O final do triste episódio em que o Brasil abrigou um tetra assassino como Cesare Battisti ainda não é um final feliz da nossa cultura de impunidade. O italiano entrou no Brasil em 2002. E aqui ficou por 14 anos. Um ano antes, em 2001, deixava o Brasil, por vontade própria, depois de 30 anos, o assaltante inglês Ronald Biggs, que havia fugido da prisão onde cumpria pena. Foi um revezamento entre duas estrelas da impunidade brasileira. Dois exemplos para as crianças brasileiras, mostrando que o crime é uma forma de se tornar celebridade.
Ronald Biggs virou atração turística no Rio de Janeiro. As pessoas pagavam para conversar com ele. Virou cantor, xícaras e camisetas eram vendidas com a imagem dele. Em discos e filmes, ele se aproveitava do tema relativo ao assalto ao trem pagador, de que participou. Virou enredo em escola de samba “Samba no pé e mãos ao alto, isto é um assalto”. Em 2001, decidiu voltar para sua pátria – talvez com medo dos assaltos no Rio – e foi preso para cumprir pena até que sua saúde se agravou. Morreu no hospital.
Battisti entrou no Brasil mal Biggs havia saído. Usou passaporte falso e foi preso. Era caso de deportação imediata, como fez a Bolívia, pelo mesmo crime de entrada ilegal. Mas o governo FHC estava empolgado com direitos humanos. O italiano fugia da justiça que o havia condenado em todas as instâncias por quatro assassinatos e por ter deixado tetraplégico um menino de 15 anos. Seus companheiros de crime depuseram afirmando que ele se comprazia em ver o sangue fluindo de suas vítimas. Foi defendido pelo advogado Luiz Roberto Barroso, hoje no Supremo, sob alegação que lutava contra um regime opressor. O governo italiano era democrático e socialista.
Porque era do Proletários Armados pelo Comunismo(PAC), foi recebido como refugiado político no governo Lula, pelo Ministro da Justiça Tarso Genro. Os boxeadores cubanos que fugiam da ditadura foram mandados de volta para Havana. O fugitivo da justiça de um país democrático ganhou abrigo. Embora o Supremo tenha autorizado a extradição, Lula, em seu último dia de governo, já se preparando para ir a Atibaia, o manteve no país da impunidade. Viveu aqui bem sustentado e bem tratado, como celebridade, referido não como assassino, mas como ativista, escritor, filósofo. O país que transforma criminosos condenados em celebridades está fertilizando ovos de serpentes que depois vão envenená-lo. A cultura de justificar os bandidos nos torna reféns dessas nossas criaturas.
*Reproduzido do Facebook do autor.
É realmente uma canseira, mas não tem outro jeito. Cada vez que você vai escrever ou falar alguma coisa sobre a imprensa no Brasil, é preciso explicar direitinho, se possível com desenho e quadro-negro, que o autor não é — repetindo: não é, de jeito nenhum, nem pensem numa coisa dessas — contra a liberdade de imprensa. Não está pedindo a volta da censura, mesmo porque seria legalmente impossível. Não quer a formação de uma polícia para fazer o "controle social dos meios de comunicação". Não está "a favor dos militares e contra os jornalistas". Não acha, pelo amor de Deus, que é preciso fechar nenhum jornal, revista, rádio, televisão, folheto de grêmio estudantil ou seja o que for. Não lhe passa pela cabeça sugerir aos donos de veículos e aos jornalistas que publiquem isso ou deixem de publicar aquilo; escrevam em grego, se quiserem, e tenham toda a sorte do mundo para encontrar quem leia. Com tudo isso bem esclarecido, então, quem sabe se possa dizer que talvez haja um ou outro probleminha com a imprensa brasileira de hoje. Um deles é que a mídia está começando a revelar sintomas de Alzheimer, ou de alguma outra forma de demência ainda mal diagnosticada pela psiquiatria.
