Percival Puggina
20/09/2022Percival Puggina
Sou cidadão de um país onde as decisões mais estapafúrdias são tratadas como parâmetros de normalidade. Alguém dirá que é mera questão de ponto de vista. No entanto, sempre que, em extraordinário esforço de angulação, me desloco para esse tal “ponto de vista”, vejo tudo ainda pior. Muito pior!
Digo e provo. Como podem afirmar que a democracia e o estado de direito que todos queremos estejam sendo servidos ante as situações que descrevo a seguir?
Um criminoso condenado em três instâncias por corrupção passiva e lavagem de dinheiro disputa a presidência com alegadas possibilidades de vitória.
Bandidos podem descer do morro para a cidade, mas a polícia não pode subir da cidade ao morro.
Algo que 999.999 pessoas a cada milhão veem como blindado e opaco é oficialmente proclamado modelo de transparência.
Os constituintes de 1988 são depostos por pequeno grupo de guardiões daquele trabalho e esses guardiões utilizam a Constituição mais ou menos como maîtres e chefs usam sebosos livros de receitas: ao seu gosto.
O crime de“lesa-majestade”volta à cena, com a consequente morte cívica dos réus e se instala a prática de estender as restrições de direitos às suas famílias.
Inquéritos são abertos para permanecer ameaçadoramente abertos.
Snipers e equipes antibombas são empregados para proteger o Estado que se sente acossado, ameaçado, por cidadãos que rezam, cantam o hino nacional e falam verdades com a plena convicção de que sequer serão ouvidos.
A sociedade é alvo de ameaças, vê a censura se impor, tem sua liberdade de opinião e expressão tolhida de múltiplas formas,assiste à brutalidade e à injustiça acontecerem enquanto a vida privada se torna objeto de pescaria probatória.
Os itens acima são apenas alguns dentre muitos, num país onde as palavras vão para um lado e as ações na direção oposta.
É o “Estado de Direito” transformando a lei em seu escudo protetor e não mais servindo ao cidadão e à sua liberdade.
É a “democracia” da surdez seletiva do judiciário e do parlamento de aluguel.
Mudemos, agora, para o ponto de vista dos novos donos do poder. Estão ali os “novos príncipes” das lições de Machiavel. Não lhes passa pela cabeça que nas sociedades modernas, a injustiça praticada pelo Estado contra um cidadão é sentida na sociedade inteira. Por sentir isso há quatro anos é que afirmo ser terrível ver o país desde o ponto de vista daqueles que assim agem ou a tudo permitem.
Explicando melhor: os novos príncipes sabem que onde existe o bem existe a condolência, o sentir com os demais. Não é a mesma coisa, não é sequer parecido com o “mexeu com um mexeu com todos”– na expressão da pequena confraria dos sem voto. É aquilo que nos vem à alma quando a injustiça se instala, a lei é descumprida e a Constituição manejada, repito, como maîtres e chefs usam seus livros de receitas: dão uma olhada, mas fazem como querem.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
16/09/2022Percival Puggina
O rapaz, de nome Fernando, acalentava o sonho de possuir um sítio na aprazível Serra do Itapetinga para ali reunir amigos e familiares em momentos de convívio. Como não dispusesse dos meios necessários, juntou-os entre pessoas de suas relações e adquiriu, após muita busca, no município de Atibaia, uma propriedade com as características almejadas.
Vencida essa etapa, cuidou, então, de dar jeito nas benfeitorias existentes. Tanto a moradia quanto as demais construções e áreas de lazer precisavam de reformas que seriam custosas. Mas nenhuma dificuldade ou restrição financeira afastava o proprietário de seu objetivo. Fernando, como se verá, era robustecido pela têmpera dos vencedores. Se havia obra a ser feita no seu sítio, nada melhor do que confiá-la à maior empreiteira do Brasil.
