Percival Puggina

19/04/2022

Percival Puggina

 

         Não sei onde andam os eleitores de Lula. Mas sei, com grande certeza, que no dia da eleição estarão todos formando fila nos seus locais de votação. Por outro lado, tenho encontrado eleitores, não de esquerda, que pretendem votar em branco, ou abster-se de votar.

De algum modo, associam a abstenção à absolvição de qualquer culpa ou responsabilidade pelo que acontecer ao país. Lavam e enxáguam as mãos na torneira do voto em branco sem perceber que ele é, também, uma posição política. Uma vez assumida, principalmente quando serve à estratégia da esquerda, tem gravíssimas consequências!

O último andar do idealismo é o cemitério do realismo.

Significa desconhecer a política real, aquela que manda no Estado, nas ruas e por varias frestas, invade a casa da gente. É a mesma que põe sob sigilo o que queremos saber e, de modo deslavado, mente sobre o que sabemos.

É grave imprudência desconsiderar os conhecidos e onerosos flagelos causados pelo lulismo. O retorno do petismo ao poder produzirá tragédias ao país. Entre muitas outras, estas vinte:

- reinserção de uma organização criminosa no quadro dirigente da República, atribuindo a essa organização o direito de nomear outros dois ministros do STF;

- tomada do poder nos termos de José Dirceu;

- reestatização do que tenha sido privatizado;

- influência e interferência política no Conselho Nacional de Justiça e no Conselho Nacional do Ministério Público;

- recrudescimento das ações terroristas dos movimentos sociais;

- relativização, quando não supressão, do direito de propriedade;

- restrições ainda maiores ao direito de defesa dos cidadãos;

- apoio político à legalização do aborto;

- incentivo ao aparelhamento partidário da burocracia federal;

- manutenção do sequestro da Educação pelas organizações políticas de esquerda;

- ampliação do poder da extrema imprensa em geral e da Globo em particular;

- restrições mais severas à liberdade de opinião e expressão nas redes sociais;

- aceleração do fracionamento identitário da sociedade brasileira;

- combate crescente à instituição familiar como célula essencial da sociedade;

- apoio estatal à erotização da infância e estimulo ao desenvolvimento confuso da sexualidade;

- omissão perante a criminalidade de rua e o crime organizado;

- uso do poder para garantia da impunidade;

- extinção das escolas cívico-militares e controle dos currículos de formação militar;

- revisão das regras de promoção e venezuelização das Forças Armadas;

- interpretação equivocada da laicidade do Estado.

O voto em branco, ante um perigo de tais proporções, é lamentável e estupendo favor prestado ao mal de todos.

Por isso, é muito preocupante saber que enquanto os eleitores de esquerda são perfeitamente capazes de votar em alguém como Lula para que se cumpra a pauta acima, eleitores não de esquerda, optam por uma omissão que coloca toda a sociedade sob o risco de ficar a ela submetida.

E o voto nulo? Além de inútil, não representa protesto quantificável. Ele vai misturado com os votos dados por quem não sabe usar a maquininha.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

18/04/2022

Percival Puggina

 

         Há alguns dias, a Gazeta do Povo destacou entre as frases idiotas o dito por um professor de História para quem o Holodomor é “uma farsa criada por apoiadores do nazismo”. E ainda encontro por aí quem diga que “o comunismo não existe mais, já era, acabou”... Há quantos anos essas pessoas não entram numa sala de aula, nem falam com quem entre?

Certa feita, em uma palestra sobre o Holodomor, aproveitando a circunstância de ser o público formado majoritariamente por estudantes, fiz um teste sobre essas criminosas ocultações no ensino de história. As respostas que obtive dão o que pensar.

Professores que mencionaram as Cruzadas nada disseram sobre a jihad ou o expansionismo islâmico.

Professores que fizeram alusões à interferência norte-americana na contrarrevolução de 1964 não falaram sobre o que a Komintern e, depois, a KGB faziam aqui desde anos 20 do século passado.

Professores que criticaram o capitalismo não fizeram menção ao socialismo que não fosse elogiosa.

Professores que mencionaram a Igreja Católica de modo depreciativo não criticaram qualquer outra religião.

Professores que dissertaram sobre a vitória comunista contra o regime dos czares não referiram o Terror implantado pelo estado soviético, a Cheka, nem os vários genocídios que compõem a trágica história dessa revolução e do comunismo no mundo.

Temas com reflexo político ou ideológico sempre são tratados de modo parcial! Muitas páginas ficam em branco. Tem-se aí a prova provada do muito que tenho denunciado sobre manipulação da verdade e ocultação de fatos, com destapado intuito político no ensino brasileiro, que está a exigir urgente despartidarização, despolitização e desideologização. Pluralismo, ou isenção; o que temos hoje, não!

