• Fabio Reginaldo
  • 13 Outubro 2019

 

Essa frase é de Paul MacCready, considerado um dos melhores engenheiros mecânicos aeronáuticos do século XX. Interessante, não é? Quantas vezes estamos tão envolvidos na solução dos problemas de maneira rápida que nem ao menos paramos por algum tempo para verificar se realmente entendemos o problema.

Em 1959, o magnata britânico Henry Kremer lançou um desafio ao mundo: um avião pode voar movido apenas pela força do corpo do piloto? Como ele acreditava que era possível, ofereceu 50 mil libras para quem construísse um aparelho que pudesse voar um número oito em torno de dois marcadores a meia milha de distância. Além disso, ofereceu 100 mil libras para a primeira pessoa a voar pelo canal. Em dólares americanos modernos, digamos que isso equivaleria hoje a US$ 1,3 milhão e US$ 2,5 milhões.

Dezoito anos depois, Paul MacCready decidiu tentar. Ele decidiu partir seu projeto da análise do porquê as outras soluções haviam falhado e não buscar solucionar a resolução para a questão fim: um avião pode voar movido apenas pela força do corpo do piloto? Quando analisou o problema, verificou como as soluções anteriores falharam e como as pessoas repetiram os projetos.

Na minha visão, o que Paul realmente fez, àquela época, foi aplicar os conceitos de Design Thinking: Empatia, Definição, Ideia, Prototipação e Teste. O engenheiro chegou à conclusão de que as pessoas estavam resolvendo o problema errado. "O problema é", disse ele, "que não entendemos o problema".

O insight de MacCready foi que todos os que trabalhavam na solução de voos movidos por humanos passavam mais de um ano construindo um avião em conjecturas e teorias sem o embasamento de testes empíricos. Com sucesso, eles completavam o projeto e o levavam para teste. Minutos depois, um ano de trabalho era esmagado no chão. Mesmo voos bem-sucedidos terminavam com o piloto exausto fisicamente. Depois do fracasso, a equipe trabalhava por mais um ano para reconstruir, testar novamente, reaprender. O progresso era lento por razões óbvias, mas isso era de se esperar na busca de uma solução tão difícil.

Paul então percebeu que o que precisava ser resolvido era o processo e a busca de um objetivo sem a compreensão de como enfrentar desafios difíceis. Ele apresentou um novo problema e se propôs a resolver: como construir um avião que poderia ser reconstruído em horas e não meses. E ele fez. Ele construiu um avião com uma espécie de plástico transparente, tubos de alumínio e arame.

Os primeiros aviões não funcionaram. Mas, como o problema era criar um avião que poderia ser consertado em horas, Paul conseguia resolver rapidamente. O ciclo de reconstrução, de testar novamente e de reaprendizagem passou de meses e anos para horas e dias. Aqui vejo novamente o conceito atual de Design Thinking: “Falhe com rapidez e frequência, depois volte para a prancheta e faça melhorias onde você falhou. Os protótipos passam por várias iterações nas quais o feedback dos usuários é incorporado e as alterações são feitas para chegar a uma solução final eficaz”.

Através de caso vemos que anos se passaram até que Paul MacCready mudasse o entendimento do problema a ser resolvido e conseguisse construir um avião movido apenas pela força do corpo do piloto. Meio ano depois, o Gossamer Condor da MacCready voou 2.172 metros para ganhar o prêmio. Pouco mais de um ano depois disso, o Gossamer Albatross voou pelo canal.

E a que conclusão chegamos? Quando estiver resolvendo um problema difícil, refaça a pergunta para que sua solução o ajude a aprender mais rapidamente. Encontre uma maneira rápida de falhar, recuperar e tentar novamente. Se o problema que você está tentando resolver envolve a criação de uma grande obra, você pode estar resolvendo o problema errado!

*Fabio Reginaldo é diretor de Serviços Latam da NICE
 

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  • CubaNet, editorial
  • 12 Outubro 2019

 

Em uma data tão significativa quanto 10 de outubro, 151 anos após o início das Guerras pela Independência do colonialismo espanhol, ocorreu uma nova farsa eleitoral em Cuba, liderada pela Assembleia Nacional do Poder Popular (ANPP). Sem a menor oposição, como é habitual há sessenta anos, foram confirmadas as principais posições políticas de um país que chegou ao fundo através do oportunismo, cegueira e imobilidade de seus líderes.

