma impressão de unidade a seus adeptos nos países ricos (donde o milagre de feministas e gays marcharem contra os EUA ao lado de machistas islâmicos). A multidão dos nacionalistas revoltados dá um reforço externo à estratégia das tesouras, seja como massa de manobra ou, quando fardada, como arma de guerra.
Stalin foi o maior estrategista revolucionário de todos os tempos. Os efeitos de sua ação criadora chegaram às terras tupiniquins e ainda estão entre nós.Todo o panorama político nacional está hoje montado segundo o esquema delineado por ele nos anos 30.
Mas, dos poucos que têm envergadura intelectual para enxergar isso, quantos têm interesse de discuti-lo em público?
*Publicado originalmente em O Globo, 03 de agosto de 2002
**Publicado, também, em www.olavodecarvalho.org/a-mao-de-stalin-esta-sobre-nos/
O Brasil é o país onde um criminoso condenado em duas instâncias pela Justiça a 12 anos de cadeia lidera a corrida presidencial com 35% das intenções de votos.
O Rio de Janeiro é o estado onde crianças foram baleadas dentro do útero da mãe, onde crianças foram baleadas na sala de casa, assistindo TV, onde 688 tiroteios foram registrados em um único mês e, após decretada Intervenção Federal, surgiram milhares de “especialistas em segurança pública” dizendo que a medida é dura demais, é extrema, é ineficaz, etc. Todos esses “especialistas” hibernavam quando esses horrores aconteciam.
O Brasil é o país onde a Ordem dos Advogados, a Defensoria Pública e os Direitos Humanos se preocupam mais em libertar mães presidiárias do que prestar auxílio às mães das vítimas daqueles que estão nas prisões.
O Brasil é o país onde a morte de um pivete gera mais mídia e repercussão do que a morte de 134 policiais em um único ano no Estado do Rio de Janeiro. Aliás, alguém consegue lembrar o nome de um único PM morto?
O Brasil é o país onde 2.000 pessoas saquearam uma carreta carregada com carne que tombou em uma rodovia, antes mesmo que o motorista gravemente ferido fosse socorrido.
O Brasil é o país onde a população acha normal comprar um Iphone por 100 reais, usado e fora da caixa, em barracas de ambulantes, mesmo sabendo que aquele produto só pode ter sido fruto de roubo.
O Brasil é o país onde artistas e cantores fazem passeatas e cara de choro pedindo paz nas favelas, mas por trás das câmeras se fartam do pó fornecido pelo traficante que aterroriza a favela.
O Brasil é o país onde escolas de samba financiadas pelo dinheiro do tráfico, do crime organizado e das milícias, fazem desfiles dando lição de moral contra a corrupção, e os imbecis aplaudem só porque uma delas fantasiou o presidente vestido como vampiro corrupto.
O Brasil é o país onde apenas 8% dos homicídios são solucionados e 92% ficam impunes, mas a grande pauta do Supremo Tribunal Federal é impedir a prisão de condenados em segunda instância, porque, afinal, somos um país onde se pune muito os bandidos. Nada a ver com a tentativa de livrar um ex-presidente da cadeia, imaginem…
O Brasil é o país onde toda semana a mídia martela na sua cabeça que a Polícia é malvada, que as cadeias são muito lotadas, que a Justiça prende demais, que cadeia não é solução, ao mesmo tempo que desempregados são assaltados de madrugada em filas para distribuição de cestas básicas e o crime organizado possui armas de guerra que nem o exército utiliza.
O brasileiro não é vítima da criminalidade, o brasileiro é, também, CÚMPLICE.
• Publicado originalmente em redebrasil.net
O sofisma de que a intervenção federal no Rio de Janeiro é uma ação de opressão contra as classes mais pobres da cidade só pode ter saído das mesmas pessoas que defendem o desarmamento da população sob a escolta de seguranças armados. Esta classe - que de pobre não tem nada - diz-se a defensora dos oprimidos e não percebe que, na realidade, os que mais sofrem com a criminalidade são os pobres. Estes mesmos que não podem comprar uma arma, porque o Estado não deixa, e não podem contratar seguranças armados. A intervenção federal não resolve o problema da segurança pública como um todo. É um remédio para garantir lei e ordem. Porém, segurança pública é mais que isso.
