Percival Puggina

27/02/2025

 

Percival Puggina

            Poucas situações tão ridículas quanto o esquerdista radical se apresentar em versão trans, mãos limpas, unhas feitas, voz de monge e vestes alvas, a condenar discursos de ódio e notícias falsas. Sustenta, em tom solene, que a mentira [alheia] põe em risco a democracia e a boa política. 

A carreta da história vivida me traz lembranças do bandido Fidel Castro durante visita oficial aos Estados Unidos em 1959, imagem de “mocinho”, afirmando à imprensa mundial que o movimento revolucionário cubano não era comunista. Semanas antes, ao entrar vitorioso em Havana, afirmara às mães cubanas que, por sua causa, “nunca iriam chorar”. Dias depois, os fuzis começavam a espocar no “paredón” revolucionário. Fidel e a esquerda pedagógica brasileira, aprenderam de Lênin, Goebbels e Stalin: com a verdade, os totalitarismos não dão um passo. Hoje, mentem para nossos estudantes nas salas de aula do Brasil.

Não quero fulanizar o texto. Mas todos sabem o quanto é incomum encontrar fiapo de verdade em qualquer afirmação que Lula faça. Uma das consequências dessa condição de existência política é a introdução no vocabulário corrente das palavras “narrativa” e “fake news”. O relato histórico sempre conviveu com a diversidade de interpretações. Narrativa é outra coisa: é a adulteração do fato. Foi o que Lula, entre afagos, recomendou ao amigo Maduro – lembram? – que criasse a sua “narrativa”. E o venezuelano fez isso mesmo: enfiando a faixa no próprio peito, mentiu que ganhou a eleição perdida. A mentira é frequentadora assídua do embate político. A esquerda, porém, tem nisso uma longa história e disseminada escola. Na prática nacional, o vocábulo “fake news” entrou para o vocabulário brasileiro como forma de criminalizar a mentira (quando não a simples opinião) proveniente da direita porque só a esquerda tem os poderes para oficializar “verdades”. Ficou claro, agora?

Não é diferente com o “discurso de ódio”. Quanto ódio nasceu do fracionamento social causado pelas políticas e estratégias identitárias abraçadas pela esquerda! E quanta censura foi imposta colando etiquetas e sanções de “discurso de ódio” contra meras e legítimas expressões humanas de indignação ante os excessos do Estado!

“E o futebol do título do artigo?”, perguntará o leitor atento. Pois então... Você já percebeu como são incomuns a mentira e o discurso de ódio no jornalismo futebolístico? Sabe por quê? Porque a comunicação é livre por todos os meios disponíveis, o interesse popular pelos temas é grande, os fatos da bola circulam amplamente e não existe censura nem sigilos de cem anos para preservar mentiras, gerar suspeitas e jogar no acostamento a carreta da história. Pense nisso.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

 

Percival Puggina

23/02/2025

 

Percival Puggina

           

         O desabrigo da lei foi uma característica comum aos campos de concentração e aos gulags soviéticos.

         Corporativismo, colegialidade e espírito de confraria, tão percebidos na atual composição do Supremo Tribunal Federal, não são expressões de reverência e apreço pela instituição.

Os autoelogios e o narcisismo, bem como o gosto por homenagens, luzes das câmeras e protagonismo político não combinam com a discrição inerente à missão judicante. Se “a boca fala daquilo que está cheio o coração”, pergunto: podem cumprir bem sua missão judicante pessoas cujo vocabulário profissional convive bem com adjetivos como “extremistas”, “terraplanistas”, “negacionistas”, aplicados àqueles que ainda não foram julgados e que ainda irão julgar?

Tivessem suas excelências a reverência e apreço que tenho pela instituição do Supremo Tribunal Federal não fariam distinção de pessoa, não se deteriam na “capa do processo” (para usar analogia aplicada pelo ex-ministro Marco Aurélio Mello ao referir certas condutas). Ou numa outra que me vem à mente agora: “Pau que não bate em Palocci não deveria bater em Cid!”. Ou ainda esta contradição: “Se Adriana Ancelmo, ex-primeira-dama do Rio de Janeiro, pode sair da prisão para cuidar dos filhos, por que o mesmo direito é negado à cabelereira Débora dos Santos?”.  E ainda esta pergunta dirigida às consciências: “Onde fica mais imprópria e alarmante a expressão ‘Perdeu Mané’? Na boca de um ministro do STF ou escrita por uma cidadã, com batom, na estátua de Têmis?”. Quando é maior o dano: ao serem vandalizados bens materiais públicos ou ao serem afrontados repetidamente direitos individuais e preceitos constitucionais?

