Em meio a um turbilhão de problemas, preocupações e incertezas políticas e econômicas, um verdadeiro pandemônio alimentado pela saída do ministro da Saúde e, poucos dias depois, aquela saída nada cavalheiresca do ministro da Justiça e Segurança Pública, tudo isso em tendo como cortina a enorme tensão provocada por confinamentos, máscaras, estímulos ao pânico, prisões de senhoras por caminharem em praias e ataques incessantes ao governo por parte da velha mídia, volto a dizer, em meio a tudo isso e como se fosse pouco, eis que se passou uma cena inacreditável.
Segundo revelou em primeira mão o site Poder360, repercutido depois por diversos órgãos de imprensa e nas redes sociais, o governador de São Paulo, do PSDB, telefonou para o ministro da Economia pouco depois impacto provocado pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública ao demitir-se no dia 24 de abril. Até aí, nem o Neves tinha morrido.
Mas, quando o governador sugeriu ao ministro que desembarcasse do governo federal, pois assim fazendo estaria “salvando sua biografia”, a chamada revelou-se uma cantada. E a resposta do ministro foi uma verdadeira pancada, segundo relatou a matéria. Eis o diálogo em toda a sua bizarrice:
Governador – Paulo, estou te ligando não como governador, mas como amigo. Quem sustentava o governo era o Sergio Moro e você. Agora, sobrou você. Você é muito admirado. Em nome da sua biografia, quero te dar um conselho: desembarque do governo agora.
Ministro – João, eu agradeço sua ligação, mas não sou eu que sustento o governo Bolsonaro. Quem sustenta o governo é o povo que elegeu o presidente. Ele tem 1/3 de apoio. E outro 1/3 que fica no meio do caminho depois vai apoiá-lo. João, o país vive 1 momento democrático que é barulhento, mas virtuoso.
Sobre a gravidade desse episódio, recomendo vivamente os comentários de Guilherme Fiuza nesse vídeo com o sugestivo título O homem e o rato.
Francamente, essa atitude do governador do estado mais importante do país é inadmissível, vergonhosa, constrangedora, uma verdadeira traição ao povo que o colocou no palácio dos Bandeirantes e de resto a todos os brasileiros que têm amor ao país.
Primeiro, pela absoluta falta de ética. Como uma autoridade estadual pede a uma autoridade federal para entregar o cargo e abandonar o governo? Isso não tem nenhum cabimento moral e nem jurídico. É uma cantada imoral, de envergonhar até o mais tosco paquerador.
Segundo, pela total falta de patriotismo. Como um homem com tamanha responsabilidade, como sói ser a de governar o grande motor da economia do país, e sabendo que o ministro da Economia vem adotando uma política correta e que, portanto, sua saída, em meio a tantas incertezas provocadas pela pandemia, seria muito provavelmente a bomba que faltava para desestabilizar de vez a economia, o governo e o país?
A resposta do ministro da Economia foi uma pancada na imoralidade e uma formidável patada na ausência absoluta de patriotismo de seu interlocutor, que não mostrou qualquer escrúpulo em manchar o mandato que os paulistas lhe conferiram, em rasgar a ética e em tentar desestabilizar o país, tudo para semear uma ainda impalpável candidatura à presidência, que só acontecerá daqui a mais de dois anos. Não posso afirmar, mas acho que o autor dessa iniquidade possa ter se queimado de vez.
* Doutor em Economia (EPGE/Fundação Getulio Vargas, 1984); Presidente-Executivo do Centro Interdisciplinar de Ética e Economia Personalista (CIEEP); Diretor Acadêmico e Membro Honorário do Instituto von Mises Brasil (IMB); Editor-Chefe de MISES: Revista Interdisciplinar de Filosofia, Direito e Economia; Laureado com o Premio Intenazionale Liber@mente 2013, em Catanzaro, na região da Calábria (Itália)
Professor Visitante da Scuola di Liberalismo e Membro do Corpo Editorial da Rivista Liber@mente, da Fondazione Vincenzo Scoppa, de Catanzaro, Itália; Membro do Scientific Board da book chain "Il Liberalismo delle Regole", com Dario Antisseri, Flavio Felice e Francesco Forte, Roma, Itália
DECISÃO LAMENTÁVEL
A lamentável, mas não impensada, decisão tomada pelo ministro do STF, Celso de Melo, de impor -CONDUÇÃO DEBAIXO DE VARA-, dos ministros Luiz Eduardo Ramos, da Secretaria de Governo, general Braga Neto, da Casa Civil, e do general Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Nacional, para prestar depoimentos sobre a possível interferência do presidente Jair Bolsonaro na Polícia Federal, como não podia deixar de ser, gerou enorme insatisfação em todos os meios e, principalmente, nas Forças Armadas.
