Percival Puggina

30/07/2011
Twitter: @percivalpuggina Sabem os cientistas políticos que não há razões teóricas nem práticas para que a representação política de um país seja qualitativamente muito diferente, para mais ou para menos, da média da sociedade. O que se pode e se deve fazer é aprimorar as instituições para que funcionem de um modo que não favoreça a corrupção. Do jeito que está, favorecendo-a, ocupamos no cenário mundial o 69º lugar no quadro decrescente da honestidade (Transparência Internacional) e a corrupção nos custa, segundo a Fiesp, algo entre 40 e 70 bilhões de reais/ano. De uns tempos para cá, sempre que se fala sobre reforma política (normalmente depois de algum escândalo) retornam à superfície dois temas: voto em lista fechada e financiamento público das campanhas eleitorais. Em que consiste, então, o tal voto em lista fechada? Nele, diferentemente do sistema em vigor, no qual a ordem dos eleitos em cada partido é dada pela votação pessoal que os concorrentes obtêm, o eleitor não vota num candidato, mas no partido (na lista desse partido). A ordem em que os nomes são lançados nessa lista expressa a preferência do partido. Os primeiros muito provavelmente serão eleitos e os últimos não terão qualquer chance. Tanto num quanto noutro sistema o número de cadeiras obtidas pelas legendas é proporcional aos votos totais que lhes são dados. Como se presume, a eleição parlamentar por lista fechada fortalece as agremiações políticas. Mas parece pouco provável que os comandos das legendas deixem de escalar para as primeiras posições de suas listas os atuais deputados, reduzindo-se assim, drasticamente, a possibilidade de renovação das bancadas. Acho que é tudo que ninguém quer, não é mesmo? Em contrapartida, o sistema reduz custos, sendo compatível com o financiamento exclusivamente público das campanhas. No entanto, se consideramos importante reduzir a corrupção do Estado brasileiro, como exigência moral, enfatizada por nossa vexatória posição no ranking da desonestidade, cabe indagar: qual o efeito disso sobre a corrupção? Quase nenhum! Combatê-la com medidas que afetam exclusivamente as eleições parlamentares, é descomunal erro de perspectiva. Não é nos parlamentos que estão as causas determinantes da corrupção sistêmica. Não há ali, sequer, recursos financeiros para proporcioná-la. A usina da corrupção se articula em torno do outro poder, montada no sistema de governo, nas eleições majoritárias, no seu financiamento e no custo de formação das maiorias parlamentares com distribuição dos cargos, dos investimentos, dos postos de mando e no aparelhamento partidário da administração. O que têm os partidos políticos a fazer na administração pública? Isso lá é lugar de política partidária? A administração tem que ser técnica, profissionalizada e politicamente neutra, servindo à sociedade em todos os governos. O que têm os partidos a fazer nas empresas estatais? Empresas, ainda que estatais, não são lugar de política partidária. O lugar dos partidos e seus agentes é no governo, de modo transitório, reduzido esse espaço ao estritamente necessário. É ínfimo o poder de corrupção de um parlamento diante da imensa e multibilionária máquina governamental quando se tem como imexível um sistema ficha-suja, que enfeixa nas mesmas mãos a chefia do Estado, do governo e da administração. Antes que venham as frustrações, vai o alerta. Adotado o voto em lista, a grande corrupção continuará como dantes pelo simples motivo de que se manteve inalterada sua principal causa, que tanto exaure recursos e desmoraliza a nação diante de si mesma e no concerto internacional. Zero Hora, 31/07/2011