Tudo permanece o mesmo dentro de um sistema obsoleto e contraditório, que fala em votar em “candidatos”, no plural, quando na realidade há apenas um aspirante a ocupar cada posição que influencia diretamente o futuro da nação. Não houve surpresas, nem variações na fala. Segundo o presidente nomeado pela segunda vez, Miguel Díaz-Canel, a falha permanece no "imperialismo"; a "conjuntura" foi superada pelo menos em seu momento mais crítico; e todo o povo mostrou seu apoio absoluto às ações ditadas por um governo não eleito, que se orgulha e se identifica como “popular”.

O regime falou sobre garantias e transparência, apresentando a nova Magna Carta aprovada em 10 de abril como uma base legal que protege os direitos de cada cidadão cubano; exceto para aqueles que discordam.

Essa verdade não escrita permaneceu fora do desdobramento demagógico e, embora as palavras “pessoas”, “direitos” e “democracia” tenham sido repetidas, o aumento da repressão contra o jornalismo independente e a sociedade civil em Cuba continuou a acusar as vítimas de margem da Constituição supracitada, que reconhece no artigo 54 "liberdade de pensamento, consciência e expressão".

O advogado e jornalista da CubaNet, Roberto de Jesus Quiñones Haces, foi condenado a um ano de prisão; sentença arbitrária que foi imposta após um julgamento fraudulento e violação de seus direitos civis. Por denunciar as condições de insalubridade e má alimentação sofridas pelos presos, hoje ele está à mercê de um "conselho disciplinar" que poderia puni-lo da maneira que julgar apropriada, não havendo leis que regulem essas práticas de carrascos que cumprem ditaduras.

Cuba acata a continuidade inútil de seu modelo de partido único na mesma data em que Carlos Manuel de Céspedes decidiu, em 1868, arriscar tudo para modificar o destino da nação. Assim, o regime totalitário vigente destrói o significado daquele estalo patriótico e o compara à farsa eleitoral cubana, que beira a loucura.

Em Cuba, continua imperando uma ditadura que brinca com a vontade popular enquanto se proclama como “governo democrático”. O regime não fez nada além de ajustar amarras para que todo o país se funda num abismo de total miséria, maquilado de epopeia revolucionária e aprovado por unanimidade.


Por CubaNet, 11/10

NOTA DO EDITOR: A propósito, quem tiver interesse num exemplar autografado de A tragédia da Utopia, recém-lançado em segunda edição aos 60 anos da revolução cubana, clique aqui: http://www.puggina.org/fale-com-ele/
 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 12 Outubro 2019

 


Etimologicamente, a palavra "procrastinar" se originou a partir do latim procrastinatus, significando, literalmente, "à frente de amanhã".

Sua noção remete para o adiamento de algo e, para o procrastinador, resulta numa sensação de perda de produtividade. Em determinadas situações, sensação de culpa! Todos nós procrastinamos, pessoas físicas e jurídicas.

Muito tem se falado e pesquisado sobre a procrastinação, envolvendo pessoas e organizações.

Uma mudança de hábitos indesejáveis pode ser alcançada por meio de pequenas mudanças, frequentes, com implicações no longo prazo. É preciso autocontrole. Mas necessidade de adaptação às alterações no ambiente se sobrepõe. O ser humano aprecia uma – falsa – sensação de controle das situações.

Muitos procrastinam por acreditar que aquilo que teria que ser executado "não é tão importante". "Depois" parece ser sempre a melhor decisão para – não - fazermos coisas que nos tiram da zona de conforto.

O pião da vida, nas economias de mercado, gira muito rápido. Tecnologias da informação inovadoras exacerbaram ânsia pelo instantâneo. Queremos, em tudo, a mesma agilidade do clicar dos dedos em celulares e laptops, a fim de dispormos de dados e informações.

No meio empresarial, a ordem é inovação, agilidade, flexibilidade e resposta rápida ao mercado. Crucial, dizem alguns, ser notado por primeiro. Afinal, na economia líquida, tudo se transforma rapidamente.

Porém, observa-se que organizações projetam e lançam produtos e serviços "inovadores – por serem novos", que fracassam nos mercados. Nem sempre novas tecnologias logram entregar utilidade real e melhores resultados práticos.