CONDUÇÃO SOB VARA
Ora, como são muitos os brasileiros que além dos ministros que foram convocados e das Forças Armadas também não gostaram nem um pouco da forma -HOSTIL- utilizada por Celso de Melo para fazer a tal convocação, tratei, primeiramente, de entender o que significa a tal de CONDUÇÃO SOB VARA, ou DEBAIXO DE VARA.
EXPRESSÃO -CONDUÇÃO SOB VARA-
Pois, como bem informa o pensador e advogado Paulo Caliendo, a expressão -CONDUÇÃO SOB VARA , ou DEBAIXO DE VARA, indicava exatamente essa ação:
"OS MEIRINHOS, OU OFICIAIS DE JUSTIÇA, POR ORDEM DE UM JUIZ, PODERIAM BUSCAR OS RÉUS E AS TESTEMUNHAS RECALCITRANTES E TRAZÊ-LOS À SUA PRESENÇA CUTUCANDO OS INFELIZES COM ESSAS VARAS PELO CAMINHO PARA MOSTRAREM À POPULAÇÃO QUE ALI ESTAVA UM MAU SUJEITO, UM RENITENTE, UM CABRA TURRÃO, ARREDIO, INSUBMISSO, E QUE ELE, OFICIAL DE JUSTIÇA, ENVERGANDO AQUELA VARA, PERSONIFICAVA A PRÓPRIA AUTORIDADE DO JUIZ."
HUMILHAÇÃO
Uma vez esclarecida a expressão -CONDUÇÃO SOB VARA- vamos para a próxima indagação: - Qual o motivo que levou o provocador ministro Celso de Melo a usar este expediente? Pois, dentre aquelas que considero como mais possíveis, a que mais me chama a atenção e preenche melhor a minha dúvida é que Celso de Melo resolveu saber até que ponto as Forças Armadas estão dispostas a aceitar e/ou tolerar esta flagrante HUMILHAÇÃO a que estão sendo submetidos os ministros-generais.
DE JOELHOS
Como estou trilhando o caminho da mais pura especulação, pois não sei se os ministros estão dispostos a comparecer no dia e hora que o péssimo e provocador ministro Celso de Melo marcou para serem ouvidos, tudo leva a crer que, para evitar tamanha HUMILHAÇÃO, nenhum deles se mostra disposto a se AJOELHAR, publicamente, diante do Ser Supremo.
TAMANHO DA VARA
Mais: estou curioso para ver o TAMANHO DA VARA que o ministro Celso de Melo vai disponibilizar para que seus OFICIAIS DE JUSTIÇA CUTUQUEM OS INFELIZES, PARA MOSTRAREM À POPULAÇÃO QUE ALI NO CAMINHO ESTÃO CERTOS MAUS SUJEITOS, RENITENTES, ARREDIOS e INSUBMISSOS.
A ver...
07/05/2020
Deus é brasileiro! No Brasil de Alice tudo parece estar quase perfeito.
Tal qual a máxima comportamental “seja quem você quiser”, aqui e agora, a gratificação imediata continuará reinando soberanamente sobre a necessidade de sacrifício de evitar o consumo no presente.
Inexiste cultura de poupança a fim de se economizar e investir em empreendimentos e bens de capital - máquinas e equipamentos inovadores - que são aqueles que produzem novas soluções para as pessoas em nível de produtos e serviços melhores e/ou mais baratos.
Em tempos de coronavírus, no país de Alice, parcela significativa de pessoas está alegre como nunca.
Funcionários públicos, bondosos e receptivos ao “fiquem em casa”, regado a bons vinhos e queijos, na praia, ou talvez na serra, e muito Netflix. Só esperar o cheque no início do mês...
Muitos daqueles que não conseguem trabalhar, muitos que trabalham, mas não conseguem cumprir com seus compromissos financeiros, e muitos que não querem trabalhar, parecem satisfeitos em “ficar em casa” - aqueles que as têm - vivendo com o “auxílio governamental”.
Quiçá valha mais a pena receber do Estado do que trabalhar?!
