• Percival Puggina
  • 27/01/2023
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Um Senado ou uma quitanda?

 

Percival Puggina

         No próximo dia 1º, os olhos esperançosos do país se voltarão para o Senado da República. Do que acontecer lá, da decisão que a maioria dos senadores tomar, dependerá o futuro da nossa democracia, das nossas liberdades e garantias constitucionais.

Não é pouca coisa. É o equivalente moderno entre ser cidadão romano ou bárbaro, ou entre a reforma e a revolução, entre a civilização e a selvageria. Não é raro nos confundirmos ao estabelecer relações entre causa e efeito. No caso brasileiro, porém, conceitos civilizatórios rudimentares derrapam para a valeta a partir da infeliz conjugação do ativismo dos tribunais superiores com a omissão institucional do Senado da República, sob aclamatórios aplausos do petismo delirante.

Concordo com que a representação popular não seja, em todas as decisões colegiadas, necessariamente submissa à vox populi. Há, porém, limites para essa dissintonia. Há omissões que criam revoluções; há silêncios que causam alaridos de revolta; há negociações que rescendem a velhacaria. Nenhum dos males que vitimaram a tradicional tolerância da parcela conservadora da sociedade brasileira teria ocorrido se o Senado Federal, sob o comando dos senadores Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco houvesse cumprido seu inequívoco papel institucional.      

Entre 2009 e 2022 o Senado brasileiro foi presidido por José Sarney, Eunício Oliveira, Renan Calheiros, Davi Alcolumbre e Rodrigo Pacheco! Pense num desastre! Qual legislativo resistiria a tamanha sequência de opções sinistras? Gente bem intencionada não comete erros tão continuados. Todas as instituições da República foram, assim, negativamente impactadas.

Eu, você, o Brasil e o mundo ficamos chocados com os atos de vandalismo do dia 8, mas não podemos permitir que esses atos de selvageria ocultem, tornem opaco, um outro tipo de “vandalismo” ocorrente dentro dos próprios poderes quando se desvirtuam suas obrigações. Quando isso?  Quando quem julga tem lado. Quando a Constituição vira cardápio. Quando quem é freio fecha os olhos. Quando quem é contrapeso flutua. Quando quem tem que negociar para o interesse público mercadeja o próprio interesse. E o parlamento vira uma quitanda de transações obscuras.

Os poderes da República vêm sendo submetidos a um processo corrosivo de causas internas com consequências sociais, políticas e econômicas muito maiores. Muito maiores!

No próximo dia 1º, pensem bem os senhores senadores sobre a quem querem servir. A sociedade os vê com os olhos da esperança!

Percival Puggina (78), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org), colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.

 


Afonso Pires Faria -   30/01/2023 19:07:36

Parabéns professor. Mas se quando a coisa era menos pior do que agora, tivemos este triste histórico de presidentes do senado, o que esperar agora? Gostaria muito de estar errado mas o pacheco (assim com minúsculas mesmo), já está eleito.

Dirceu Rosa Chagas -   30/01/2023 13:34:46

Parabéns, Dr. Puggina. O senhor foi girurgico na sua avaliação. Temos leis, pesos e contra pesos. Falta, na maioria do Cogresso Nacional, uma palavra chamada: C A R A T E R

Realino Antonio Rech -   29/01/2023 15:06:31

O STF em seu ocaso ou apoteose?!! Ou seria em delirius tremens?! Afinal o espeto está nas mãos de Imoraes , falta só definir com o que!! Que espetáculo novelesco proporcionado pelo judiciário brasileiro....

Menelau Santos -   28/01/2023 22:37:07

Poucas pessoas dão o devido valor a esse evento quanto o seu texto nós faz refletir, Professor. Como o Fernão Lara Mesquita colocou no título do excente vídeo dele, parodiando a Banda Blitz, estamos a dois passos do precipício.

Luiz R. Vilela -   28/01/2023 11:34:18

Quando há tolerância em demasia, quem paga faz o que bem entender, os encarregados de fiscalizar, não fiscalizam porque tem o rabo preso com os fiscalizáveis, os ideais se resumem apenas no interesse econômico pessoal. Então os injustiçados passam a clamar por justiça, e ela não acontece, a este local onde por dever, deveria ser feita as correções de rumo, mas não as faz, poderia-se então chamar por um nome pejorativo que denota o verdadeiro espírito dos seus membros como uma casa de tolerância? A representação anda mesmo em baixa. Quando as vítimas da cleptocracia nacional se rebelam, logo são chamados de golpistas, anti democráticos e tantos outros nomes, sem que os verdugos da situação ao menos questionem o porque da insatisfação. Hoje, a situação esta de "comer enrolado", e ficar quieto, ou o "inquérito do fim do mundo" te pegará Que coisa, democracia dirigida por cleptocratas, é como as jabuticabas, só da por aqui.

Alexandre Carneiro Wendling -   28/01/2023 10:37:11

Não somos uma Democracia não. Aqui os políticos (inclui o supremo, que é um órgão politico) têm poderes demais e o povo não tem poder nenhum. Isso é a Antidemocracia.