Em maio de 2015, um sindicato que representa os professores aqui no Rio Grande do Sul lançou manifesto contra Escola Sem Partido: "Retirar da Educação a função política é privá-la de sua essência" para colocá-la a serviço "da ideologia liberal conservadora", afirmava o documento. A essa ideologia, os professores de nossos filhos atribuem todas as perversidades e tragédias, das pragas do Egito ao terremoto do Chile, passando por Jack o Estripador e o naufrágio do Titanic.

Não é por acaso que nosso sistema de ensino se tornou um dos piores do mundo civilizado. Afinal, sua "essência" é ser campo de treinamento de militantes para os partidos de esquerda. Os sequestradores da educação nacional se têm como isentos do dever de ensinar e como titulares do direito de doutrinar! E creem que essa vocação política, superior a todas as demais, "essencial à Educação", encontra na sala de aula o espaço natural para seu exercício.

Se lhes for suprimida a tarefa "missionária" e lhes demandarem apenas o ensino da matéria que lhes é atribuída, esses professores entrarão em pane, talvez porque isso seja precisamente o que não sabem. Pergunto: porque não tentam fazer a cabeça de alguém do seu tamanho? A minha, por exemplo?

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

 

 

Percival Puggina

15/04/2022

 

Percival Puggina

 

         A partir do Iluminismo, a humanidade passou a conviver de maneira crescente com a noção idealista de um evolucionismo sempre positivo. Acreditava-se, então, que, assim como a natureza evoluía para formas cada vez mais complexas, o pensamento e a cultura se elevariam de maneira inexorável na direção da verdade e do bem.

Surpresa! A ciência criou a bomba atômica. A organização “perfeita” da sociedade abriu o século XX para os manicômios políticos, o racismo ideológico, a eugenia e as mais terríveis formas de totalitarismo que a humanidade conheceu. E os desencontros com a verdade foram tão flagrantes que a sociedade foi invadida por um relativismo que em tudo e por tudo dela se afasta. Paul Johnson, em seu admirável “Tempos Modernos”, relata esse fenômeno a partir das reflexões feitas por Einstein, aturdido perante o fato de que sua Teoria da Relatividade fora apropriada para atribuir consistência ao relativismo moral (que ele qualificava como doença), e registra: “Houve vezes, no final de sua vida, em que Einstein afirmou desejar ter sido um simples relojoeiro”.

A Paixão de Cristo e a Páscoa da Ressurreição nos colocam frente ao fato central da História. Para os cristãos, a história é História da Salvação. E Cristo é o senhor da História. Deus não é alguém que joga dados, como ironizavam alguns cientistas no início do século passado, nem está subjugado a outras leis que não a do Amor, que é a lei da própria natureza de Deus, pois “Deus é amor”. Como sustenta S. Paulo, quando até mesmo a fé e a esperança tiverem passado, permanecerá o amor porque Ele será, então, tudo em todos.

No século XIX, foi recitada a crônica da morte de Deus. No século XX, tentaram transformá-lO num bem de consumo supérfluo. No século XXI, seus inimigos acrescentam, no chulo desrespeito a Ele e à Sua Santíssima Mãe, mais e mais chibatadas à sua dor física. Sobre tudo e todos, porém, o Senhor da História venceu a morte (“Morte, onde está teu aguilhão?” I Cor 15, 55) para que tivéssemos vida plena e não quedássemos como personagens de Platão na Alegoria da Caverna, vendo apenas o fim de tudo porque o fim de tudo é tudo que o começo nos mostra.

Feliz Páscoa, portanto!

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

14/04/2022

 

Percival Puggina

 

         O projeto de lei das Fake News é sintomático. A esquerda brasileira, à beira de um ataque de nervos com as últimas pesquisas, prepara um golpe para impor silêncio às redes sociais em pleno ano eleitoral.

Entre 1990 e 2015, inúmeros programas diários de debates políticos em rádio e televisão ocupavam a grade das principais emissoras de Porto Alegre. O pluralismo de ideias se valia daqueles espaços. Participei de centenas deles como convidado para representar o pensamento conservador e/ou liberal sobre temas sociais, políticos e econômicos. O tipo de produção era basicamente o mesmo: um tema da ocasião, discutido entre duplas, com moderação do apresentador.