É chato lembrar esse tipo de coisa, mas também não adianta fazer de conta que está tudo bem quando dizem para você dia e noite, 100?000 vezes seguidas, que o novo governo brasileiro provou ser o pior que a humanidade já teve desde Átila, o Huno. Não faz nexo. Até Átila precisaria de mais de duas semanas de governo para mostrar toda a sua ruindade — e olhe que ele foi acusado de comer carne humana e andava cercado de lobos, em vez de cachorros, sendo que nenhum dos seus lobos era bobo o suficiente para chegar perto do dono quando sentia que o homem não estava de muito bom humor naquele dia. Além disso, errar em tudo é tão difícil quanto acertar em tudo. Talvez fosse mais racional, então, recuar para uma antiga regra da lógica: as ações devem ser julgadas pelos resultados concretos que obtêm, e não por aquilo que você acha delas. Um governo só pode ser avaliado depois que se constate se as coisas melhoraram ou pioraram em consequência das decisões que pôs em prática. O número de homicídios, por exemplo — aumentou ou diminuiu depois de doze meses? A inflação está em 2% ou em 20%? O desemprego caiu ou subiu? E por aí vamos.
Mas essa lógica não existe no Brasil de hoje. Está tudo errado, 100% errado, porque é assim que decreta o estado de alma dos proprietários dos veículos e dos jornalistas que empregam — e não porque eles mediram algum resultado concreto. Ou seja: ainda não aconteceu, mas o governo já errou. A condenação começou no dia da posse de Bolsonaro e dali até hoje não parou mais. Os jornalistas, denunciou-se já nos primeiros minutos, não receberam instalações à altura de sua importância para a sociedade. Donald Trump não veio. O discurso de estreia foi ruim — embora não se tenha publicado uma sílaba de algum discurso presidencial anterior, para que se pudesse fazer uma comparação. Há generais em excesso no governo — e qual seria o número ideal de generais no governo? A média das administrações de Sarney para cá? A média mundial? O que é pior: o general A, B ou C ou os ministros Geddel, Palocci ou Erenice? Há poucos nordestinos. O ministro do Ambiente acha que esgotos ou coleta de lixo, por exemplo, são problemas ambientais sérios. Conclusão: ele vai abandonar a Amazônia para os destruidores de florestas.
Como o doente que repete sem parar a mesma coisa, não consegue descrever o que vê pela janela, e esquece tudo o que lhe foi demonstrado um minuto antes, a imprensa travou. A prisão do terrorista Cesare Battisti foi uma "derrota" para Bolsonaro; imaginava-se que teria sido uma derrota para Battisti, mas a mídia quer que você ache o contrário. O acesso a armas de fogo para que um cidadão (só aquele que queira) tenha a chance de exercer o direito de legítima defesa antes de ser assassinado vai desencadear uma onda de homicídios jamais vista na história. Como as armas de fogo são caras, denuncia-se que a medida é "pró-elites". E se vierem a baixar de preço? Passarão a ser melhores? Quando alguém começa a escrever coisas assim, e faz isso o tempo todo, é porque parou de pensar; o cérebro não está mais ligando Zé com Zé. É um problema. Os leitores, cada vez mais, estão percebendo que a imprensa é inútil. Não só eles. No dia em que o governo descobrir que não precisa mais prestar atenção à mídia, vai ver que está perdendo uma montanha de tempo à toa.
* Reproduzido do Facebook do autor.
GOVERNANÇA
Não foram poucos os editoriais que escrevi ao longo da última campanha eleitoral, alertando que da mesma forma como os eleitores devem se preocupar em escolher um presidente honesto e competente, também precisam escolher deputados e senadores que tenham o mesmo perfil e defendam as mesmas ideias. Isto é fundamental para uma boa governança.
AFINIDADE
Pois, como se viu, nas Eleições 2018, os eleitores em geral cumpriram bem, e até de forma muito surpreendente, esta importante tarefa. Mesmo que o PT ainda tenha a maior bancada na Câmara Federal, a maioria dos deputados eleitos está mais afinada com os propósitos e reformas defendidas pelo presidente Jair Bolsonaro.
