Percival Puggina

27/10/2017

 


 Entre as muitas mudanças de conduta individual e social ocorridas nas últimas décadas, certamente as que afetaram a dinâmica da vida familiar foram as mais importantes. Elas produziram imenso impacto no comportamento de crianças, adolescentes e, já agora, numa inteira geração de indivíduos adultos e nas famílias que constituem.

 Ao saírem as mães de casa para trabalhar, houve uma primeira tentativa de compensar o menor tempo dedicado aos filhos com recompensas possibilitadas pelo aumento da renda familiar. Foi o tempo dos presentes melhores e concessões maiores. Num segundo momento, pais conscientes trataram de qualificar os reduzidos tempos de convivência com redobrada atenção, enquanto novos "cuidadores" ingressavam no território negligenciado pela educação familiar.

 Entre as muitas consequências da ação desses novos personagens, inclui-se a prevalência de impulsos primários em prejuízo do bem e dos valores que a ele conduzem. Contratados pelos pais ou disponibilizados pelo Estado, ou ainda viabilizados pelas modernas tecnologias eletrônicas, estão, em grande parte, a serviço de suas próprias pautas e visões de mundo. E estas, comumente, se relacionam com a construção de uma "nova sociedade" que nada guardará da mais alta civilização que a humanidade conheceu.

 Terrível desdobramento da persistência e da determinação com que se atacam valores essenciais ao desenvolvimento integral da pessoa humana e à harmonia da sociedade! A chamada guerra cultural escolheu seu público preferencial entre os vulneráveis pela imaturidade e promove, ali, um massacre impiedoso da verdade, do bem, do belo e do justo.

 Pediram-me, outro dia, que discorresse sobre o tema “Como podem os pais influenciar positivamente seus filhos?”. Embora a receita seja a mesma de sempre - amor, diálogo, atenção, zelo e exemplo - há que reconhecer que os resultados podem ser insuficientes, pois o conjunto das influências nocivas a que a juventude está sujeita envolve, supera e muitas vezes destrói os melhores influxos que possa receber. Só uma ação conjunta de pais, escolas, autoridades, Igrejas e meios de comunicação social, conscientes, todos, de suas responsabilidades, pode minimizar o estrago.

 A que influências nocivas me refiro? Refiro-me à escola com partido e com ideologia de gênero, tão na moda. Refiro-me às novelas de TV (que jamais valorizam qualquer coisa que tenha valor) e às franquias da internet impropriamente utilizada. Refiro-me à desarmonia musical das bandas, ao mau conteúdo das letras que cantam e aos maus exemplos que proporcionam. Refiro-me ao fio condutor permissivo de quase toda a publicidade e das mensagens voltadas aos jovens. Refiro-me à cultura do corpo (e sua animalidade) e à indigência a que é relegada a humanidade do espírito e da mente. Refiro-me à impotência das autoridades ante o tráfico de drogas. Refiro-me às noites e suas festas, que absurdamente começam na hora em que deveriam terminar e ao crescente consumo de bebidas alcoólicas e drogas por menores.

São adultos os que promovem e se beneficiam dessa ausência de limites e os que perante ela se omitem. Há no inferno lugar para todos.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

24/10/2017

 

 Os jovens que, em esfuziante demonstração de felicidade, dançavam sobre o Muro de Berlim no dia 9 de novembro de 1989 foram os primeiros a festejar a derrubada em cascata dos símbolos do comunismo. Importante lembrar aos brasileiros sequer nascidos naquela época o regime que os moços e moças de então refugaram e a liberdade que, em festa, conheceram pela primeira vez em seu próprio país. Afinal, não falta entre nós quem assedie a juventude com ideologias fracassadas e histórias mal contadas.

 Nos anos seguintes, extinguiu-se a União Soviética, caíram os regimes comunistas, e os respectivos partidos no Leste Europeu se extinguiram ou mudaram a razão social. Junto com eles sumiram, também, foices e martelos e estrelas vermelhas de bandeiras nacionais.