De todos esses eventos – que subitamente foram silenciando e sumindo após um quarto de século de serviços prestados ao pluralismo – eu saí com a impressão de que o debate não se travara sobre o assunto proposto pelo apresentador, mas sobre os princípios e valores que se defrontavam. O tema do dia era apenas o mote para estarmos ali. Aquela janela, porém, se fechou quando a “barra sujou” para o lado dos governos esquerdistas.

A vitória de Bolsonaro em 2018, graças à ampla democratização do direito de opinião e expressão pluralista viabilizada pelas redes sociais, inverteu a tendência eleitoral que já durava um quarto de século.  Simultaneamente, as novas mídias abalaram o caixa dos grandes grupos de comunicação e o seu poder de ungir presidentes.

Os prejudicados uniram-se para restaurar o “ancien régime”. Passaram a lançar sobre os usuários das plataformas os piores adjetivos. Eles eram acusados de propagar desinformação e de articular ações contra a democracia, o Estado de Direito e as instituições da República... Tias do Zap, gente perigosa! Visto tudo bem de perto, chega-se ao seguinte: a comunicação social precisava de uma restauração.

O toque de silêncio imposto às redes sociais em temas políticos e eleitorais, atende pelo apelido de Lei das Fake News, mas foi à pia batismal no protocolo do Senado com o nome vaporoso de “Lei brasileira da liberdade, responsabilidade e transparência na internet”. Bem fofo, não? 

Mesmo que o projeto já aprovado pelo Senado não seja endossado em tempo pela Câmara, a imposição de silêncio às redes ao longo dos próximos meses é pauta das bancadas de esquerda no Legislativo e no Judiciário, sob intensos louvores da mídia militante.

Na miserável democracia à brasileira, a ninguém parece escandalizar o fato de que, salvo honrosas e escassas exceções, esse espaço já intensamente patrulhado seja o único onde conservadores e liberais podem dizer o que pensam.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

12/04/2022

Percival Puggina

 

         Há tempos não vou a atos de formatura, mas contam-me cenas solenes de estupidez coletiva. Punhos erguidos, hinos socialistas e chorume de lixo marxista derramado aos berros sobre a distinta plateia servem como certificado de insuficiência da própria instituição que autentica o acontecimento: aquilo ali é o melhor que ela pôde fazer. No meio da turma, talvez haja quem divergiu e cuja vida acadêmica foi um inferno.

Nelson Rodrigues, em O Globo do dia 28 de março de 1970, publicou artigo abordando um fenômeno já então em curso e que ele denominou “a socialização do idiota” (anos depois, Olavo de Carvalho esmiuçaria o mesmo tema em “O imbecil coletivo”). Lá pelas tantas, o grande Nelson escreve assim: “Vocês se lembram das greves estudantis da França? (ele se referia ao que ocorrera a partir de Nanterre, em maio de 1968, o tal ‘ano que não terminou’). Os jovens idiotas viravam carros, arrancavam paralelepípedos e incendiavam a Bolsa. E, então, o velho De Gaulle falou aos idiotas. – ‘Eu sou a Revolução.’ Que ele fosse a Revolução era o de menos. O que realmente enfureceu o mundo foi o eu. Era alguém que queria ser alguém. Um dos maiores jornalistas franceses escreveu furibundo artigo contra aquele espantoso orgulho. Aquele guerreiro de esporas rutilantes e penacho negro foi o último eu francês. Os outros franceses são massas, assembleias, comícios, maiorias.”

Os tais movimentos sociais e protestos em atos solenes como formaturas são expressão dessa mesma coisa, meio século mais tarde, por obra e graça dos projetos ideológicos e da ambição pelo poder. A extrema esquerda desde cedo, compreendeu as imensas possibilidades abertas pela socialização dos idiotas. Um idiota sozinho é um solitário ridículo. Já um ônibus cheio deles, ou em passeata, vira expressão da sociedade. Eleva-se à categoria de povo e – imensa vantagem! – se torna inimputável. “Como assim, inimputável?” perguntará o leitor. Sim, pode quebrar vitrines, incendiar automóveis, cometer tropelias, enfim, sem que precise responder pelo que faça. Há sempre um jornalismo que silencia e raras autoridades que discordam.

Vivemos o exílio da individualidade e da lucidez.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 

 

Percival Puggina

07/04/2022

Percival Puggina

 

Nota do autor: Quando o plenário da Câmara votaria o pedido de urgência para o projeto, dois ministros do TSE/STF foram à Câmara assinar, com o presidente Arthur Lira, um compromisso de combate a fake news. E viva a independência dos poderes!