Neste cenário, é que entra em cena necessidade de uma certa dose – moderada – de procrastinação empresarial. Uma "grande ideia" não conduz necessariamente ao sucesso.

Provavelmente, a "grande ideia" já venha sendo incubada por muito tempo (deveria ser assim, ainda que não saibamos). Basicamente, consumidores precisam desta "solução"? Mais "racional" e prudente, poderia ser procrastinar no conceito de produto e serviços agregados, refletindo profundamente sobre necessidades dos consumidores, mal ou não atendidas.

Aparenta que sofremos de intrínseco otimismo irrealista, empurrado pela imposição de resultados e indicadores de curto prazo. Um pouco de conservadorismo, no sentido de analisar contexto e externalidades, abandonando a cegueira das paixões, poderia trazer melhores resultados.

Enquanto consumidores, também nosso piloto automático, por vezes, não ajuda! Quantas vezes já não nos arrependemos de ter comprado algo por impulso?
Interessante que no campo econômico, no Brasil, muitos ainda não querem inovar. Ou será comprometimento efetivo com os projetos importantes para a sociedade brasileira? Indivíduos geralmente preferem mais gratificações instantâneas do que futuras; no contexto político mais ainda, uma vez que reformas modernizantes não são populares.

Entretanto, por aqui, definitivamente, não há mais espaço para procrastinar. "O óbvio ululante"!

 *Alex Pipkin PhD

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  • Gilberto Simões Pires, em Ponto Crítico
  • 11 Outubro 2019

 

ESTUDO DO BANCO MUNDIAL
O importante estudo do BANCO MUNDIAL, divulgado ontem, dando conta de que os nossos SERVIDORES FEDERAIS têm, em média, um salário 96% MAIOR que PROFISSIONAIS DA INICIATIVA PRIVADA em cargos semelhantes, na mesma área de atuação, mesmo sem mostrar algo surpreendente, escancarou o quanto é urgente uma profunda REFORMA ADMINISTRATIVA, com alcance geral -União, os Estados e os Municípios-.

DUAS CLASSES - DIREITOS E DEVERES
A rigor, o Brasil precisa de uma REFORMA que seja capaz de apagar, para todo o sempre, com a existência de DUAS CLASSES DISTINTAS DE BRASILEIROS, onde a PRIMEIRA CLASSE, composta por SERVIDORES PÚBLICOS, goza de DIREITOS ABSURDOS, e a SEGUNDA CLASSE, composta pelos demais brasileiros, além de não ter DIREITO ALGUM ainda tem o DEVER de pagar a ELEVADA CONTA dos privilegiados.

REFORMA EXEMPLAR
Pois, mesmo que os números revelados pelo estudo do Banco Mundial mostrem, com absoluta clareza, o tamanho da INJUSTIÇA SOCIAL que impera no nosso empobrecido Brasil, é preciso que a SEGUNDA CLASSE DE BRASILEIROS, formada pelos CONDENADOS a pagar pelos privilégios da PRIMEIRA CLASSE, monte uma boa estratégia, do tipo que consiga produzir uma REFORMA EXEMPLAR.

FILÓSOFO GARRINCHA
Aliás, antes mesmo de alimentar EXPECTATIVAS exageradas é bom ter em mente a célebre frase proferida em 1958, durante a Copa do Mundo, pelo filósofo Garrincha tão logo o técnico da seleção brasileira, Vicente Feola, encerrou a preleção na qual apontava de que forma o Brasil venceria a Rússia: - Tá legal, seu Feola... mas o senhor já combinou tudo isso com os russos?

CORPORAÇÕES E MÍDIA
Digo isto para que não esqueçam que as CORPORAÇÕES que abrigam os SERVIDORES PÚBLICOS vão lutar desesperadamente para evitar a PERDA DE QUALQUER PRIVILÉGIO. Mais: elas, todas, além de muito organizadas e com recursos polpudos, gozam de um enorme prestígio junto à mídia. A soma destas duas forças, de forma sistemática, faz com que a maioria dos deputados e senadores se compadeça.

 

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  • Alex Pipkin, PhD
  • 08 Outubro 2019

 

Envolvi-me numa discussão sobre a China. Logo após, terminei de assistir a série distópica Years And Years. Fui dormir, mas pareceu-me que acordei ruminando algo, ou sonhando...

Sobre a China, afirmei que a "autocracia com certas características democráticas" tem conseguido alcançar crescimento econômico, em parte pela política keynesiana, com vultosos investimentos em infraestrutura. Ao mesmo tempo, penso que essa mesma política poderá ser a causa do futuro declínio chinês.

Mais do que isto, nunca existiu sistema político não democrático com crescimento econômico duradouro. Foi aí que comecei a pensar em nosso país.

Na China politicamente comunista, fica claro que os indivíduos estão submetidos a um constante monitoramento por parte do Estado, a fim de conter "dissidentes" do regime. Vigilância severa que, inclusive, monitora as atividades online das pessoas, repassando informações dos indivíduos aos órgãos públicos chineses. Há Estado de partido único, que não realiza eleições, não existe Judiciário independente e há o controle e censura da imprensa pelo Estado.

No entanto, como afirmou um diplomata da embaixada brasileira em Beijing: "... o sistema chinês evolui, tem demonstrado uma capacidade de readaptação ao longo das décadas. Hoje um cidadão chinês típico possui um nível de liberdade individual que jamais teve em toda sua milenar história". Algum avanço certamente ocorreu.

Mas somos verdadeiramente livres na democracia brasileira?

A começar pelo fato de sermos humanos e somente dizermos e comentarmos determinados assuntos e "verdades" em círculos familiares (pelo menos, a maioria!). É bem verdade que temos - ainda - liberdade para expressarmos nossos pontos de vista sobre questões comuns e de Estado. Contudo, nossa liberdade de expressão tem recebido duros golpes.

A guerra cultural aguerrida naturalizou o nefasto "politicamente correto", fazendo com que parte da população brasileira, de fato, tenha algum tipo de receio em verbalizar aquilo que verdadeiramente pensa. Num país machucado pelo relativismo moral, tais posições facilmente podem ser classificadas pelos outros como racistas, totalmente equivocadas, elitistas, machistas, entre outras qualificações não benfazejas. Aliado a este aspecto, educação deficiente torna os cidadãos brasileiros talvez carentes de uma das virtudes fundamentais, ou seja, a coragem de expor suas próprias ideias e opiniões.

Nossa imprensa, de forma marcante, vem contribuindo em muito para a distorção dos fatos. O aparelhamento das instituições mostra-se transparente para aqueles que possuem a capacidade de discernimento "ajustada", para além das paixões partidárias. Fatos são fatos, isto é, verdadeiramente aquilo que ocorreu, mas a notícia dos fatos tem sido, basicamente, falsa e/ou enviesada. Controladores dos grupos de imprensa, com base em seus próprios interesses, tem exacerbado grave problema de agência, em que notoriamente seus interesses parecem divergir dos desejos do público. Para se constatar tal doença, basta verificar como o mesmo fato é noticiado pelas diferentes empresas da mídia brasileira, televisiva e impressa. Análises tendenciosas e assimétricas têm marcado a mídia nacional, em que pseudo-jornalistas opinam sem colocar os reais eventos em perspectiva histórica e ampla.

Entretanto, a instituição suprema da garantia da liberdade e da justiça é aquela que tem se mostrado a mais perniciosa à liberdade do cidadão brasileiro. Rui Barbosa já nos alertava quanto ao fenômeno: "A pior ditadura é a ditadura do Poder Judiciário. Contra ela, não há a quem recorrer". Vide às decisões do ministro do STF, Alexandre de Moraes, que mandou retirar do ar conteúdos jornalísticos que criticavam decisões do Supremo e, ao mesmo tempo, ordenou o bloqueio de contas nas redes sociais que divulgavam, segundo ele, fake news. Estranho, mas os ministros do STF exigem uma justiça diferenciada em relação aos "comuns". Em que lugar foi parar a liberdade de imprensa? Esse tipo de cidadão brasileiro encontra-se acima da lei? O que se tem literalmente assistido no STF, é uma série de falácias do espantalho, em que os supremos ministros extraem apenas uma parte da lei, distorcendo a lei, e interpretando-a de acordo com seus interesses.

Assistindo a distopia Years And Years, parece-me correto e claro a presença do "Grande Irmão". Escolhas trazem benefícios e custos, mas creio que nossa liberdade esteja sendo, cada vez mais, restringida, com consentimento! No Brasil, como no ocidente, empresas privadas, especialmente, e o Estado, sabem exatamente o que fazemos e em que gastamos nosso dinheiro. A tecnologia atual dá muito mais poder aos "outros" sobre nós mesmos! O avanço da inteligência artificial, a meu juízo, tende a aprofundar o "nosso controle".