O Estado realmente é o salvador da pátria!
A grande verdade é que nesse país, faz décadas, mergulhado em políticas econômicas keynesianas, estatistas e clientelistas, embaladas com muita corrupção, a figura menor, tristemente desimportante, é a do empresário, do real empreendedor.
No país de Alice o que menos importa é o empreendedor! Não é preciso! Basta que o Banco Central brasileiro continue imprimindo moeda; singelo e tranquilo!
Nesse cenário orwelliano, não se preocupem, o capital - que não é só papel impresso descomplicadamente - não é escasso! Não é?!
O que essa gente míope em terra tupiniquim não percebe, é que sendo o capital - máquinas e equipamentos, etc. - escasso, todos nós também necessitamos de pessoas que resistam as gratificações de curto prazo, e que economizem (processo de longo prazo) para poderem investir em bens tangíveis necessários a todos nós para produzir outros bens e serviços reais de consumo que obviamente também são escassos.
Meus senhores, não dá para imprimir - embora até seja possível (!) - bens de capital com as impressoras do Banco Central!
Bondosos e keynesianos se esquecem - propositalmente - que o capital é verdadeiramente escasso e requer sacrifício genuíno!
Humanistas e keynesianos negligenciam que o desenvolvimento de qualquer sociedade livre e próspera depende da capacidade empreendedora criativa e da quantidade de poupança de empreendedores, a fim de que se realizem investimentos produtivos capazes de provocar processos de destruição criativa.
Empreendedores poupam, sacrificam-se, na esperança de obtenção de lucro futuro.
Num Brasil de taxas de juros reais baixas, com um ambiente de negócios ainda complexo e burocrático, só mesmo corajosos e ousados empreendedores para correrem enormes riscos para investirem por aqui.
Parece que muitos não percebem que está todo mundo tomando dinheiro emprestado do Estado para sobreviver!
Evidente que nessa crise viral foi indispensável afrouxar a disciplina fiscal e prover ajuda para os indivíduos e as empresas por meio de mecanismos eficientes de auxílio, apoio e proteção.
Contudo, nunca convém esquecer que o Estado não produz nada! Pode mesmo até destruir riqueza.
Keynesianos e benevolentes brasileiros; são os indivíduos e as empresas que geram empregos e criam renda e riqueza! E quase todos esses estão impedidos de saírem de casa e de produzirem...
Quando eles saírem de casa, temo que a alegria do país de Alice comece a arrefecer...
Não há almoço grátis, não, não há, e “alguém” precisará pagar a enxurrada de dúvidas...
Pobre Alice...
Curitiba, sábado pós-feriado do Dia do Trabalho. Sede da Superintendência da Polícia Federal paranaense. Audiência desdobrada entre o final da manhã e o início da noite. Presentes na repartição o depoente, dois delegados da Polícia Federal, três advogados, três procuradores da República designados pelo Chefe do Ministério Público da União e um escrivão.
Este cenário resultou num depoimento de dez laudas, na disponibilização, pelo ex-ministro Sérgio Moro, de uma conversa ocorrida no seu aparelho celular entre ele e o Presidente da República, numa aparente confusão entre relatórios de inteligência e de inquérito e, por fim, de referências nominais a Ministros de Estado que teriam participado de tensas negociações nos últimos dias de abril. Dentre as respostas às indagações formuladas ao depoente, algumas chamaram a atenção. A referência de que caberia ao titular do Palácio do Planalto prestar esclarecimentos sobre os motivos das trocas do Diretor Geral e dos Superintendes da Polícia Federal nos Estados do Rio de Janeiro e de Pernambuco, bem como sobre quais informações especificamente pretendia obter da PF e que lhe teriam sido sonegadas foi uma delas, eis que apareceu por sete vezes.
Esta, sem margem para muitas dúvidas, foi uma questão relevante que emergiu com força. Aliás, provavelmente a mais relevante de todas. Afinal, além de não abordar frontalmente o item relacionado à suposta vaga para o Supremo Tribunal Federal, o experiente ex-juiz, seja não elucidando, seja alegando desconhecer quais seriam os efetivos motivos do Presidente da República para efetuar as trocas, “interferências na PF” conforme acusou na sua coletiva, deixou transparecer que não dispõe de outras provas acerca dos fatos que alegou. Ao menos nesta etapa da marcha do processo é o que se pode depreender da leitura do termo.