Marcelo Odebrecht, requisitado, deslocou gente de suas hidrelétricas, portos e plataformas de petróleo, subiu a serra e assumiu a encrenca: casa, alojamento, garagem, adega, piscina, laguinho, campinho de futebol. Tudo coisa grande, já se vê. Vencida essa etapa, o ambicioso proprietário se deu conta de que as instalações da velha cozinha remanescente não eram compatíveis com os festejos que ansiava por proporcionar aos seus convidados. Para manter o elevado padrão, Fernando não deixou por menos. Deu uma folga à primeira e convocou a segunda maior empreiteira do Brasil, a OAS. E o pessoal de Leo Pinheiro para lá se tocou, prontamente, a cuidar da sofisticada engenharia culinária do importantíssimo sítio. Afinal, uma obra desse porte não aparece todo dia.
Opa! Problemas de telefonia. Como habitar e receber amigos em local com tão precárias comunicações? Inconveniente, sim, mas de fácil solução. Afinal, todos nós somos conhecedores da cuidadosa atenção que a OI dispensa a seus clientes. Certo? Bastou comunicar-lhe o problema e uma nova torre alteou-se, bem ali, no meio da serra.
Concluídas as empreitadas, chaves na mão, a surpresa! Quem surge, de mala e cuia como dizemos cá no Sul, para se instalar no sítio do Fernando? Recém-egressa da Granja do Torto, a família Lula da Silva veio e tomou conta. Veio com tudo. Com adega, santinha de devoção, estoque de DVD, fotos de família e promoveu a invasão dos sonhos de qualquer militante do MST. Lula e os seus se instalaram para ficar e permaneceram durante cinco anos, até o caso chegar ao conhecimento público. Quando a Polícia Federal fez a perícia no local não encontrou um palito de fósforos que pudesse ser atribuído ao desafortunado Fernando. Do pedalinho ao xarope para tosse, era tudo Lula da Silva.
Eu não acredito que você acredite nessa história. Aliás, contada, a PF não acreditou, o MPF não acreditou e eu duvido que algum juiz a leve a sério. Mas há quem creia, talvez para não admitir que, por inconfessáveis motivos, concede a Lula permissão para condutas que reprovaria em qualquer outro ser humano.
Nota: Este artigo reproduz, por oportuno, artigo anterior, publicado em 30 de novembro de 2019.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
14/09/2022
Percival Puggina
No Rio Grande do Sul, logo após o 7 de setembro, festeja-se o 20 de setembro, data estadual que celebra a memória da Revolução Farroupilha.
Que fique claro, logo nas primeiras linhas: sou gaúcho porque sou brasileiro e não o contrário. Ser gaúcho é uma condição regional, do extremo sul do Brasil, nestas terras que Hélio Moro Mariante, em imagem poética, denominou “Fronteira do Vaivém” devido às andanças das linhas divisórias nas disputas entre portugueses e espanhóis. Ser brasileiro é uma condição anterior, tem raízes ibéricas; é a cultura matriz.
Da condição regional deriva um tipo humano mundialmente conhecido, pronunciado ao gosto do falante em qualquer dos dois idiomas. Esse tipo humano preserva elevada estima por sua história e tradição, que não nos fazem melhores que ninguém, exceto pelo fato exemplar de termos especial afeição por este pedaço de chão. Quem dera fosse tal sentimento compartilhado por todos os brasileiros em relação ao Brasil e ao seus respectivos estados e municípios. Estaríamos mais perto de constituir uma efetiva Federação, se assim fosse.
A essa característica, soma-se entre nós uma vocação bélica nascida, bem cedo, do desejo português de estender o extremo sul do vice-reino ao Rio da Prata, seu limite geográfico natural. Tal fato transformou a província numa praça da guerra de fronteiras, eventos a partir dos quais, no Continente do Rio Grande de São Pedro, os momentos de paz eram frequentemente interrompidos por conflitos de variadas motivações. E assim seguiríamos pela República adentro.
