Tornar-se médico no Brasil é uma façanha extremamente demorada e cara. As exigências impostas tanto pelo Conselho Federal de Medicina quanto pelo Ministério da Educação fazem com que uma pequena fortuna e uma década inteira de dedicação e abnegação sejam necessárias para que um indivíduo reúna as condições legais para exercício da medicina.
Como consequência, esse profissional, uma vez apto ao trabalho, espera um elevado retorno financeiro como compensação pelo investimento (de tempo e dinheiro) que ele e seus pais fizeram em sua formação.
Só que habitantes de cidades pequenas, em geral, possuem menor poder aquisitivo em relação aos moradores de grandes metrópoles, dado que a atividade econômica costuma ser menos pungente no interior do que na capital e arredores.
A consequência: a quase totalidade dos interioranos depende da prestação de serviços de saúde estatal, pois uma parcela diminuta deles é capaz de arcar com custos de planos particulares, muito menos pagar por consultas e procedimentos do próprio bolso.
Mas a administração desses municípios do interior também não costuma oferecer aquela remuneração que o doutor espera receber após gastar os tubos e perder parte de sua juventude para obtenção de seu número de CRM – seja por legítima impossibilidade orçamentária, seja porque não sobrou muito do que foi extorquido dos pagadores de impostos após eras de corrupção e incompetência gerenciais.
Daí porque o Estado acaba precisando contratar médicos de outros países, como ora anuncia-se: não é que os brasileiros sintam “nojinho” de ir morar em Santo Antônio De Onde Judas Perdeu As Botas, mas simplesmente eles são obrigados, por via indireta, a buscar oportunidades no mercado que de alguma forma façam valer a pena tudo que investiram para obter o diploma.
Ou seja, esse problema nada mais é do que resultado de reservas de mercado criadas por entidades de classe somadas à intervenção estatal desmesurada no setor, que encarecem demais a geração de mão de obra, reduzindo sua oferta, elevando seu preço e tornando proibitivo o acesso por cidadãos que residem em lugarejos menos afortunados.
Algumas medidas para ajudar a desfazer esse nó burocrático:
• Redução de carga tributária, a fim de devolver recursos para o bolso das pessoas, as quais poderiam contratar serviços médicos sem precisar do Estado com mais frequência, apelando para os cofres públicos apenas em casos excepcionais;
• Flexibilização do currículo para formação médica, barateando o custo e reduzindo o período de estudos requerido para aqueles que almejam atuar em áreas menos complexas da medicina;
• Restabelecer o pacto federativo, devolvendo às prefeituras e governos estaduais boa parte dos recursos captados junto ao setor produtivo que hoje são majoritariamente destinados à União Federal – mais Brasil e menos Brasília, já ouviu falar? Assim as administrações regionais seriam capazes de atrair médicos para locais afastados com mais facilidade;
• Punir com MUITO mais rigor criminosos que desviem para suas próprias contas bancárias verbas carimbadas para a saúde pública;
• E mais importante: NÃO aceitar trabalho escravo importado de regimes totalitários comunistas!
REAÇÃO ÀS PRIVATIZAÇÕES
Todos os dias me deparo com alguma notícia, palpite ou comentário, notadamente nos meios de comunicação mais comprometidos com os ideais socialistas, cuja postura, ou regra, é se manter sempre contrários às PRIVATIZAÇÕES e ou VENDA DE ESTATAIS.
ESTATAIS LUCRATIVAS
Esta costumeira reação desses maus comunicadores, entretanto, que infelizmente tem levado muita gente desavisada a ser influenciada pela mídia, não se dá exclusivamente por razões ideológicas (que não são poucas). Na real o que mais pesa é FALTA DE DISCERNIMENTO, resultante direta do grande desinteresse, ou ódio, pela matemática. Isto fica ainda mais evidente quando dizem que ESTATAIS LUCRATIVAS devem ser preservadas.
MATEMÁTICA FINANCEIRA
Ora, o fato de uma estatal ser lucrativa não justifica, em hipótese alguma, a sua existência. Isto é absolutamente provado através do uso, nada complicado, da Matemática Financeira, que está ao alcance de qualquer cidadão que tem aplicações no MERCADO FINANCEIRO e/ou de CAPITAIS, inclusive na CADERNETA DE POUPANÇA.