Neste sentido, um cidadão chinês, em razão do meio cultural, poder-se-ia sentir-se até mesmo mais "livre" do que nós brasileiros, na medida em que o controle da autoridade estatal significaria algo melhor do que os interesses de empresas privadas.

O fato que me fez pensar é mesmo a retórica "democrática" no Brasil. Numa democracia em que não se cumpre a governança adequada, em que a lei não é igual para todos, em que não há competição efetiva e, desse modo, empresários "compadres" se beneficiam de claro clientelismo, em que políticos atuam fisiologicamente, jogando o conhecido jogo, somos realmente mais livres que os chineses?

Na economia chinesa, evidente que existe intervencionismo econômico, compensado com momentos de abertura econômica - enfatizado pelas autoridades - que tem trazido crescimento pelas trocas internacionais, e maior prosperidade para a enorme população chinesa, principalmente para os mais pobres. Já por aqui, embora com sinais positivos de reversão pelo governo atual, a intensidade daqueles que ainda pensam e verbalizam sobre políticas nacional-desenvolvimentistas é brutal.

A China não parece disposta a replicar o modelo democrático ocidental. O país continuará seu processo de abertura ao exterior e expansão do acesso de empresas chinesas aos mercados. Mas é claro que sistema político chinês é autoritário, garantindo a obediência ao governo às custas da liberdade pessoal. No entanto, no Brasil, em que "tipo de democracia" vivemos?

Pra pensar sobre os complexos temas democracia, liberdade, sistemas políticos, econômicos e sociais, entre outros assuntos!

Alex Pipkin, PhD
 

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  • Ipojuca Pontes
  • 07 Outubro 2019

 

“Quero me vingar daquele que reina lá em cima” – Karl Marx

Livro impressionante, a merecer urgente atenção de um bom editor nacional é, sem sombra de dúvida, este “Marx and Satan”, do reverendo Richard Wurmbrand (Living Book Company, Bartlesville, USA, 1986). A edição que leio, a oitava, data de 2002, porém em 2008 o livro já cruzara a 20ª impressão e fora traduzido para o russo, chinês, alemão, romeno, eslovaco, húngaro e albanês – não por acaso línguas de países que constituíam a antiga Cortina de Ferro e materializavam, na prática, as teorias demoníacas de Karl Marx.

No histórico, o livro de Wurmbrand começou como uma pequena brochura que continha algumas anotações sobre as possíveis ligações entre Marx e a igreja satânica. Posteriormente o autor, durante 14 anos prisioneiro nos campos de concentrações da Romênia comunista, levantou uma quantidade enorme de documentos e correspondências e aprofundou pesquisa biográfica minuciosa em torno do “filódoxo” alemão, mormente no período em este freqüentou a Universidade de Berlim, sem deixar de lado, no entanto, a temporada em que viveu na próspera cidade de Colônia (1842), onde trabalhou como co-editor da “Gazeta Renana” – fase em que Marx, negando Deus, “tornou-se um adorador de Satã e partícipe ativo e regular de práticas e hábitos ocultistas”.

De fato, nesta época, conforme registra Wurmbrand com riqueza de detalhes, Marx mudou inteiramente de conduta. Longe da casa paterna, ao repudiar Cristo ele tornou-se um beberrão violento. (Habitualmente, quando embriagado, para não pagar os credores, partia para a briga – sendo autuado, certa feita, por porte de arma). Então, na qualidade de co-presidente do “Clube Tabernário”, que tinha como associados um bando de estudantes porristas, Marx organizava rituais de magia negra, professando a idéia de “chutar Deus do Reino Celestial”. Por qualquer razão, ou sem razão nenhuma, voltava-se para o alto e proclamava, em ira incontida: “Eu o destruirei! Eu o destruirei!”

O próprio pai de Marx, Heinrich (um advogado judeu convertido ao cristianismo luterano), na ocasião, ao saber que o filho tinha “colocado novos deuses em lugar dos antigos santos” (confissão de Marx), tentou chamar sua atenção, por carta, lamentando o estranho comportamento do jovem radical: “O teu progresso, a querida esperança de ver teu nome algum dia ter grande reputação, e tua riqueza terrena não são os únicos desejos de meu coração. Essas são ilusões que tive há muito tempo, mas posso assegurar-te que a realização delas não me teria feito feliz. Apenas se teu coração permanecer puro e bater humanamente e se nenhum demônio for capaz de desviar teu coração de sentimentos melhores, apenas assim serei feliz”.

Ao lamento da carta paterna, Marx deu o calado como resposta, cortando a correspondência com o pai, salvo no caso de bilhetes curtos para pedir crescentes somas em dinheiro para saldar dívidas provenientes dos porres homéricos e gastos com os rituais ocultistas.

Na mesma época, Marx ficou obcecado pela leitura do “Fausto”, a peça teatral de Goethe em que o personagem central faz um pacto com a figura de Mefistófeles, o “diabo em pessoa”. Num impulso, o futuro “Doutor do Terror Vermelho”, para tornar público a sua nova crença, escreve um drama intitulado “Ulanem” – anagrama de Emanuel, nome bíblico de Cristo -, tempos depois encenado e representado pelo próprio autor.

No texto, medíocre, mas considerado de natureza confessional, Marx revela o objetivo que marcará todos os atos de sua atribulada existência, qual seja, “a idéia de expulsar o Criador de sua morada e, ele próprio, Karl Marx, substituí-lo”. No último ato de “Ulanem”, em tom apocalíptico, assim se exprime o imperioso cultor de Satã: “Os vapores do inferno enchem o cérebro, até que fico louco e meu coração muda muito. Vês esta espada? O Príncipe das Trevas ma vendeu. Para mim, ele marca o compasso e ordena os sinais. Cada vez mais atrevido, eu danço a dança da morte. E só então poderei caminhar triunfante, como um Deus, através das ruínas do seu Reino”.

Dado curioso, a mudança de Marx não se deu apenas no plano espiritual. Segundo anota Karl Heinzen, jornalista que trabalhou com ele na “Gazeta Renana”, a transformação se manifestou, também, no aspecto seu físico. “De jovem esbelto, ele se transformou num tipo atarracado, de lábio inferior incomumente grosso e de tez amarelo-sujo, acentuada pelos cabelos negros e espessos que pareciam brotar-lhe de quase todos os poros da face, dos braços, da orelha e do nariz. Cabeludo, com sua juba negra retinta e olhos enlouquecidos por um espírito de fogo perverso, Marx era a imagem de Lúcifer, o anjo decaído”.

O mesmo Heinzen relata que, certa noite, depois de um porre, querendo parodiar Mefistófeles numa cena do “Fausto”, Marx “Aproximou-se e deu a entender que eu estava sob seu poder. Com malícia de pretendido demônio, começou a me agredir com ameaças e tapas. Adverti-o a sério que o trataria do mesmo modo. Como nada adiantasse, derrubei-o com um sopapo num canto da sala. ‘Há um prisioneiro lá dentro…’ – caçoou ele, numa imitação precária de Mefistófeles”.

Mais tarde, consolidada a personalidade demoníaca, Marx observa, em correspondência para Engels (segundo Franz Mehring, em “Marx – Story of His Life”): “A abolição da religião como uma felicidade ilusória dos homens é um requisito para a verdadeira alegria deles. O chamado para o abandono de suas ilusões acerca de suas condições é um chamado para abandonar uma condição que requer ilusões. A crítica da religião é, portanto, a crítica deste vale de lágrimas de que a religião é o halo”.

Marx se deu mal na sua pretensão de abolir a religião sobre a face da terra. A crença na existência de uma força transcendente, considerada como criadora do Universo, nunca esteve tão presente na vida da humanidade – em que pese a ingerência do “neodarwinismo” e a “singularidade” de teorias impossíveis de comprovar como a do Big Bang.

O Cristianismo, por sua vez, infenso a fricção da excomungada “Teologia da libertação”, nitidamente anticristã, cada vez mais se propaga em número de fiéis, a fortalecer a crença no Cristo filho de Deus.

Quando à Marx, reconheça-se, o seu espírito maligno permanece atuante – como o do próprio Satã, de resto –, a iludir facções de deserdados que, sob seus vapores, alargam as dores do mundo.

* Publicado originalmente no Diário do Poder

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