• Renato Sant’Ana
  • 28 Janeiro 2019

 

Na relação imprensa versus políticos, é imprescindível que governos sejam criticados e que governantes saibam responder às críticas com boas ações. Mas não se pode confundir “crítica” com “guerra ideológica”. Nem exigir passividade a quem é atacado com truculência.

O que grande parte da mídia vem fazendo nos primeiros dias do novo governo beira a infâmia, revelando um notado propósito de produzir crises e atingir a pessoa do presidente da República. A título de exemplo, faça-se a análise de um caso apenas.

Antes, porém, convém explicitar duas premissas. Uma é que o governo Bolsonaro tem, sim, pontos a serem criticados e, embora qualquer avaliação definitiva em tão curto tempo seja indevida, não é razoável pretender blindá-lo.

Outra é que cidadãos com clara noção de democracia não fazem apologia de governo algum, mas contribuem sempre que possível, inclusive com críticas, para que o governo realize o melhor, tenham ou não votado nele.

Posto isso, é abjeta a forma com que Igor Gielow, colunista da Folha de S. Paulo, se empenha em deslegitimar o governo Bolsonaro. Recorrendo à tática do “sem dizer, dizendo”, ele é só mais um a fazer um terceiro turno de 2018. Pretenderá deseleger o presidente?

Em 23/01/19, sua coluna começa pela desonestidade do título: “Marielle surge no caso Queiroz para assombrar começo do governo Bolsonaro”. Ora, uma afirmação categórica, usada como título, tende a fixar uma “verdade” para o leitor médio, que não se caracteriza pelo salutar cepticismo nem pelo hábito de pesquisar. É na cabeça desse leitor que Gielow se empenha em meter uma suposta ligação entre Bolsonaro e o “caso Marielle”.

E vai em frente: “É portanto irônico que a maior dor de cabeça dessa alvorada de governo (…) esteja se aproximando lentamente de um outro cadáver famoso [o de Marielle]”. Ah, mas ele depois até admite “total desconexão entre o papel dos protagonistas e o enredo”, isto é, entre quem matou Marielle e o entorno do presidente. Mas a ressalva vem só depois de instilar alta dose de veneno!

Ele cuida de teatralizar certa isenção, aludindo a que o espectro de Celso Daniel (morte até hoje não esclarecida) esteve presente durante o governo do PT (os 13 anos “com fracassos e sucessos”, faz ele questão de salientar). E logo diz (sem dizer) que o envolvimento do PT no assassinato de Daniel é “teoria conspiratória”. Será que ele, sobre esse caso, não leu o minucioso relato de José Nêumanne Pinto nem a análise do experiente policial Romeu Tuma Junior?

“Do ponto de vista de imagem”, prossegue Gielow, “a coisa fica particularmente complicada porque Marielle virou um símbolo, dentro e fora do Brasil, de vítima de um país truculento e autoritário que não dá certo, que não protege suas minorias.”

Gielow explora um panorama que a mídia, em vez de alimentar, deveria questionar e transformar, no qual a maior distinção de uma pessoa não é ter alta eficiência, não é a retidão de caráter, mas, isto sim, a qualidade de vítima. O esquerdismo investe nesse quadro, fomentando o vitimismo, dividindo a sociedade e atribuindo um estatuto e um discurso reivindicatório a cada nova categoria de vítima ou “minoria” credenciada (racial, etária, sexual, etc.).

A Marielle Franco que a mídia badala é um símbolo criado para esse fim ideológico e destoa da pessoa real. Marielle não é heroína. Mártir não é. Ela é só mais uma, entre milhares de vítimas. Merece compaixão e, sim, respeito. Só isso. Tudo mais é mistificação. Ao contrário do que a mídia insinua (sem dizer, dizendo), ela não serve de exemplo a ninguém. A Marielle Franco da mídia é ficção ideológica!

Ela é um ícone, um módulo imagético criado para substituir a explicitação de conceitos, driblar o discernimento dos simples e propagar preconceitos. Ao usar seu nome, Igor Gielow apresenta o ícone que, no computador mental dos desavisados, carrega o aplicativo da indignação e ativa sentimentos de injustiça, o que ele pretende colar na imagem do novo governo. Isso é crítica ou guerra ideológica?