Contudo, diante da petição do Procurador Geral da República que deflagrou a investigação, o momento para a entrega de áudios, vídeos e outros elementos mais, caso existam - ou existissem-, seria ali, salvo se o outrora magistrado aposta na judicialização do inquérito para ampliar o leque probatório das suas imputações. No entanto, isso pode ser - ou ter sido - uma estratégia arriscada caso as testemunhas a serem inquiridas logo adiante não confirmem as suas versões.
De outra parte, o Chefe do Poder Executivo “interagir, telefonar e obter relatórios de inteligência” não tipifica, de modo pronto e acabado, na conduta de interferir num órgão público. E sempre é importante lembrar que no campo probatório, sobremodo na seara criminal, a prova deve ser inequívoca. Ademais, o depoente enfatizou, por duas vezes, que o Presidente alegou improdutividade funcional para as mencionadas substituições. Enfim, ainda é prematuro avançar.
Como já era imaginado, o teor da oitiva gerou expectativas e posicionamentos. Juristas, parlamentares, formadores de opinião e veículos de comunicação, cada um se filiando a um determinado entendimento, externaram os seus pontos de vista. Porém, uma vez racionalizado o depoimento e, a despeito das múltiplas versões ou análises vertidas em torno dele, algumas enfatizando outras aniquilando um e outro trecho do seu conteúdo, o certo é que não houve nenhuma revelação do tipo “bombástica” como se costuma aguardar de um episódio que tomou a proporção deste. Muita fumaça e pouco fogo.
* Advogado, Professor de Direito Eleitoral e Escritor.
SANHA ASSASSINA
Na tão esperada, e desejada, RETOMADA das mais variadas ATIVIDADES ECONÔMICAS, criminosamente interrompidas pela SANHA DITATORIAL/ASSASSINA de governadores e prefeitos que se aproveitaram da PANDEMIA para destruir EMPRESAS E EMPREGOS, é preciso que os agentes de PRODUÇÃO E CONSUMO façam a leitura correta do -NOVO COMPORTAMENTO-, ou -NOVO NORMAL- que vai dominar, daqui para frente, a relação entre a OFERTA e a DEMANDA.
MC KINSEY
A propósito deste instigante tema, li, com muita atenção, o conteúdo publicado no Brazil Journal do dia 27/4, por Tracy Francis, sócia sênior da McKinsey no Brasil e líder da prática B2C para a América Latina; e Fernanda Hoefel, sócia da McKinsey em São Paulo, no qual a renomada empresa de consultoria (McKinsey) vem acompanhando a opinião e o comportamento de consumidores do mundo todo desde o início da COVID-19 através de pesquisas semanais.
PESSIMISMO
No Brasil, segundo informam os colunistas, a pesquisa vem sendo feita desde a segunda quinzena de março, possibilitando já identificar algumas tendências. Uma delas, por exemplo, diz que o - POVO BRASILEIRO, que é OTIMISTA POR NATUREZA, nesta crise se mostra PESSIMISTA. Entre os mais de 30 países pesquisados, somos uma das nações mais preocupadas com o impacto da crise, inclusive comparados aos nossos vizinhos latino-americanos: nada menos que 82% da população compartilha de um SENTIMENTO GERAL DE INSEGURANÇA E PESSIMISMO -.
INCERTEZA E CERTEZA
Se, por um lado, a INCERTEZA SOBRE A SAÚDE PÚBLICA preocupa os brasileiros, por outro a CERTEZA DO IMPACTO ECONÔMICO DA CRISE já deixa suas marcas. Segundo as pesquisas, cerca de 60% dos consumidores declaram ter tido sua RENDA AFETADA, e 3 em cada 4 já estão CORTANDO GASTOS.
Pensando à frente, a expectativa da maior parte dos brasileiros (60%) é que os impactos da crise nas finanças durem MAIS DE QUATRO MESES; Mais: 50% já estão preocupados em perder o emprego. Detalhe: - Essa preocupação, incialmente maior na classe C, já afeta a classe A/B na mesma medida.