         O nome que o projeto da lei das fake news se atribui fala por si: “Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet”. Se o projeto tem a autoria de um militante esquerdista como o senador Alessandro Vieira, se já foi aprovado por esse Senado que temos e se suscita o máximo interesse dos ministros Edson Fachin e Alexandre de Moraes, respectivamente atual presidente e futuro presidente do TSE, abra o olho! Certamente o intuito do projeto não corresponde ao que o nome proclama. Sem chance!

Para não fazer pré-julgamentos, fui ler o projeto. Seu inteiro teor está acessível no site da Câmara dos Deputados, onde tramita como PL Nº 2630/2020. Em seis capítulos, 31 artigos e mais de uma centena de disposições transparece no texto um verdadeiro delírio de mente totalitária, daquelas mentes que, se pudessem, regulamentariam carrocinha de pipoca, fariam uma Lei do Selfie Progressista e elaborariam um Estatuto do Ato Sexual Democrático e Popular. 

O projeto é francamente assustador, tal o nível de intervenção na esfera privada, tal o poder que delega àquelas organizações credenciadas pelo Ministério da Verdade que se dispõem a xeretar e a fiscalizar as opiniões alheias. Em última análise, só é verdadeiro o conteúdo publicado pelo uníssono consórcio dos grupos de comunicação. Sobre as narrativas, mistificações e omissões destes, nada a dizer... Tudo que circular na internet, é suspeito e vai para os minuciosos relatórios das plataformas. Indecente e desrespeitosa inserção na vida privada e na liberdade de expressão. Fascismo em estado puro. E mais: o único foco do projeto é político e eleitoral.  

Com a militante unanimidade da outrora respeitável mídia formal, a liberdade de expressão foi para o quilombo das redes sociais onde, agora, é perseguida pelos capitães de mato “da democracia” e da verdade oficializada.  

Não surpreende o interesse do STF e do TSE na aprovação da lei que felizmente, teve recusado o pedido de urgência solicitado pelo deputado Orlando Silva, não por acaso do PCdoB paulista.

A “Lei Brasileira de Liberdade, Responsabilidade e Transparência na Internet” é o sonho de consumo legislativo de todos os que não querem pluralismo e contestação. Entende-se isso muito bem a partir da mobilização do TSE, notadamente do voto e do tom em que o proferiu o ministro Alexandre de Moraes quando, há poucos meses, o TSE julgou um processo que pretendia anular a vitória eleitoral de Bolsonaro em 2018. Viu-se, ali, quanto ele pretendia ter sob seu controle a comunicação através da Internet nas eleições deste ano.

Com a lei ou sem ela, prudência e prontidão tornam-se exigências à cidadania. Todos sabem quanto tem pesado o porrete jurídico nas mãos de certos ministros do STF e do TSE.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

        

        

Percival Puggina

05/04/2022

 

Percival Puggina

 

         Cerca de 130 deputados federais trocaram de partido desde o início de fevereiro. Alguns se bandearam mais de uma vez nesse período. Poucas décadas atrás isso seria inconcebível. Os partidos tinham fisionomia própria e eram buscados por aqueles a quem fosse atrativa. Ali se estabeleciam relações de amizade, se formavam lideranças e se construíam carreiras políticas. Muitas filiações partidárias integravam um rito familiar porque os filhos acompanhavam os pais num encadeamento que refletia, de modo profundo ou superficial, uma visão de mundo, de valores, de economia, de sociedade, etc..

Mudar de partido era “trocar de camisa”, ou “virar a casaca”, coisa rara e inadequada. Pior do que isso só jogador de futebol sair de um clube para se integrar ao rival da mesma cidade.

Está mais do que provado, hoje, que os partidos fenecem como tal. De regra, são apropriados pelas representações parlamentares, que só pensam nas respectivas reeleições e são incapazes de escrever meia página sobre o conteúdo do manifesto de fundação da legenda que comandam. Esse documento, que é uma espécie de Carta Magna sobre os princípios, meios e fins partidários dorme o sono dos injustiçados entre as quinquilharias das siglas.  

O recente surto de migrações de detentores de mandato, aspirantes a candidaturas, obedece, nacional e/ou regionalmente, às conveniências eleitorais do ano. É coisa de temporada e vem logo depois da praia e das férias. Assim como as marés são influenciadas pelas fases da Lua, os fluxos partidários são atraídos pelos “puxadores de votos” nas eleições majoritárias e proporcionais. Não guardam relação com o que esses personagens trazem na cabeça ou nas mãos.

Que fique bem claro: não estão errados os candidatos, nem os deputados, nem os senadores, nem os dirigentes partidários. As decisões políticas são comandadas pelo mais puro e franco realismo. E o que acontece com os partidos políticos nacionais é mera consequência do modelo eleitoral e do sistema de governo que, em dias de muito azar e maus presságios, nos vêm proporcionando nossos constituintes republicanos.