Eu poderia me alongar tediosamente na lista de atos explícitos de censura prévia, de ameaças que redundaram em conveniente autocensura, à qual poucos, muito poucos, ficaram corajosamente imunes. Quem acompanhou o noticiário sobre as audiências da Corte Interamericana de Direitos Humanos no Brasil certamente formou uma boa ideia do tamanho dessa lista. Não posso deixar de lado, porém, a responsabilidade direta do Senado. Ela acaba de ser ratificada por palavras do “novo” e notoriamente omisso presidente, senador Davi Alcolumbre, para quem a anistia “não é assunto dos brasileiros”.

Intoxicado pelos vícios que provocam esse desinteresse do Senado, o Brasil – máxima vergonha! – tem e mantém um campo de concentração ou um gulag onde cidadãos vivem ao desabrigo da Constituição e das leis, privados dos direitos que elas conferem aos piores criminosos. Quanto foi que os fins passaram a justificar os meios?

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

20/02/2025

 

Percival Puggina

           Todos os males destes dias têm uma causa esquecida.

Ao longo de décadas, por centenas de vezes, observei certas decisões políticas serem criticadas como “burrice”. Tal juízo sempre me pareceu precipitado. Mandatos eletivos podem ser obtidos por pessoas despreparadas, de fala tosca e inadequada, desonestas, oportunistas, mas burras, raramente serão.

O que mais tenho observado é a esperteza se fantasiar de burrice e passar a trote, zurrando. Pense, por exemplo, na Assembleia Nacional Constituinte de 1988. Estava concebida para ser exclusiva, ou seja, os eleitos fariam a nova constituição e iriam para casa. Não disputariam um mandato parlamentar na Câmara ou no Senado. Era uma condição importantíssima, pois faria com que os eleitos para escrever a Constituição tivessem em foco apenas a elaboração de uma Carta para o melhor futuro da nação brasileira. A opção por uma constituinte congressual fez seus membros priorizarem um melhor futuro político para eles mesmos.

Foi assim que a esperteza preservou a cabeça de burro enterrada no centro do ordenamento político nacional desde a proclamação da República. Por isso, temos uma Constituição com tantos direitos e tão poucos deveres. Por isso, estamos submetidos ao pior sistema eleitoral do mundo. Por isso, pagamos os custos populistas do presidencialismo. Por isso, o voto distrital (um modelo mais sábio) sequer entra em discussão, posto que com ele extinguiria a confortável distância entre o representante e o representado. Por isso, as dinastias se sucedem carregando pelo tempo costumes da Casa Grande. Por isso, as emendas parlamentares se formalizam como “instrumento da governabilidade”. Por isso, custeamos muitos partidos de poucas ideias. Por isso, nossa permanente instabilidade econômica, política e jurídica.

Por isso, também, a PEC que acaba com o foro especial por prerrogativa de função – “o foro privilegiado” – teve aprovação unânime pelo Senado há sete anos, mas jaz em total abandono na porta do plenário da Câmara dos Deputados. Nenhum presidente a põe em votação. Aquela unanimidade no Senado de 2017 não foi um mérito, mas uma vergonha! Os senadores sabiam que a Câmara jamais acolheria a batata quente que lhe repassaram e ninguém mais lembra que a crescente impopularidade do STF tem origem nessa esperteza. Os senadores continuam aprovando, em inúteis “sabatinas” para inglês ver, as mais absurdas indicações feitas pelos governos para a corte.

Agora, os supremos olham com preocupação para a eleição do Senado em 2026. Tudo indica que uma provável nova maioria possa dar um basta à “vertiginosa ascensão política” do STF, fazendo que ele volte a ser o que lhe corresponde como poder judiciário: poder inerte e imparcial, agindo apenas quando provocado.