INTENÇÃO DE CONSUMO FUTURO
Como resultado, o CONSUMO ESTÁ SENDO CORTADO. Em mais de 30 categorias pesquisadas, a INTENÇÃO DE CONSUMO FUTURO É NEGATIVA, exceto em alimentos básicos e produtos de limpeza. Na prática, de 1 de março a 11 de abril, o Índice Cielo do Varejo Ampliado apurou uma redução de vendas de 36% em relação a fevereiro. Os maiores impactos foram nos segmentos de turismo (-79%), vestuário (-73%) e bares e restaurantes (-63%). Até as farmácias, tipicamente resilientes, viram pequena queda nas vendas (-4%). Já os supermercados cresceram 13% no período, com um pico acentuado na semana de 16 de março seguido de retorno ao normal.
No VAREJO ALIMENTAR podemos observar quatro tipos de produtos com desempenho distintos, com base em dados da Scanntech.
Produtos “PARA ESTOCAR E CONSUMIR” incluem itens básicos como grãos e enlatados. Estes viram pico de vendas para estocagem, e mantém vendas acima da média. Já os produtos “agora em casa” estão relacionados à indulgência e a mudanças de hábitos que trouxeram para dentro de casa ocasiões de consumo antes realizadas fora. Aqui entram doces, vinhos, fermento para pães e snacks, como milho para pipoca – todos com desempenho consistentemente acima do normal durante a crise.
O terceiro grupo são produtos “PARA ESTOCAR E GUARDAR”, como papel higiênico, fraldas, ração de animais de estimação e produtos de limpeza pesada, que viram um pico de consumo na primeira semana seguido de estabilização em níveis pré-crise. Quem sai perdendo? Produtos “para reduzir o consumo agora”, mais discricionários, impactados pela queda da confiança e pelo foco em categorias essenciais. Aqui estão itens de vestuário, bazar e beleza.
O QUE PODEMOS ESPERAR
O QUE PODEMOS ESPERAR DAS PRÓXIMAS SEMANAS?
Os comportamentos de consumo estão mudando e temos várias razões para crer que, em boa medida, vem para ficar. Os brasileiros antecipam que os impactos econômicos da crise devem ser severos e duradouros. À medida em que são forçados a mudar seus comportamentos e hábitos de compra, os brasileiros são expostos a novas experiências que passam a fazer parte de seus repertórios e costumes. Se ainda é cedo para traçarmos um quadro definitivo, já é possível traçar direções com base no que observamos em alguns países asiáticos e também no que estamos observando aqui, especialmente no segmento de varejo alimentar.
NOVO NORMAL
ACELERAÇÃO DIGITAL
Se serviços como Uber e Rappi já vinham acelerando a digitalização do consumidor brasileiro pré-crise, o isolamento social levou este fenômeno a outra dimensão. Por causa do isolamento, a versão “online” tornou-se a única alternativa para viabilizar inúmeras experiências, incluindo aprendizagem, serviços religiosos, encontros de trabalho e sociais, compras de supermercado ou compras de restaurante. A “destreza digital” e abertura do consumidor a experiências online estão aumentando como decorrência, o que também deve provocar efeitos duradouros em inúmeros segmentos.
CHOQUE NA LEALDADE
Seja porque não encontram os produtos que buscam, ou porque estão comprando itens mais baratos, cerca de metade dos consumidores pesquisados já experimentaram marcas diferentes das habituais no período de crise. Outros 25% dos consumidores também compraram em lojas onde não compravam antes da crise. Na China, onde o mesmo aconteceu, uma parte importante dos consumidores declara-se disposta a não voltar a consumir as mesmas marcas de antes.
MAIOR SENSIBILIDADE A PREÇO
Observou-se entre consumidores na China uma opção por produtos mais baratos (“tradedown”) decorrente da redução de renda e do conservadorismo do consumidor. Em outras crises também observamos “tradeup” em algumas categorias de maior indulgência; esses movimentos simultâneos são chamados de efeito “ampulheta”. Ainda é cedo para saber se isto está acontecendo no Brasil e em quais categorias, mas é um ponto de atenção para as próximas semanas.
CONSUMO SEGURO, LOCAL E SAUDÁVEL
Seja online ou mesmo no retorno às lojas físicas, os consumidores agora têm limpeza e segurança sanitária como um dos principais motivos de escolha dos varejistas de quem compram. Estes fatores devem continuar importantes no futuro. De maneira geral, também vemos consumidores, inclusive no Brasil, mais preocupados com seu bem-estar e saúde. Em vários países asiáticos, a crise levou a um aumento expressivo no consumo de produtos associados à saúde. Nesses países, também vimos um aumento da preferência por marcas consideradas “locais”, mas ainda não temos evidência de que isto será ou não tendência no Brasil.