EXERCÍCIO SIMPLES
O exercício é simples: basta se colocar na condição de quem está brutalmente endividado e mesmo assim é proprietário de alguns ativos onde alguns (poucos) lhe proporcionam algum tipo de rendimento, como dividendos, aluguel ou juros, por exemplo.
FORMA COMPARATIVA
A conta, muito simples, que precisa ser feita é apenas pela forma comparativa, observando, e constatando, se os valores dos ENCARGOS MENSAIS DA DÍVIDA são maiores ou menores do que a soma dos RENDIMENTOS MENSAIS obtidos pelos ativos considerados LUCRATIVOS. Pronto.
CASO DO BRASIL E DO RS
Vejam que no caso do Brasil e do Estado do RS, para ficar só com estes dois exemplos, os PROVENTOS que as estatais pagam, tanto como DIVIDENDOS quanto JUROS DE CAPITAL PRÓPRIO, aos Tesouros –Nacional e Estadual-, são infinitamente menores que os ENCARGOS DA DÍVIDA PÚBLICA.
APENAS LÓGICO
Ora, considerando que a maioria das estatais são DEFICITÁRIAS e que as poucas que conseguem ser lucrativas remuneram com taxas inferiores ao CUSTO DA DÍVIDA PÚBLICA, não há o que ficar discutindo. A ORDEM É VENDER TODAS AS ESTATAIS E USAR OS RECURSOS PARA AMORTECER AS DÍVIDAS. Bem na linha, aliás, defendida por Paulo Guedes.
Detalhe: Paulo Guedes não está sendo apenas inteligente. Está sendo apenas lógico.
Engana-se quem pensa que a oposição será o PT. Talvez seja apenas a oposição mais evidente, mais barulhenta, mais exposta com suas ameaças. Nisso, o PT parece que vai estar acompanhado pela PSOL e seus coadjuvantes do MST e MTST, e só. Pelo que se tem visto, o PDT, o PSB, o PC do B, o PTB, querem ficar um pouco distantes, porque perceberam o quanto as urnas revelaram de antipetismo – e não querem também ser alvo dessa onda. Pois bem; o PT vai fazer oposição, mas certamente não será essa a resistência que mais vai dar trabalho ao governo.
A mais forte oposição será silenciosa, sub-reptícia, forte, eficiente, de todos os que não querem perder privilégios, mamatas, garantias, direitos adquiridos mas não merecidos. É aquele pessoal convicto de que conquistou a boquinha e já tem estabilidade nela. Gente que está tanto dentro do estado como fora dele. São alguns poderosos, donos de parte do estado brasileiro; são partidos, que têm seus cartórios dentro de ministérios e estatais; são os milhares de comissionados que nunca prestaram concurso; são os que estão de olho em suas estabilidades, aposentadorias integrais, auxílios de todos os nomes. São os donos dos caminhos secretos do serviço público; são os cafetões e leões-de-chácara que vendem os prostituídos do estado brasileiro. Esses vão fingir que aplaudem o novo governo, pois é de sua essência aplaudir, mas o que querem é assegurar o botim.
Bolsonaro e seus auxiliares vão ter muito trabalho com essa oposição camuflada, blindada e bem armada. Paulo Guedes vai pegar uma pedreira com os subsídios, os favores fiscais, os protecionismos dos bem-aventurados protegidos do estado brasileiro. Sérgio Moro vai descobrir sujeitos do direito por toda a parte e poucos dispostos a cumprir antes seus deveres. Joaquim Levy vai ter que lidar com os apadrinhados do BNDES. Os líderes do governo na Câmara e no Senado vão penar com os aliados que apoiam o governo mas não apoiam as medidas necessárias que venham a ser propostas para que todos sejam iguais perante a lei, sem foros privilegiados e sem proteção para delinquir.