RODRIGO MAIA
Mesmo que Rodrigo Maia esteja longe de ser considerado uma -brastemp política- tudo leva a crer que a sua escolha como presidente da Câmara, já no início do mês de fevereiro, como dão a entender os analistas políticos, o importante é que ele tem se apresentado como um líder bem afinado com as propostas de Bolsonaro.
RENAN CALHEIROS
Já no ambiente do Senado a situação é bem diferente, para não dizer trágica. Tudo porque o péssimo senador Renan Calheiros, candidato que os analistas políticos (os mesmos que veem Maia como o mais provável presidente da Câmara), goza de maior preferência para presidir o novo Senado. Coisa que, por si só, exige atenção e ação redobrada por parte dos eleitores brasileiros.
FICHA POLÍTICA E CRIMINAL
A ficha política e criminal do senador Renan Calheiros, além de longa e muito conhecida, é repleta de péssimas intenções para quem elegeu Bolsonaro e, portanto, exige um Brasil realmente novo e melhor para viver e empreender. Enquanto a maioria da Câmara está com Bolsonaro, isto não acontece no Senado (o governo soma 33 votos, ante 25 da oposição, 12 independentes e 11 indefinidos, segundo estimativa dos analistas).
IMPEDIR A CATÁSTROFE
Para piorar, além de petista/socialista declarado, como pode ser visto no vídeo no qual declara, de forma franca e aberta, Renan confirma adesão total à campanha -Lula Livre-. Ora, só por aí já há motivo de sobra para não aceitar que o pilantra venha a presidir o Senado a partir de fevereiro.
Como faltam poucos dias para a eleição dos presidentes das duas Casas, e a maioria dos senadores está inclinada a eleger Renan Calheiros, só nos resta ir para as ruas para tentar impedir esta catástrofe.
Toda figura de linguagem expressa compactamente uma impressão sem indicar com clareza o fenômeno objetivo que a suscitou. Decomposta analiticamente, revela-se portadora de muitos significados possíveis, alguns contraditórios entre si, que podem corresponder à experiência em graus variados. No Brasil de hoje, todos os "formadores de opinião" mais salientes, sem exceção visível — comentaristas de mídia, acadêmicos, políticos, figuras do show business — pensam por figuras de linguagem, sem a mínima preocupação — ou capacidade — de distinguir entre a fórmula verbal e os dados da experiência. Impõem seus estados subjetivos ao leitor ou ouvinte de maneira direta, sem uma realidade mediadora que possa servir de critério de arbitragem entre emissor e receptor da mensagem. A discussão racional fica assim inviabilizada na base, sendo substituída pelo mero confronto entre modos de sentir, uma demonstração mútua de força psíquica bruta que dá a vitória, quase que necessariamente, ao lado mais barulhento, histriônico, fanático e intolerante. Como as pessoas pressentem de algum modo que essa situação ameaça descambar para a pura e simples troca de insultos, se não de tapas ou de tiros, o remédio que improvisam por mero automatismo é apegar-se às regras de polidez como símbolo convencional e sucedâneo da racionalidade faltante, como se um sujeito declarar calma e educadamente que os gatos são vegetais fosse mais racional do que berrar indignado que são animais. O resultado é que a linguagem dos debates públicos se torna ainda mais artificiosa e pedante, facilitando o trabalho dos demagogos e manipuladores.
É um ambiente de alucinação e farsa, no qual só o pior e mais vil pode prevalecer.
O cúmulo da devassidão mental se alcança quando as leis penais passam a ser redigidas dessa maneira. Se a definição de uma conduta delituosa é vaga e imprecisa, a tipificação do crime correspondente se torna pura matéria de preferência subjetiva do juiz ou de pressão política por parte de grupos interessados. Assim, por exemplo, o agitador que pregue abertamente a inferioridade da raça negra e o engraçadinho que faça uma piada ocasional sobre negros podem ser condenados à mesma pena por delito de "racismo".