Em 1835, a pequena população do Rio Grande se sublevou. O país vivia um período turbulento. D. Pedro I havia abdicado e o período regencial patinava em dificuldades políticas internas. A distante província sulina entregava sua população masculina às guerras do Império e este quase nada aplicava aqui dos tributos que arrecadava. Não havia estradas, nem pontes, nem escolas. Os gaúchos fizeram, então, o que mais sabiam: foram às armas. Era o dia 20 de setembro de 1835.
Os 10 anos ao longo dos quais se estendeu a epopeia farroupilha marcou mais fundo ainda a cultura regional. Os gaúchos de 35 perderam a guerra, mas a derrota não impediu que a data ficasse esculpida na alma do povo de modo mítico. Foram os objetivos pelos quais lutaram os farroupilhas que concederam maior grandeza à sua revolução: autonomia que, depois, viria com a federação; a república, cujos ideais da “res publica” pareciam capazes de superar os embaraços da monarquia naquele período da história. Não correspondeu ao que se veria depois.
Nossos antepassados farroupilhas foram precursores de ideais nobres que ainda devemos perseguir, contanto que tomemos consciência de nosso lugar no tempo e no espaço. Ou seja, na história e no lugar do berço.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
12/09/2022
Percival Puggina
Nossa Constituição está longe de ser boa. Em breve, o número de emendas empatará com o número de artigos. Mas é a que a casa oferece. Ainda assim, se não à levam em conta, se a interpretam segundo a conveniência do momento, se a transformam em massinha de moldar, se os constituintes originais são destituídos, as instituições se desconjuntam. E, mesmo inculta, a nação percebe, se desestabiliza e se desgosta. Contam demais com a ignorância da sociedade aqueles que assim agem e julgam merecer de todos, indistintamente, os rapapés de praxe que recebem em seu habitual entorno.
Como sabem meus leitores, sou um estudioso da triste realidade do povo cubano. Escrevi dois livros e centenas de artigos a respeito. Vivi, felizmente por uns poucos dias, a experiência de estar sob vigilância pessoal num estado totalitário. Porque mantive contatos com dissidentes, fui seguido, fui filmado, e... fui mal atendido quando busquei orientação e apoio na embaixada petista da época. Os fatos me fizeram entender muito bem a realidade daquele povo. Agora, sinto insegurança semelhante em meu país!
Sinto-me sob ameaças. Percebo a liberdade de expressão restrita. Observo um patrulhamento com cunho oficialista. Tomo conhecimento da existência de um Big Brother vasculhador da esfera privada, pescando palavras no espaço virtual, avaliando conteúdos. Sinto a pressão sobre as redes sociais e a restrição à temática política. Estranho esses inquéritos abertos para permanecerem abertos, sigilosos e atemorizadores. Assim como vejo a censura acontecer, percebo a injustiça sendo feita e sinto, na minha humanidade, a condolência que devemos sentir sempre que alguém dela é vítima.
Subitamente, noto haver mais sentido ético superior no senso comum de justiça (assim, com jota minúsculo), do que na Justiça com jota maiúsculo. A exemplo de milhões de brasileiros, meus olhos se voltam para o inerte Senado Federal. Hoje, eminentes senadores afirmam de público aquilo sobre o que já escrevi tantas vezes: “o Senado não julga ministros do STF e ministros do STF não julgam senadores”. Com isso, se esteriliza um importantíssimo preceito constitucional, na ausência do qual, tem-se espaço aberto para a ditadura, para a tirania! São 18 denúncias (impeachment = denúncia) contra quase todos os ministros.
Fato: da mesma forma que presidencialismo sem instituto do impeachment é ditadura, qualquer outro poder de Estado cujos membros não possam ser julgados e afastados também nisso se converte!
É para a omissão do Senado que se voltam as críticas dos senadores que explicitaram o que acabo de escrever – Álvaro Dias, Lasier Martins e Eduardo Girão. No entanto, que se haverá de dizer do STF sobre a parte omissiva que lhe corresponde nesse latifúndio de omissões?
