• Percival Puggina
  • 14/08/2023
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Uma democracia sem pé nem cabeça

 

Percival Puggina

 

         O sistema político brasileiro é uma panela de pressão. Como não há poder legítimo para resolver impasses, vive-se uma inquietude a gerar permanente instabilidade e insegurança. Os caminhos assinalados para o processo eleitoral, que seriam a saída por via democrática para uma trajetória de normalidade, só agravam o quadro pois, de modo sistemático, beneficiam a representação e não os representados. E esse é o problema principal do Brasil hoje. Uma democracia que lembra frango congelado, sem pé nem cabeça, onde o povo é visto como um mal perigoso e dispensável.

Friedrich Hayek, em Direito Legislação e Liberdade, adverte que o poder ilimitado dos organismos estatais representativos leva a uma democracia de negociações que se afasta das concepções comuns do eleitorado. Nessa trilogia escrita há cinquenta anos, o autor austríaco mostra que a necessidade de compor maiorias rompe o cordão umbilical que liga representantes e representados (no caso ele foca os parlamentos) e cria o novo absolutismo das conveniências comuns e seu corolário: arbitrariedade, discricionariedade, corrupção, ineficiência, parasitismo, irresponsabilidade e limitação da liberdade individual.

O problema apontado é antigo, bem antigo. Contudo, eu nunca vi nas instituições esse mesmo ânimo antipovo em períodos supostamente democráticos. Respeitava-se até o “povo” das invasões a propriedades públicas e privadas, o “povo” dos arrastões e o “povo” dos showmícios e grupelhos, comprados por lote ou cabeça, a dez reais, sanduíche e tubaína.

Que o Estado sempre faz o que bem lhe convém, a gente sabe. Nestes tempos taciturnos, sem cores nem sons, há uma alarmante novidade: dezenas de milhões de brasileiros estão conscientes de que sua posição política é malvista pelo Estado e seu chicote de sanções que vão da censura à prisão ou ao exílio, passando pela tornozeleira, apreensão de bens e bloqueio de contas.

Apenas 25 países do mundo têm uma população superior a esse contingente de 58 milhões de brasileiros cuja cidadania está contida e sob permanente inspeção. Suas convicções e opiniões, individualizadas ou compartilhadas, estão submetidas a uma campanha difamatória que já conta seis anos, comandada pelo jornalismo companheiro ou camarada.

Divergir tornou-se pecado. O que se observa no jornalismo, nas manifestações de ministros do combo STF/TSE, ou do ministro da Justiça, não é diferente do que acontece em ambiente de berreiro quando, nas universidades, se apresenta algum audacioso professor ou palestrante conservador ou liberal. Quem pensa fora da caixinha da esquerda ali não é admitido. Foi o que se observou durante a campanha eleitoral no tratamento dispensado aos grandes veículos de comunicação, em escancarada campanha contra Bolsonaro e citados como referência de credibilidade; ao mesmo tempo, via-se o cancelamento de canais digitais sob a acusação de uso de empresa privada em desfavor de Lula ou a favor de Bolsonaro.

Ou será que nesta democracia sem pé nem cabeça, sem povo nem ovo, só eu vi isso?  

Percival Puggina (78) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site Liberais e Conservadores (www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país.. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+. Membro da Academia Rio-Grandense de Letras.


Eustaquio Ferreira -   16/08/2023 03:14:13

Todos nós vimos a mesma coisa. Mas não se pode manifestar.....sob risco de ser preso....em nome de uma democracia que não existe....Estamos numa ditadura judiciária. ..

Rogerio -   15/08/2023 18:59:12

No alvo! Parabéns.

Paulo Antônio Tïetê da Silva -   15/08/2023 17:35:18

"Tudo como dantes, no quartel de Abrantes". Tudo o que a esquerda brasileiro fez, faz e fará, consta na sua "cartilha internacional". Procure ver como e o que foi feito nos países sob seu domínio e saberá o futuro sombrio do Brasil.

Vitoria Silveira Leonardi -   15/08/2023 14:25:01

Concordo em gênero, número e grau. E sei que muitos não entenderão o que escrevi. Infelizmente!

roberto lima de almeida neves -   15/08/2023 13:39:03

Impressiona a qualidade do artigo do Puggina. O debate entre as alternativas econômicas base Hayek e Keynes no Brasil de hoje, versa sobre o suposto "direito" à roubalheira e a opressão dos opositotes. E protegidos por uma suposta "justiça" contaminada.

João Jesuino Demilio -   15/08/2023 10:22:59

O brasileiro SEMPRE foi acostumado a olhar um hipopótamo ( regime historicamente predominante no Brasil) e falarem pra ele que é um cavalo( democracia). Hoje olhamos para este hipopótamo disforme, feio, esdrúxulo e vemos um cavalo! O brasileiro NUNCA conheceu a verdadeira DEMOCRACIA...e aceita essas aberrações como se fossem normal numa regime democrático.

MAGNUS PESKE -   15/08/2023 09:37:47

Excelente texto. Infelizmente, o povo brasileiro é muito pacato, vai esmorecendo, e sem vez nem voz, pouco a pouco aceita o cabresto, considera normal o buçal. Sem revolta, não tem volta. As urnas estão contaminadas, quer pelo vírus da internet, quer pelo vírus da esquerda podre. Os donos do poder venceram.

Reynaldo Farah -   15/08/2023 09:25:28

Um ministro da mais alta corte de justiça do país já declarou em alto e bom som: -Eleição não se ganha, se toma. -Perdeu mané, não amola! -Nós vencemos o bolsonarismo. E continua ministro da corte.

Francisco Costa -   14/08/2023 21:30:18

Verdade caro Percival Puggina vc faz uma stualisdima e completa fotografia do Brasil 58 milhões de brasileiros segundo falou o ex-presidiário bolsonaristas malucos nas ruas,precisam ser derrotados 58 de brasileiros Patriotas.

Menelau Santos -   14/08/2023 19:54:10

Perfeito Professor. A Democracia brasileira é como apresentar um gato como se fosse cachorro. O animal mia, sobe telhados, enterra as próprias fezes na areia, tem medo de água, mas não se enganem, é cachorro.

Manoel Luiz Candemil -   14/08/2023 19:18:05

O exposto no artigo acontece porque o povo assistiu passivamente às criações governistas de tributos retidos na fonte e inclusos nos preços dos produtos e outras artimanhas! A praticidade é certa, porém permite a prática política criticada!