O que acontece com os partidos é bem sintomático desses problemas institucionais de que tanto me ocupo. Causa tristeza cívica ver partidos trocarem de nome como trocam os letreiros em pontos comerciais construídos em lugar errado. E digo o mesmo da acelerada procriação de legendas estimulada pela bilionária disponibilização de recursos públicos.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

29/03/2022

Percival Puggina

 

         Em Lucas 8:17, Jesus afirma: “Porque não há nada oculto que não venha a ser revelado; nada escondido que não venha a ser conhecido e trazido à luz.”

Se era dito assim, dois mil anos atrás, num tempo em que não havia xerox nem Internet, imagine hoje, com essa aparentemente inesgotável capacidade de conhecer e armazenar o conhecimento. Essas mesmas tecnologias inutilizam conchavos e destronam caciques.

Durante muitos e longos anos o PSDB foi o partido dos caciques da política. Era a lâmina bem trajada e bem falante da tesoura esquerdista que comandou a política brasileira durante um quarto de século. Partido de ideias transversais e pronomes oblíquos.

Fernando Henrique Cardoso, na Constituinte, criou o Movimento de Unidade Progressistas (MUP) coletando a esquerda do PMDB, se aproximando do PT com o intuito de esquerdizar ainda mais a Constituição e acabou fundando o PSDB. De modo similar, o senador Álvaro Dias saiu do PSDB para criar o PODEMOS, que foi o partido de base para a formação do movimento Muda Senado. Que não mudou coisa alguma.

O Muda Senado surgiu em consonância com os apelos das multidões nas praças. O movimento queria moralizar aquele poder e fazê-lo cumprir seu papel institucional perante os maus usos e costumes de membros do STF. Abriu um guarda-chuva moral para abrigar inicialmente 22 dos 81 senadores. Eram 22 dentro e 59 fora. Com o tempo, o guarda-chuva, em vez de se expandir, foi se fechando e guarnecendo cada vez menos senadores.

O descrédito do Senado se reflete no mau desempenho dos caciques na cena política. Em 2018, Geraldo Alckmin, hoje em total sintonia com o descondenado Lula, representou o PSDB como a “toalha mais felpuda” da tribo tucana. E fez menos de 5% dos votos, embora os partidos de sua base de apoio correspondessem a quase metade do plenário do Congresso Nacional. Bye, bye caciques! O candidato escolhido pelo então poderoso PMDB para disputar a presidência, Henrique Meirelles, fez pouco mais de 1% dos votos.

A falta de sintonia e perda de influência das antigas lideranças fica muito evidente quando se observa a vitória de João Dória nas prévias tucanas e o mau desempenho dos nomes em que a turma da terceira via tem colocado suas fichas. Enquanto isso, da noite para o dia, novos partidos surgem das velhas tribos e, na mesma cadência, crescem e decrescem.

Caciques omissos perante seus deveres institucionais, protetores de corruptos, que jamais ergueram a voz contra os abusos do STF, perdem tribos inteiras e pagarão o preço de sua surdez à voz das ruas.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

Percival Puggina

28/03/2022

Percival Puggina

 

         O ex-deputado Roberto Jefferson está em prisão domiciliar, com tornozeleira, proibido de conceder entrevistas sem autorização judicial, de receber visitas de pessoas que não sejam familiares e de manter comunicação exterior, inclusive em redes sociais. É uma não pessoa.

Na opinião da PGR e dos ministros do STF que lhe recusam habeas corpus, o deputado, com vasto prontuário de problemas de saúde, é um tipo perigoso à democracia e às instituições. Em liberdade, supõem, fará por conta própria o que as Forças Armadas, por meio dos comandantes que falam por ela, há mais de seis anos reiteram que não farão.     

A seus carcereiros, deve ser vantajoso manter a hipótese de que Roberto Jefferson tenha esse poder e fantasiar sobre a eminência de tamanho risco. O poder a ele atribuído aumenta o poder de quem o mantém preso sem julgamento. A fantasia dá motivos aparentes para o STF inibir outros e para a deusa Themis exibir o fio de sua espada ante algo que deveria ser resolvido noutro foro e por outros meios.

Na minha perspectiva, é a sequência de atos de natureza similar que põe a democracia em risco e as instituições em descrédito. A criação de mártires é grave sintoma numa ordem institucional que se pretende democrática. As democracias não criam mártires e os nossos estão fazendo fila.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.