Em uma lista do site Congresso em Foco, de 14/09/2021, leio que 15 senadores são réus ou alvo de inquérito no STF, num total de 5 ações penais e 25 inquéritos. Deste outro lado da mesma moeda, nada se fala.
Por quê?
Talvez algum cubano me ajude a encontrar a resposta.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
10/09/2022
Percival Puggina
Poucas expressões resumem tão bem os episódios do dia 7 de setembro quanto a dos leitores cujos comentários eram expressos em apenas duas palavras: “Foi lindo!”.
Foi mesmo lindo o que cada um viu por conta própria e o que cada um intuiu ao saber que aquelas mesmas imagens e emoções se repetiram em centenas de cidades em todo o país e no exterior. Lindo!
Horas depois, neste ambiente psicossocial de beleza, nobreza, civilidade, amor ao Brasil, coesão ética e estética nas cores da pátria comum, fomos afrontados pela constatação de que havíamos dado causa a terríveis sentimentos em setores bem específicos da sociedade brasileira.
Não estou pensando em Lula porque até para perder tempo tenho um conjunto muito superior de possibilidades. Seu repertório de ofensas, disparates e a baixaria de sua elevada autoestima são previsíveis. Estou pensando naqueles que, de modo unilateral, romperam relações com a sociedade. Para estes foi um dia triste...
Estou pensando nos inconformados e inconsoláveis da mídia, a respeito dos quais o Alexandre do bem, o Garcia, diz terem brigado primeiro com os fatos e, agora, com o povo.
Estou pensando nos ministros do STF, que devem ter passado a noite meditando sobre a dormência dos snipers e a sonolência das equipes antibombas em contraste com a implosão de seus delírios e paranoias ao som do hino nacional.
Estou pensando no quanto me divertiram as redes sociais onde os revolucionários de opereta perderam sua melhor oportunidade para descobrir o Brasil e, nele, alguns fatos básicos da vida. O Brasil real não é o de suas cartilhas e narrativas. Aos 200 anos da Independência, a nação pôde ver a si mesma. Ela já encontrou seu caminho e não aceita garrotes na liberdade. Ela diz não à tirania, aos cambalachos e às “estéticas jurídicas e políticas” que tentam aformosear intoleráveis omissões e prepotências.
Nada posso fazer com o desespero dos “democratas” sem povo, dos “juristas” da tirania e dos modeladores de noticiário.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
07/09/2022
Percival Puggina
O editorial de Zero Hora deste 7 de setembro alertava para o fato de ser nacional e de todos os brasileiros a data em festejos. Claro, claro, só que não. Para muitos, tais eventos são repreensíveis, motivo de revolta e leitura plana, chapada. O aparelho educacional brasileiro (aparelho, sim) se encarrega de disseminar esses preconceitos.
Em ampla maioria, têm sentimentos de animosidade em relação ao Brasil. Pesquisas periódicas registram um percentual nunca inferior a um terço da população que tem vergonha de ser brasileira. Conservadores é que não são.
Não é o meu caso. Tenho orgulho de ser brasileiro, exatamente porque conheço nossa história e vejo nela as extraordinárias realizações que antecederam o Descobrimento, o valor de nossos grandes vultos e o papel que nos corresponde na preservação da civilização ocidental.
Tenho vergonha é dos maus brasileiros que em ambientes fechados, além dos filtros de acesso, bem como nas trincheiras de um obscuro poder paralelo, trazem para o horizonte das possibilidades da corrida presidencial um ladrão condenado unanimemente por nove magistrados em três instâncias.
Tenho vergonha é do jornalismo manipulador que apoia qualquer bizarrice do Judiciário e toda uma plataforma de omissões do Congresso Nacional contanto que isso prejudique o Brasil e seu governo, ou vice-versa.