Duas condutas qualitativamente incomparáveis são niveladas por baixo: não há mais diferença entre delito e aparência de delito. É a mulher de César às avessas: não é preciso ser criminoso, basta parecê-lo. Basta caber numa definição ilimitadamente elástica que inclui desde o uso impensado de certas palavras até a doutrinação genocida explícita e feroz. "Racismo" é uma figura de linguagem, não um conceito rigoroso correspondente a condutas determinadas. Uma lei que o criminalize é um jogo de azar no qual a justiça e a injustiça são distribuídas a esmo, por juízes que têm a consciência tranquila de estar agindo a serviço da liberdade e da democracia. É uma comédia. Quem se der o trabalho de distinguir analiticamente os vários sentidos com que a palavra "racismo" é usada em diversos contextos verificará que correspondem a condutas muito diferentes entre si, das quais algumas podem ser criminosas. Estas é que têm de ser objeto de lei, não o saco de gatos denominado "racismo". E "homofobia", então? Seu sentido abrange desde o impulso homicida até devoções religiosas, desde a discussão científica de uma classificação nosológica até a repulsa espontânea por certo tipo de carícias — tudo isso criminalizado por igual. Quem cria e redige essas leis são obviamente pessoas sem o mínimo senso de responsabilidade por seus atos: são adolescentes embriagados de um delírio de poder; são mentes disformes e antissociais, são sociopatas perigosos. Só eleitores totalmente ludibriados podem ter elevado esses indivíduos à condição de legisladores, dando realidade à fantasia macabra do Doutor Mabuse de Fritz Lang: a revolução dos loucos, tramada no hospício para subjugar a humanidade sã e impor a demência como regra. E não pensem que ao dizer isso esteja eu mesmo apelando a uma figura de linguagem, hiperbolizando os fatos para chamar a atenção sobre eles. A incapacidade de distinguir entre sentido literal e figurado, a perda da função denominativa da linguagem e a redução da fala a um jogo de intimidação e sedução sem satisfações a prestar à realidade são sintomas psiquiátricos característicos. Quando tomei conhecimento dos diagnósticos político-sociais elaborados pelos psiquiatras Joseph Gabel e Lyle H. Rossiter, Jr., que, indo além da concepção schellinguiana da "doença espiritual", classificavam as ideologias revolucionárias como patologias mentais em sentido estrito, achei que exageravam. Hoje sei que estavam certos.
As figuras de linguagem são instrumentos indispensáveis não só na comunicação como na aquisição de conhecimento. Quando não sabemos declarar exatamente o que é uma coisa, dizemos a impressão que ela nos causa.
Todo conhecimento começa assim. Benedetto Croce definia a poesia como "expressão de impressões". Toda incursão da mente humana num domínio novo e inexplorado é, nesse sentido, "poética". Começamos dizendo o que sentimos e imaginamos. É do confronto de muitas fantasias diversas, incongruentes e opostas que a realidade da coisa, do objeto, um dia chega a se desenhar diante dos nossos olhos, clara e distinta, como que aprisionada numa malha de fios imaginários — como a tridimensionalidade do espaço que emerge das linhas traçadas numa superfície plana. Suprimir as metáforas e metonímias, as analogias e as hipérboles, impor universalmente uma linguagem inteiramente exata, definida, "científica", como chegaram a ambicionar os filósofos da escola analítica, seria sufocar a capacidade humana de investigar e conjeturar. Seria matar a própria inventividade científica sob a desculpa de dar à ciência plenos poderes sobre as modalidades "pré-científicas" de conhecimento.
Mas, inversamente, encarcerar a mente humana numa trama indeslindável de figuras de linguagem rebeldes a toda análise, impor o jogo de impressões emotivas como substituto da discussão racional e fazer de simbolismos nebulosos a base de decisões práticas que afetarão milhões de pessoas é um crime ainda mais grave contra a inteligência humana; é escravizar toda uma sociedade — ou várias — à confusão interior de um grupo de psicopatas megalômanos.