Quem vê o estado inchado, nos três poderes, voltado para si mesmo, no pedestal fora do alcance dos brasileiros comuns, com muita, muita gente, não tem como deixar de perguntar: produz o quê? Bons serviços públicos? Boas leis? Boa justiça? Ou tem por finalidade manter seus privilégios, servindo a si em lugar de servir ao povo brasileiro? Não estou inventando essas perguntas. Elas tem sido feitas nas redes sociais e nas ruas há cinco anos, e foram se tornando cada vez mais eloquentes, até que troaram nas urnas como um terremoto. Há pouco, quando o Senado, mostrando como funciona essa oposição, surpreendeu o país elevando o teto do Supremo e de todos no serviço público, os protestos voltaram à Avenida Paulista. Os 41 senadores que criaram o novo teto, não votaram contra Bolsonaro, que vai ter que pagar; votaram contra os brasileiros, que realmente pagarão. Esses é que são o alvo dessa oposição que quer manter o seu quinhão no Brasil que deveria ser de todos.
• Publicado originalmente em www.facebook.com/alexandregarciaoficial
Entre as denúncias encaminhadas pelo ex-ministro do PT Antonio Palocci à Polícia Federal, todas elas amparadas em farta documentação, destaca-se uma, em especial, a merecer urgente atenção de Paulo Guedes, ministro das pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio Exterior para que ele fique cônscio da criminosa instrumentalização da política cultural empreendida no País e, de modo particular, do uso daninho da degenerescente Lei Rouanet, reprodução vergonhosa da corrupta Lei Sarney estabelecida em 1986.
A denúncia de Palocci transita numa fulminante gravação de vídeo sobre as resoluções tomadas no Foro de São Paulo e repassadas por Lula à cúpula do PT e respectivos “formadores de opinião”. O vídeo, até então guardado a sete chaves, foi gravado numa sala do Instituto Lula. Nele, antes de ser preso, o líder petista, vestido de camisa vermelha, afirma, aos trancos, o seguinte:
– “Deixa eu dizer uma coisa pra vocês. Olha… é preciso convencer as pessoas a destruírem tudo o que o Estado faz. Na campanha, o que menos interessa é o País. O Estado nacional deixa de existir. Em época de eleição, a gente tem mais é que estar discutindo, sistematicamente, política cultural. A gente tem de financiar, sabe, muito patrocínio. E aí eu acho que a gente vai convencer muita gente a entrar no PT…
E esse pessoal tem de dizer em quem vai votar, do que ele gosta… todo santo dia. Nós precisamos convencer a juventude sobre o que nós queremos fazer. E aí a gente vai convencer muita gente a “vim” prô PT. O problema não é falta de jantar… O projeto daqui a pouco é o “vamo que vamo”, daqui a pouco é “nós é nós”, daqui a pouco é “nos pudemo”… A palavra é: nós nascemos PT e queremos terminar sendo o PT!”.
Na sua cantilena histérica, tendo ao fundo a bandeira do PT, Lula caminha de um lado para o outro, professoral, dir-se-ia tocado por algumas doses do fino “Royal Salute”. Quando fala em “política cultural”, “patrocínio” e “financiamento´” o líder vermelho é especialmente enfático no agitar de braços e no arregalar de olhos.
Para ser justo é preciso dizer que Lula não foi o primeiro presidente (vermelho ou não) a corromper a atividade cultural com dinheiro fácil e a fundo perdido. Com efeito, Lula, em função do aliciamento político e ideológico do setor, expandiu como ninguém legiões de ativistas, aliados, parasitas e viciados em geral para mamar com descaro irrefreável nas tetas dos cofres públicos, via diferentes formas de incentivos fiscais, subsídios, financiamentos e doações sugados do erário.
De fato, tipos estatizantes como Sarney, Collor (numa segunda fase), Itamar Franco, FHC e Dilma, embora avessos e até desprezando a fruição de consertos sinfônicos, museus, óperas, balés, teatros e salas de cinema, mantêm o bilionário aparato com o fito de amarrar a vasta clientela aos seus propósitos de poder e mando. São seguidores, conscientes ou não, da tradição firmada pelos carniceiros Lenin, Stalin, Mussolini. Hitler e os tiranos Fidel e Raul Castro.