A segurança pública é o primeiro dever do Estado, que existe para todos, mas deve atender, principalmente, quem dele mais precisa. Razão pela qual precisa tomar medidas que sejam de acordo com a realidade, seja ela normativa ou de exceção.
Misturar pobre com bandido é algo que a esquerda realiza, dando a ilusão de que todo o crime é culpa da desigualdade social, e não uma opção individual. Quem ostenta fuzil, arma de grosso calibre capaz de abater aeronaves, não são pobres, trabalhadores ou vítimas da sociedade, mas combatentes. No caso do Rio de Janeiro, narcoguerrilheiros.
É preciso que seja feita a revisão do código de execução penal de modo que deixemos de tratar policiais como criminosos caso alvejem um meliante durante tiroteio. Neste contexto, é importante lembrar que a primeira e principal função de uma cadeia é a punição, que é a primeira etapa de um processo de ressocialização. Esta ressocialização, contudo, é uma decisão do indivíduo, não do Estado.
Cabe a este dar condições para que cada sujeito possa escolher e trilhar o caminho da ressocialização. Em suma, precisamos de políticas que combatam o crime sem deixar de proteger o cidadão.
* Vereador (PROS) de Porto Alegre
* * Publicado originalmente no Jornal do Comércio
Cobri guerra no Líbano em 1982; fui alvo de fuzil AK47, como os cariocas, por um triz escapei da explosão de um carro-bomba que matou 52, andei por terreno minado, vi batalhas se desenvolverem à minha frente, como os cariocas. O estado de guerra, com tropas sírias, israelenses, da ONU, de milícias, de libaneses, em plena guerra fria, durou 25 anos. Mas não havia assaltos, roubos, furtos; todos respeitando os sinais de trânsito, respeitando a propriedade alheia. É a educação de casa. Aqui no Brasil, precisa estar escrito na Constituição que é preciso respeitar as leis - e nem assim. O artigo 144, que trata de segurança pública, estabelece que ela é dever do estado e direito e responsabilidade de todos. Reclamamos do estado que não nos dá segurança, mas temos nós cumprido a nossa responsabilidade, ou enfraquecemos as leis?
Inesquecível o episódio, aqui na capital do país, do advogado que se queixava, na mesa da feirinha do Lago Norte, de que a lei não o protegia, porque fora furtado em dois bujões de gás. Quando vi o BMW dele estacionado embaixo de uma placa de estacionamento proibido, perguntei-lhe: “Como você quer que a lei o proteja, se você enfraquece a lei que jurou cumprir e que garantiu que você comprasse esse carro?” Há 20 anos, uma colega minha mudou-se para Fortaleza. Um mês depois se declarava apavorada ao dirigir por lá. “Não obedecem sinal vermelho, não respeitam faixa de pedestre, estacionam em lugar proibido e até trafegam na contramão”. Previ que não iria acabar bem. Nesta semana lá chegaram reforços da Polícia Federal e da Força Nacional. A média de homicídios no Ceará é 15 por dia.
A sociedade é a força da lei. Ou o enfraquecimento da lei. Mas a lei, mal feita, pode também prejudicar. Pode emascular o direito natural da legítima defesa, pode liberar assaltantes e assassinos por causa da idade, pode significar impunidade e devolver às ruas gente que só pára de cometer crime se estiver apartado da sociedade. O jovem matador de um doutorando da Universidade de Brasília para roubar a bicicleta, já tinha quatro passagens pela polícia - uma das quais por homicídio! A audiência de custódia deixa a polícia com a sensação de enxugar gelo: ladrões e assaltantes presos dez vezes, voltam dez vezes para as ruas, até se tornarem latrocidas. Quando prenderam os primeiros políticos do mensalão, nossos legisladores trataram de suavizar as leis penais para evitar prisão em regime fechado - e beneficiaram a milhares de outros criminosos.