* Publicado originalmente no Diário do Comércio, 11 de junho de 2007.
Em 2017, depois de várias reuniões com o então deputado estadual do RS, Marcel Van Hattem (hoje eleito deputado federal) e sua boa equipe, concluímos a redação do Projeto de Lei nº 221/2017, que resultou protocolado na Assembleia Legislativa no dia 19/10 com o propósito de criar o FUNDO-RS DE VALORIZAÇÃO DE ATIVOS PÚBLICOS.
FUNDO DA GAVETA
Infelizmente, por absoluta falta de interesse, tanto do governador José Ivo Sartori quanto da maioria dos deputados do RS, o Projeto foi jogado no fundo de alguma gaveta do Legislativo gaúcho, onde, certamente, pairam, para todo o sempre, todas as boas propostas que visam melhorar a situação caótica do Estado do RS.
VANTAGENS QUE PROPORCIONAM OS FUNDOS
Mesmo que já tenha escrito um ou mais editoriais esclarecendo as vantagens que a criação de FUNDOS DE VALORIZAÇÃO DE ATIVOS PÚBLICOS volto a insistir, porque mais do que nunca se discute privatizações e/ou venda de patrimônio público.
ATIVOS PÚBLICOS
Antes de tudo, -ATIVOS PÚBLICOS- são todos os bens -móveis e imóveis- de propriedade do Poder Público, quer sejam da União, dos Estados e dos Municípios. Assim, o FUNDO DE VALORIZAÇÃO DE ATIVOS PÚBLICOS tem como propósito, além de dar total transparência a tudo que é de propriedade do Estado, racionalizar e otimizar a gestão do patrimônio público.
Mais: o FUNDO DE ATIVOS do RS, segundo diz o PL, teria como fonte de recursos a percepção de valores sobre as operações, atos ou ações do Governo Estadual de venda de ações de qualquer tipo e ativos diversos (inclusive imobiliários), total ou parcialmente, das empresas em que tenha controle ou participe do quadro de acionistas, sob qualquer percentual.
TAXA DE RETORNO
Isto significa que a partir da sua criação, todos os bens públicos (ações de empresas, imóveis e os mais variados objetos) passariam a compor os ATIVOS DA INSTITUIÇÃO. Uma vez ali colocados, caberia aos gestores escolhidos para administrar o FUNDO DE ATIVOS PÚBLICOS , cuja meta é a obtenção da melhor taxa de retorno possível.
RENDIMENTOS
Para evitar que os recursos de INVESTIMENTO venham a ser usados para pagamento de DESPESAS PÚBLICAS, o Projeto de Lei simplesmente VEDA A MOVIMENTAÇÃO dos valores transferidos originariamente ao Fundo Estadual, podendo somente ser sacados valores relativos aos rendimentos do Fundo.
CÂMARA FEDERAL
Tomara que algum deputado estadual do RS resolva tirar este Projeto de Lei da gaveta. No âmbito federal sei que o deputado federal Marcel Van Hattem está disposto a protocolar algo idêntico na Câmara dos Deputados.
Em 26 de outubro de 1952, Winston Churchill vence as eleições e inicia seu segundo mandato como Primeiro Ministro da Grã-Bretanha, neste momento com 77 anos de idade. Em 09 de novembro de 1951, Churchill discursa em um banquete em sua homenagem, organizado pelo prefeito de Londres, em Guildhall[1]. Para muita gente, sua recondução ao cargo foi um pedido de desculpas de todo um país a seu maior estadista, seis anos depois de sua surpreendente derrota para os trabalhistas, quando acabara de liderar a pátria na Segunda Guerra Mundial. A derrota do Partido Conservador em 1945 fora interpretada como um sinal de que Churchill era visto como um líder ideal em situações de emergência, mas não em tempos de paz.