(Entre parênteses, nunca é demais lembrar a frase atribuída a Sam Goldwin, o pirata da Metro: “Quando me falam em cultura eu saco com receio o meu talão de cheque”; ou aquela legenda de Giovanni Gentile, ministro da Educação da Itália fascista: “Tudo pelo Estado, nada contra o Estado, tudo dentro do Estado”; ou ainda a frase-recado do tirano Fidel Castro aos artistas e intelectuais cubanos: “Dentro de la Revolución, tudo. Fora de la Revolución, nada”).
“O Globo” (e as organizações Globo), principal porta-voz do famigerado clientelismo cultural e um dos interessados na manutenção dos subsídios e isenções fiscais na área conflagrada, bem, “O Globo” solta matérias cavilosas falando do clima de apreensão que reina “no setor” com a vitória de Jair Bolsonaro. Seu conselho editorial, composto por esquerdistas de todos os tons, azeita as baterias. Pelo visto, seu alvo é a manutenção da fraudulenta Lei Rouanet, forma de incentivo incontrolável, socialmente irresponsável e economicamente doentio, centrado, invariavelmente, na apropriação, pelo privado, de qualquer tipo resultado, e na socialização, pelo contribuinte, dos acachapantes prejuízos avaliados hoje em bilhões de reais.
Como qualquer interessado pode saber, está imerso no âmbito orçamentário do Ministério da Cultura uma verdadeira caixa preta. Tanto a burocracia engajada como a casta clientelista sonegam os números reais e suas fontes ou origens. Mas todos concordam, em coro, que são sempre necessários orçamentos mais elevados, pois o “Minc custa pouco”. O País em crise, portanto, que se dane.
O fato é que o ministro Leitão falou, recentemente, em orçamento de R5 2 bilhões e 700 milhões – o que é muito dinheiro em qualquer lugar do mundo, principalmente quando extraviado em atividades industriais (cinema, por exemplo) próprias da iniciativa privada. (Lembro aqui que o cinema brasileiro até os anos 70 viveu e progrediu longe do dinheiro corruptor do governo).
Mas as cifras da cultura oficial, que, sabe-se, fulminaram com a real cultura brasileira, preenchem múltiplos escaninhos: tem as polpudas verbas das loterias, tem as verbas dependidas por Estados e municipais da Federação e tem ainda as verbas especiais para custeio, gratificações, viagens, festas e mordomias de praxe, etc.
E tem ainda os fundos bilionários da Lei Rouanet, da qual falaremos no próximo artigo para a necessária leitura do ministro Paulo Guedes e seus assessores.
Até lá!
* Publicado originalmente no Diário do Poder.
"Édipo Rei", tragédia de Sófocles escrita em 430 a.C., deveria ser lida por todos os seres humanos. Logicamente, em função de sua complexidade formal e temática, o grande clássico grego, que Aristóteles saudou em sua "Poética", não é uma leitura adequada para crianças pequenas. No mesmo caso se encontram inúmeras outras obras clássicas, tais como "Hamlet", "Os Lusíadas", "Guerra e Paz", "Crime e Castigo" e "Os Sertões". Não vejo, no entanto, nenhum problema em ler "Édipo Rei" na adolescência e na juventude.
Só a leitura dos clássicos e da tradição sagrada nos permite ampliar o horizonte intelectual e desenvolver a imaginação moral para resistir aos movimentos totalitários do nosso tempo.
Gostaria de lembrar aqui uma passagem de "Édipo Rei". Ao descobrir que sem saber matou o pai e casou-se com a mãe, o rei Édipo não apenas renuncia ao trono como também fura os olhos, para se purgar diante da enormidade dos sofrimentos que causara. Ele poderia muito bem alegar ignorância, mas não o fez. Édipo era uma alma nobre, não tinha o caráter dos políticos brasileiros.
No livro "A Insustentável Leveza do Ser", Milan Kundera utiliza "Édipo Rei" para fazer uma severa condenação do sistema socialista. O personagem Tomás escreve um artigo dizendo que os chefões do Partido deveriam seguir o exemplo do rei Édipo e furar os olhos para se penitenciar diante dos crimes cometidos pelo regime. Por causa desse artigo, Tomás perde o emprego de médico e é perseguido até a morte.