No Rio, no ano passado, foram mortos 134 policiais militares. Não se viu nenhuma manifestação nas ruas, nas praias, na Marquês do Sapucaí protestando contra os assassinos; nenhum enterro cheio, com governador, prefeito, deputados e vereadores e povo irado contra os bandidos. Há especialistas considerando os bandidos “vítimas da sociedade”, quando o óbvio é que suas próprias comunidades são vítimas das quadrilhas de traficantes, subjugados em seus direitos de ir-e-vir, de comprar gás, tv por assinatura; obrigados a fechar portas, a queimar pneus - escravos de seus senhores armados de fuzis. Os financiadores ficam lá embaixo, comprando a droga que compra os fuzis.
* Publicado originalmente em http://www.sonoticias.com.br/coluna/quem-pega-o-fuzil
O Rio de Janeiro vive em estado de falência completa. Falência das instituições, dos quadros políticos, da sociedade em geral. É um aperitivo do processo de desconstrução pelo qual passa o Brasil. O método vai mais além. Inverte princípios, enaltece o crime e a malandragem, despreza o mérito e subverte valores basilares da constituição de uma sociedade fraterna, virtuosa e vitoriosa. O caminho trilhado há tempos somente tem um resultado, este que estamos vivendo, perplexos e aparvalhados.
O governo, ponto central do desequilíbrio, entrega benesses em troca de apoio para permanecer no poder. Grupos políticos revezam-se no comando das instituições com o intuito de saquear os cofres públicos. Mesmo com royalties do petróleo, Pré-Sal, investimentos internacionais, Olimpíadas e Copa do Mundo, que despejaram caminhões de recursos no Rio, o poder púbico foi incapaz de entregar reformas educacionais, melhorias no sistema de saúde, investir em segurança, modelos de organização urbana ou desburocratizar a máquina governamental para os empreendedores. Nada foi feito além de obras superfaturadas e maquiagens urbanas para ludibriar os olhos dos turistas e dos cariocas. Pão e circo.
Apenas entre 2014 e 2016 o Rio de Janeiro recebeu R$ 235 bilhões em investimentos. Não faltou dinheiro. Faltou competência e honestidade. O volume de recursos desviados pela organização criminosa chefiada pelo ex-Governador Sergio Cabral deixa evidente que o crime se infiltrou no Estado. A política fluminense está apodrecida. A Lava Jato, em seu capítulo carioca, pede o ressarcimento de 2,28 bilhões de reais aos cofres públicos. Até o momento conseguiu recuperar apenas R$ 451,5 milhões. O volume assusta, mas certamente é muito maior, pois somente na Operação Fratura Exposta são investigados desvios de mais de 300 milhões na área da saúde. Enquanto isso, o governo investe R$ 75 milhões no Carnaval e R$ 74 milhões na segurança pública. Um escárnio.
O Rio de Janeiro está entre os dez estados mais violentos no Brasil. Isto nos prova que o problema não se restringe ao seu perímetro. É um fenômeno sistêmico nacional. Se o objetivo é combater o crime organizado, as ações devem superar os limites fluminenses, mas tudo indica que o objetivo é simplesmente combater a desordem e fornecer maior sensação de segurança. Não está sendo atacado o cerne da questão.
Precisamos repensar o modelo de sociedade que desejamos para o Brasil. No desmonte dos valores, na degradação moral, na desconstrução ética. Estas são as bases que faltam atualmente. O brasileiro não é vítima, mas parte do problema. Já chegou o momento de darmos uma resposta, de nos perguntarmos que tipo de sociedade desejamos e trabalharmos para que surja desta reflexão um futuro melhor para nosso país. Do contrário viveremos de intervenção em intervenção, enxugando gelo, reféns de uma sociedade doente e políticos desonestos. A verdadeira intervenção que precisamos é de ordem moral e ética, dentro de valores que construam uma sociedade virtuosa, decente e honesta para nossas futuras gerações.
• Publicado originalmente no Diário do Poder