Renato Sant’Ana é Psicólogo e Bacharel em Direito.

  

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  • Alexandre Garcia
  • 27 Janeiro 2019

 

A manchete do jornal do último domingo gritava: “Mercado da bala, uma disputa de R$12 bilhões”. O título não poderia ser mais opinativo. Como boa parte dos meios de informação, o jornal demonstrava estar contra o direito de autodefesa das pessoas e a favor de dar tranquilidade aos bandidos. Insegurança para os leitores e audiência; segurança para os que forem assaltar suas casas e lojas. A mesma mídia que fez barulho contra o decreto que ampliou a validade do registro de arma, fingiu não ter lido o decreto que, além disso estabeleceu que arma deve ficar inacessível a menores de idade e mentalmente incapazes, o que o Exército já exigia. O resto ficou igual. Comprar quatro armas? Você já podia registrar duas na Polícia Federal e duas no Exército.

Na verdade, o “mercado da bala” é o mercado da autodefesa e certamente será bem menor que o mercado que forma o arsenal dos bandidos, sem pagar impostos, gerando, sim balas, inclusive as perdidas, que matam crianças e pessoas dormindo em casa. O parágrafo único do primeiro artigo da nossa Constituição, diz que todo poder emana do povo. Pois desde 2003 se sente, com o Estatuto do Desarmamento, a vontade de usurpar, do povo, o poder da posse de arma, que representa o direito natural da autodefesa e da defesa de sua família e seus bens. A arma em casa ou na empresa é a primeira linha de defesa contra invasão de bandido. Depois, e nas ruas, é com a polícia.

Na vigência do Estatuto, os homicídios só aumentaram, e deram mais segurança aos assaltantes de residências, lojas e propriedades rurais, confiados de que não haverá resistência. O referendo de 2005 vetou a proibição do comércio de armas, na proporção de dois em cada três eleitores. Os governos fingiram desconhecer a vontade do povo. No Rio Grande do Sul, com a tradição de ser a primeira linha de defesa da Pátria, 80% foram favoráveis às armas, no referendo. Até o Exército mantém essa cultura: 90% dos blindados do Brasil estão no Comando Militar do Sul.

Armas de fogo, como carros, não matam; é a violência humana que mata – com faca, pau, pedra, veneno, arma de fogo. Por que querem a população desarmada, impotente na defesa de seu direito à vida, propriedade e liberdade? Na Venezuela, em Cuba, na Alemanha de Hitler, foi assim. Tiranos – bandidos ou ditadores – dominam se não houver resistência. Como lembrou o “presidente virtual” dos Estados Unidos, Bill Whittle: se o leopardo ataca a gazela, não deve ela usar os chifres para se proteger? Ou devemos cortar-lhe os chifres?

 

* Publicado originalmente no facebook do autor, em https://www.facebook.com/alexandregarciaoficial/

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 23 Janeiro 2019

 

SENTIMENTO DE ÓDIO EXPLÍCITO
Se por algum tempo pairou alguma dúvida de que a mídia brasileira, em geral, não suporta e/ou muito menos aprova tudo que diz e/ou pretende fazer o presidente Jair Bolsonaro, hoje, face aos constantes e indisfarçáveis ataques que são disparados a todo momento, qualquer possibilidade de que este sentimento de -ódio explícito- não passa de uma fantasia, ou um sonho de verão, deve ser considerada como nula.

MELHOR PARA TODOS
Na real, tudo começou a partir do momento em que Bolsonaro se lançou como candidato. Foi quando boa parte da mídia brasileira, sem dar a mínima trégua, tratou de bombardear as suas boas ideias e propostas, pouco importando que a maioria delas tem como propósito apenas fazer do nosso empobrecido Brasil um País efetivamente melhor para todos.

ARTE DE INFLUENCIAR ELEITORES

Pois, mesmo fazendo uso da sua força -descomunal- na arte de INFLUENCIAR os leitores, ouvintes e telespectadores, para que abandonassem a ideia de querer eleger Jair Bolsonaro, ainda assim a maioria dos meios de comunicação, liderada pelas organizações Globo, que sabidamente detém mais de 50% da audiência nacional, amargou uma derrota acachapante.
A comprovação disto é que o candidato do PSL resultou eleito, de forma inquestionável, com mais de 57 milhões de votos. Mais, também elegeu vários governadores, deputados e senadores Brasil afora.