 Na Rússia, Leningrado voltou a chamar-se São Petersburgo; na Alemanha, Karl Marx Stadt recuperou o nome Chemnitz; no Montenegro (parte da antiga Iugoslávia) a capital Podgorica sacudiu de si a triste lembrança que lhe advinha do nome Titogrado. Em Berlim Oriental, bairros inteiros como Prenzlauer Berg e Friedrichshain, se livraram do abandono cinzento que lhes deixara o comunismo para ganhar novas cores e nova vida. A história tem símbolos assim.

 Quem viveu sob o comunismo, sabe bem do que se libertou. Em virtude disso, em todo o Leste Europeu, incluída a super comunista Albânia, foram tombando as estátuas e as indesejadas lembranças do totalitarismo que pesou sobre aquelas nações. Em muitos casos, o comunismo ficou fora da lei. São povos que sabem do que não sentir saudade. Foi o caso da Polônia, que tantas vidas entregou à repressão soviética. Lá, desde 8 de junho de 2010, está em vigor uma lei que proíbe a exibição de símbolos comunistas.

 A Lituânia, em 2008, criminalizou a exibição pública de símbolos comunistas e nazistas. Também pudera! O pacto Molotov-Ribbentrop levou-a à ocupação pela URSS e a pequena nação perdeu 780 mil compatriotas. Aliás, em virtude desse pacto, firmado entre os dois totalitarismos - o comunismo e o nazismo - a data de sua assinatura se transformou em Dia Europeu de Memória das Vítimas dos Regimes Totalitários.

A Geórgia, em 2011, baniu os símbolos comunistas. O domínio soviético levou milhares de georgianos à morte nos gulags e destruiu 1,5 mil igrejas. Por motivos em tudo semelhantes, a Moldávia criou legislação igualmente proibitiva em 2012. Interdições também foram estabelecidas na Hungria e na Ucrânia. Esta última nação perdeu para o comunismo 5 a 6 milhões de pessoas entre a criminosa inanição causada pelo holodomor, a repressão e as mortes em combate. Há estimativas que elevam esse número para 14 milhões. Em Odessa, no sul do país, um majestoso Lênin de bronze foi transformado em Darth Vader (personagem de Guerra nas Estrelas).

Os países que conheceram os horrores do comunismo o repelem e removem suas lembranças. Tal regime não pode citar um único exemplo que não cause repulsa. Seus raros defensores não têm como mencionar, sem constrangimento, um líder sequer. Não dispõem de um solitário caso de sucesso a relatar.

Porto Alegre, não obstante, entrará para o noticiário como uma capital na contramão dos fatos, jogando pela janela da mais clamorosa ignorância o testemunho de dezenas de sofridas nações. Danem-se os fatos, as vítimas e a História! Em 1991, nossa Câmara Municipal cedeu o terreno, autorizou a finalidade da obra e será inaugurado, nestes dias, com foices e martelos, um Memorial para honra e glória do mais conhecido comunista brasileiro, desertor homicida, traidor da pátria e servo de Stálin.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.
 

Percival Puggina

20/10/2017

 

 É da natureza da tolerância a existência de limites. Questão de pura racionalidade: na ausência de quaisquer balizas, a tolerância que abrangesse o impossível de tolerar abraçaria, inclusive, a mais odienta intolerância, tornando-se autodestrutiva.

Por isso, é importante a construção de consensos mínimos, em torno de algumas verdades e direitos em torno dos quais se constroem leis e preceitos constitucionais. Com eles se elimina a subjetividade em relação a algumas determinações de certo e errado, justo e injusto, permitido e proibido. Conta-se que um professor, interpelado por aluno que afirmou ser subjetivo e relativo o conceito de justiça, apontou-lhe a porta e ordenou-lhe, em alta voz, que se retirasse da sala. Diante da surpresa de todos, o professor perguntou à classe: "O que estou fazendo lhes parece justo?" Como a resposta foi negativa, esclareceu: "Ele acha que é tudo relativo e que na minha perspectiva pode ser, sim."

