• Antônio Augusto Mayer dos Santos
  • 09/03/2019
  • Compartilhe:

CABRAL E PRETO, FALEM!

 

  O ex-governador Sérgio Cabral e o engenheiro Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, estão presos. E condenados. O primeiro delinquente conquistou 197 anos de prisão decorrentes de oito sentenças criminais. O segundo, não menos desprezível, alcançou uma proeza: em uma semana, foi duas vezes condenado a penas que, somadas, totalizam 172 anos. É um bocado de cadeia.

  Cabral, com 56 anos, boa parte deles surrupiando o erário e aniquilando a dignidade e o orçamento dos cariocas, estaria negociando delações premiadas e fazendo confissões. Semana passada, na presença do juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, pedindo desculpas por ter mentido nos seus depoimentos anteriores e se dizendo “aliviado”, admitiu amealhar propinas por apego ao poder e ao dinheiro. Definindo este comportamento como “um vício”, o criminoso contumaz aproveitou a audiência para incriminar antigos auxiliares, empresários e parlamentares. Entregou todos, sem gaguejar, sem piedade e com os percentuais que levavam.

  Preto, que se tornou septuagenário no dia seguinte à sua segunda condenação fixada em exemplares 145 anos de reclusão, estaria sendo pressionado por familiares para delatar o esquema de corrupção que envolveria figuras nacionais do PSDB, sobretudo porque uma de suas filhas foi condenada na mesma ação penal a mais de 24 anos de prisão.

  Certamente esses dois criminosos, mesmo das cadeias onde estão e de onde custarão a sair (se é que sairão), podem acrescentar novos capítulos na história desta República dizimada por cretinos que, em sua maioria, mal sabem conjugar um período verbal completo. Suas confissões ou delações seriam de extrema valia para fomentar novas investigações em torno daqueles que se apossaram dos poderes públicos. Tais narrativas, certamente repugnantes e letais, conduziriam à revelação de outros personagens envolvidos em esquemas de corrupção, tráfico de influência e formação de quadrilha.

Aliás, o ex-governador viciado em propinas aproveitou a sua audiência e mencionou um integrante do Superior Tribunal de Justiça por ele indicado a pedido de outro presidiário (nascido em Porto Alegre), cunhado deste ministro e que por pouco não foi senador.

De outra parte, uma soltura anterior de Preto, após ser rastreada a partir de extratos de ligações e mensagens eletrônicas, ensejou um pedido de suspeição ou impedimento firmado por 14 abnegados integrantes do Ministério Público Federal (Ofício nº 1691/2019 – PRPR) à Procuradora Geral da República relativamente a um douto togado do Supremo Tribunal Federal, o único pretório do país que não dispõe de uma Corregedoria.

Portanto, não nos resta outra coisa senão pedir:

- Cabral e Preto, falem!

 

*O autor é advogado e professor de Direito Eleitoral