ESPORTE PREFERIDO
Como se vê, nem mesmo o sagrado e claríssimo desejo do povo brasileiro, que foi às urnas para eleger o REFORMISTA BOLSONARO, consegue mudar a cabeça de tantos maus jornalistas, cujo esporte preferido é, exclusivamente, bater no presidente. Mais: para tanto se valem do apoio irrestrito de praticamente todas as também derrotadas corporações, que não admitem perder as absurdas vantagens obtidas nos governos socialistas.

APOIAR AS MEDIDAS
Ora, uma vez que estamos diante de uma nua e crua realidade, onde grande parte da mídia brasileira, gostem ou não, seguirá bombardeando, sem trégua, o governo Bolsonaro, a minha proposta é a seguinte: ao invés de ficar perdendo tempo discutindo e reprovando este ódio constante que os meios de comunicação nutrem, sem parar, o melhor a fazer é APOIAR AS MEDIDAS/REFORMAS que o Brasil precisa para sair do imenso atoleiro que está metido.

AMANTE DAS REFORMAS
Como integrante deste universo de sensatos, desde já informo que pouco me importa o que está acontecendo (ou vai acontecer) com os filhos de Jair Bolsonaro. Só estou ligado, e muito, naquilo que pode, enfim, fazer do nosso Brasil um País realmente próspero e com mais liberdade. Em outras palavras, me defino como UM INVETERADO AMANTE DAS REFORMAS. Nada me tira deste foco!
Bom seria se todos aqueles que pensam da mesma forma viessem a participar de um MOVIMENTO PELAS REFORMAS. Que tal?

 

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  • Alfredo Marcolin Peringer
  • 22 Janeiro 2019


É momento de lembrarmos a célebre frase de Mises: “O progresso é precisamente aquilo não previsto pelas regras e regulamentos governamentais”

O Presidente Jair Bolsonaro foi eleito com o compromisso de não haver, em seu governo, aumento da carga tributária. Mas no dia 4 de janeiro passado, ao sancionar a continuidade dos incentivos fiscais da SUDAM e SUDENE até 2023, orçados em algo próximo a R$ 10 bilhões, o presidente falou que a alta dos impostos só ocorrerá “se for necessária”, no caso, para cobrir tais despesas.

Mas o meu foco não é a ação do Presidente em si, ou seja, se ele vai acionar o aumento da carga tributária ou não. O foco é outro. Na verdade, a minha ideia é levar avante o debate sobre um assunto paralelo: o de haver a possibilidade de o governo conseguir aumentar a arrecadação orçamentária, de uma maneira sustentada, com a alta dos tributos.

Trago o assunto à baila, com receio de que a equipe econômica do governo possa não perceber a impossibilidade, no médio prazo, do aumento da carga tributária. A Economia é uma ciência da ação humana. Diferente das ciências físicas, em que os objetos de estudo permanecem fixos, ou seja, não se alteram nem reagem quando acionados, nas ciências humanas eles mudam ou resistem, e às vezes de maneira contundente, quando há uma ação que lhes impinja um custo financeiro.

Frédéric Bastiat ensina que há uma diferença entre o bom e o mau economista. O bom economista, segundo esse autor, analisa todos os efeitos de uma ação, os de curto prazo (ou os que se veem) e os de longo prazo (os que não se veem), enquanto o mau economista só se detém nos primeiros efeitos, os que se veem.

Embora não seja o caso da equipe do governo, que acho bem preparada, há vários exemplos que podem representar as ações de curto e de longo prazo enfocadas por Bastiat. Uma delas é quando a empresa aumenta, de uma hora para outra, o preço do produto que vende, sem perceber que isso pode levar à queda das quantidades vendidas, e às vezes em percentuais maiores dos que os da alta dos preços, situação em que ela terá perda de receita, e poderá vir a enfrentar dificuldades financeiras.

Da mesma forma, também há o bom e o mau agente do governo nos aspectos tributários. Praxeologicamente, há duas alíquotas de imposto em que a receita governamental é nula: a de zero por cento e a de 100 por cento. Isso implica que, partindo de uma alíquota tributária de zero por cento, na medida em que ela for aumentada pelo governo, a receita correspondente crescerá, porém proporcionalmente menos do que o crescimento anterior. E a cada novo incremento, torna-se cada vez menor, podendo tornar-se negativa, ocasião que em vez de ganhar com a alta do tributo, o governo perde receita.