Como lembra Alfonso Alguiló num interessante livrinho sobre tolerância, foram necessários milênios para que a humanidade, através dos pensadores gregos, alcançasse a capacidade de distinguir o bem do bem individual. Isso representou um enorme avanço no sentido da moral e o fato de que ainda hoje, em diferentes culturas, essa noção esteja dispersa, não significa que não existam concepções superiores e inferiores, embora nos tentem convencer de que é "politicamente incorreto" afirmá-lo. Opinem sobre isso as crianças emparedadas, os bebês abortados, os ladrões de mãos cortadas e os infiéis de cabeças decepadas... Os profetas do relativismo moral, os sacerdotes do "politicamente correto" vivem de convicções que negam a todos os demais. E ainda lograram convencer parcela expressiva das sociedades civilizadas de que não precisam respeitar a ninguém exceto a si mesmos.

Vamos ao ponto desta reflexão: o senador Magno Malta fala por mim nestes tempos marcados por inegável, inocultável, palpável e multiforme investida contra alguns daqueles limites além dos quais a tolerância ganha outro nome e passa a denominar-se lassidão, covardia. Não preciso descrever (até porque já cumpri a indigesta tarefa em texto anterior) os extremos a que chegam as agressões a duas dessas balizas: a inocência da infância e a sacralidade das manifestações de fé. Em diversos vídeos, entre os quais este, o senador Magno Malta aborda o tema de uma forma que representa meu pensamento e me dispenso de ampliá-lo aqui.

Minhas perguntas vão além. O que faz o governo Temer que não fecha a torneira da Lei Rouanet e da Lei do Audiovisual para eventos que atentam contra a infância e cometem vilipêndio religioso? O PPS apoia o disponibilização desses recursos através do ministério da Cultura sob seu comando? O que têm a dizer ou fazer os católicos do Congresso Nacional a esse respeito? Ou só cuidam de reeleição? O DEM apoia o aparelhamento do Ministério da Educação por pedagogos cujo objetivo de vida parece ser a implantação da ideologia de gênero no cérebro das nossas crianças? Por que não se conhecem ações expressivas da CNBB (como acontecem em certas pautas ideológicas) com relação a essas perniciosas políticas de cultura e educação?

Seremos tão poucos os que compreendemos o quanto deve ser maligno o objetivo de quem mobiliza, em todo o Ocidente, ações multiformes e sistemáticas contra o cristianismo, a instituição familiar a vida e a infância? Não se pode e não se deve tolerar o intolerável.


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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

18/10/2017

 

 Há um jornalismo que acabou. Fala com as paredes. Irresignado ante a falta de eco, cospe no vento. Cisca no dicionário adjetivos que, de tão mascados, se tornaram rejeitos de lixo orgânico, direto ao saco preto. O vocabulário com que o "politicamente correto" se protegia entra num debate, hoje, murcho como maracujá. Quem leva a sério o adjetivo "reacionário!", ou "conservador!", ou "neoliberal!" (lembram dele?), ou ainda o "fascista!", que os próprios comunistas gastaram mundo afora contra seus adversários antes do tiro na nuca?

Durante décadas, esses senhores foram os regentes das redações, onde desfilavam proféticos, iluminando o mundo com olhares que se derramavam sobre uma nova humanidade e um novo tempo. Eram os kaisers do quarto poder, ditando as normas técnicas para a engenharia do brilhante futuro. Perder tempo com eles, agora, é como contemplar a alvorada de um passado que se refuga. Xô! Quebraram o Brasil, acabaram com a Educação e atacaram, um a um, os valores que sustentariam moralmente a nação.

A sociedade compreendeu, por fim, que, tanto quanto ela precisa conservar valores que orientem as ações humanas para o bem (conservadorismo), a economia precisa de liberdade (liberalismo) para evoluir. Se observarmos atentamente, veremos que isso é tudo que o velho jornalismo militante, mãos dadas com os camaradas do mundo acadêmico, se dedicou a destruir; e que parcela importante do clero católico se descuidou de preservar.