Nesta ocasião, Churchill declara que:
“(…) qualquer que seja a forma das coisas caminharem, não iremos faltar com o nosso dever, quão impopular este seja. Não são aplausos que procuramos ganhar ou votos que tentamos angariar, mas sim respeito e confiança. Isso não virá apenas com palavras, mas somente com ações que se sustentem pelos seus resultados, que não são conseguidos com o aceno de um bastão. É necessário tempo para uma nova administração entender e medir os fatos que nos circundam, em um arranjo confuso e ameaçador. É necessário mais tempo para que os remédios que propomos, e vamos propor, possam produzir efeitos curativos. Nada poderia ser mais fácil que este país, separado politicamente em partes, tremer e trepidar a caminho da falência e da ruína. … Sem duvida, o governo de Sua Majestade cometerá erros. Não vamos hesitar em admiti-los. Eu cometi erros de guerra. É, porém, sempre um conforto, em tempos de crise, sentir que se percorre o caminho do dever, de acordo com o conhecimento que lhe é concedido. Desta forma, não é preciso temer o que possa acontecer’.
Em 1º de janeiro de 2019, Jair Messias Bolsonaro tomou posse como o 38º presidente do Brasil após um processo eleitoral desgastante, conturbado e por vezes violento. O Brasil está mudando de mãos e no comando está a esperança da retomada de valores éticos, humanos e básicos, subtraídos do brasileiro comum por um grupo de políticos, magistrados e empresários interessados na construção de um socialismo mágico e impossível. O Brasil profundo disse não aos desmandos e a classe média, normalmente ausente da discussão e mais do que isso, da ação política, tomou as ruas, militou por votos, atuou nas redes sociais e no seu cotidiano, conquistando eleitores e trabalhando para seus candidatos. Todo este esforço foi recompensado com uma guinada não só à direita do espectro político (que eu pessoalmente acredito ser uma discussão ultrapassada, mas isto é tema para outro artigo), mas um retorno à discussão de valores que são essenciais a qualquer sociedade e que haviam se dissipado pelo policiamento do “politicamente correto”.
O Presidente Bolsonaro discorre que uma de suas prioridades “é proteger e revigorar a democracia brasileira, trabalhando arduamente para que ela deixe de ser apenas uma promessa formal e distante e passe a ser um componente substancial e tangível da vida política brasileira, com respeito à democracia”. A necessidade de mudanças no Brasil não pode ocorrer fora do ambiente democrático e do rule of law, ou o Império das Leis. Se as leis atuais não são mais adequadas a nossa realidade, deverão ser reformadas para atender a um novo momento cujos efeitos, não só o Brasil, mas o mundo inteiro, sente neste primeiro terço do século XXI. O presidente reafirma a importância deste sentimento quando diz que “esses desafios só serão resolvidos mediante um verdadeiro pacto nacional entre a sociedade e os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, na busca de novos caminhos para um novo Brasil”.
Na mesma linha, o presidente empossado declara “que a construção de uma nação mais justa e desenvolvida requer a ruptura com práticas que se mostram nefastas para todos nós, maculando a classe política e atrasando o progresso. A irresponsabilidade nos conduziu à maior crise ética, moral e econômica de nossa história”. Inicia-se uma nova fase no Brasil, uma fase de reconstrução nacional.
Agora, o que Winston Churchill e Jair Bolsonaro têm em comum? Sabemos quem foi o grande líder inglês que, por sua obstinada condução, salvou o ocidente da terrível ameaça nazista e da possível supressão da liberdade. Churchill até hoje exerce fortíssima influência por seus exemplos de clareza, visão, resiliência e a intransigente defesa dos valores judaico-cristãos e ajudou a escrever a história ocidental por seus feitos e, literalmente, por meio de sua extensa contribuição literária.
Jair Bolsonaro têm à sua frente um livro, ou vários, a serem escritos. Sua atuação politica é conhecida no legislativo, mas pela primeira vez ascende a um cargo executivo e, justamente, ao mais importante deles. O presidente demonstra suas fortalezas e fraquezas e não esconde que formou um governo que pretende atender às necessidades do país.