O vigor da democracia vem da qualidade das escolhas e da proximidade entre o representante e o representado. Os verdadeiros disparates que hoje desativam freios e contrapesos constitucionais se devem à ruptura da comunicação entre representantes (eleitos) e os representados (eleitores). Para quem não lembra, estes últimos, não por acaso, são a fonte de onde emana todo poder.

Boa parte do mundo civilizado faz eleições distritais. São menos burros? Não! Eram melhores as intenções de quem fez as regras.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

15/02/2025

 

Percival Puggina

           Nem as opiniões mais pessimistas poderiam conceber, na tarde do dia 8 de janeiro de 2023, a narrativa do golpe de Estado e da abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Se alguém disser que anteviu isso, está influenciado pelo que passou a ser papagaiado pela mídia trans, aquela que se sente confiável, mas virou militante da catástrofe nacional. Para a opinião pública imune ao Consórcio Goebbels, não havia e continua não havendo, pelo direito brasileiro, forma de enquadrar como golpe de Estado e abolição violenta do Estado Democrático de Direito aquilo que assistíamos pela TV.

Poderia alguém imaginar, presenciando os fatos, até onde iria a capacidade de conceber, criar e pôr a funcionar, nos mínimos detalhes, o campo de concentração judicial, com KZ-Kommandant e tudo, privativo inferno na terra que seria proporcionado àquele grupo de manifestantes? “Deixai toda esperança, oh vós que entrais!”, lê Dante no frontispício do inferno...

Durmamos bem com isso ou não, escandalizados ou não, o fato é que uma revolução está em curso no Brasil. Ela tem uma longa e ininterrupta história pelo lado esquerdo do arco ideológico. A silenciosa revolução seguia seu curso de modo exitoso pelo domínio dos meios culturais, quando – máxima infâmia! – o ceguinho da direita achou um vintém e venceu a eleição de 2018. A expressão “o ceguinho achou um vintém” era usada frequentemente por um saudoso amigo para designar aquelas ocasiões em que a livre ação humana proporciona o inesperado, trazendo ao palco o “Imprevisível da Silva”. No caso, ele desmontou as certezas marxistas sobre o que faz andar a história.

Entraram em cena, então, os atores das instalações palacianas do STF. Estavam ali, nomeados por FHC, por Lula, Dilma e Temer. Não eram “editores da nação”, nem “poder moderador”, nem “os únicos supremos”, nem lhes cabia “empurrar a história”. Não eram “analistas de cenários”, nem tinham “protagonismo político”, nem estava entre suas atribuições a tarefa de “derrotar” algo ou alguém. Ajustaram, porém, que deviam “salvar a democracia”, como proclamam todas as revoluções. Quando arregaçaram as mangas, deixaram de lado suas teses acadêmicas. Afinal, não é com elas, mas com a política, que se empurra a história, certo? Toda revolução precisa de um AI-5 que mande o resto às favas. E foi assim que o manejo da política, em ascensão vertiginosa, passou para o comando do Supremo.

O problema da extrema esquerda brasileira, hoje, é a overdose. Com overdose, nenhuma receita funciona e essa fase da revolução parece estertorar porque não se salva o Estado de Direito com menos Direito, nem a Liberdade com menos Liberdade. Não foi por falta de alertas.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

 

 

Percival Puggina

11/02/2025

 

Percival Puggina

         Na vinda ao Brasil, os representantes da Comissão Interamericana de Direitos Humanos trocaram os pés pelas mãos quando iniciaram suas atividades pelo gabinete do presidente do STF.

Terão ido verificar se estão bem protegidos os direitos humanos dos senhores ministros? Se seus poderes, prerrogativas e mordomias são restringidos ou usurpados por algum outro poder de Estado? Quais queixas de trazer lágrimas aos olhos terão eles ouvido de seus visitados em meio aos estofados e tapetes da suntuosa sala de reunião?

Vi, também, que foram ter audiência com a ministra de Direitos Humanos de um governo e de um grupo político que desde 2003, antes de se disseminarem as redes sociais, já se empenhava em restringir a liberdade de imprensa. Nessa visita, ouviram relato do Grupo de Trabalho que definiu a pauta das ações do ministério. Como de hábito, sempre que a esquerda trata desses assuntos, o viés é ideológico: a função da pasta é enfrentar “o discurso de ódio e extremismo no Brasil”. Esses dois inimigos se identificam como “atos antidemocráticos, racismo, xenofobia, homofobia, misoginia e intolerância religiosa”. Tudo, claro, para “proteger as crianças”.