Tenho vergonha é dos que, para desconstruir o amor à pátria, entopem a juventude brasileira com toda maledicência que encontram em suas sebosas e sinistras cartilhas. Catam o lixo da história e o exibem, no alto dos telhados e das torres, na mídia e nos salões culturais, enquanto a beleza, a nobreza e a grandeza são varridas para baixo dos tapetes.
Bolsonaro não é combatido pelo que é, mas em virtude dos princípios e valores daqueles que o veem como um fio de esperança capaz de dar um salto de décadas sobre sua omissão.
Os que são contra essas convicções, revolucionários com contracheque ou subsídio, combatem Bolsonaro agindo por dentro do Estado ou à beira de seus recursos. E são contra Bolsonaro porque querem preservar a situação anterior à 2018, perfeitamente descrita pelo bem informado circuito de Alckmin, Palocci, Gilmar Mendes, e outros.
Nota do autor: este breve texto resume a essência do que falei, à tarde de 7 de setembro, à imensa multidão que tomou todos os espaços da Avenida Goethe, junto ao Parcão, em Porto Alegre.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
04/09/2022
Percival Puggina
Os golpistas do WhatsApp agem há muitos anos com total liberdade, a ponto de a plataforma se transformar no novo espaço de nossas cautelas e receios. Roubos de contas e de identidade, achaques a amigos de grupos, “narrativas” de sequestros de parentes, o diabo. Não sei se qualquer desses casos saiu do balcão da delegacia para a mesa de um promotor e foi desembocar no gabinete de um juiz. Mas sei que se por lá chegou, “não deu nada”. Esses patifes só incomodam a sociedade – quem por ela nessas horas? – e estão sob salvaguarda de uma legislação penal que se tem por virtuosa e moralmente superior à sociedade. Nesta, com seus anseios por encarceramentos e segurança, vivem as repreensíveis vítimas da bandidagem.
Agora, os “golpistas do WhatsApp” são respeitados homens de empresa, cuja periculosidade, a olhos policiais, senatoriais e judiciais, se agrava com a potencialidade de seus recursos financeiros. Aprendeu essa, leitor amigo? Marx já advertia sobre os "perigos" do capitalismo. O marxismo, claro, levou miséria e morte a centenas de milhões de lares e coube ao capitalismo resolver a encrenca, mas isso não é coisa que se diga contra acusações tão severas.
Severíssimas. Eu li toda a decisão. Foi como viajar com Aladdin no seu tapete mágico observando o movimento de fantasmas nas esquinas digitais. Foram 15 minutos que valeram mais 15 de insônia porque entre hipóteses, possibilidades e probabilidades, ilações, insinuações, presunções, indícios e mal fixados pontos de vista, nada vi que não se dissolvesse no ar. Sólido, mesmo, é o perigo que o ministro percebe em cada conservador e apoiador do atual governo.
Somos tratados como não pessoas de uma não sociedade. Ela não é percebida pelos que dizem defender a democracia e o estado de direito. Pois sirvam-me isso e liberdade que estarei bem servido! Mas não me venham quebrando inocentes ovos de primeira para fazer omelete de terceira, porque o que está posto à mesa não guarda mais qualquer semelhança com o que diz o cardápio constitucional.
Abro jornal e levo um golpe por dia.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
02/09/2022
Percival Puggina
Não tenho apreço por tudo que a esquerda combate. Mas tudo pelo que tenho apreço é combatido pela esquerda.
Refiro, entre outras questões: a dimensão espiritual do ser humano e o cristianismo em particular, o caráter universal dos direitos humanos, o respeito à vida desde a concepção, a instituição familiar, a inocência das crianças, a prioritária responsabilidade dos pais, o amor à Pátria, a liberdade de opinião e expressão, o direito de propriedade, a liberdade econômica, a prioridade da sociedade sobre o Estado (com ação estritamente subsidiária), a neutralidade política do judiciário e da administração pública, a independência dos poderes, a democracia representativa, o combate às drogas, a intolerância para com o crime e a posse de armas.
Por fim, a ideia de que o Estado existe para proteger a sociedade e não para proteger a si mesmo e desfigurar a vida boa (moral) de que fala Aristóteles em vidão para os seus.