Churchill, em seu segundo mandato, e Bolsonaro, se assemelham no tamanho da tarefa que assumiram, na humildade de reconhecer suas fraquezas e na tenacidade que, respectivamente, demonstraram e demonstram para superar dificuldades. A Inglaterra dos anos 1950 enfrentava escassez de alimentos, de carvão e de energia, alta taxa de desemprego e desesperança com sua economia. Além da ameaça nuclear da guerra fria, pairava sobre a Europa a tomada do poder pela ideologia socialista-comunista na Europa Ocidental, pela via democrática e na Europa Oriental, pela força das armas. Bolsonaro terá que desmontar uma estrutura corporativista, que oscila entre uma banda criminosa e uma ideológica de esquerda, interessada em um projeto de poder e não de governo. Assim como Churchill, Bolsonaro deverá tomar ações imediatas, mas que deverão gerar resultados lentos e de difícil cálculo.
Porém, “grandes marinheiros se formam no mar e não no porto”, diz um velho ditado dos mares. As criticas vazias, pouco fundamentadas ou motivadas por torcidas de um lado ou de outro serão frequentes e será necessário que este novo governo não esmoreça, não perca o rumo ou queira atender a demandas eleitorais de curto prazo ou no sentido de apaziguar os descontentes. Estas demandas virão da grande imprensa (despreparada do ponto de vista técnico e/ou intelectual), dos partidos de oposição, do funcionalismo publico e suas corporações (que obrigatoriamente perderão seus privilégios disfarçados de direitos) e dos tais indefinidos “movimentos sociais”.
Muitas criticas também virão da direita, uma vez que muitos dos novos recém-chegados ou autodenominados liberais efetivamente pouco entendem sobre o liberalismo, suas raízes, objetivos, filosofia e autores. Como nas hordas esquerdistas, onde espalham-se frases feitas e a ignorância, as hordas do lado direito reproduzem comportamentos parecidos. E bem, não se podem esperar muita luz e inteligência dos meios acadêmicos onde prevalecem as trevas e a ignorância há mais de trinta anos. Onde se plantam laranjas não nascem maçãs.
Iniciaremos agora os primeiros esperançosos e temíveis 100 dias de governo. Muito deverá ser feito e nos cabe apoiar, sugerir e interpretar todas as decisões tomadas aos olhos das regras modernas para a tomada de decisões: prestação de contas (accountabilty), verificações e balanços (checks and balances) e os resultados econômicos da proposição e aplicação de leis (law and economics). A receita do lado econômico é conhecida: austeridade e responsabilidade fiscal, governança corporativa, privatizações e a simplificação fiscal e legal em benefício de um ambiente de negócios mais livre. No lado social, o reforço à segurança pessoal, o direito à vida e de autodefesa, a reorganização do modelo educacional e a defesa e a proteção do direito de expressão, credo e gênero.
Presidente Bolsonaro: mãos à obra, pois o tempo é curto e a luta pela liberdade não pode esperar mais. O que disse Churchill em 1951 ainda vale hoje em 2019: “não é preciso temer o que possa acontecer”.
[1] Guildhall: Edifício cuja construção foi iniciada em 1411 e concluída em 1440, e é o único edifício de pedra não pertencente à Igreja que sobreviveu até o presente. O complexo contém vários outros interiores históricos, além do salão, incluindo as grandes criptas medievais, a antiga biblioteca e da sala de impressão, os quais agora são usados como salas de eventos. Foi utilizada como tribunal, prefeitura e salão de conferências durante diversos séculos.
*Publicado originalmente em www.institutoliberal.org.br
** Ricardo Sonderman é empresário, formado em Administração e mestre em Comunicação pela PUCRS. Foi presidente do Instituto Liberdade, é membro do Instituto de Estudos Empresariais e autor do livro Churchill e a Ciência Por Trás dos Discursos - Como palavras se transformam em armas.