Tem duas razões fundamentais para viver, esse jornalismo. A primeira é servir de memorial adulterado dos "anos de chumbo". Vivem na nostalgia daquele período, misturando a saudade da própria juventude com o tempo em que conseguiram articular um discurso cuja consequência, em tese, rimava com a causa. A segunda é combater liberais e conservadores, qualificando-os como fascistas. Mas, sem direito a tiro na nuca, tudo fica menos produtivo. Fazer o quê? Mudar-se para Cuba ou para a Coreia do Norte?

Não recordo, ao menos em passado recente, de esforços retóricos tão velhacos, tão fraudulentos, quanto os empregados nas últimas semanas por esse jornalismo para tentar convencer a sociedade de que:

• os conservadores seriam hipócritas bradando contra  nudez e  erotismo na arte;
• gravuras grotescas dedicadas a sujos entreveros sexuais, se expostas em ambiente cultural, deveriam merecer a mesma reverência de conhecidas obras-primas da arte universal;
• sentimentos e atitudes tão diferentes entre si como repulsa, indignação e boicote seriam "sinônimos" de censura;
• sexo não existiria, o que existe é gênero e toda criança deveria começar a aprender isso no bercinho da maternidade;
• as redes sociais seriam uma terra de ninguém tomada pela direita raivosa.

Quem faz afirmações assim não está a mudar de assunto. Está a corromper a razão, conforme mencionei em recente vídeo. Há semanas repetem isso ao país e querem credibilidade? Pretendem seguir influenciando a opinião pública? Subestimam a inteligência daqueles com quem se comunicam! Foi ao servir nacionalmente esse cardápio de falsidades que o velho jornalismo militante deu extraordinário alento aos bons conservadores e aos bons liberais. Refiro-me aos conservadores que estimam a liberdade e aos liberais que reconhecem a necessidade de preservar valores morais. 

A sociedade não se escandaliza com nudez desde 22 de abril de 1500 e pouco se interessa pelo que acontece atrás das portas, desde que seja vedado o acesso a crianças. Mas entendeu, perfeitamente bem, ser isso que jogou o velho jornalismo militante na pornomilitância.
O silêncio que cai sobre ele vem por overdose de si mesmo.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

16/10/2017

 

 Em artigo intitulado "Pantomima do STF fere a Lava Jato", reproduzido pelo G1 em 12 deste mês, Helio Gurotivz comenta o voto da ministra Carmem Lucia que delegou ao Senado decidir sobre o retorno ou não do senador Aécio Neves à sua cadeira naquela Casa. Extraio desse texto o seguinte trecho:

"Apesar de todos os cuidados para preservar sua autonomia, o STF abriu mão da prerrogativa de instância maior na decisão de questões constitucionais, aquela que tem o direito a ‘errar por último’, como afirmou Ruy Barbosa, citado por Celso de Mello em seu voto. Evitou, é verdade, uma crise maior com o Congresso. No próximo dia 17, um Senado feliz deverá livrar Aécio das punições previstas no CPP.

Mas o STF abriu também uma avenida para livrar a cara dos políticos acusados na Lava Jato. O relator da operação, ministro Fachin, se vê limitado na possibilidade de impor punições aos corruptos. Sob o manto de preservar a imunidade garantida pela Constituição aos parlamentares, o Supremo acabou por ampliar a (já ampla) esfera da impunidade.”

 Para compreender as pantomimas em que o Supremo permanentemente se envolve, suas fraturas e animosidades internas, seus frequentes votos de Minerva em que questões seriíssimas são definidas por um voto, e seus pedidos de vistas que hibernam no aconchego das gavetas, é preciso estar ciente das funções que aquelas 11 pessoas exercem ao deliberar.

Ora como plenário completo, ora como grupos em que periodicamente 10 dos 11 se repartem, ora monocraticamente, os ministros integram um poder que acumula quatro importantíssimas funções:

• Tribunal Constitucional,
• última instância do Poder Judiciário,
• Tribunal Penal para autoridades com privilégio de foro e
• Poder Moderador.