Percival Puggina

29/07/2011
Twitter: @percivalpuggina O professor petista leu o noticiário sobre o sociopata norueguês e se lembrou de escrever para quem? Pois é. Embora com a cautela de esclarecer que não me atribui qualquer identidade política ou de pensamento com aquela figura e seus atos (dessa eu escapei!), ele resolveu me cutucar. Vamos à resposta. Primeiro diz ele, em seguida respondo. Diz ele: Parece que só sabes escrever que a direita é o Bem, a esquerda, o Mal. Como o PT é um partido de esquerda, o PT é o Mal. Por extensão, o governo que é do PT é o Mal. Respondo: O senhor é que só pensa naquilo. Se um dia eu escrever sobre o incêndio de Roma o senhor crerá que estou me referindo a companheiros seus. Desde sua última carta, despachei mais de uma dúzia de artigos. Destes, uns seis ou sete têm relação com pautas ideológicas e com o PT, embora tratem de temas como idioma, educação, decisões do STF, transparência e combate à tortura. Outros são sobre a legitimidade da cátedra petrina, abandono do nosso Guaíba e reforma institucional. O maniqueísmo que o senhor me atribui foi introduzido na política brasileira contemporânea pelo seu partido, que se dizia todo do bem, incorruptível e puro, num ambiente onde nada nem ninguém mais prestava. Pois sim! Não haveria antipetismo se não houvesse, antes, um petismo assim. E, ademais, revolucionário, agindo contra a ordem pública, desrespeitoso à honra alheia, agressivo no discurso e na ação. Diz ele: Os atos e escritos de Anders Behring Breivik materializam o pensamento da extrema direita. Pensamentos esses defendidos, em grande parte, aqui nas últimas eleições, por candidatos da direita: contra nordestinos, bolivianos (alguns até defendendo a invasão daquele país), contra homossexuais, contra islâmicos... e, para uma grande angústia e medo, é um extremismo latente e que, aos poucos, inclusive aqui, vem se manifestando). Respondo: Não tenho registro de que esses assuntos hajam sido pauta de campanha eleitoral. E penso que, se assim fosse, ocupariam espaços de mídia com a devida repercussão. Soa-me delirante a afirmação. Ela tenta atribuir dimensões políticas significativas a uma extrema-direita brasileira quando sequer a direita moderada consegue apresentar um candidatozinho a presidente da República em 20 anos. Chega a ser surreal, professor, mas o candidato que levou os votos da direita no último pleito se dizia - e de fato estava, ideologicamente - à esquerda de dona Dilma. Valha-nos Deus! Diz ele: Quando digo esquerda, refiro-me a pessoas progressistas, como os nossos partidos aqui no Brasil. Uma das coisas mais belas do nosso país, por exemplo, é a riqueza da miscigenação racial que forma o povo brasileiro e a harmonia em que vivemos. Pois isso foi alvo do ódio desse extremista. Respondo: Essa confusão entre esquerda e progresso é o eixo do atraso, professor. Eis o motivo pelo qual a esquerda que combato (aqui entendidos os que incharam as mãos batendo palmas para Fidel e agora queimam velas para Chávez, criaram o Foro de São Paulo, e mais todos os estatizantes, socialistas, marxistas, instigadores da luta de classes, stalinistas, leninistas, maoístas e por aí vai) não consegue apresentar aos olhos da história um único estadista. Os que possam ser mencionados vêm de uma esquerda moderada, moderna, democrática, que não apoio mas não combato. Quanto à miscigenação racial, que o senhor louva com razão, não foi uma criação da esquerda, mas é herança de uma história à qual essa esquerda nega quaisquer virtudes. Diz ele, interessado em saber o que escreverei sobre o norueguês: Afirmar que ele é um louco, como a grande mídia disse, logo após saber que ele não é islâmico? Continuar dizendo que as coisas ruins só estão no lado das esquerdas? Que nada disso existe? Com certeza, hoje estamos sob uma grande ameaça do extremismo de direita, pois vão culpar, justamente aqueles que não são os culpados pela crise que a Europa e EUA estão passando. Respondo: Professor! O que o norueguês fez foi tão parecido com um ataque de corrente islâmica fundamentalista que qualquer pessoa minimamente esclarecida faria, de início, essa suposição. Batalhões de homens-bomba prontos a se explodir - e se explodindo - para morte dos infiéis e glória de Alá são coisas que integram a realidade contemporânea. O ato praticado pelo norueguês foi monstruoso mas singular, solitário, perante os vários terrorismos organizados existentes no mundo. Assumir, a partir disso, que vivemos sob grande ameaça de um extremismo de direita é tentativa de criar um polo que não existe para justificar os polos existentes. É argumento de quem não consegue explicar coisa alguma fora do contexto da luta, seja de classes, de religiões, ou étnica. Não conte comigo para reproduzir essa tese. Dando por cumprida a tarefa, fiz o que o professor me solicitou, transcrevendo suas afirmações ipsis litteris. E concluo afirmando que valer-se do comportamento de um louco possuído por ideias igualmente insanas e capaz de tamanho desvario, para justificar teses e teorias sobre política, como vem fazendo a mídia esquerdista, é outra forma de loucura. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Luiz Antônio Colussi

24/07/2011
APELO DRAMÁTICO DO MEU AMIGO COLUSSI Estou a procura, há muito tempo: a) de dez mandatários esquerdistas, socialistas, comunistas, pobres; b) de dez subalternos esquerdistas, socialistas, comunistas, ricos. Quem dispuser dessa informação, por favor me informe o mais depressa possível. Passarei a defender o esquerdismo, socialismo, comunismo nas mesmas condições e convicções de um monge beneditino. Atenciosamente Luiz Antônio Colussi
23/07/2011
MANIFESTO DO GRUPO PENSAR! (do qual sou um dos membros signatários) A Alteração da Matriz Tributária O Grupo PENSAR! é integrado por profissionais com atuação em vários ramos da Ciência e nos meios de comunicação. Foi constituído originalmente no Rio Grande do Sul e se dedica a debater e formar opinião sobre os problemas econômicos e sociais do Estado e do país. Está em sintonia com o Movimento Brasil Eficiente. O presente manifesto decorre dessa vocação cívica, comum aos membros do PENSAR!, que veem com muita preocupação a correção da matriz tributária pretendida pelo governo gaúcho. A experiência ensina que jamais houve na prática fiscal brasileira mudança de composição tributária que não tenha significado aumento de impostos pagos pela sociedade. E não há registro de que tais aumentos tenham resultado em melhoria do bem estar social ou da qualidade dos serviços prestados pelo Estado. Também são exaustivas e irrefutáveis as comprovações teóricas e práticas de que quanto maior o pagamento de tributos, menor a geração de empregos e renda das economias. Lembramos às autoridades o importantíssimo estudo realizado por um dos maiores tributaristas mundiais - Vito Tanzi - no qual restou demonstrado que quando a carga tributária ultrapassa os 20% do PIB (e a nossa já está em 37%) é acionado sobre a economia um efeito perverso que age em detrimento das classes menos favorecidas. Esse efeito independe de onde vão cair os impostos, se no arroz ou no feijão, se nos combustíveis ou noutras formas de energia envolvidas na produção. A economia funciona como vasos comunicantes. Ademais, num sistema tributário com predomínio dos impostos indiretos é indiferente o ponto onde o governo faz incidir o tributo. Todos irão pagá-lo igualmente, em valores monetários, penalizando mais os indivíduos de menor renda. Em 2010, a arrecadação do ICMS cresceu cerca de 18%. No primeiro semestre de 2011 ocorreu novo ganho de 9% sobre base já alta. Ora, medidas econômicas costumam ter efeitos visíveis e efeitos invisíveis. Um acréscimo tão desproporcional na arrecadação desse tributo em relação à variação do PIB estadual deveria advertir as autoridades para seus efeitos ocultos mas reais: menos recursos para a sociedade, menos poder de compra, menor competitividade da economia, menor liberdade de decisão para os agentes econômicos. Ao mesmo tempo, em nenhum dos setores nos quais o Estado se dispõe a promover elevação da qualidade de vida da sociedade parece ter havido melhoria dos indicadores, malgrado esse aumento da arrecadação. Nas modernas democracias, governar é atribuição dos partidos. Mas não existe qualquer motivo para o aparelhamento partidário da administração, que deve ser neutra e profissional. O contribuinte não tem motivos para arcar com os custos e os tributos necessários à inserção de estruturas político-partidárias na administração pública. Os resultados de um enxugamento de despesas que comece por aí, e tenha sequência com a redução de secretarias, órgãos de governo e despesas de custeio serão muito mais benéficos do que qualquer outra alternativa que se busque para os problemas do Tesouro do Estado pela via da receita tributária. A matriz que precisa ser corrigida, no Rio Grande do Sul, é a matriz da despesa pública. Por todos esses motivos, dirigimos ao governo do Estado, às autoridades fiscais, às representações políticas, empresariais e sindicais, bem como à comunidade sul-rio-grandense, a presente nota de alerta. Atenção! O cenário da economia gaúcha e as nuvens que sombreiam o horizonte mundial recomendam uma atitude de prudência na adoção de medidas que inevitavelmente atingirão, por dois flancos, os menos aquinhoados. De um lado, pelo próprio valor do imposto e, de outro, pelos empregos que os tributos suprimirão em virtude da perda de competitividade da economia. Porto Alegre, 22 de julho de 2011

Percival Puggina

23/07/2011
Twitter: @percivalpuggina Há muita semelhança entre os dias que correm e aqueles que, desde meados de 2005, fluem, na batida do relógio, para o sorvedouro das prescrições e impunidades. En aquel entonces, como se diz lá em Santana do Livramento, era comum ouvir-se das lideranças petistas entrevistadas algo que pessoalmente, desde muito antes, eu já esgarçara as cordas vocais de repetir: esse nosso sistema político é corrupto e corruptor. O maior culpado pelas desonestidades no setor público nacional é o sistema que as proporciona e estimula. Durante aqueles tumultuados meses, enquanto Lula se agarrava nas beiradas da sua popularidade e adoçava a boca da base parlamentar para não escorrer rampa abaixo do Palácio do Planalto, deputados e dirigentes do Partido dos Trabalhadores repetiam, em debates dos quais participei, essa mesma frase: O sistema é o causador principal desses males. Dado que carrego comigo onde quer que eu vá, quase como se fosse uma mochila, a convicção de que nosso modelo institucional é ficha-suja, imprestável, saber que o PT passava a partilhar o mesmo entendimento acendia em mim a esperança de que nos avizinhávamos de uma boa reforma. Finalmente, presumia eu, seis anos atrás, um partido grande, com forte disciplina interna, estava aderindo à minha tese. Qual o quê! Foi só o assunto mensalão cair em desuso para que a ideia de uma reforma institucional que separe Estado, governo e administração, atribuindo a função governo à maioria parlamentar, fosse metralhada e sepultada na vala comum dos esquecimentos. Aproveitadores não querem nem ouvir falar nisso. De todo aquele farisaísmo e de quanto veio a seguir, ficou-me a imagem símbolo: Lula, em Paris, nos jardins da residência Marigny, concedendo entrevista exclusiva a uma jornalista brasileira sediada na França, e atribuindo o mensalão a uma operação de caixa dois. Tornava-se réu confesso, o ex-presidente, a partir daquele dia 15 de julho de 2005: O PT fez do ponto de vista eleitoral o que é feito no Brasil sistematicamente, declarou o presidente da República. E apesar desse reconhecimento, foi excluído do processo. Nos anos seguintes, jamais faltou ao noticiário um escandalozinho semanal capaz, por si só, de transformar Fernando Collor num modelo de virtudes. Geraram-se fortunas à volta de Lula. A iniciar pela do próprio filho. Mas o PT sempre cuidou de proteger seu santo padroeiro com o manto blindado de todas as graças e fervores. De tudo que aconteceu em seu governo, só das coisas boas Lula teve responsabilidades absolutas e méritos compartilhados com Dilma. Nenhuma das outras era com ele. Curiosamente, tal benevolência só vale para os governos do PT porque não pode incidir miséria maior sobre qualquer governante com oposição petista do que um sinalzinho de fumaça na prateleira do almoxarifado de qualquer secretaria sob seu comando. Basta isso para que o PT se apresente com lança-chamas e tonéis de gasolina para incendiar o governo inteiro e seu titular na fogueira das suspeitas e das CPIs. Aí não tem sistema culpado nem presunção de inocência. Aconteceu no governo, a culpa é do governante. Pois bem, parece bastante óbvio que o efeito dominó em curso na área de infraestrutura do governo federal tem origem em um aparelho que ali opera desde 2005. Coisa tão antiga quanto feia. Atravessa três mandatos presidenciais consecutivos: o primeiro de Lula, o segundo de Lula com Dilma de gestora e o mandato de Dilma. Diante de tais fatos, o que começa a dizer o PT? Que se trata de uma fumacinha bem localizada e que a culpa é do sistema. ______________ * Percival Puggina (66) é arquiteto, empresário, escritor, titular do site www.puggina.org, articulista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões.

Reinaldo Azevedo

21/07/2011
A QUE ESTÁGIO CHEGAMOS Reinaldo Azevedo Mais três pessoas ligadas à cúpula do PR foram demitidas hoje. Desde a reportagem de VEJA, já são 16 os defenestrados ? na hipótese de que Luiz Antonio Pagot realmente caia fora. Muito bem! Após receber hoje a medalha Santos Dumont, uma condecoração da Aeronáutica, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, afirmou que a Polícia Federal vai avaliar os pedidos de investigação feitos pela oposição e, depois dessa análise, um inquérito poderá ser aberto para apurar o que se deu no Ministério dos Transportes. Hein??? Quer dizer que Dilma botou 16 pessoas na rua, e Cardozo alimenta dúvidas hamletianas sobre o que se passou por lá? Cardozo é o mesmo que anunciou que a PF vinha investigando o Ministério dos Transportes havia muito tempo? Sei. É uma pena que não tenha recorrido aos mesmos métodos empregados para apurar a sem-vergonhice no governo de José Roberto Arruda, não é mesmo? O Brasil só será uma República quando um órgão federal empregar contra os canalhas da ?situação? os mesmos métodos que emprega contra os canalhas da oposição. Até que não o faça, é sinal de que os direitos de pessoas decentes também estão sendo desrespeitados em razão de sua filiação partidária. A declaração de Cardozo é obviamente vergonhosa. Mas não tenho esperança de que ele se constranja.

Datafolha

17/07/2011
DATAFOLHA REVELA ENIGMA DAS MULTIDÕES EM ESPAÇOS PÚBLICOS A edição da revista SãoPaulo deste domingo (17) ajuda a desvendar o enigma das multidões. Medição feita pelo Datafolha mostra que grandes eventos na cidade não atraem a quantidade de pessoas que os organizadores divulgam. Em toda a avenida Paulista e a rua da Consolação, que recebem a Parada Gay, por exemplo, a capacidade máxima é de 1,5 milhão de pessoas, bem menos do que os 4 milhões, como estimam os organizadores. A íntegra está disponível para assinantes da Folha e do UOL.

Percival Puggina

17/07/2011
Twitter: @percivalpuggina Mês passado, minha mulher e eu realizamos um antigo sonho. Percorremos longo trecho dos Alpes, viajando de leste para oeste, através da Áustria, Suiça e Itália, naqueles cenários de Noviça Rebelde. Ainda trazemos nas retinas lagos esplêndidos, encostas verdejantes, picos nevados e vilarejos no belo estilo bávaro, que começam no jardim da primeira casa e terminam no jardim da última, em verdadeiro concurso de sacadas floridas, capricho e harmonia com a natureza. A todo momento era preciso descer do carro para contemplar, como num êxtase, o que chamávamos protagonismo da paisagem. Em viagens anteriores, centrávamos nossa atenção, principalmente, nas obras que a humanidade ofereceu a Deus - as catedrais, os mosteiros, a arte sacra. Desta feita, desfilavam diante dos nossos olhos muitas das mais belas obras oferecidas por Deus à sua criatura. Entre elas, os lagos alpinos. O roteiro incluía vários: o Zeller, o Hallstatter, o Thun e o Birenz em Interlaken, o Genève e o Maggiore. Pois é sobre os lagos que quero escrever. Aliás, é menos sobre eles e mais sobre o Guaíba. Acontece que aqueles lagos nos faziam lembrar, todo tempo, deste que temos aqui, perto do coração e longe dos olhos. Por quê? Porque era forçoso, em face do que víamos nos Alpes, fosse admirando o conjunto, desde fora, fosse contemplando as orlas em passeios de barco, lamentar o abandono do nosso Guaíba, sentenciado ao ostracismo. Ostracismo? Sim, ostracismo. O Guaíba é um isolado, um ermitão, um misantropo solitário, patrulhado por uma mentalidade sociofóbica que afasta as pessoas e reserva suas margens às ruínas e ao inço. Se essa mentalidade, que primeiro o segrega e, depois, o abandona, orientasse o uso dos lagos de lá, não haveria turismo, nem charmosos hotéis, nem clubes, nem parques, nem piers, nem restaurantes, nem ocupação residencial, nem empresas de navegação transportando, diariamente, milhares de passageiros ávidos por fotografar o harmonioso convívio da urbanização com o cenário natural. Tudo seria barrado, proibido. Promoveriam abraços ao lago, assembléias e passeatas. Haveria candentes discursos e abaixo-assinados em defesa do lago - O lago é do povo!. Qualquer uso significaria privatização de um patrimônio natural, apropriação capitalista da paisagem e lucro auferido em prejuízo das barrancas, das capoeiras e das rãs. O bom é manter a orla inacessível, perigosa e suja. Já pensava em escrever esta crônica quando recebi um levantamento fotográfico das margens do Guaíba, mostrando exatamente isso em 30 deprimentes imagens. Pois é. Bilhões de pessoas considerariam inexcedível privilégio viver num sítio como o de Porto Alegre. Dezenas de milhares de cidades do mundo inteiro ralariam cotovelos de inveja diante do nosso Guaíba! E ele, como tudo neste Estado, está aí, sendo surrado pela ideologia do atraso. Outro dia, indagado sobre o metrô (aquele que ia ficar pronto para a Copa) afirmei que dificilmente sairá do papel. Quando começarem a cavar, descobrirão que a linha vai causar prejuízo ao trânsito de tatus e tuco-tucos, às minhocas e à fauna subterrânea. Pára tudo! E, se os duríssimos debates a esse respeito forem superados pelo bom senso, reze, leitor, para que não encontrem, nas escavações, algum fragmento de cerâmica indígena. Aí, o metrô pode acabar passando por cima da sua casa. ZERO HORA, 17 de julho de 2011.

Percival Puggina

15/07/2011
twitter: @percivalpuggina Na esteira do recente surto de crescimento da economia brasileira começam a surgir demandas por recursos humanos qualificados. O próprio governo federal, diante do fracasso do nosso sistema educacional capturado e ideologizado pela esquerda, decidiu criar mecanismos para a importação de talentos. Como seria bom termos gente mais bem preparada!, dizem uns. Precisamos de logística e recursos humanos melhores!, reclamam outros. Logística e gente? Vá lá. Um binômio esquisito, mas serve para dizer isto: é muito mais fácil, rápido e barato duplicar a infindável BR-101 do que prover Educação ao povo. Quem desejar um Brasil mais qualificado sob o ponto de vista educacional terá que arrumar um banquinho e aguardar pelo menos uma geração inteira. Isso se começarmos amanhã de manhã bem cedo. Uma geração inteira?, talvez se exclame, preocupado, o leitor destas linhas. Sim, uma geração inteira porque antes de começarmos a alfabetizar melhor nossas crianças será preciso refazer um longo percurso que começa pela formação dos professores naquelas usinas dos recursos humanos do sistema que são as universidades (estou pensando, principalmente, nos professores dos professores). Ao mesmo tempo, haverá que abrir caminho até os registros e válvulas que comandam a entrada e saída de recursos do erário. E, também concomitantemente, acabar com as iniquidades instaladas na tradição brasileira, entre elas a que faculta ensino superior gratuito a quem poderia pagar por ele. Em menos palavras: melhores professores, mais recursos financeiros, mais bom senso. Se abrirmos a janela para uma espiada no Brasil real será impossível não perceber que vive-se a cultura do não saber. Poucos são os alunos que querem aprender. Menos numeroso ainda os que têm hábitos de leitura. Separa-se o lixo na cozinha, mas não se separa o lixo inserido na Educação e nos meios de comunicação. É a epifania da ignorância! Cultura? Não a mencionarei sequer. A infeliz, com todas as formas de arte, só tem lugar em guetos quase desabitados. A literatura exige alguém que a produza e gente capaz de a apreciar naqueles objetos que rumam para se juntar, nos sótãos e nos porões, às lamparinas e às máquinas de escrever. Visite, leitor, o site do movimento Todos pela Educação (www.todospelaeducacao.com.br). É um bom site, frequentado principalmente por pessoas envolvidas com os temas da educação no Brasil. Na maioria, professores. Da última vez que o acessei estava aberta uma enquete pedindo aos visitantes para expressarem sua opinião sobre a principal qualidade de um bom professor. Eram quatro as escolhas possíveis. Dominar a matéria tinha 9,9% dos votos. Saber ensinar a matéria tinha 28,9%. A resposta que teve a larga preferência (58,7%) foi Perceber as dificuldades de cada um. Entende-se aí por que os professores se empenham tão pouco no aprimoramento e atualização do seu saber específico. As consequências são visíveis no desempenho dos alunos. Educação não é charuto. De charutos podemos dizer que tais são de qualidade e que tais não o são. Com Educação não é assim. Ou ela é de qualidade ou não é Educação. E só a teremos quando as elites brasileiras colocarem crachá no peito, adesivo nos carros e forem aos parlamentos e aos governos clamar por ela com a mesma intensidade com que reclamam dos impostos que todos pagamos. Note-se, por fim: parte desses impostos vão bancar as disputas corporativas, ideológicas e partidárias de um sistema educacional que se conta entre os piores do mundo.