Diante da ruína da educação brasileira — cujo patrono é o comunista Paulo Freire —, os verdadeiros professores, que ainda são a maioria, deveriam seguir o exemplo dos clássicos. Não furar os olhos, como Édipo, mas fazer exatamente o contrário, abrir os olhos para a realidade: a nossa educação está morrendo, as escolas estão formando legiões de analfabetos funcionais.
O grande problema do projeto Escola Sem Partido é o nome. Deveria ser Escola Sem Censura, Escola Sem Socialismo, Escola sem Luta de Classes ou Escola Sem Partido Único. Pois o que está acontecendo hoje não é uma simples doutrinação política: o que ocorre em salas de aula de todo o País é um processo de engenharia social, a lavagem cerebral de milhões de crianças brasileiras. Negam a elas o acesso às fontes primordiais da nossa civilização: a cultura judaico-cristã que emana de Atenas, de Jerusalém e de Roma. Negam a elas os princípios básicos de moralidade, civismo e amor à Pátria (valores censurados e apagados da história). Negam a elas, por fim, o conhecimento da linguagem. Se uma criança não consegue escrever uma frase sem erros ou fazer uma conta simples de matemática, não conseguirá jamais ler Sófocles, Shakespeare ou Camões. Não há censura e opressão maior do que essa.
Escola sem partido é escola sem censura, é escola sem opressão, é escola sem ditadura. Não podemos deixar que a esquerda continue furando os olhos dos nossos filhos!
*Publicado originalmente na Folha de Londrina em 04/09/2017
As festividades bilionárias em comemoração aos duzentos anos de nascimento de Charles Darwin tornam momentaneamente invisíveis alguns fatos essenciais da vida e da obra desse homem de ciência.
Desde logo, Darwin não inventou a teoria da evolução: encontrou-a pronta, sob a forma de doutrina esotérica, na obra do seu próprio avô, Erasmus Darwin, e como hipótese científica em menções inumeráveis espalhadas nos livros de Aristóteles, Sto. Agostinho, Sto. Tomás de Aquino e Goethe, entre outros.
Tudo o que ele fez foi arriscar uma nova explicação para essa teoria – e a explicação estava errada. Ninguém mais, entre os autoproclamados discípulos de Darwin, acredita em "seleção natural". A teoria da moda, o chamado "neodarwinismo", proclama que, em vez de uma seleção misteriosamente orientada ao melhoramento das espécies, tudo o que houve foram mudanças aleatórias. Que eu saiba, o mero acaso é precisamente o contrário de uma regularidade fundada em lei natural, racionalmente expressável. O darwinismo é uma idéia escorregadia e proteiforme, com a qual não se pode discutir seriamente: tão logo espremido contra a parede por uma nova objeção, ele não se defende – muda de identidade e sai cantando vitória. Muitas teorias idolatradas pelos modernos fazem isso, mas o darwinismo é a única que teve a cara de pau de transformar-se na sua contrária e continuar proclamando que ainda é a mesma.
Todos os celebrantes do ritual darwiniano, neodarwinistas inclusos, rejeitam como pseudocientífica a teoria do "design inteligente". Mas quem inventou essa teoria foi o próprio Charles Darwin. Isso fica muito claro nos parágrafos finais de A Origem das Espécies, que na minha remota adolescência li de cabo a rabo com um enorme encantamento e que fez de mim um darwinista, fanático ao ponto de colocar o retrato do autor na parede do meu quarto, rodeado de dinossauros (só agora compreendo que ele é um deles). Agora, graças à amabilidade de um leitor, tomei conhecimento dos estudos desenvolvidos por John Angus Campbell sobre a "retórica das ciências". Ele estuda os livros científicos sob o ponto de vista da sua estratégia de persuasão. Num vídeo fascinante que vocês podem ver em http://www.youtube.com/watch?v=_esXHcinOdA, ele demonstra que o "design inteligente" não é apenas um complemento final da teoria darwinista, mas a sua premissa fundamental, espalhada discretamente por todo edifício argumentativo de A Origem das Espécies. O "design inteligente" é, portanto, a única parcela da teoria darwiniana que ainda tem defensores: e estes são os piores inimigos do darwinismo.