Qualquer possibilidade de segurança jurídica e coerência entre decisões sucessivas esbarra nessa pluralidade de atribuições, notadamente quando - e sempre que - o dispositivo constitucional a ser custodiado esbarra com o bem comum ou com a melhor conveniência nacional num determinado momento. Nesses casos, se estabelece a esquizofrenia. Ora é o Direito que fala mais alto no Tribunal Constitucional, ora é a Política que se faz mais audível no Poder Moderador.

Enquanto as questões constitucionais e o bem do país, a cada feito, disputam entre si a atenção do plenário, a impunidade se espreguiça na rede da lassidão e do mais tarde a gente vê isso. Não tem como dar certo.
Na calçada oposta, o Congresso Nacional vive suas alucinações entre a PF que pode bater à porta e o pleito de 2018. Caberia e ele, Congresso, pôr ordem na casa retificando o modelo institucional para maior racionalidade. Afinal, o Congresso é o poder que representa o povo na Câmara dos Deputados e os Estados no Senado Federal. Mas qual!

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

13/10/2017

 

 Há uns dois meses assinei a revista Época, do Grupo Globo. Já no primeiro exemplar pude perceber para que lado soprava o vento editorial. Aumentei minha contribuição semanal ao lixo seco.

 Na edição desta semana, três colunistas dão sermões e excomungam a opinião pública em virtude da reação nacional à presença de crianças em museus e mostras ditas "de arte" cujos conteúdos e "performances" qualquer pessoa responsável reconhece totalmente impróprios a esse público. O noveleiro Walcyr Carrasco, a sei-lá-o-quê Ruth Aquino e o professor de jornalismo Eugênio Bucci desfiam sua ira nada santa contra a população. Este último, num assomo de cólera que raia o tipo "Sai de perto!", calcou as dianteiras no teclado e jogou as traseiras em sucessivos coices contra quem diverge de seus gostos socioculturais. Não se alarme. Estou sendo moderadíssimo, leitor. Veja se não. No texto que tem por título "A sanha moralista nas redes sociais", o professor Bucci produz frases assim:

• O conservadorismo está à solta, com sua tara furibunda para encarcerar a política, banir a alegria e matar a imaginação.
• ... podem considerar a hipótese de que elas (as redes sociais) nos levem de volta aos calabouços do passado.
• Não dá mais para esconder. O que está em marcha nesta terra é o Festival de Besteiras Reacionárias que Assola o País.
• A turba virtual baba de saudade da repressão política e moral dos anos 1970.
• O conservadorismo pátrio é um lobisomem que uiva em surto.
• No campo da Cultura e da Arte o conservadorismo também uiva. Prega censura, execração, castigo. Prega a ordem dos cemitérios como ideal de vida.
• Quando sente o cheiro de imaginação e prazer, vitupera sobre os "bons costumes sem libido".
• O discurso moralista, além de rabugento e barraqueiro, é mistificador: acredita que a televisão tem o poder satânico de programar o pensamento dos seres humanos.

Não informem ao referido professor de jornalismo, mas é claro que a TV exerce influência sobre a opinião pública. Esse é o negócio dela, aliás. Não fosse assim, as emissoras não viveriam de patrocínios comerciais que apostam alto nessa possibilidade, ora bolas! Tampouco digam ao inspirado mestre das artes que não dá para comparar o Davi de Michelangelo ou Leda e o Cisne de Leonardo da Vinci com desenhos de sacanagem produzidos com traços infantis para atrair olhares de crianças. E o boicote, sabemos todos, é filho democrático e sadio da mesma liberdade que ele diz defender.