Exemplificando: partindo de um PIB de 1000 unidades monetárias (UM) e de uma carga tributária de 10%, a receita do governo será, digamos, de 100 UM. Mas se o governo aumentá-la para 12%, a receita governamental não aumentará, provavelmente, para 120 UM, pois a alta do tributo causará uma queda da produção, representada aqui pelo PIB. Pressupondo que ele caia para 950 UM, a nova receita governamental será de 114 unidades monetárias (0.12*950). Semelhantemente, se o órgão público continuar aumentando a carga tributária, desta vez para 14%, e o PIB cair mais do que proporcionalmente, digamos para 800 UM, a nova receita governamental será de 112 UM (0,14*800), menor do que a de antes, com uma carga tributária de 12%.

O fato é que se o governo insistir em aumentar ainda mais os tributos, esperando um crescimento da arrecadação, ele vai se frustrar. O setor empresarial, diante dos crescentes custos tributários, começará a produzir cada vez menos, pois a ação estatal afetará as expectativas de lucro.

Não se tratam de meras elucubrações aritméticas ou argumentativas, mas do que pode ocorrer à realidade econômica, com possibilidade inclusive de bancarrota, quando o país é presidido por um déspota. Aliás, na América Latina temos um exemplo vivo, o do governo de Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, onde o crescimento tributário mastodôntico, acoplado à megainflação — cujos jornais indicam que já alcançou a casa dos seis dígitos—, levou o país à calamidade econômica e social.

Felizmente, no Brasil há um comprometimento do presidente Bolsonaro de que, num prazo relativamente curto, a carga tributária deve voltar aos patamares do ano de 1995, de 26,0% — bem diferente dos de Lula e Dilma, em cujo governo a carga tributária média foi de 32,7%. Mas o mais estimulante, é que, num prazo mais longo, o presidente visa a uma carga tributária que considera ideal ao país, a de 20% do PIB.

Rezo que Bolsonaro tenha sucesso na redução da carga tributária para 20% do PIB, pois a produção, a renda, o emprego e os salários darão um grande salto no Brasil, sendo um exemplo para os países da América Latina, inclusive para a Venezuela, país que ainda pode soerguer a sua economia, desde que o seu tirano governo desista de intervir nas lides sociais, políticas e econômicas, e passe a acreditar nas ideias de Ludwig von Mises, de que “O progresso é precisamente aquilo não previsto pelas regras e regulamentos governamentais”.

*Economista, é autor de “Monetarismo vs keynesianismo vs estruturalismo – inflação, desemprego e taxas de Juros” (Editora Globo) e “Economia heterodoxa vs economia ortodoxa – Os planos econômicos brasileiros” (Editora Ortiz).
**Enviado pelo autor e publicado originamente em https://exame.abril.com.br/blog/instituto-millenium/alfredo-peringer-o-desentendimento-das-funcoes-dos-tributos-na-economia/

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  • Francisco das Chagas Rodrigues
  • 22 Janeiro 2019

Sobre o segundo episódio da série da Netflix sobre  LeónTrótsky

 A cena se desloca para um passeio coberto pela neblina onde conversam Alexander e o senhor Kobert.
 - K. Como estão as cobranças?
- A. Tudo como planejado, Sr. Kobert. Ele está nos jornais.
- K. Muito bem.
- A. Eu organizei reuniões para ele discursar. Ele está ficando popular. Eu investi muito.
- K. Sem problema. Lembre-se: nós temos pouco tempo. Não se preocupe. Vou lhe enviar mais. O que está pensando em fazer?
O Sr. Kobert retira do casado um envelope e entrega a Alexander.
- A. Depois de falar no Congresso, ele ganhará poder de verdade.
- K. Mas não vão deixa-lo falar sem a permissão de Lenin.
- A. Eu já cuidei disso.
- K. Muito bem.
Podemos observar com esse diálogo, a fonte financeira que leva à imprensa a divulgar determinadas notícias e construírem narrativas de acordo com a vontade e interesse de quem a patrocina. Esse comportamento da mídia, sensível ao falseamento da verdade em troca de financiamento, é uma chaga que se encontra fortemente presente nas atividades políticas.
Colocarei abaixo um texto de Percival Puggina que coloca com clareza essa mesma situação que ocorre atualmente no Brasil.