É certamente um paradoxo que o inventor de uma explicação falsa para uma teoria preexistente seja celebrado como criador dessa teoria, porém um paradoxo ainda maior é que a premissa fundante da argumentação darwiniana seja repelida como a negação mesma do darwinismo.
Puramente farsesco, no entanto, é o esforço geral para camuflar a ideologia genocida que está embutida na própria lógica interna da teoria da evolução. Quando os apologistas do cientista britânico admitem a contragosto que a evolução "foi usada" para legitimar o racismo e os assassinatos em massa, eles o fazem com monstruosa hipocrisia. O darwinismo é genocida em si mesmo, desde a sua própria raiz. Ele não teve de ser deformado por discípulos infiéis para tornar-se algo que não era. Leiam estes parágrafos de Charles Darwin e digam com honestidade se o racismo e a apologia do genocídio tiveram de ser enxertados a posteriori numa teoria inocente:
"Em algum período futuro, não muito distante se medido em séculos, as raças civilizadas do homem vão certamente exterminar e substituir as raças selvagens em todo o mundo. Ao mesmo tempo, os macacos antropomorfos... serão sem dúvida exterminados. A distância entre o homem e seus parceiros inferiores será maior, pois mediará entre o homem num estado ainda mais civilizado, esperamos, do que o caucasiano, e algum macaco tão baixo quanto o babuíno, em vez de, como agora, entre o negro ou o australiano e o gorila."
Imaginem, durante as eleições americanas, a campanha de John McCain proclamar que Barack Hussein Obama estava mais próximo do gorila do que o candidato republicano!
Tem mais: "Olhando o mundo numa data não muito distante, que incontável número de raças inferiores terá sido eliminado pelas raças civilizadas mais altas!"
Para completar, um apelo explícito à liquidação dos indesejáveis:
"Entre os selvagens, os fracos de corpo ou mente são logo eliminados; e os sobreviventes geralmente exibem um vigoroso estado de saúde. Nós, civilizados, por nosso lado, fazemos o melhor que podemos para deter o processo de eliminação: construímos asilos para os imbecis, os aleijados e os doentes; instituímos leis para proteger os pobres; e nossos médicos empenham o máximo da sua habilidade para salvar a vida de cada um até o último momento... Assim os membros fracos da sociedade civilizada propagam a sua espécie. Ninguém que tenha observado a criação de animais domésticos porá em dúvida que isso deve ser altamente prejudicial à raça humana. É surpreendente ver o quão rapidamente a falta de cuidados, ou os cuidados erroneamente conduzidos, levam à degenerescência de uma raça doméstica; mas, exceto no caso do próprio ser humano, ninguém jamais foi ignorante ao ponto de permitir que seus piores animais se reproduzissem."
Notem bem: não sou contra a hipótese evolucionista. Do que tenho observado até hoje, devo concluir que sou o único ser humano, no meu círculo de relações próximas e distantes, que não tem a menor idéia de se a evolução aconteceu ou não aconteceu. Todo mundo tem alguma crença a respeito, e parece disposto a matar e morrer por ela. Eu não tenho nenhuma.
No entanto, minha abstinência de opiniões a respeito de uma questão que considero insolúvel não me proíbe de notar a absurdidade das opiniões de quem tenha alguma. Há muito tempo já compreendi que os cientistas são ainda menos dignos de confiança do que os políticos, e os paradoxos da fama de Charles Darwin não fazem senão confirmá-lo. Meus instintos malignos impelem-me a pegar os darwinistas pela goela e perguntar-lhes:
– Por que tanta onda em torno de Charles Darwin? Ele inventou o "design inteligente", que vocês odeiam, e a seleção natural, que vocês dizem que é falsa. Ele pregou abertamente o racismo e o genocídio, que vocês dizem abominar. Para celebrá-lo, vocês têm de criar do nada um personagem fictício que é o contrário do que ele foi historicamente. Não vêem que tudo isso é uma palhaçada?
*Publicado originalmente no Diário do Comércio, em 20 de fevereiro de 2009