Foi para justificar essas investidas contra a inocência infantil que a Globo, no último dia 8, arrastou para o programa Fantástico todo o peso da emissora e de seus atores para, em nome da diversidade e da liberdade, atacar uma "censura" e defender uma laicidade do Estado que em momento algum estiveram em jogo. A sociedade tem todo o direito de se interrogar sobre por que o fez o Grupo Globo, dado que nenhuma reação teria acontecido se crianças não estivessem sendo atraídas a tão maliciosas arapucas. Para completar o serviço, a empresa praticamente promulgou como plataforma sua a ideologia de gênero que, por motivos óbvios, o Congresso Nacional, as Assembleias Legislativas estaduais e as Câmaras Municipais erradicaram dos respectivos planos de educação.

A "Vênus platinada" tomou mau caminho. Jogou-se contra a opinião pública em matéria gravíssima.

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 


 

Percival Puggina

10/10/2017

 

E é doença grave. Seus agentes transmissores proliferam em segmentos bem específicos do meio artístico, da agenda cultural, da programação da Rede Globo, do ambiente educativo e da militância LGBT. Mostras e performances que causaram escândalo nos últimos dias, bem como outras já anunciadas, alinham-se com esse objetivo. Impossível negar.

A ideia de que os órgãos genitais são ilusões da mente e devem ser abolidos da identidade pessoal derruba uma biblioteca de Genética e outra de Biologia. Mas isso não importa à militância contanto que se propague um mix conceitual cheio de contradições. Segundo ele, masculino e feminino ora seriam construções culturais e sociais, ora deliberações tão frívolas quanto a escolha de um adereço, ora frutos de imposições heteronormativas, ora produtos de uma "dialética" da genitália com o inconsciente de cada um. Como consequência, sob absoluto silêncio da natureza, ninguém nasceria homem ou mulher. Todos arribaríamos a este mundo assexuados como manequins de vitrine, pendentes de definições ou indefinições que adviriam das influências e das experiências mais ou menos bem sucedidas ou malsucedidas. Ademais, os gêneros seriam intercambiáveis e, dependendo do lado de corte do fio, inacessíveis aos cuidados de psicólogos e psiquiatras.

Qualquer dessas ideias, suas dicções e contradições tem inteiro direito de comparecer ao debate no ambiente social leigo e no ambiente científico. O direito que não lhes assiste é o de assalto às salas de aula e espaços infantis, precisamente seu interesse maior. Mantenham-se longe daí! Esses ambiente lhes são totalmente impróprios. Sua presença ultrapassa os limites da delinquência. Ninguém tem o direito de levar suas próprias dubiedades às mentes infantis para confundir suas identidades.

Tomar as exceções como fonte de norma geral e impô-la a crianças é uma perversão que passou a tomar corpo, no campo educacional, durante a Conferência Mundial da ONU sobre População e Desenvolvimento, realizada no Cairo em 1994. A palavra gênero aparece 211 vezes em seus documentos. Entende-se: quanto mais sexo homossexual, menor a reprodução da espécie. Aqui no Brasil, o Plano Nacional de Educação, que tramitou no Congresso Nacional desde 2010, cozeu no forno legislativo recheado de centenas de emendas e inclusões da ideologia de gênero até que, por ampla maioria, todas as referências ao tema foram suprimidas da lei que instituiu o PNE 2014-2024. Em que pese a rejeição no ditame federal, o MEC - sempre o aparelhamento da burocracia pela ideologia! - através da subsequente Conferência Nacional de Educação, enviou a Estados e municípios documento reintroduzindo a ideologia de gênero como conteúdo abundante nos respectivos planos. Esse desrespeito à legislação federal e à posição do Congresso Nacional está muito bem exposto aqui. Assim, também Estados e municípios tiveram que se defrontar com a questão e, outra vez, intensa mobilização social derrubou a inclusão de tais políticas na quase totalidade dos planos de educação dos mais de cinco mil municípios brasileiros. Não foi diferente nos Estados.

A disposição que os militantes do MEC não têm para ensinar o que interessa, têm para isso. A versão final da Base Nacional Comum Curricular tem 396 páginas e a palavra gênero reaparece 135 vezes! Esse número de menções fornece uma ideia do espaço que ela ocupa na cabeça dos que põem a educação brasileira a serviço de suas causas.