No entanto, a humanidade, a Academia, o Ocidente, os partidos e políticos de esquerda parecem disputar criatividade para propor novas formas de humanismo que não recusam violência e arbitrariedade com vistas aos fins enunciados.
Como consequência, aquele conjunto de princípios e valores listados acima, que conservadores e liberais mantinham em comum, vem cedendo lugar a um autoritarismo de estrutura corporativista que ganha proporções alarmantes. Explicitamente, no Brasil, contamina todos os compartimentos do poder, a saber, com destaque: presidentes das Casas Legislativas, ministros do STF, membros dos conselhos nacionais do ministério público e da magistratura.
Em seu livro Teorias Cínicas, os autores Helen Pulckrose e James Lindsay chamam atenção para um dos efeitos desse autoritarismo: a infiltração de tais ideias no mundo acadêmico, desencadeando uma intolerância cujas consequências ocupam estridentes espaços no noticiário cotidiano.
Misturados, intolerância e ativismo compõem quadros onde:
- a liberdade perde espaço;
- todos os poderes são exorbitados;
- os direitos humanos são distribuídos, como tira-gosto de coquetel, a grupos politicamente organizados;
- a igualdade de todos perante a lei morre em favor de um igualitarismo sob medida para o cliente da hora, como roupa de alfaiate, e sob o impulso de reivindicações que supostos credores lançam sobre supostos devedores;
- a liberdade de culto e o respeito às religiões atingem todos os níveis possíveis de negação e vilipêndio.
O que explica a expansão desse fenômeno, notadamente no outrora promissor Ocidente? Durante décadas pude observar um amplo conjunto de ações que seria exaustivo enumerar aqui, sintetizados na estratégia de Gramsci para a hegemonia (comunista) e ampliados na pluralidade de vias abertas pelos pensadores frankfurtianos para destruição das bases culturais do Ocidente.
Pessoalmente, jamais formarei consenso com a ideia de que a moral possa ser objeto de arreglo, mediante concessões e mediações. Não, ela não é legitimada por decisão de um coletivo qualquer! Todos esses desastrosos e desastrados movimentos, sem exceção, buscam aquilo que denominam “empoderamento”, todos buscam o poder. O resto é tudo resto e caminho.
Quem é contra a polarização não sabe em que mundo vive.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina
01/09/2022Percival Puggina
Na excelente revista Oeste, li que a pedido da Globo o PT retirou os vídeos em que reproduzia a fala de William Bonner afirmando Lula nada dever à Justiça.
A Globo pede e o PT atende, claro.
Vai entrar para a história, contudo, a frase de Bonner. Ela foi maliciosamente construída pela Globo em laboratório de enganação. Não por acaso, inclui a dupla negação “não deve nada”, onde o “não” é usado como reforço da negação, comum na linguagem coloquial. Nada dever à Justiça, porém, não equivale a nada dever ao sentimento de justiça nem a ser inocente.
Mesmo assim, infestada de falsificação da verdade, a peça vinha sendo repetida como “prova de inocência”, embora as provas de culpa se acumulem em montanhas que não deixaram de existir.
Lula só está solto e pode ser candidato por razões que têm tudo a ver com as evidências de suas culpas.
Os advogados criminalistas sabem que quando as provas condenam seus clientes, o caminho a ser percorrido é o das nulidades processuais. Inocentes lutam para evidenciar a inexistência ou insuficiência das provas, lutam pela preservação da própria imagem, lutam pela honra. Nulidades processuais andam pelas frestas dos códigos quando a casa vai cair ou já caiu.
A frase de Bonner é marco do ridículo histórico fixado pelo modo como foram conduzidas as entrevistas feitas contra Bolsonaro e a favor de Lula. Nem este acredita em sua inocência, apesar do auxílio recebido do jornalismo 007. Por isso, vive como um prisioneiro por conta própria.
Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.