A GRANDE IMPRENSA EM CRISE DE CONFIANÇA

Percival Puggina
Em 2015 compareci a um almoço dos colunistas de Zero Hora. Era um evento de confraternização com a direção da empresa. Mesmo sendo colunista da edição dominical havia nove anos, não tinha ideia de que fossem tantos os meus colegas naquele ofício de rechear com opiniões pessoais as edições do jornal. Eu fora contratado em substituição ao amigo Olavo de Carvalho imediatamente após seu rompimento com o veículo em 2006. Pois bem, ao término do almoço, iniciou-se uma brincadeira. Dois repórteres, de modo aparentemente aleatório, escolhiam colunistas para ouvi-los sobre assuntos variados. Fui um dos convocados e a pergunta me veio assim: "Puggina, Zero Hora é um jornal de esquerda ou de direita?". Todos riram, e eu também, pela oportunidade que a indagação me proporcionava. Respondi: "O jornal, diferentemente do Estadão e da Folha, por exemplo, não tem um alinhamento editorial nítido. No entanto, pelo somatório das opiniões dos colunistas, acaba sendo claramente de esquerda".

Era o que eu pensava e penso ainda hoje, quando não mais escrevo para ZH, ao ler cada exemplar do jornal. Na ocasião, após os risos e restabelecido o silêncio, continuei: "Essa, aliás, é a opinião do próprio jornal. Leitores me contam que ao telefonar para reclamar do viés esquerdista de ZH, ouvem da pessoa que os atende o esclarecimento:
– 'É, mas tem o Puggina'"... E completei: "Eu sou o pluralismo de Zero Hora".

Seguiram-se muitas gargalhadas entre as quais discerni alguns poucos aplausos. Menciono esse curioso episódio porque ele tem muito a ver com algo que já então fazia parte de minhas pautas preferidas: o uso da imprensa profissional, dos grandes órgãos de comunicação, para atender conveniências ideológicas e partidárias. E note-se, para atender menos às respectivas empresas e mais, muito mais, ao paladar político de seus redatores e colunistas permanentes. O resultado é uma perda de poder dos veículos, que veem reduzida sua credibilidade e influência. A posição unânime de todos os profissionais da RBS, em rádio, jornal e TV, a favor da manutenção da exposição do Queermuseu foi episódio paradigmático no Rio Grande do Sul. Lembro o modo vigoroso como se opuseram à imensa maioria da opinião pública que, pelas redes sociais, exigiu do Santander Cultural o fechamento da mostra.

Como exibiam tais conteúdos sem restrição de faixa etária? Ficou visível, ali, a estupefação. Foi como se, de um modo ou outro, os formadores de opinião exclamassem: "Que é isso? Não nos ouvem mais?". Não.
Recentemente, dois jornalistas pelos quais tenho admiração – J.R. Guzzo (Veja) e Carlos Alberto Di Franco (Estadão) - comentaram a cegueira da mídia convencional em relação ao que se passava na cabeça dos brasileiros durante o período eleitoral. A grande mídia estivera empenhada numa luta do bem contra o mal. Seus jornalistas sustentavam que Bolsonaro não teria a menor chance. Apoiados nas desacreditadas pesquisas, afirmavam que ele perderia para todos no segundo turno. Insistiam em apresentar Lula como um candidato imbatível, impedido por isso mesmo de concorrer. Calavam sobre sua condição de criminoso sentenciado, que usou o processo eleitoral para uma derradeira fraude. Segundo Guzzo, comunicadores brasileiros "tentaram provar no noticiário que coisas trágicas iriam acontecer no país se Bolsonaro continuasse indo adiante". E eu completo: dir-se-ia, ao lê-los, que ele ameaçava um seguro convívio social e um benemérito círculo de poder. "É preciso informar com objetividade. Esclarecer os fatos sem a distorção das preferências e dos filtros ideológicos", escreveu Di Franco em "Imprensa, autocrítica urgente e propositiva".