Ainda é cedo para saber quais mudanças vieram para ficar e como se manifestarão no futuro. O certo é que as mudanças ocorrerão. É hora de começar a imaginar o -NOVO NORMAL- e suas implicações.
30.04.2020
Se, por um milagre, os males do mundo desaparecessem da noite pro dia, muitos jornalistas, apresentadores e comentaristas perderiam seu empregos
Outro dia, presenciei um ligeiro bate-boca entre vizinhas, certamente sintoma de estresse do isolamento social. Uma senhora responsabilizava a moça do prédio ao lado pela presença de um pequeno rato que transitava impune. Por conta própria, atribuía residência do roedor à casa alheia. Achei graça; suponho que ratos não têm CEP nem domicílio fixo. Moram nos esgotos, no abrigo das sarjetas e circulam por todo o bairro em busca de comida. Aliás, cardápio esse em alta; aumentaram as marmitas nas calçadas com restos de arroz e feijão - culpa da pandemia, da coleta de lixo alterada e, sobretudo, dos moradores porcalhões.
Ratos e pestes fazem-nos lembrar Albert Camus. Profundo observador da alma humana, conta num de seus livros que mendigos da capital argelina colocavam excremento nas feridas do corpo para que estas piorassem. Com isso, ganhariam a disputa por maiores esmolas dos passantes. Exibiam suas mazelas purulentas aos mendigos próximos, quase vaidosos, como se dissessem:
- Minha perna está pior que a sua! Vou ganhar mais esmolas...
Não há limites para a raça humana quando ela despenca pelo abismo da dignidade. Porém, não precisamos ir tão longe na distância geográfica e no tempo de Camus. Aqui mesmo, guardadas as devidas proporções, vemos expostas as feridas – pioradas de propósito - que nos causam repugnância natural; feridas em busca de exibição e de algum tipo de ganho.
Já não bastavam as notícias rebuscadas sobre crimes hediondos, violência, terrores diversos. Com a pandemia, a comunicação foi além; transformou-se numa via aberta de pânico generalizado. Se, por um milagre, os males do mundo desaparecessem da noite pro dia, muitos jornalistas, apresentadores e comentaristas perderiam seu empregos na hora – já que só falam nisso; vivem disso; parecem gostar disso. Quanto pior o drama pessoal do entrevistado, mais terrível, mais bizarro, mais sucesso do programa escandaloso.
Os noticiários já foram mais discretos e respeitosos com a dor alheia. Um código de ética não-explícito do jornalismo, baseado na compaixão e solidariedade humana, norteava as pautas e as edições. Essa fronteira sutil foi violada recentemente – e o Brasil deve ter sido um dos precursores da modalidade, de olho na preferência do estranho segmento de público sedento de sangue, sofrimento e sordidez.
As “reconstituições de crimes”, revividas através de sofisticados recursos de computação gráfica são outros exemplos. Vemos ali vítimas e seus assassinos representados digitalmente, segurando armas e disparando tiros na posição presumida. Ora: à exceção dos peritos criminais, advogados e juízes, a quem mais interessaria saber desses detalhes? De que servem tais representações para a família confinada assistindo ao telejornal, olhos arregalados?
Veio a internet – e todos viraram repórteres e idiotas, segundo Umberto Eco. Há um prazer mórbido em divulgar e compartilhar imagens chocantes do que há de mais degradante por aí. De que servem a nós cenas de crueldades com cachorrinhos? Espancamentos de bandidos? Saber que o estoque de caixões em tal cidade está se esgotando e – que novidade! - já se fazem agora sepultamentos noturnos? Ou contabilizar quantos morreram ao final do dia, desprezando sempre o número de curados?
Ao mesmo tempo, como se a vida estivesse absolutamente normal no planeta, a mídia dedicou farto espaço àquele grupo de rapazes e moças confinados num clima de narcisismo, intriga e promiscuidade chique, falando besteiras para as câmeras e os telespectadores. Falta do que fazer? Não seja por isso: emissora e patrocinadores deveriam providenciar máquinas de costura, carretéis e pano. Gastariam melhor seu tempo fabricando máscaras e aventais para doação, caladinhos e refletindo sobre a transitoriedade da vida – assunto interessante e cada vez mais essencial nos dias de hoje.
30/04/2020
*Publicado originalmente no jornal O Tempo de Belo Horizonte e enviado pelo autor.