Até parece que sempre se preocuparam com as criancinhas diante do que acontece nas salas de aula ou frente ao que, há décadas, é transmitido pelos canais de TV. Até parece que não lhes diz respeito o que vem acontecendo com a liberdade de expressão política, que não mais é respeitada sequer nas tribunas do Congresso Nacional. Até parece que todo esse empenho restritivo não se volta contra a direita e, em especial, contra suas principais lideranças e comunicadores. Por isso mesmo, o humor político, como se sabe, foi parar no submundo.

Depois de visitar o inerte Congresso Nacional, onde as presidências e as maiorias só se motivam por temerosa autoproteção e por cobiçadas emendas parlamentares, imagino que irão até as vítimas: aos que sofrem os bloqueios de redes e contas bancárias, as interdições, as restrições, a supressão de direitos processuais, as pesadas penas de prisão por um golpe que não houve nem teria como haver, as famílias dos que se viram forçados a abandonar o país.

É o que suponho, assim como suponho que, depois disso, informados pelas vítimas do arbítrio, retornarão às autoridades da República, aos donos do Brasil, para entrevistas menos protocolares e realmente esclarecedoras.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

Percival Puggina

09/02/2025

 

Percival Puggina

             Leio que alguns estados da federação, começando por Santa Catarina, estão debatendo leis para impedir que professores utilizem músicas ou vídeo clips que façam apologia ao crime, ao uso de drogas ou que contenham conteúdo sexual e erótico nas escolas públicas e privadas do estado. No caso catarinense, a lei já está em vigor e incide sobre educandários públicos e privados, com tratamentos diferentes. Na rede pública, envolve processo administrativo; na rede privada, advertência e multa. Só o ensino superior fica fora das referidas restrições.

Ou uma patologia afetou a pedagogia ou pedagogos enfermos buscaram as salas de aula para exercer militância. Não há outro motivo para que providências legislativas com esse teor se façam necessárias e para que pais interessados na educação dos filhos sejam vistos como intrusos no reino onde o toco de giz é cetro e a palavra do professor é lei. Há uma enfermidade muito perversa fazendo vítimas entre pessoas que abusam da nobre missão de ensinar nossos pequenos.

Quem quer controlar a sociedade e empurrar a história tem que controlar a Educação. Nos primeiros anos deste século, em todo o país, leis estaduais e municipais buscaram impedir a introdução nas escolas da tão pretensiosa quanto anticientífica ideologia de gênero. Acompanhei a votação aqui em Porto Alegre e vi o modo frenético como numeroso grupo de professores e professoras se empenhou em impedir a deliberação. Havia entre eles uma necessidade premente de conversar sobre sexualidade e sobre “gênero” com as crianças. Arre! Não admitiam a vedação que acabou caindo pelas mãos do STF, que se creditou com mais essa importante contribuição à educação nacional...

Enquanto muitas portas ainda estavam fechadas ao tema, ele entrou pela janela das salinhas de aula, de mãos dadas com esse estrupício pretensioso chamado linguagem de gênero neutro. Quem não vê artimanhas totalitárias nisso tudo? Por que agem sempre assim, ignorando as próprias trapalhadas na vida das sociedades? Engels explica: “Como Darwin descobriu as leis da evolução da natureza, Marx descobriu as leis de evolução da sociedade”.

Bingo! Estabelecido o dogma, as mentes marxistas se reconhecem titulares da profecia. Elas sabem onde tudo vai chegar e se desinteressam por qualquer roteiro de viagem que não empurre a história para o futuro idealizado. O sumário de todas as revoluções comunistas formais ou informais – como a que está em curso em nosso país – é o relato da certeza sobre um futuro que precisa das cartilhas e das salas de aula para ganhar continuidade e justificação. Abolir com a família tradicional, “burguesa” (adjetivo empregado por Marx), é parte nuclear da estratégia.

Pronto! A confusão, a insegurança e o sofrimento instalados em mentes de crianças e adolescentes só não são percebidos por quem não quer ver.