É como se nada significassem a maciça rejeição pela opinião pública e pelos poderes que a representam. Querem enfiar-nos goela abaixo a militância de gênero no sistema de ensino para causar molesta crise de identidade nas nossas crianças. Não passarão!

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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

 

Percival Puggina

08/10/2017

 

 Numa época em que tantos procuram deixar o Brasil, certos conterrâneos descobriram no separatismo um modo de ir para o exterior permanecendo onde estão. De lambuja, economizam a passagem, evitam problemas de imigração e, numa solução tipicamente brasileira, reabilitam o crédito mudando a razão social.

 A tese se manifesta em pontos de vista bem conhecidos: “Sinto-me mais gaúcho do que brasileiro”; “Moro no Brasil que deu certo”; “Estou cansado de sustentar o Norte, o Nordeste e o Centro-Oeste”; “Chega de ser governado pelas elites nordestinas”.

Pois é. Durante 90 dos 127 anos de república o governo brasileiro esteve confiado a paulistas, mineiros, cariocas e gaúchos. Só o Rio Grande do Sul, com 38 anos na presidência, comandou o país por mais tempo que as outras duas dezenas de estados que “não deram certo” (Cruzes!).

Por outro lado, alega-se que a representação dos Estados no Congresso Nacional é distorcida pelas "desproporcionais bancadas" dessas regiões. Mais uma vez as coisas não são bem assim. O Nordeste brasileiro é duas vezes mais populoso que o Sul e sua representação parlamentar está rigorosamente proporcional. Aliás, apenas os quatro antigos territórios, mais Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins se beneficiam da representação mínima de oito cadeiras. E essa pequena conta é totalmente paga por São Paulo que tem 70 deputados quando, em virtude da população, deveria ter quase o dobro.

Reconheço que os promotores do informal plebiscito separatista têm lá seus motivos. Contudo, o mesmo raciocínio que os inspira permitiria conceber, também, um Rio Grande do Sul formado apenas pelas áreas industrializadas da Região Metropolitana e Serra Gaúcha, tendo por capital um município constituído somente pelos bairros classe A da cidade. E aí - quem sabe? - repousaríamos ainda mais tranquilos nos travesseiros da "superioridade". A propósito dela, pergunto: qual dos problemas que facilmente apontamos olhando para o norte não temos aqui?

Nessa linha, a curiosidade aumenta. Nossas ideias são mais progressistas? Ah, sim? E onde está o progresso? Por que a Ford está na Bahia? Por que a Gerdau muda-se para São Paulo? Esquecemos, parece, do ardoroso e militante público que têm entre nós as ideias socialistas, estatizantes, corporativas e avessas ao empreendedorismo, ao livre mercado e à meritocracia. A estratégia separatista contempla, também, essas sementeiras do atraso e os destruidores do futuro que tanta influência exercem por aqui?

A tabela que vem sendo usada para definir perdas e ganhos na contabilidade dos Estados com a União, por quanto pude verificar, parece incompleta. Ao que vi, trata apenas de tributos, ou seja, do que vai para Brasília e dos retornos constitucionais aos estados e seus municípios. Mas isso, aparentemente, não inclui gastos federais com serviços, servidores, saúde pública e previdência social, obras, convênios, etc., prestados pela União nos Estados e em seus municípios. O que estou afirmando não passa a régua na conta, nem dá recibo de quitação. Nossa Federação é um arremedo, seus serviços são precários, há abusos de toda sorte, e nossas instituições trombam de frente com a racionalidade que delas se deve exigir. Mas quem diz que faríamos melhor? Escrevo e falo sobre isso há décadas e não sei se convenci alguém aqui na volta.

Por constrangimento, deixo de lado, no exame das nossas dificuldades atuais, as suas causas internas, caseiras: irresponsabilidade fiscal, demagogia barata, dificuldade de lidar com números e o vale-tudo no jogo pelo poder. Como escrevi ontem, numa pequena nota: "Era só o que faltava a esta geração - acabar com o Brasil e com a unidade nacional. Sou gaúcho e o Brasil é o meu país".