É o que também penso enquanto observo o crescimento vertiginoso da democratização da informação através das redes sociais. Tenho cá minhas dúvidas, muitas dúvidas, sobre se a perversão das fake news, recorrentes nessas novas mídias, é mais nociva do que a ocultação dos fatos, a maliciosa seleção das matérias e do vocabulário, e a distorção das análises, em tantos veículos da mídia tradicional. Ou fazem esse autoexame ou serão desbancados pelos alternativos, entre os quais grandes talentos pessoais e sucessos empresariais já se afirmam.

Esse comportamento manipulador da mídia termina por se defrontar com a inteligência de seus alvos. Podemos até sofrer algum tipo de efeito dessa manipulação, mas quando surge a verdade, e ela sempre surge, a coerência que domina a consciência do cidadão de bem, sempre exige uma retomada de posição. Isso foi o que aconteceu comigo, eleitor que fui do ex-presidente Lula na sua primeira eleição, possivelmente atingido pelo falseamento da mídia corrompida pelo vil metal, que considera o seu trabalho de falseamento da verdade um caminho justificado ética e moralmente. Quando o noticiário trouxe à tona, impossível de ocultar, do escândalo do mensalão, de imediato vi a farsa em que eu tinha me metido, e desisti do apoio que dava ao então presidente Lula, aquele que não sabia de nada, que protegia todos os corruptos e corruptores. A partir daí essa linguagem distorcida da mídia não mais me alcançou, como deve ter acontecido com milhares de cidadãos por este país afora.

*Texto enviado pelo autor, que é professor da UFRN. Originalmente publicado em http://www.siostiodelapa.net , cuja visitação recomendo.
 

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  • Alexandre Garcia
  • 21 Janeiro 2019

 

O final do triste episódio em que o Brasil abrigou um tetra assassino como Cesare Battisti ainda não é um final feliz da nossa cultura de impunidade. O italiano entrou no Brasil em 2002. E aqui ficou por 14 anos. Um ano antes, em 2001, deixava o Brasil, por vontade própria, depois de 30 anos, o assaltante inglês Ronald Biggs, que havia fugido da prisão onde cumpria pena. Foi um revezamento entre duas estrelas da impunidade brasileira. Dois exemplos para as crianças brasileiras, mostrando que o crime é uma forma de se tornar celebridade.

Ronald Biggs virou atração turística no Rio de Janeiro. As pessoas pagavam para conversar com ele. Virou cantor, xícaras e camisetas eram vendidas com a imagem dele. Em discos e filmes, ele se aproveitava do tema relativo ao assalto ao trem pagador, de que participou. Virou enredo em escola de samba “Samba no pé e mãos ao alto, isto é um assalto”. Em 2001, decidiu voltar para sua pátria – talvez com medo dos assaltos no Rio – e foi preso para cumprir pena até que sua saúde se agravou. Morreu no hospital.

Battisti entrou no Brasil mal Biggs havia saído. Usou passaporte falso e foi preso. Era caso de deportação imediata, como fez a Bolívia, pelo mesmo crime de entrada ilegal. Mas o governo FHC estava empolgado com direitos humanos. O italiano fugia da justiça que o havia condenado em todas as instâncias por quatro assassinatos e por ter deixado tetraplégico um menino de 15 anos. Seus companheiros de crime depuseram afirmando que ele se comprazia em ver o sangue fluindo de suas vítimas. Foi defendido pelo advogado Luiz Roberto Barroso, hoje no Supremo, sob alegação que lutava contra um regime opressor. O governo italiano era democrático e socialista.

Porque era do Proletários Armados pelo Comunismo(PAC), foi recebido como refugiado político no governo Lula, pelo Ministro da Justiça Tarso Genro. Os boxeadores cubanos que fugiam da ditadura foram mandados de volta para Havana. O fugitivo da justiça de um país democrático ganhou abrigo. Embora o Supremo tenha autorizado a extradição, Lula, em seu último dia de governo, já se preparando para ir a Atibaia, o manteve no país da impunidade. Viveu aqui bem sustentado e bem tratado, como celebridade, referido não como assassino, mas como ativista, escritor, filósofo. O país que transforma criminosos condenados em celebridades está fertilizando ovos de serpentes que depois vão envenená-lo. A cultura de justificar os bandidos nos torna reféns dessas nossas criaturas.

*Reproduzido do Facebook do autor.
 

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