A intensa dedicação a esse desserviço levou muitas escolas confessionais, disfarçadas com nomes que são objeto de devoção religiosa, a lançar suas redes sobre as salas de aula. Como não se pode servir a dois senhores, o cristianismo deixa, ali, de ser religião para que o marxismo infunda fé em seus devotos. Esquecem as duríssimas palavras de Jesus dirigidas a quem “escandalizar um desses meus pequeninos...”.

A liberdade de expressão e de cátedra não se confunde com autorização para catequese política, ideológica ou moral. Se o uso do poder para assédio sexual é crime, não tem menor gravidade o seu emprego para assédio mental dos alunos.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

04/02/2025

 

 

Percival Puggina

         Assim que se reconfigurou o centrão com os congressistas eleitos em 2022, viu-se que, na vida real, o bloco superava, em votos, tanto o governo quanto a oposição. O prato mais pesado da balança passou a ser aquele para onde iam os quatro partidos desse numeroso grupo. Quase sempre era o governo e quase sempre mediante votos conversíveis em emendas parlamentares, cargos etc.

Nestas eleições para as mesas do Senado e da Câmara, não houve aposta perdedora. Todas as cartas estavam na mesa, bastava lê-las para conhecer os resultados finais. Hugo Motta e Davi Alcolumbre presidirão e decidirão as pautas das duas casas até a posse do futuro presidente da República e dos congressistas que venham a ser eleitos em 2026. Será um tempo importante, estratégico, esse em que exercerão seus poderes.

Governo e oposição querem apoio do centrão para o próximo pleito presidencial. Com tais cartas, governo e oposição namorando esse “fiel da balança”, era óbvio que os votos dos dois blocos, antagônicos em tudo, se iriam somar para proporcionar uma quase unanimidade aos dois candidatos.

Se me agrada essa dependência do centrão? Claro que não! Ela se adapta à juristocracia. Ela paralisa o Congresso em pautas importantes para a cidadania. Ela sustenta e aprofunda a gastança do Estado. Ela é corresponsável pelo empobrecimento da população brasileira, coisa que se vê nas ruas. Os preços cada vez mais caros para nós são baratos para os argentinos que invadem, como nunca, as formosas praias de Santa Catarina. Eles têm Milei; nós, Lula, o PT e o centrão. Não bastassem estas evidências, ainda carregamos os custos de um déficit democrático, de um déficit de liberdade, de justiça e de apreço à verdade e ao bem.

Por isso, louvo os candidatos que se apresentaram como alternativa, entre eles o meu jovem conterrâneo Marcel Van Hattem. Por terem sido candidatos e usarem seus tempos na tribuna foram sinais de contradição ante o quadro político, institucional, econômico e social brasileiro. Alguém precisava dizer que aquela não era a melhor festa de uma democracia. Alguém precisava atirar um punhado de verdades ao palco daquele teatro em que se converteu a política no coração da República.

No entanto, não reprovo a conduta da oposição. Como escrevi, na semana passada, no artigo “Por uma Oposição+”, ela precisará do centrão, se quiser vencer em 2026. Sim, para salvar o Brasil tem que obter isso, demonstrando a eleitores e lideranças do centrão que Lula e o petismo representam chumbo nos pés para a  futura corrida eleitoral.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

 

 

Percival Puggina

01/02/2025

 

Percival Puggina     

        É assombrosa a capacidade do jornalismo oficial para manter em pauta um não assunto. Sim, sim, porque o assunto deveria ser outro, comojá veremos.

De quanto entendi, os “golpistas” operaram desde 2019 uma organização criminosa com o intuito de acabar com a democracia no Brasil no dia 8 de janeiro de 2023. De comércio de joias à Covid, de reunião com embaixadores a discurso em 7 de Setembro, passando, talvez, pelo assédio à baleia e pelo atestado de vacina, tudo serviu ou serviria para a direita demolir o estado de direito que vinha andando bem direitinho. Tão direitinho, que Lula, por culpas em cartório, foi preso no dia 7 de abril de 2018, três dias após o STF ter negado por 6 a 5 o derradeiro habeas corpus preventivo apresentado por sua defesa. Sim, o STF fez isso.

Na minha perspectiva, a ascensão de Bolsonaro no processo eleitoral de 2018, contraposto ao precipício em que o PSDB despencou, viraram a chave dentro do Supremo. Alckmin fez apenas 4% dos votos naquele pleito. Começou, ali, a “vertiginosa” ascensão institucional e política da corte e do TSE. Se quem não tem cão caça com gato, só Lula e o PT restaram para o establishment.

