Percival Puggina
Se você quer vingança em serviço expresso, para começar a punir antes mesmo de julgar, a realidade nacional é uma sala de aula.
Cancelados na caneta os escândalos do petrolão, a nação descrê de si mesma a cada notícia sobre as fraudes do desconto em folha dos aposentados. Os valores, expressos em números astronômicos, impressionam as almas mais apáticas. A briga de cada idoso contra a miséria crescente suscita a solidariedade das pessoas de bem. É natural que o desejo de justiça clame por punição.
É igualmente comum que a corrupção em governos petistas, quando ocorra, seja qualificada pelo aumentativo: mensalão, petrolão e agora, a grande fraude, o fraudão dos descontos no INSS! A coisa sempre tem super tamanhos. Eventuais condenações, sempre brandas, habilitam alguns autores do crime à galeria dos “heróis do povo brasileiro”. Seus seguidores e eleitores riem sardonicamente dos condenados a desmedidas penas face à narrativa oficial do 8 de janeiro. Os mesmos cidadãos, perante criminosos reais, afirmam que prender não resolve e que no Brasil se prende demais...
Por isso, se conta que o senador Collor, ao entrar recentemente na Papuda, condenado pela Lava Jato, teria perguntado: “Cadê os outros?”. Ficou por ali algumas horas e foi para casa cuidar da saúde porque só a dos presos do dia 8 de janeiro é de ferro e deve aguentar quaisquer maus tratos.
Não é esse o Brasil que a gente quer! Não é mesmo! Esse é o Brasil das instituições clamando por reforma. Esse é o Brasil da conversa fiada, da rotulagem, das etiquetas pejorativas cujos poderes de Estado estão envoltos por uma bolha onde os mandachuvas e seus devotos perderam o contato com a realidade e onde, com ódio, se prega contra o discurso de ódio.
O assunto deste artigo é a importância da palavra. Tendo entendido que algumas, repetidas em refrão, adquirem a gravidade necessária para imposição de penas pesadas, eu tomo a liberdade de disponibilizar sugestões para esse específico refrão acusatório contra os réus do fraudão dos descontos no INSS.
Sugiro, para este caso, penas cumulativas, bem ao gosto da casa (e já vou antecipando: é sem anistia). Assim, teríamos quatro crimes: 1º) o crime de “golpe do Estado”, posto que foram agentes do Estado que possibilitaram o golpe por atacado aplicado pelos vigaristas no varejo; 2º) o crime de “abolição violenta” dos direitos dos aposentados, posto que perpetrado de forma traiçoeira, às costas das vítimas; 3º) o crime de “dano qualificado” ao patrimônio moral da nação; e 4º) o “crime de associação criminosa” armada das piores intenções.
Isso aí, bem repetidinho, deve dar cadeia com penas entre 14 e 17 anos. Pode chamar de Expresso da vingança dos idosos.
Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.
Menelau Santos - 22/05/2025 09:21:51
Perfeita recolocação das "penas", Professor. Agora entendemos porque o Professor Olavo dizia sempre que a corrupção é o menor dos problemas.Danubio Edon Franco - 20/05/2025 11:28:05
Quanto mais nós pensamos sobre o que está acontecendo, mais nos conhecemos que estamos diante de um regime de exceção disfarçado de legal. O que pretendem é extinguir com o movimento conservador, punindo injustamente pessoas humildes acusadas de participarem de um pretenso golpe de estado. Enquanto isso, criminosos condenados a dezenas de anos de prisão, repousam em casa sob qualquer pretexto, mesmo que falso. O caso Collor é exemplificativo, quando ouvido pelo juiz no ato da prisão disse não ter qualquer problema de saúde e nem fazia uso de qualquer medicamento. Curiosamente ao ingressar na prisão, talvez perplexo pela ausência da parceria, lembrou-se ou lembrou-se o advogado que era portador do mal de parkinson. Pronto, foi para casa! mas as vítimas (sim vítimas) do 08 de janeiro, acusadas de pretenderem dar um golpe usando uma bíblia e vendendo algodão doce, continuam presas e algumas já condenadas ao cárcere por longos anos. Tens razão, precisamos continuar apontando insistentemente os crimes que a esquerda continua a cometer.Dimas Nascimento - 20/05/2025 03:50:06
O que está acontecendo no Brasil é o que aconteceu e acontece na Venezuela. Esta, de exportadora de Petróleo bruto e processado, dona dos maiores campos mundiais de petróleo, hoje não consegue abastecer seus carros velhos, pede ajuda ao Irã. Exportava aço em bobinas, competindo mundialmente, hoje tudo sucateado. Porquê? Os larápios tomaram conta dos postos chaves, maiores salarios e oportunidades de desvios. Sendo larápios tornam-se normalmente incompetentes, pois suas energias vão para o roubo, não para tentar fazer o melhor para sua organização. O resultado é invariavelmente o desastre econômico, na sequência, o social. Este é o caminho que estamos trilhando a passos largos.Juan Albornoz - 20/05/2025 00:25:02
Roubam os que legislam, roubam os que executam, roubam os que julgam; cada um nas suas respeitivas moedas: leis, dinheiro, julgamentos. A aparente desarmania dos poderes é tão mentirosa como o juramento à bandeira. O povo, como grande prejudicado é também o grande culpado, uma vez que escolheu os que governam e os que escolhem. Fica mais interessado na Madona e naquela outra cujo nome não lembro nem quero lembrar de que sair nas ruas a defender seus direitos, sua honra, sua dignidade. Temos patria? Com certeza NÃO! Temos condições de recuperá-la? SIM, pero......NELSON DE AZAMBUJA - 19/05/2025 12:00:16
Só acho que o Collor (bem como todos os collors brasileiros, que só no congresso são muitos!) em vez de dizer o que disse ("Cadê os outros"), deveria nominar todos os outros e mostrar todos os documentos comprobatórios que tenho certeza ele possui!Frederico Hagel - 19/05/2025 10:16:22
Muito bem colocado. Sagaz e bem encaixado na situação do país do futuro....que nunca chega.Decio Antonio Damin - 19/05/2025 10:05:37
Pelo que eu entendi a prática foi montada em governos anteriores e maximizada agora no Lula III. A alegada atitude de "nada fazer" por desconhecimento do fato é risível e soa como um deboche, não só às vitimas mas a todos os brasileiros !!! Afinal... o que estavam fazendo lá no Ministério? Apenas aproveitando as benesses e os louros do cargo!!!? DEVOLVER? Sim!!! PUNIR os culpados (ativa ou passivamente)? ...É absolutamente necessário... TODOS, sem exceção!!!Marilia Coleta - 19/05/2025 09:17:49
Muita precisão no uso da nossa belíssima lingua e muita criatividade dessa mente brilhante. Amei.Afonso Pires Faria - 18/05/2025 11:13:57
Agora te superastes. Conseguistes enquadrar o governo de plantão, no crime verdadeiro deles, e que eles imputam aos inocentes.