Se, no longo curso da História, fosse dado a uma geração qualquer o direito à secessão, como se poderia negar à geração subsequente o direito de rever essa decisão ou de gerar nova secessão? Nações não são gaitas de fole, ao sabor das paixões de cada momento. Ao menos não são assim as que alcançam respeito internacional, como o Brasil já teve e, agora, tanto se empenha em decompor.


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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.


 

Percival Puggina

06/10/2017

 

 Todos os 210 milhões de brasileiros têm consciência de que sua vida pende do fio da casualidade. Basta estar no lugar errado na hora errada. Esta independe do que diga o relógio, aquele pode ser qualquer um. No entanto, parece passar despercebido o fato de que a totalidade dos quase 60 mil homicídios/ano no Brasil são praticados por criminosos fora das grades, soltos nas nossas ruas. As prisões estão lotadas e os homicidas em liberdade matam nessa proporção!

Aliás, se somarmos os homicídios cometidos por ano em toda a Europa, mais Rússia, China, Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e acrescentarmos ainda alguns países do Oriente Médio, não se chega aos 59.080 homicídios intencionais ocorridos no Brasil em 2015, último ano com resultados consolidados pelo IPEA no Atlas da Violência 2017. É o maior número entre os países do globo! O terrorismo mata muito menos que a criminalidade nacional, a mais homicida do planeta.

Por outro lado, relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) divulgado em 2016 informou que 7,9% das pessoas entrevistadas no Brasil pela pesquisa Better Life Initiative reportaram terem sido vítimas de assalto nos 12 meses anteriores. Essa taxa é o dobro da média dos países pesquisados e sugere um número de ocorrências contra o patrimônio da ordem de vários milhões anuais. E ainda aparece gente para sustentar que temos presos em excesso! O que há no Brasil é um número inacreditável e intolerável de bandidos de todas as "especialidades" que precisam ser capturados, julgados, encarcerados e permanecerem presos até o cumprimento total de suas penas, para o bem da sociedade.

Estou falando dos inimigos públicos que atuam diretamente contra a vida e o patrimônio alheios. Mas a lista dos adversários da nossa segurança precisa acrescentar:

• os desencarceramentistas, para os quais, se a cadeia não reeduca, então deve abrir as portas;

• os bandidólatras (no dizer do excelente livro Bandidolatria e Democídio), para os quais os bandidos são agentes de transformação social e vítimas da sociedade, indivíduos dos quais não se poderia exigir outra conduta;

• os garantistas instalados no Poder Judiciário e em outras instituições e órgãos do Estado, que não se sentem comprometidos com a segurança da população, dado não ser sua função evitar que crimes ocorram, o que os faz moralmente responsáveis por muitos que poderiam ser cautelarmente evitados;

• os inimigos da redução da maioridade penal, que lacrimejam ante a simples possibilidade de que um brutamontes de 17 anos, estuprador e assassino, não seja tratado com as benevolências devidas a um reeducando em instituição socioeducativa;

• os defensores do desarmamento, manipuladores de estatísticas, maus leitores dos bons exemplos internacionais, acocorados no mundo da lua,  exclamando que a terra é azul;

• os políticos alinhados ou influenciados por uma ou por todas essas correntes, que para nosso azar abandonaram o sistema penitenciário e a lei penal à própria sorte, criando o caos que serve esplendidamente aos criminosos;

• os defensores dos direitos humanos dos bandidos, sempre alertas para protegê-los ou a pranteá-los com enlevos e aconchegos maternais, jamais interessados nas inocentes vítimas de sua cupidez, violência e perversões;

• os inimigos ideológicos da atividade policial e da necessária repressão ao crime, corregedores avulsos de cada operação policial, responsáveis por muitas mortes de agentes da lei cujo gatilho tardou em ser acionado com receio da repercussão.

Todos, a seu modo, desservem à sociedade e ampliam, direta ou indiretamente, a insegurança de nosso cotidiano.


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* Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.