O trecho vazado da colaboração premiada de Mauro Cid deixa claro que os editores do relatório da PF cuidaram de obter dele nomes aos quais atribuir envolvimento com o suposto golpe. Vou fazer de conta que não vejo um queijo suíço cheio de buracos em toda essa narrativa e analisar o que me parece importante. (Do que está em sigilo e desconheço não tenho como falar).

Naqueles dias, se algum serviço secreto colocasse escuta em qualquer banco de praça, parada de ônibus, mesa de bar ou sala de espera, iria ouvir conversas sobre o ambiente político nacional e capturar opiniões como as que aparecem no depoimento relatado pela PF. Assim eram as coisas, no Brasil, de modo especial nos dois meses imediatamente posteriores ao pleito de 2022. As inconformidades de milhões de brasileiros eram muitas e incluíam, principalmente, o resgate de Lula da carceragem da PF de Curitiba, a condução do processo eleitoral e a falta de transparência da apuração. Os ministros do STF parecem não entender que uma coisa é a confiabilidade das urnas; outra é a transparência da apuração aos olhos da sociedade. O povo vê que o povo não vê. O sigilo e a censura também são ruidosos.

Em tal ambiente, seria inimaginável, impensável – diria mais: civicamente irresponsável e inadmissível – que pessoas próximas ao presidente não tratassem desses assuntos com ele, externando as próprias opiniões. Até aí, coisa alguma é crime, pois não passa de cogitação, de desejo, de anseio, de medo do que viria e veio, que simultaneamente estavam na alma e se expressavam nas vozes de milhões de cidadãos de bem e que merecem respeito, mesmo que sua liberdade de expressão pareçam deixar de o merecer.

Não se salva a democracia com menos democracia, nem o estado de direito com menos direito, nem a liberdade com menos liberdade. Esse é o assunto.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.

Percival Puggina

29/01/2025

 

Percival Puggina

 

         Como soa falso e meramente retórico o humanismo lacrimoso da extrema esquerda! Nos primeiros dias do governo Trump, rotineiro desembarque de brasileiros deportados abriu as cortinas para as mistificações teatrais do amor ao próximo. Nunca se ouviu um lamento sequer causado pelas dezenas de voos similares sob o governo Biden. No entanto, bastou Trump retornar ao gabinete oval da Casa Branca para que a rotina se tornasse motivo de escândalo...

Hipocrisia de causar náusea! Aliás, é impossível levar a sério qualquer invocação de respeito a direitos humanos feita por quem, de modo histérico, se põe a gritar “Anistia não!” quando vê um ministro do STF.

Como não perceber a palhaçada das reclamações quando a lona do circo está aberta sobre os atores? Durante décadas, partidos de esquerda premiavam com viagens a Cuba os melhores de sua rapaziada militante (no caso do partido a meritocracia é válida). Não sei se informavam a esses “turistas” que, naquele “paraíso”, os jovens cubanos que resistiam ao comunismo eram levados para campos de concentração e trabalhos forçados (as UMAPs - Unidades Militares de Apoio à Produção).

É preciso mandar a própria dignidade às favas para defender direitos das mulheres, estado laico e democracia e ... aproximar-se do Irã. É preciso abrigar-se numa casamata intelectual e cancelar neurônios para venerar Fidel Castro, Che Guevara, formar bloco com países de partido único e se dizer democrata. É preciso imaginar-se muito sólido no poder para negar o que faz enquanto faz, sabendo que sabemos o que faz.  A propósito, como gritam golpe aqui, onde golpe não houve, e mandam representante à posse de Nicolás Maduro, subscrevendo a imensa fraude eleitoral que ele promoveu?

No império das incoerências absolutas, são solidários com criminosos reais e implacáveis com adversários. Em favor daqueles, são garantistas, defendem políticas de desencarceramento, dizem que prender não resolve, afirmam que no Brasil se prende demais e que nosso sistema penal é vingativo. Em desfavor dos adversários, tolerância zero, retiram-se as garantias, a cadeia é a solução e lá tem lugar para todos. Desse moinho dos fatos, não se espere um farelo de verdade.

Percival Puggina (80) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras